28 setembro, 2014

O Doador de Memórias (The Giver, EUA, 2014).

"Não aceite algo como verdadeiro só porque vem de alguém que você respeita" (Doador, personagem de Jeff Bridges).
Boas ideias - apenas - necessariamente não dão um bom filme. Bons livros idem. O Doador de Memórias, projeto abraçado por Jeff Bridges (Tron, o Legado) e dirigido pelo competente Phillip Noyce (Perigo Real e Imediato) tem seus atrativos, especialmente como instrumento reflexivo, mas a falta de uma maior profundidade no desenvolvimento da trama torna seu discurso interessante, mas sem muita substância, quase esquecível. É fato que a fotografia do filme (a cargo de Ross Emery, de Wolverine: Imortal) é interessantíssima, pois é um elemento essencial à narrativa da obra, através da alternância da paleta de cores que caminha entre o branco e preto e o colorido, perpassando pelas tonalidades intermediárias, que significa (e resignifica) o cabedal de sentimentos adquiridos (sim, o termo é esse) pelo personagem principal, Jonas, bem composto pelo jovem Brenton Thwaites (O Espelho). Nos últimos anos estrearam uma série de filmes que apresentam a humanidade num futuro distópico, muitos desses baseados em obras literárias juvenis, contudo, apesar de mínimo, existem diferenças destas para O Doador de Memórias, sendo a mais óbvia o fato da matéria prima do filme, o livro escrito por Lois Lowry, ter sido lançado no já longínquo ano de 1993 (a grande maioria dos outros filmes são adaptações de obras recentes) e o ponto de discussão ter como cerne a descaracterização do ser humano através da ausência de sentimentos de cunho abstrato (redundância? Veja o filme!), ao invés de dilemas exclusivos da adolescência ou amor (im)possível, por exemplo. Há romance nesta adaptação de Michael Mitnick e Robert B. Weide (Woody Allen: A Documentary), como também um par de sequências de ação, mas é na jornada de (re)descobrimento da humanidade, através dos olhos, mente e coração de Jonas, que reside o coração da obra. Tendo isso em mente e vislumbrando todo o potencial que a obra tinha, especialmente do ponto de vista filosófico-existencial, seu desenrolar e desenlace acabam por deixar um gosto levemente amargo à boca, visto que alguns pontos essenciais não são aprofundados, enquanto a urgência em "terminar" a história parece prioritária (o filme soma pouco mais de 90 minutos de projeção). Em suma, apesar do envolvimento de Noyce, Bridges e Meryl Streep (Álbum de Família), dentre outros, o resultado final de O Doador de Memórias é irregular, tendo toda a sua potencialidade se esvaído por um roteiro mal arquitetado. O desfecho da obra deixa claro a intenção de ser realizada uma sequência, mas os eventos apresentados neste filme, independentemente da qualidade final, não deixam elementos (ou perguntas "válidas") suficientes que justificassem uma continuação. Mais um tiro no pé de um filme bastante promissor.

 ½

TRAILER


Mais Informações:

Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistiola (A Million Ways to Die in the West, EUA, 2014).


É incrível como Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (mais uma tradução ridícula - no mau sentido - feita pela distribuidora do filme no Brasil), mesmo sendo um filme tão bobo, possua uma fotografia tão deslumbrante (cujo cerne é homenagear os grandes clássicos do faroeste) e uma trilha sonora tão agradável - a cargo de Michael Barrett (Beijos e Tiros) e Joel McNeely (Velocidade Terminal), respectivamente -, a ponto do espectador se perguntar se está acompanhando uma "simples" comédia ambientada no velho oeste. Mesmo não sendo absurdamente engraçado - algumas de suas piadas, inclusive, são de mau gosto -, esta segunda incursão de Seth MacFarlane (Ted) como diretor de cinema deu vazão a uma obra divertida, composta por algumas gags interessantes e possuidora de um elenco primoroso (à exceção de MacFarlane, que não segura a onda como protagonista). Charlize Theron (Jovens Adultos), Amanda Seyfried (Os Miseráveis), Giovanni Ribisi (Contrabando), Neil Patrick Harris (Tropas Estelares), Sarah Silverman (Os Muppets) e Liam Neeson (Sem Escalas) dão vida aos diálogos "espertos" escritos por Alec Sulkin, Wellesley Wild e MacFarlane, tornando o filme mais interessante que o esperado. É bem verdade que Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola não é, nem de longe, uma obra brilhante, mas o non sense de algumas sequências, a química entre MacFarlane e Theron, a canastrice de Neeson e o visual exuberante acabam por transformar a desconfiança inicial quanto a sua qualidade em uma agradável experiência cinematográfica, que guarda seus bons momentos (mesmo sem arrancar grandes gargalhadas), ao mesmo tempo em que homenageia (de forma trôpega, mas consciente) o gênero faroeste. Há certa confusão na abordagem proposta por MacFarlane - o foco principal se encontra no humor, no drama ou no romance? -, mas no âmbito geral o filme acaba se saindo bem, apesar de apresentar-se como uma obra mais convencional do que pretendia (e aparentava) ser.

½

TRAILER


Mais Informações:

27 setembro, 2014

Hércules (Hercules, EUA, 2014).


Um dos últimos títulos a ser lançado no período dos blockbusters - o Brasil recebeu o filme com certo atraso -, Hércules é mais uma obra que pode ser categorizada como uma revisão de uma revisão (!). Baseada em uma história em quadrinhos que por sua vez é inspirada no clássico mito grego, o filme apresenta uma espécie de casamento entre Rei Arthur, de Antoine Fuqua e Troia, de Wolfgang Petersen, já que sua abordagem abraça a "desmistificação" do mito, tentando torná-lo o mais realístico possível. Todavia, apesar da boa vontade, fica óbvio na tradução estabelecida por Brett Ratner (diretor), Ryan J. Condal e Evan Spilotopoulos (dupla de roteiristas) que o tal "realismo" será posto apenas quando conveniente, visto a quantidade de sequências de ação (em especial a do desfecho da obra) que beiram ao absurdo. Falando em ação, esta, apesar de bem orquestrada, carece de impacto, resultado deveras simplória. Talvez o grande destaque do filme resida na performance de Dwayne Johnson (Sem Dor, Sem Ganho), que acaba por comprovar de vez que é sim o mais talentoso dos action heroes pós geração anos 1980 (leia-se geração Mercenários), pois além de carisma, o ator apresenta boa densidade dramática, além de um ótimo timing cômico (pouco explorado aqui, mas ainda assim empregado pelo ator). Hércules conta ainda com as participações de Rufus Sewell (Cidade das Sombras) - caricato, mas carismático! -, Ian McShane (Jack - O Caçador de Gigantes) - divertido -, Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado) - horrível - e John Hurt (A Chave Mestra) - exagerado - e com uma trilha sonora correta (a cargo de Fernando Velásquez, do terror Mama), mas as contradições de sua abordagem e as cenas de ação pouco inspiradas (além do 3D desnecessário) deixam o filme abaixo da média das demais obras do gênero. Logo, caso você queira ver uma grande adaptação do mito grego, sugiro que passe primeiro pela animação lançada pela Disney em 1997 e só depois confira esta abordagem (quase) pé no chão.

 ½

TRAILER


Mais Informações:

26 setembro, 2014

Livrai-nos do Mal (Deliver Us from Evil, EUA, 2014).


Scott Derrickson despontou com o filme O Exorcismo de Emily Rose e desde então vem trilhando uma carreira interessante - a exceção foi o fiasco (será mesmo?) O Dia em Que a Terra Parou, remake do cult de 1951 -, mesmo que ainda não tenha reprisado o frescor apresentado em seu filme primeiro. Livrai-nos do Mal, misto de filme policial com exorcismo - a ambientação lembra o filme Possuídos, de 1998 -, como adiantado, não se mostra tão bem acabado quanto a surpresa de 2005, mas possui mais atrativos que deméritos e não deixa de ser curioso que também carregue alguns pontos comunais aquele, como a inspiração em fatos reais, a fotografia mezzo documental (câmera na mão) e a "pegada" enigmática, deixando sempre a dúvida quanto à realidade dos eventos apresentados (há um casamento entre uma abordagem psicológica e religiosa). Estrelado por Eric Bana (O Grande Herói) - correto -, Édgar Ramírez (A Hora Mais Escura) e Olivia Munn (Magic Mike), o filme consegue construir bem tanto o arco de possessão dos soldados norte-americanos vindos do Iraque quanto o do policial Ralph Sarchie (Bana) e seus conflitos internos, mesmo que este seja excessivamente amparado em clichês (policial traumatizado, workaholic e cego para seus problemas familiares), porém é inegável que a trama perde força no seu terceiro ato, muito devido à pressa em depurar o mal - seja dos possuídos/influenciados pela entidade demoníaca, seja de Sarchie, tomado por um "mal interior". Apesar de só se unirem lá pela metade do filme, a relação entre Sarchie e Pe. Mendoza (Ramírez) é de longe a coisa mais interessante da obra, mesmo que o suspense contínuo e a fotografia escura também concorram ao pódio. Longe de ser um grande filme, Livrai-nos do Mal não procura mudar estruturas ou inovar narrativamente, mas procura reverenciar os "clássicos" ao tentar explorar mais os efeitos psicológicos entre os personagens que os efeitos especiais e estes, quando necessários, são dispostos de forma discreta - em sua maioria -, o que contribui para que o foco do espectador permaneça no entorno da trama e na discussão proposta (o "mal" é um "agente" externo ou está entranhado no ser humano?) e não no (possível) carnaval de efeitos e sustos. Não que o filme seja denso (e tenso) como O Exorcista, A Profecia ou O Bebê de Rosemary, por exemplo, mas talvez quem goste (e procure por) de filmes repletos de sustos, efeitos de última geração e violência (gratuita) não curtirá tanto esta experiência. Há falhas neste quinto filme dirigido por Derrickson, mas estas são sinceras, logo, perdoáveis.

★★½

TRAILER


Mais Informações:

21 setembro, 2014

Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, EUA, 1982).

"Ladrão. Guerreiro. Gladiador. Rei" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Até hoje Conan, o Bárbaro (de 1982) divide opiniões - os sites agregadores de críticas Metacritic e Rotten Tomatoes possuem visões distintas (traduzidas em números) da produção -, mas particularmente tenho uma opinião bem definida. Primeiro grande trabalho da carreira do astro austríaco (cacofonia bacana, não?) Arnold Schwarzenegger (Rota de Fuga) e filme mais conhecido de John Milius como diretor, Conan, o Bárbaro foi responsável por (re)inaugurar a era dos épicos de fantasia - assim como Star Wars o foi para os épicos espaciais -, como também por apresentar de forma massiva o icônico personagem concebido pelo escritor pulp Robert E. Howard. Utilizando quase toda a cartilha das grandes produções oitentistas - que escancarou a "ousadia" da produção dos anos 1970 -, especialmente nudez e violência, o filme coescrito por Milius ("ao lado" de Oliver Stone) é, além de um épico de ação fascinante (sua ambientação é incrível, graças a toda a equipe artística do filme, especialmente do designer de produção Ron Cobb e do figurinista John Bloomfield), apresenta um subtexto psicológico bastante profundo - especialmente para produções neste formato -, quando apresenta os dilemas do personagem título com relação a sua vendetta, cuja conclusão, ao contrário do esperado pelo herói, cobra um alto preço. Contando com pouquíssimos diálogos - enquanto alguns dizem que por conta das limitações de Schwaezenegger, o diretor esclarece que esta foi uma opção narrativa -, muita exposição visual - que sim, cumprem com sobras a função de "contar a história" - e composições marcantes de James Earl Jones (O Rei Leão), como o vilão Thulsa Doom e Sandahl Bergman, como Valeria, uma interpretação correta de Schwarzenegger e uma das trilhas sonoras mais emblemáticas da história do cinema - palmas para Basil Poledouris (RoboCop - O Policial do Futuro), Conan, o Bárbaro consagra-se como um produto de sua época, continuando a funcionar, apesar da precariedade de alguns (não todos!) dos seus efeitos especiais. Por fim, assino em baixo quando Earl Jones afirma, em entrevista disponível na edição em blu-ray do filme, que este funcionaria à perfeição mesmo que não tivesse diálogos, tamanho as significações atribuídos pelo seu riquíssimo visual.
 
★★★½

TRAILER


Mais Informações:

19 setembro, 2014

Se eu Ficar (If I Stay, EUA, 2014).

"Viva pelo amor" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Se eu Ficar é o típico filme simpático, mas cuja essência falta alguma coisa. Mais uma adaptação de um best-seller "romântico-juvenil" - a obra original é de Gayle Forman -, o filme conduzido pelo estreante (em longas de ficção) R. J. Cutler trabalha relativamente bem o relacionamento entre a musicista interpretada por Chloe Grace Moretz (Carrie, a Estranha) e o guitarrista vivido por Jamie Blackley (O Quinto Poder) e a relação da primeira com os pais (Mireille Enos e Joshua Leonard), mas escorrega quanto emprega o fator "espiritual" - cujo espectro, como bem lembrou a colega Soyara Lopes, sugeria algo próximo a Um Olhar do Paraíso, de Peter Jackson, porém acabou soando sem definição, deixando a encruzilhada da personagem de Moretz brio, sem significação (ver semiótica) -. A montagem que entrecorta momentos do "limbo" com eventos pretéritos da personagem de Moretz não funcionam a contento, pois enfraquecem a trama através da superexposição de sequências dramáticas, que acabam por "anestesiar" o espectador. Como dito no início, Se eu Ficar, apesar de alguns problemas estruturais (e de não aprofundar a temática abraçada) mostra-se um filme bastante simpático, muito devido ao carisma do quarteto principal de atores - Moretz, Blackley, Enos e Leonard - e, claro, a construção de seus personagens (mérito de Cutler e da roteirista Shauna Cross). A resolução (apressada) do filme pode deixar um gostinho amargo na boca do espectador, mas a jornada proporcionada pelo mesmo é agradável (apesar da montagem), logo, válida.

 ★★★

TRAILER


Mais Informações:

17 setembro, 2014

Advogado do Diabo (The Devil's Advocate, EUA, 1997).

"O mal tem suas maneiras de vencer" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Talvez um "jovem clássico", Advogado do Diabo, de Taylor Hackford (Ray), é ao mesmo tempo um envolvente thriller de tribunal e um suspense de cunho sobrenatural, todavia, recheado de metáforas acerca da índole humano e de sua predileção (natural?) ao casamento com o fácil, com o destacável, com o poder, com a tentação, logo, com o mal. Contando com um Al Pacino (Scarface) no limite entre o "genial" e a caricatura e um Keanu Reeves (Matrix) esforçado - o astro até que tenta representar sentimentos -, o longa baseado na obra best-seller escrita por Andrew Neiderman - cuja adaptação caiu nas mãos da dupla de roteiristas Jonathan Lemkin (Planeta Vermelho) e Tony Gilroy (A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne, O Legado Bourne) - mostra-se envolvente desde o início, apresentando o poder de convencimento (nem tanto) e determinação do jovem advogado Kevin Lomax (Reeves) e sua ascensão vertiginosa após conhecer o poderoso e influente John Milton (Pacino). Mesmo não sendo um cineasta irrepreensível, Hackford conduz muito bem o filme, acertando no tom e na direção de atores, pecando apenas no corte final, visto que a obra acaba se alongando um pouco. Além dos citados, destaco também o tema da sequência final composto por James Newton Howard (A Vila) - este lembra bastante os arranjos de Jerry Goldsmith para o filme A Profecia - e a fotografia de Andrjej Bartkowiak (Jade) - cujas lentes dão um quê onírico à sobriedade pretendida por Hackford -, além das presenças pontuais de Charlize Theron (Prometheus), Connie Nielsen (Missão: Marte), Craig T. Nelson (Poltergeist) e Jeffrey Jones (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça). Advogado do Diabo é um suspense psicológico divertidíssimo, que não pretende aprofundar discussões ou apresentar grandes mensagens, mas de uma forma ou de outra, além do fator entretenimento, suscita a possibilidade de boas discussões acerca da (ou das) natureza humana.

★★★

TRAILER


Mais Informações:

16 setembro, 2014

Malévola (Maleficent, EUA, 2014).

"Não acredite no conto de fada" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Mais uma incursão da Disney século XXI no "gênero" revisão de contos de fada - após os sucessos de bilheteria de Alice e Oz: Mágico e Poderoso -, Malévola comprova que o filão ainda tem muito a render (o filme arrecadou mais de 700 milhões de dólares nas bilheterias mundiais) e que não estou ficando mais jovem (!). Como não resta dúvida quanto a coerência da primeira assertiva, debruçarei um pouco a respeito da segunda. Malévola foi construído especificamente para o público infantil - ao contrário de outras revisões recentes de contos de fada, como os juvenis Branca de Neve e o Caçador e João e Maria: Caçadores de Bruxas -, não para marmanjos como eu. Logo, pelo caminho que o roteiro do filme (a cargo da "especialista" Linda Woolverton) abraça fica claro que este parece não se importar em dar coerência lógica (ou afim) aos eventos que apresentados em sequência, optando pela "simplicidade" para "conquistar" de imediato a criançada. Pouco importa se as motivações de personagens como Stefan (Sharlto Copley, de Elysium) não são aprofundadas de forma alguma ou até mesmo se alguns dos dilemas vividos pela personagem título - que literalmente ganha vida graças a ótima composição de Angelina Jolie (Salt) - apresentam-se tão condensados que acabam por não soar "críveis". O foco do filme está no encantamento da criançada, que certamente ficará atônita com o festival de efeitos especiais - não são espetaculares, mas cumprem relativamente bem seu papel -, com o carisma da personagem principal e com a simplicidade da trama e da jornada de seus personagens. Certamente muita coisa poderia ter sido melhor trabalhada, todavia, como antecipado, o olhar "adulto" pouco afeta o objetivo principal do filme: conquistar especificamente a criançada, entregando um produto de fácil assimilação e cujo objetivo principal encontra-se no encantamento. Neste sentido, não dá para categorizar o filme como ruim. Malévola é um filme bacaninha, ideal para se assistir lado a lado à criançada. Nada demais para tipos como eu, mas (possivelmente) encantadores para a gurizada.

...

Como alguém pode ter sentido falta de observações mais "técnicas", destacaria no filme a trilha sonora assinada por James Newton Howard (A Vila), a fotografia "digital" de Dean Semler (Dança com Lobos) e o figurino (Anna B. Sheppard, de A Menina Que Roubava Livros). O diretor (estreante na função) Robert Stromberg pouco acrescenta, enquanto a equipe de arte, apesar de "bolarem" um visual bacana, exageram um pouco no uso de computação gráfica (não à toa os desenhistas de produção são, ao lado de Stromberg, egressos do universo dos efeitos especiais).

★★★

TRAILER


Mais Informações:

12 setembro, 2014

Getúlio (BRA, 2014).


Mais conhecido por seu trabalho como documentarista em produções premiadas como Janela da Alma, Pro Dia Nascer Feliz e Lixo Extraordinário (indicado ao Oscar), João Jardim volta ao universo da ficção - ele havia debutado em 2011 com o filme Amor? - com a cinebiografia de uma das maiores personalidades da história brasileira (e considerado por muitos como o "melhor" Presidente da República que o país já produziu), Getúlio Vargas. Como não poderia deixar de ser, a estética documental acaba sendo bastante utilizada por Jardim, todavia em excesso. Forçando demais a perspectiva através da câmera na mão e a insistência na composição de planos assimétricos e o excesso de closes - praticamente não há tomada aberta no filme - contribuem sobremaneira para que a obra se torne visualmente cansativa, apesar de sua metragem ser relativamente curta. Todavia, se o o estilo de Jardim não agrada, o mesmo não pode ser dito do clima passado pelo filme - praticamente um thriller de época - e da equipe de arte, que mesmo não podendo expor seu trabalho com garbo (como dito, a fotografia do filme - a cargo do mestre Walter Carvalho - privilegia as tomadas fechadas), merece destaque. O elenco como um todo foi bem escolhido - destaco Drica Moraes (O Bem Amado), que entrega uma performance interessante como a filha e braço direito do "ex-ditador" -, mas o roteiro peca por pouco se aprofundar no âmbito político, privilegiando a tensão quanto à possível culpa ou não do personagem título. Aqui o septuagenário é mais "vovô bonzinho" que lobo da política, abordagem esta que nem mesmo a boa composição de Tony Ramos (Tempos de Paz) consegue mascarar. No mais, Getúlio é um filme interessante, todavia aquém da importância histórica - para o bem ou para o mal - desta figura política brasileira.


★★★

TRAILER

Mais Informações:

11 setembro, 2014

Rock Brasília - Era de Ouro (BRA, 2011).


O veterano cineasta paraibano Vladimir Carvalho - irmão do diretor e fotógrafo Walter Carvalho (Raul - O Início, o Fim e o Meio) - trouxe, em parceria com o Canal Brasil, um apanhado da cena rock brasiliense dos anos 1980 sob o olhar do documentário, que entrecorta depoimentos recentes de membros das bandas Capital Inicial, Plebe Rude, Os Paralamas do Sucesso e Legião Urbana com gravações da época em que os grupos começaram e alcançaram o sucesso em todo o território nacional. Certamente os fãs de história do rock - principalmente, do rock (dito "pop") nacional - se emocionarão com as histórias narradas através das lentes de Carvalho, já que o filme equilibra bem a "participação" dos vários nomes selecionados - seja através de entrevistas realizadas para o projeto, seja através da seleção de imagens de arquivo - e apresenta, de forma objetiva (e um tanto quanto reverente), o início e o "fim" da "maior/melhor" cena rock da década. No âmbito técnico, sinto que faltou a Carvalho decupar um pouco mais as imagens, casando-as de forma mais harmônica, além de construir um roteiro mais crítico e menos condescendente - afinal de contas, o diretor não pertence a geração objeto de estudo -. Talvez se tivesse dado maior enfoque ao contexto político à época (que está posto, mas de forma "leve") e à relação dos artistas com as gravadoras, uso (e abuso) de drogas e com as bandas das demais regiões do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, dentre outras, tiveram cenas riquíssimas na década de 1980) a pecha de interessante tornar-se-ia imperdível, transformando um bom produto do gênero em um clássico referência. Rock Brasília - Era de Ouro não consegue chegar a este patamar, mas não deixa de ser um registro bem cuidado e interessante de um período tão querido pelos amantes de música brasileira.

★★★½

TRAILER


Mais informações:

09 setembro, 2014

Guerra é Guerra (This Means War, EUA, 2012).

"Espião contra espião" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme.
Não é por que Sr. e Sra. Smith deu certo que qualquer filme que misture espionagem, romance, comédia e aventura dará também. Marcando a volta de McG (3 Dias para Matar) ao comando de uma comédia de ação - o cara "surgiu" com os filmes d'As Panteras -, Guerra é Guerra até que tem um elenco bacana - estão no filme Chris Pine (Star Trek), Tom Hardy (Os Infratores), Reese Witherspoon (Amor Bandido), Angela Bassett (Invasão a Casa Branca), Til Schweiger (Bastardos Inglórios) e Rosemary Harris (Homem-Aranha) - mas a sucessão de clichês de seu roteiro - a cargo de Simon Kinberg (autor de Sr. e Sra. Smith) e Timothy Dowling (Faça o Que eu Digo, Não Faça o Que eu Faço) - juntamente às sequências de ação pouco inspiradas, a falta de química do "casal triplo" (curiosamente Pine e Hardy funcionam juntos, mas não quando estão ao lado de Witherspoon!) resultam num filme pouquíssimo engraçado, um crime para uma produção do "estilo", que ainda por cima não sai do lugar comum. McG até cria algumas sequências de ação bacanas, mas isto é muito pouco para um filme que na maior parte do tempo não empolga. Há quem goste deste tipo de produto - sinceramente, Guerra é Guerra encontra-se a um passo da imbecilização -, mas para mim este pode ser catalogado na seção dos descartáveis de qualidade duvidosa.


½
TRAILER


Mais Informações:

08 setembro, 2014

Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho (BRA/ESP, 2014).


Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho, dirigido pelo estreante Daniel Augusto, possui uma produção caprichada e é liderado com propriedade pelo competente Julio Andrade (Serra Pelada), todavia, o subtítulo pretensioso acaba por sabotar qualquer expectativa quanto à possibilidade deste ser um filme de primeira grandeza. Um tanto quanto careta - faltou pulso ao roteiro escrito por Carolina Kotscho (2 Filhos de Francisco) - e contando com uma montagem confusa -, o filme é entrecortado por cenas da adolescência de Paulo Coelho (então interpretado pelo promissor Ravel Andrade) e de sua idade adulta (cujo foco reside em sua peregrinação à Santiago de Compostela) e maturidade (onde acompanhamos um irreconhecível Júlio Andrade por baixo de quilos de látex, que o deixam - literalmente - com a cara de Coelho), mas esta montagem não linear acaba não somando em nada à narrativa do filme, causando apenas confusão. Apesar de faltar um tempero de sex appeal - afinal de contas, estamos falando do "bruxo" parceiro de Raul Seixas -, Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho (ô subtítulo irritante) é um filme bacaninha, mais interessante pela qualidade dos atores envolvidos (com óbvio destaque para a dupla Andrade), pelo trabalho de maquiagem (liderado pelo norte-americano Stephen Murphy, que já trabalhou em produções como Harry Potter e as Relíquias da Morte partes 1 e 2) e pela desenho de produção de Antxón Gómez (A Pele Que Habito) que pela força de sua história (pelo menos, como acabou sendo apresentada aqui).

★★★
TRAILER 

07 setembro, 2014

O Espelho (Oculus, EUA, 2014).

"Você enxerga o que ele quer que você enxergue" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Grata surpresa dentre a safra comumente frágil dos filmes de horror recentes, O Espelho se configura como mais um acerto da produtora de Jason Blum, Blumhouse Productions, que despontou com o fraco Atividade Paranormal, mas que vem se envolvendo, desde então, com produções bem interessantes - cujos maiores destaques encontram-se nos hits Invocação do Mal e Sobrenatural -. O grande destaque de O Espelho encontra-se no "tom" psicológico dado a sua trama "paranormal", visto que o espectador passa quase toda a metragem do filme em dúvida quanto a sanidade da dupla de protagonistas - interpretados por Karen Gillan e Brenton Thwaites, na idade adulta, e Annalise Basso e Garret Ryan, quando crianças - e, consequentemente, se o tal espelho realmente possui "poderes paranormais". Mais interessado em construir o clima da obra do que apresentar um festival de sustos, o filme dirigido e escrito por Mike Flanagan (tendo como co-autores Jeff Howard e Jeff Seidman) acaba sendo uma obra mais profunda do que inicialmente sugeria, inclusive abraçando um desfecho que tem tudo para descontentar àqueles menos afeitos a finais trágicos. 

★★★
 
TRAILER
 
 

04 setembro, 2014

Uma Longa Viagem (The Railway Man, GBR/AUS, 2013).

Colin Firth se transforma numa performance de complexidade emocional imensa   -  The Guardian.
Baseado em fatos reais, Uma Longa Viagem apresenta a história do engenheiro e ex-combatente durante a II Guerra Mundial Eric Lomax - aqui interpretado por um introspectivo Colin Firth (O Discurso do Rei), da idade adulta, e por Jeremy Irvine (Cavalo de Guerra) quando jovem. Responsável por "salvar" (por "duas vezes") seus companheiros britânicos dos algozes japoneses, Lomax acaba sendo alvo de tortura (física e psicológica), carregando este trauma e o sentimento de revanchismo por toda a vida. Há muita melancolia e dor no filme dirigido por Jonathan Teplitzky (Entrando na Linha), aspecto este realçado pela fotografia "isolacionista" de Garry Phillips (Em Nome da Honra) e pela música incidental composta por David Hirschfelder (Elizabeth) - apesar de alguns excessos deste -, aspectos estes que contribuem para que a mensagem de superação de conflitos e amadurecimento cultural galgue êxito. O longa também conta com as participações de Nicole Kidman (Obsessão) - cujos lábios parecem ter sido finalmente "consertados" - e Hiroyuki Sanada (Wolverine: Imortal), que surpreende positivamente nos poucos minutos em cena. Pouquíssimo debatido, Uma Longa Viagem pode não ser dos títulos mais interessantes do ponto de vista da técnica cinematográfica, mais ganha corpo e mostra-se coerente através de sua mensagem e resgate histórico.

★★★½
TRAILER