24 março, 2016

Batman vs Superman: A Origem da Justiça (Batman v Superman: Dawn of Justice, EUA, 2016).


Um dos projetos cinematográficos mais esperados do ano, a reunião de dois dos maiores ícones da cultura pop rende um filme recheado de efeitos visuais - como não? - e um desfecho grandiloquente e arrasador (no sentido plástico), mas cuja liga inexiste, pois não parece haver justificativa suficiente dentro do arco narrativo apresentado para coordenar um roteiro que, a priori, sugere um emaranhado de sequências montadas de forma a sugerir um arco narrativo particular, ímpar, mas que não se mostra bem sucedido.

Primeiramente vendido como uma sequência de O Homem de Aço (2013), depois como uma adaptação levemente inspirada na celebrada obra dos quadrinhos O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e Lynn Varley - cujo visual realmente inspirou boa parte da equipe de arte deste filme - para enfim assumir-se como uma espécie de prelúdio a um futuro filme da Liga da Justiça (no forno), Batman vs Superman: A Origem da Justiça tem seus méritos e guarda seus bons momentos, especialmente no âmbito visual - é possível inclusive afirmar que Zack Snyder (300) equilibrou bem sua estética clássica (slow motion, enquadramentos imponentes etc.) a tendência "reverencial" e "simbólica" trazida em O Homem de Aço, também assinado pelo diretor, apesar de menos sutil -, mas seus pecadilhos no âmbito de roteiro e montagem desequilibram a balança.

Muito criticado à época de sua escalação como novo intérprete do "homem morcego", Ben Affleck (Medo da Verdade) traz certo peso ao personagem, dando "sua cara" ao aqui "justiceiro" veterano combatente do crime, cuja atenção é desviada após a chegada de Superman (Henry Canvill) à Terra. Affleck interpreta o personagem de maneira um tanto melancólica, dando um aspecto cansaço ao mesmo, apesar de ser perceptível certa fúria e disposição por trás desta "máscara". O casting do filme conta ainda com as participações de grandes nomes em papéis menores cuja importância vai de relevante (Jesse Eisenberg, Jeremy Irons, Holly Hunter ) à quase nada (Amy Adams, Lawrence Fishburne). A participação de Gal Gadot (franquia Velozes e Furiosos) como Mulher-Maravilha, apesar de bacana, não é de grande serventia, visto que está aqui apenas para enfatizar a construção de um universo distinto para as personagens da futura Liga da Justiça. 

Apesar da premissa do longa mostrar-se interessante - David Goyer (Batman Begins, Blade) é conhecido tanto pelas grandes ideias, quantos pelos roteiros desastrosos - sua amarração beira ao desastroso, dando a impressão de que o que seu roteiro apresenta é uma colagem de eventos - muitas vezes forçados, a exemplo da abertura que insere Bruce Wayne/Batman no desfecho de O Homem de Aço -, não uma história com começo, meio e fim, primando pelo desenvolvimento como um todo. Parece que sobrou empolgação e faltou cuidado, o que compromete o produto final da obra.

Após tantas adaptações de histórias de super-herói para as telas de cinema - algumas excelentes, outras desastrosas -, cada vez mais espera-se algo de diferente naquelas que por ventura sejam produzidas. É fato que a Marvel (concorrente da DC/Warner, responsável por este filme) geralmente não sai do lugar comum (apesar de, vez ou outra, entregar ótimos filmes como Capitão América 2: O Soldado Invernal e o primeiro Os Vingadores), mas até então não deu com "os pés pelas mãos" afim de produzir um épico do gênero. E o maior equívoco de Batman vs Superman: A Origem da Justiça está em sua pretensão e no pouco cuidado tomado para que esta pudesse vislumbrar o sucesso completo, não apenas a arrecadação pura e simples. 

Não adianta apostar apenas em"destruir" mais do que seus filmes-irmãos. Não é mais suficiente apresentar uma série de personagens teoricamente bacanas cujo desenvolvimento não é priorizado. Não faz mais sentido juntar uma equipe criativa e técnica do mais alto nível se não existir um articulador que possa organizar as ideias e os possíveis excessos (puxão de orelha no senhor Snyder e no time de produção, formado por nomes experientes como Charles Roven, Deborah Snyder, Emma Thomas, Christopher Nolan, dentre outros) da produção, canalizando as ideias para que o produto final seja, acima de tudo, coerente, equilibrado, o que Batman vs Superman: A Origem da Justiça acaba não sendo. 

Visualmente arrebatador, mas conceitualmente problemático, este primeiro passo de um projeto ambicioso da DC/Warner que envolve, além do filme da Liga da Justiça, filmes da Mulher-Maravilha, Aquaman, Ciborg e Flash, patina e sai dos trilhos com gosto e pode acabar atrapalhando o equilíbrio deste universo ainda em processo de criação, mas tem tudo para arrecadar bastante nas bilheterias ao redor do mundo. Se chegará ao sonhado bilhão, só teremos uma ideia entre sexta e domingo. Mas já adianto, bilionários de 2015 como Star Wars: O Despertar da Força e Jurassic World são obras mais ajustadas, redondas e interessantes, visualmente e estruturalmente, do que este "duelo" de proporções pretensamente épicas.

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