29 março, 2014

O Grande Herói (Lone Survivor, EUA, 2013).

"Sobrevive para contar a história" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Uma coisa é certa, apesar do chocho título nacional e do original ser um baita spoiler (piada!), O Grande Herói (Lone Survivor) é um baita filme de ação, além de um registro histórico contemporâneo bacana, apesar do ufanismo norte-americano. Dirigido e adaptado com competência pelo também ator Peter Berg (O Reino, Hancock), além de ser estrelado por um elenco para lá de competente (sim, até mesmo Mark Wahlberg encontra-se bem), o filme tem como base o livro autobiográfico escrito por Marcus Luttreel e Patrick Robinson, que narra a missão frustrada de um grupo militar no Afeganistão. Há uma boa pitada de patriotismo tanto na condução de Berg quanto no próprio conteúdo do evento narrado, mas o foco no tema sobrevivência é tão forte que alguns excessos acabam não sendo assim tão prejudiciais. 

A construção de O Grande Herói segue o "be a bá" da "jornada do herói", iniciando com a batida introdução de personagens, seguido pelo chamado a aventura, pelo dilema a ser resolvido e, por fim, o alcance da redenção. Todavia, previsibilidade a parte, o grande barato da obra encontra-se na sensação de verossimilhança construída por Peter Berg e cia., que acabam entregando uma peça coesa não apenas no quesito ação (afinal de contas, temos aqui um filme de ação), mas especialmente no elemento tensão, talvez o maior responsável por toda a "obviedade" apresentada funcionar.

É fato que O Grande Herói tem por essência a velha premissa de sobrevivência a qualquer custo do heroico soldado norte-americano, mas a condução de Peter Berg e do elenco principal consegue, na maior parte da obra, transferir esta tal orientação patriótica de maneira universal, destacando bem mais o conflito interno das personagens e a necessidade de sobrevivência mais próxima do instintivo, do animalesco, do que de algo como elemento inerente ao valente soldado norte-americano ou qualquer outra bobagem neste sentido. O terceiro ato do filme talvez seja o mais prejudicado no contexto geral, já que enfoca na "salvação" do sobrevivente americano pelo afegão "bonzinho", só que não há contextualização desta bondade, sendo esta no mínimo gratuita e conveniente. Não questiono a veracidade do fato no qual tal sequência foi baseada, mas sim na construção trôpega do roteiro neste momento. Por outro lado, o fato dos inimigos à caça dos soldados não serem construídos de forma vilanesca - como entes malvados e genéricos -, mas simplesmente como opositores - já que em um conflito devem existir pelo menos dois lados - é um grande acerto de Berg e cia., o que acaba por deixar a trama um tanto afastada do cunho maniqueísta e a aproxima de um viés mais universal.

Como todo bom filme de ação o aspecto técnico acaba obtendo maior destaque e em O Grande Herói não poderia ser diferente. A direção de fotografia conduzida pelo alemão Tobias Schliesser (Dreamgirls - Em Busca de um Sonho) certamente é um dos atrativos, pois além de capturar imagens belíssimas e com um quê de romantismo (há um toque de Emmanuel Libezki no trabalho apresentado por Schliesser), transmite urgência através de seus enquadramentos e movimentos de câmera, que aliados ao ótimo trabalho da equipe de som - por sinal, merecidamente indicada ao último Oscar - (Andy Koyama, Beau Borders, David Brownlow - mixagem de som - e Wylie Stateman - edição de som), preenchem as possíveis lacunas deixadas pelo roteiro e estabelecem quase que por completo o clima pretendido pelo filme. Também merece registro o trabalho de montagem Colby Parker Jr. (A Colheita do Mal) e a seleção musical de Steve Jablonsky (Ender's Game - O Jogo do Exterminador).

Como dito mais acima a escalação do elenco foi no mínimo apropriada, já que reuniu alguns "jovens" talentos (à exceção de Wahlberg, figura mais que carimbada em terrenos hollywoodianos) cujas carreiras são mais marcadas (com raras exceções) por papéis de suporte, mas que aqui ganham um pouco mais de espaço. O tato dramático de nomes como Ben Foster (360) e Emile Hirsch (Killer Joe - Matador de Aluguel), além da forte presença física de Taylor Kitsch (Selvagens) e do carisma de Eric Bana (Star Trek), ajudam à conexão para com a história narrada, visto que, apesar desta não desenvolver tanto seus personagens, a entrega do elenco acaba sobrepujando tal deficiência. 

Empolgante e reverente no limite certo, O Grande Herói é, sem sombra de dúvidas, o melhor trabalho de Peter Berg como diretor - espero que após este êxito criativo e comercial ele pare de tentar ser um apêndice de Michael Bay - e um dos (poucos) acertos no rol de filmes a registrar/homenagear eventos passados nas últimas duas guerras protagonizadas pelos filhos do tio Sam. Certamente o filme peca na apresentação do conteúdo político (pouco abraçado) e até mesmo no equilíbrio do tom empregado (em alguns momentos o exagero de certos acontecimentos incomoda), mas funciona impecavelmente nos quesitos tensão e ação, elementos estes reforçados pela qualidade do elenco principal. No mais, tem-se aqui um bom filme com uma boa história.

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20 março, 2014

O Conselheiro do Crime (The Counselor, EUA/GBR, 2013).

"Um homem daria nações inteiras para tirar o pesar de seu coração, porém nada se compara com o pesar, porque o pesar não tem valor. [...] A vida não vai levá-lo de volta. Você é o mundo que criou e quando você deixar de existir esse mundo que você criou também deixará de existir" (Mensagem do personagem de Rubén Blades ao advogado interpretado por Michael Fassbender).
Nem sempre a união de um bom diretor com um escritor premiado e um elenco de estrelas hollywoodianas dão vazão a uma boa obra cinematográfica e é justamente como exceção que O Conselheiro do Crime se encaixa, visto que, apesar de todo o potencial material do filme seu resultado final beira ao nível do mediano, quando não abaixo do mesmo. Um dos maiores problemas do filme reside em sua estrutura narrativa que "joga" diversos personagens de uma só vez, cada um com sua "agenda", deixando o espectador desinformado durante toda a primeira hora de projeção, quando só então a obra começa a mostrar a que veio. Há frases interessantíssimas elaboradas por Cormac McCarthy (autor de obras como A Estrada e No Country for Old Men) e entoadas pelo elenco estelar, mas estas não sustentam a narrativa frágil e a coleção de erros orquestrada com mão frágil pelo veterano (e irregular) Ridley Scott (Prometheus).

Dentre o leque de grandes nomes que desfilam pelo filme temos Penélope Cruz (Volver), Cameron Diaz (Gangues de Nova York), Javier Bardem (Amor Pleno), Brad Pitt (Guerra Mundial Z) e Michael Fassbender (Um Método Perigoso), cujas composições surgem agradáveis, especialmente as de Fassbender e Bardem, porém não suficientes para que exista uma conexão (empatia) entre estas e o público espectador. O personagem de Bardem é histriônico e caricato (tanto devido a composição do ator, quanto pelo aparato de maquiagem e figurino que constroem um personagem ímpar), enquanto o de Fassbender é mais pé no chão, porém bobo, raso. Mesmo que este seja um personagem sem profundidade, Fassbender ainda consegue entregar algumas cenas de forte impacto emocional, enquanto Bardem aproveita o exagero do seu para dar um show de over-acting (que, apesar da distância das outras interpretações do filme, acaba funcionando). Quanto a Cruz, Diaz e Pitt, apesar de uma ou outra cena marcante, não chegam a sobressaírem à obra, sendo mais peça decorativa do que personagens-guia à trama.

Equivocadamente vendida como a primeira obra roteirizada por Cormac McCarthy - o escritor já havia adaptado uma obra sua para a tevê, The Sunset Limited, cuja direção coube a Tommy Lee Jones (Lincoln) -, O Conselheiro do Crime, assim como sua premissa, pode ser definido como um produto estranho. Se por um lado sua fotografia é atrativa (responsabilidade do competente Dariusz Wolski), a música incidental de Daniel Pemberton (O Despertar) funciona e o elenco de estrelas chama imediata atenção, o roteiro de McCarthy não sai do âmbito da promessa - há algumas boas sacadas, especialmente quanto aos diálogos, mas só -, a montagem do veterano Pietro Scalia (Até o Limite da Honra) não parece adequada - a montagem acabou por deixar o filme muito cansativo - e a direção de Scott mostra-se apenas correta, o que é muito pouco para um diretor com tamanha estirpe e experiência.

Logo, apesar da premissa interessante e da coleção de astros e estrelas envolvidos em sua produção, O Conselheiro do Crime acaba não saindo do lugar comum, alçando pouco voos e resultando numa obra no máximo mediana, cujos "comos e porquês" acabam não sendo resolvidos de maneira satisfatória. É certo que foi durante a produção do filme que Ridley Scott perdeu o irmão - o também cineasta Tony Scott (Inimigo do Estado), que cometeu suicídio em 2012 -, o que pode ter influenciado o primeiro na condução frágil do filme, porém também é certo que faz um bom tempo que ele não lança um filme realmente impactante - para mim seus últimos bons filmes foram O Gângster e Rede de Mentiras, de 2007 e 2008 respectivamente -. Seja por motivo A ou B, o certo é que não foi desta vez (novamente) que Scott nos presenteou com um grande evento cinematográfico.

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15 março, 2014

Carrie, a Estranha (Carrie, EUA, 2013).

"Você conhecerá o nome dela" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Esta mais recente versão de Carrie, a Estranha dirigida pela competente Kimberly Peirce (Meninos Não Choram, Stop-Loss - A Lei da Guerra) é um filme bem intencionado, mas que falha tanto em atualizar aquilo apresentado por Brian De Palma na primeira versão cinematográfica da obra literária de Stephen King, como em apresentar uma visão distinta daquela, sagrando-se assim como uma obra em cima do muro, cujas boas escolhas acabam sabotadas por outras de cunho um tanto duvidoso, resultando assim em um filme mediano, dono de algumas cenas impactantes entre outras cuja falta de inspiração chega a ser gritante. É certo que a obra da década de 1970 encontra-se datada em alguns pontos, mas sua premissa continua interessante, além daquela apresentar-se como uma obra rica tecnicamente. Já esta versão atualizada, apesar de algumas boas sacadas visuais capitaneadas por Peirce não consegue sair de cima do muro, acabando por distanciar-se pouquíssimo de outras obras de terror teen genéricas que aportam nos cinemas de tempos em tempos.

Parte da estratégia da MGM para se capitalizar neste novo milênio - desde seu "renascimento" foram diversas as refilmagens de sucessos de seu catálogo de filmes -, Carrie, a Estranha guarda pelo menos um elemento que o aproxima de outro lançamento recente do estúdio, o RoboCop dirigido por José Padilha, que é o fato de contar com um roteirista principiante com a responsabilidade de retraduzir uma história consagrada e cujo séquito de fãs (e fanáticos) é gigantesco. Coube a Joshua Zetumer a missão de recontar a história do policial do futuro, enquanto Roberto Aguirre-Sacasa se responsabilizou por renovar a obra original concebida por Stephen King. Tal opção resulta em duas possibilidades óbvias: primeiro os produtores, teoricamente, acabam possuindo um poder de influência ainda maior na construção do filme; segundo, possivelmente o resultado final do roteiro pode acabar soando excessivamente "redondo", óbvio e, por que não redundante, o que acabou por acontecer em ambos os filmes citados, mas com maior destaque em Carrie.

No papel a escalação do elenco parecia interessante, mas o resultado final não foi assim tão agradável. É notório que tanto Chloe Moretz (Sombras da Noite) quanto Julianne Moore (Ensaio Sobre a Cegueira) são excelentes atrizes e que as mesmas se esforçam para darem o máximo de profundidade a suas respectivas personagens - a primeira interpreta a personagem título, enquanto a segunda compõe sua perturbada mãe -, mas estas não são bem desenvolvidas pelo roteiro, que até tenta readaptar alguns dos elementos dispostos no filme original mas parece esquecer de contextualizá-los de forma que os distanciem da caricatura, que é o que infelizmente acaba imperando no filme. Há também certa desequilíbrio na composição de personagem de Moretz, especialmente no retrato de fragilidade e dessintonia de sua personagem para com a realidade qua a cerca - seja a opressão do lar, seja a do mundo externo.

Logo, mesmo com o esforço das atrizes principais e da tentativa de atualização por parte do roteiro, a obra acaba perdendo muito no quesito alegórico, inclusive resultando pouco sutil, especialmente quando constatado que o autocontrole de Carrie quanto à manifestação de seus poderes telecinéticos é utilizado apenas quando conveniente à trama, já que o filme é construído de forma a apresentá-la "dominando" a telecinésia desde o início do filme, mas parece esquecer disto na construção de seu desfecho, quando a personagem simplesmente esquece do potencial destrutivo do "dom" que possui. Enfim, mesmo que Kimberly Peirce consiga construir algumas sequências bacanas há muita incoerência no desenvolvimento da obra como um todo, que acaba prejudicando bastante sua estrutura narrativa.

Pesando um pouco a mão no que tange ao balé de efeitos visuais - mais uma vez o sangue digital contribui para uma maior artificialização da experiência cinematográfica - e pouco acrescentando em comparação ao filme original, Peirce entrega aqui um produto cheio de altos e baixos, que conta com um elenco principal bacana (apesar do péssimo elenco de apoio, formado por rostinhos bonitos para lá de inexpressivos) e uma direção eficiente da mesma (apesar de muito distante do baile de técnico orquestrado por De Palma em 1976), mas que acaba não fugindo da cartilha básica do entretenimento de horror, encaixando-se inclusive no rol das revisões que têm tudo para serem esquecidas com o passar do tempo. Certamente Carrie, a Estranha versão 2013 não é um desastre de filme, mas encontra-se distante do patamar de excelência. Na dúvida, visite o filme setentista ou leia a obra literária original (que não tive a oportunidade de ler, mas que tenho interesse em fazê-lo).

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13 março, 2014

Camille Claudel 1915 (FRA, 2013).


Apesar de abraçar parte da história da famosa escultora francesa - tão conhecida por sua arte quanto pelo seu envolvimento romântico com Rodin - e possuir uma fotografia bastante peculiar e atraente (méritos do fotógrafo Guillaume Deffontaines, de Anos Incríveis), Camille Claudel 1915 não se mostra tão atraente no contexto geral, sendo muitas vezes redundante e pouco interessante, mesmo contando com esforços da ótima Juliette Binoche (O Paciente Inglês) e com a sensibilidade estética do cineasta Bruno Dumont (A Humanidade), que resgata o conteúdo de algumas cartas trocadas pela verdadeira Camille e por seu irmão, o pintor Paul Claudel (aqui interpretado por Jean-Luc Vincent) e as traduz para o cinema. Infelizmente algo é perdido durante esta viagem, já que apesar de ter seus méritis, a obra cinematográfica assume-se bastante problemática, especialmente quanto ao seu ritmo e a extensão de seu conteúdo.

É mais do que clara a tentativa de Dumont em aproximar ao máximo a composição de seu filme ao teatro, quando percebemos que grande parte deste funciona como uma espécie de monólogo, seja protagonizado pelos seres no entorno de Camille - irmãs, médico e "loucos" -, seja externalizado por um inspirado e apreciador de uma espécie de crença "metafísico-cristã" Paul Claudel. Contudo, quando compilado estas passagens não conseguem traduzir com força a angústia e o medo da personagem título, especialmente para aqueles que não possuírem um repertório mínimo a respeito da vida e obra da artista. Soma-se a esta falta de contextualização uma montagem excessivamente truncada - há tempos não via tomadas levarem tanto tempo para serem cortadas - que homenageia de forma exagerada aquelas dos primórdios do cinema, quando uma cena só poderia ser cortada para outra quando um personagem ou veículo saia totalmente do enquadramento.

Mesmo sendo dono de uma estética razoavelmente interessante, música totalmente baseada em Johann Sebastian Bach, um texto de cunho poético e uma composição de personagem interessantíssima feita por Juliette Binoche, Camile Claudel 1915 parece não sair do lugar, não deixando seu propósito claro (nem mesmo sugerindo isso) em momento algum, apresentando-se assim como uma obra interessante tecnicamente, mas cuja alma (pretensão maior do filme) não desperta empatia, muito pelo contrário, em alguns momentos é possível se ver perguntando o por que do filme. Certamente este não é um mau filme ou um filme ruim, mas a sensibilidade pretendida pelo mesmo não conectou-se com a minha ao conferi-lo. Uma pena.

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07 março, 2014

Até o Fim (All is Lost, EUA, 2013).


Competindo com Gravidade pela atenção do público norte-americano em outubro do ano passado, não é apenas mercadologicamente que Até o Fim, produção dirigida por J. C. Chandor (Margin Call - O Dia Antes do Fim) e estrelada por Robert Redford (Sem Proteção) guarda ecos com o filme sensação de 2013, já que, apesar da ambientação e do objetivo distinto, há uma grande intersecção entre os assuntos discutidos por ambos os filmes, especialmente o binômio solidão-sobrevivência. Assim como o filme dirigido por Alfonso Cuarón, Até o Fim sai da moldura "confortável" do filme convencional ao proporcionar mais do que uma experiência audiovisual, mas também um rico debate filosófico-existencial conjugado no imagético da obra e nos eventos desdobrados através da luta contra a fúria da natureza, havendo então pouquíssimo espaço para falas no filme, além da inexistência de diálogos.

Este exercício de sobrevivência conduzido pelo jovem e promissor J. C. Chandor deve muito a entrega de Robert Redford, que transborda carisma apesar da falta de background de seu personagem, além das linhas de texto serem praticamente nulas - à exceção de uma fala em off no início do filme e de um par de fucks, além de uma série de mayday, o único som que ouvimos no filme se dá através do mar e do barco onde o personagem se encontra -. A angústia transmitida por Redford é construída de forma paulatina, nos dando a impressão de que a esperança de sobrevivência - o personagem, além de sozinho, encontra-se à deriva com um barco danificado, sem comunicação para com "terra firme" e enfrentando verdadeiras provações devido ao constante mau tempo - vai sendo decomposta aos poucos, até chegarmos ao desfecho catártico sensacional, onde a entrega pode muito bem tornar-se uma segunda chance. Preterido pelo Oscar, a atuação de Redford foi lembrada por diversos outros festivais e premiações, tendo inclusive sido escolhido como melhor ator do ano pelos críticos de Nova York.

Como conduzir um filme sem diálogos e com música pontual (outra característica que o aproxima de Gravidade) sem apenas explorar um ator de qualidade? Trabalhando muito bem o desenho de produção (John P. Goldsmith, de Onde os Fracos Não Têm Vez) e a direção de arte (Marco Niro, de Mestre dos Mares - O Lado Mais Distante do Mundo), os efeitos especiais práticos e os efeitos visuais digitais (afinal de contas, a natureza tem papel fundamental na história contada), que são captados e amplificados pelas lentes de Frank G. DeMarco (Um Por Todas e Todas por Um) e Peter Zuccarini (A Letter to True) - o último contribui bastante com seu olhar de documentarista - e, talvez o elemento mais importante (não à toa acabou sendo o único lembrado pela Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood) de uma obra como esta: o som. Logo, merecem congratulações Brandon Proctor (Amor Bandido), Richard Hymns (Lincoln) e Steve Boeddeker (Killer Joe - Matador de Aluguel) - o primeiro editor de som, enquanto os demais foram responsáveis pela mixagem de som), cujo ótimo trabalho ajuda a sedimentar o clima e o sentimento de impotência proposto pelo filme.

Pouco visto, mas muitíssimo bem comentado, Até o Fim chega aos cinemas brasileiros com quase cinco meses de atraso em relação aos lançamento no mercado norte-americano, mas é daquele tipo de filme que ganha absurdamente quando visto numa tela de cinema. Lento e pouco dinâmico, certamente Até o Fim não é uma obra que ganhará o grande público, visto que, apesar de não ser complexa, exige que o espectador esteja conectado com sua proposta de discussão e estética, não sendo assim um filme de fácil assimilação, pois carrega questionamentos que devem ser refletidos após o surgimento da tela preta. Particularmente fui capturado por esse exercício cinematográfico concebido por J. C. Chandor, mas admito que a experiência aqui apresentada não agradará a todos.

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06 março, 2014

Trapaça (American Hustle, EUA, 2013).

"Todo mundo vai ao limite para sobreviver" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Uma coisa é certa, Trapaça é um filme muito divertido. Novo trabalho do queridinho David O. Russell (O Lado Bom da Vida), o longa é levemente inspirado em fatos reais, mas ganha força pelos caminhos inusitados dispostos à trama pelo diretor e roteirista, como também pelo elenco, que teve bastante liberdade para improvisar diálogos e ajudar O. Russell a reconstruir o conceito original que abordaria uma dupla de trapaceiros (vividos por Christian Bale e Amy Adams) cuja missão seria prestar consultoria a um agente da CIA (personagem de Bradley Cooper) a pegar gente graúda da política norte-americana com a boca na botija. Ambientada nos anos 1970, a trama tem tudo para pegar o espectador de imediato, seja pela série de eventos rocambolescos que surgem a rodo, seja pelo leque de personagens esquisitos, mas carismáticos, que desfilam pelo filme. Entretenimento de qualidade realizado com precisão, Trapaça é um filme redondo e bem feitinho, mas não o bastante para justificar toda a comoção pública (está longe de ser uma obra-prima), muito menos as trocentas indicações ao último Oscar.

Uma série de fatores fazem de Trapaça um filme interessante, tanto esteticamente quanto narrativamente. As equipes de maquiagem e figurino (liderada por Michael Wilkinson, de O Homem de Aço) realizam um grande trabalho ao lado da designer de produção Judy Becker (Hitchcock), conferindo um visual chamativo mas reverente à década de 1970, enquanto o fotógrafo Linus Sandgren (Terra Prometida), apesar de não brilhar, ajuda O. Russell a captar as imagens mais adequadas as pretensões da história, enquanto este último orquestra com competência o visual carregado, além das falas e das performances do elenco, de longe o maior destaque da fita.

O que dizer a respeito de um filme encabeçado por um elenco de primeira qualidade que está se divertindo a beça? Apesar de nem todos terem sido lembrados pelos festivais e premiações afora, o quinteto principal entrega performances bem niveladas, sendo necessário destacar não apenas as composições indicadas ao Oscar de Bale, Adams, Cooper e Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes, Jogos Vorazes: Em Chamas), mas também a de Jeremy Renner (João e Maria: Caçadores de Bruxas), cuja participação é tão ou mais impactante que a de Lawrence, por exemplo. Como tudo relacionado ao filme, as interpretações brincam bastante com a questão do real e do falso, seguindo a onda da carga de absurdo pedida pelo roteiro de O. Russell e Eric Warren Singer (Trama Internacional), mas assim como todo o pacote estas não mostram nada de excepcional, que ultrapasse o limite da pura diversão. Há outras camadas de discussão no filme? Há sim, mas estas são tão diluídas e pouco exploradas que o senso de diversão acaba por engolir tudo mais.

Gosto do trabalho desenvolvido por David O. Russell e o considero um cineasta interessante, além de bastante esforçado. Todavia, não acho que seus trabalhos sejam assim tão excepcionais a ponto de conquistarem tanta comoção, especialmente da crítica. Seus últimos dois trabalhos, O Vencedor e O Lado Bom da Vida, foram indicados a vários prêmios Oscar e Globo de Ouro, por exemplo, mas, apesar destes serem filmes muito bons, não acredito que sejam tão bons assim. É certo que neles e em Trapaça o diretor consegue extrair desempenhos marcantes de seu elenco, mas o roteiro destes filmes são um tanto quanto quadradinhos demais, seguindo uma pseudo-fórmula para agradar tanto os críticos de plantão quanto o grande público, tornando suas obras pouco corajosas e até mesmo engessadas. No caso de Trapaça o problema maior reside no alargamento exacerbado da trama - são mais de duas horas de projeção para pouco assunto -, que só consegue manter-se interessante pelo bom desempenho dos atores e pela cosmética do filme em si. Muitos descreveram o filme de O. Russell como um genérico de Martin Scorsese e tal pensamento não está muito longe da verdade. Bacana que temos aqui um baita cineasta como referência, não?

Indicado a dez prêmios Oscar, Trapaça acabou não levando nenhuma das estatuetas para casa. Isto não faz dele um mau filme, muito pelo contrário, mas de certa forma confirma a impressão que tive após vê-lo pela primeira vez: taí um filme bacana e redondinho, mas que não tem cara (nem merece) prêmio algum. Indo na escola de títulos como Prenda-me Se For Capaz, de Steven Spielberg e da franquia iniciada por Onze Homens e um Segredo, conduzida por Steven Soderbergh, Trapaça é uma peça de entretenimento vistosa, bem feita e muito divertida, mas não muito além disso. Certamente será muito bem aceita no mercado de home-vídeo, mas não duvido que torne-se esquecida com o passar dos anos.

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05 março, 2014

Frozen - Uma Aventura Congelante (Frozen, EUA, 2013).


Enquanto a Pixar Animation vem tropeçando em seus últimos lançamentos - é certo que seus últimos dois filmes foram bacanas, mas ainda encontram-se distantes distantes das obras-primas lançadas na década passada -, a Disney vem reencontrando seu caminho após pelo menos duas décadas de "ostracismo" criativo. Filmes como Enrolados e Detona Ralph já sugeriam uma mudança de paradigma, mas é com este Frozen - Uma Aventura Congelante que a célebre produtora de animações confirma sua força nesta nova era, pois mostra aqui uma obra divertida, contagiante, interessante e bem realizada, não à toa acabou por ser recentemente premiada com os prêmios Oscar de melhor animação e melhor canção original (Let it Go).

Levemente inspirado no conto de fadas A Rainha da Neve, do dinamarquês Hans Christian Andersen, com roteiro do trio Shane Morris, Chris Buck (Tarzan) e Jennifer Lee e direção dos dois últimos, Frozen - Uma Aventura Congelante é acerto do início ao fim, seja pela construção narrativa interessantíssima, pela profundidade na construção e desenvolvimento das personagens - por incrível que pareça (afinal de contas, trata-se de uma obra com a assinatura Disney) não há espaço para branco e preto na distinção entre bem e mal, a escala cinza está posta e o grande barato não se dá pela identificação do vilão, mas sim pela curiosidade quanto ao porvir da história, que tem um desenvolvimento interessantíssimo, seja pelo clima de aventura posto, seja pela profundidade da discussão posta acerca das diferenças e de como estas podem, quando compreendidas, servirem à igualdade.

O filme conta com um elenco de vozes bacana, apesar de não muito conhecido - as animações Disney não necessariamente escalam grandes astros de Hollywood para "dar vida" aos seus personagens -, mas o grande destaque encontra-se em Josh Gad (Quebrando a Banca), que compõe aqui mais um personagem célebre no rol de produções Disney, o querido boneco de neve Olaf. O quarteto principal de vozes - formado por Kristen Bell (Ressaca de Amor), Idina Menzel (Encantada), Jonathan Groff (Conspiração Americana) e Santino Fontana (Operação Sombra: Jack Ryan) - faz um ótimo trabalho, mas nada tão marcante quanto o realizado por Gad. Não duvide caso a Disney programe um filme solo de Olaf ou algum especial ou série animada para tevê.

Frozen - Uma Aventura Congelante é visualmente arrebatador, especialmente por conseguir produzir sequências incríveis com gelo e neve, elementos estes - assim como água e fogo - bastante difíceis de serem recriados digitalmente, mas a equipe de animações e efeitos visuais conseguiu superar as dificuldades e entregou um visual verossímil e imersivo (não tive a oportunidade de conferir a versão 3D do filme, mas a impressão que fica é a de que ter ficado belíssima), que soma a narrativa do filme, sendo um dos personagens principais, mas não chamando toda a atenção para si mesmo. Um ótimo trabalho do designer de produção David Womersley (O Galinho Chicken Little) e do diretor de arte Michael Giaimo (Pocahontas - O Encontro de Dois Mundos). É certo que a estética do filme lembra muito a de Enrolados (como dito acima, outra produção dos estúdios Disney), mas isso não chega a incomodar, já que, apesar das semelhanças, há um direcionamento distinto nesta obra.

Retomando a tradição Disney de inserir grandes canções entre eventos dramáticos ou até mesmo em substituição de algum evento dramático, a obra conta com alguns ótimos números e músicas bem marcantes, o que faz com que o excesso de cantoria da primeira hora seja compensada, pois estas são, inquestionavelmente, muito boas. É válido destacar que estas canções - especialmente a oscarizada Let it Go - trazem tanto em suas melodias quanto em seus arranjos uma "pegada" mais moderna, o que certamente despertará uma grande identificação do público consumidor da música pop contemporânea (tanto é verdade que a trilha sonora do filme foi líder de vendas por muito tempo). O trabalho do compositor Christophe Beck (Se Beber Não Case! Parte III) também deve ser enaltecido, pois seus temas funcionam tanto quando sozinhos quanto quando acompanham as canções entoadas pelas personagens Anna (Bell) e Elsa (Menzel).

Comprovando que ainda pode apresentar grandes obras, cujas histórias primam não só pela manutenção dos conceitos da Disney tradicional, como também procuram modernizar certos elementos em busca de adequar-se aos novos públicos, a Disney dá um passo a mais com Frozen - Uma Aventura Congelante, o que é excelente, pois confirma a força criativa do estúdio, mas também mostra-se perigoso, pois o nível alcançado certamente terá que ser mantido em suas próximas produções. Questões mercadológicas a parte, o certo é que Frozen - Uma Aventura Congelante é de longe a melhor animação "tradicional" lançada por um grande estúdio em 2013, além de melhor produto da Disney desde Tarzan, de 1999 (muitos a equiparam ao clássico O Rei Leão, mas particularmente não iria tão longe), cuja forma e conteúdo sagra-se primorosa, possuindo todas as ferramentas para agradar tanto crianças quanto adultos. Certamente uma animação mágica como só a Disney clássica poderia produzir.

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04 março, 2014

Blue Jasmine (EUA, 2013).


Woody Allen é Woody Allen e, mesmo quando pouco inspirado, consegue trazer pelo menos um punhado de ideias transmutadas na forma de diálogos que soam interessantes e perspicazes. Mais conhecido por suas comédias, apesar de ter se debruçado com absoluta qualidade em dramas e filmes de cunho mais experimental, nos últimos dez anos Allen vem se destacando mais por seus trabalhos de cunho dramático do que por suas comédias de costumes, tanto que seus últimos trabalhos lembrados por festivais e pelo indefectível Oscar foram Match Point, de 2004, Vicky Cristina Barcelona, de 2009, Meia-Noite em Paris, de 2011 e este Blue Jasmine, lançado ano passado. Nenhuma destas obras têm a comédia como base motriz - o que mais carrega humor é Vicky Cristina Barcelona -, o que confirma que, na fase atual de sua extensa (e valiosa) carreira, o drama encontra-se com mais vigor do que as linhas cômicas.

A crise financeira iniciada em 2008 é o pano de fundo para a história de Jeannette/Jasmine (Cate Blanchett, vencedora do Oscar pelo papel), ex-dondoca da alta roda social nova-iorquina que amarga não apenas a perda das posses abastadas e do status social, como também encontra-se divorciada (o esposo, vivido por Alec Baldwin, acabou cometendo suicídio após ter sua prisão decretada por sonegação e otras cocitas más) e morando com sua irmã adotiva (Sally Hawkings, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel) no subúrbio de São Francisco. É claro que a adaptação de Jasmine mostrar-se-á sofrida, não apenas pela conjuntural cultural e social completamente distinta da qual esta encontrava-se acostumada, mas também pelo seu status hipocondríaco, vício em destilados e surtos psicológicos. Allen estabelece aqui um belo estudo de personagem, além de discutir, mesmo que de forma superficial, algumas particularidades entre classes sociais e realidade culturais tão distintas.

Como todo filme escrito e dirigido por Woody Allen, o grande barato encontra-se na soma das situações inusitadas e dos diálogos distintos bolados pelo cineasta com a qualidade e desempenho de seu elenco (aspecto este que nem sempre se encaixa com as pretensões artísticas do diretor) e Blue Jasmine honra muito bem esta comunhão, especialmente na questão do elenco, formado por rostos conhecidos e outros nem tanto, mas todos (ou quase todos) muito bem dispostos em seus respectivos papéis. Afora Blanchett e Hawkings, destacam-se Bobby Cannavale (série Boardwalk Empire), cuja interpretação/personagem foi bastante comparada a do jovem Marlon Brando em Sindicato de Ladrões, especialmente quanto aos trejeitos utilizados por Cannavale, Louis C. K. (Trapaça) e Michael Stuhlbarg (A Invenção de Hugo Cabret), além de Peter Sarsgaard (O Suspeito) e do canastrão gente boa Alec Baldwin (Rock of Ages), reciclando seu papel de galinha mor. Em geral, a caracterização do elenco funciona como o pulmão da obra de Allen, pois materializa as características (manias, manifestações culturais, capacidade intelectual etc.) pretendidas pelo texto de forma a dar maior verossimilhança, tornado o filme mais orgânico e menos teatral que outras obras do cineasta nova-iorquino.

Em Blue Jasmine é mantido o jeito Woody Allen de filmar, apesar de contar aqui com o fotógrafo Javier Aguirresabore (mais conhecido por seus trabalhos com o espanhol Pedro Almodóvar) e com um diretor de arte estreante em filmes de Allen, Michael Goldman (Além da Escuridão: Star Trek), o que comprova que o cineasta, apesar da idade avançada, ainda possui uma identidade visual definida e ativa. Tanto a cidade de São Francisco quanto Manhattan são bem captadas pela equipe, mas talvez pelo caráter mais "pesado" do filme há bem menos contemplação por aqui, especialmente em comparação as duas últimas obras de Allen, Meia-Noite em Paris e Para Roma Com Amor.

Contando com uma performance muito forte de Cate Blanchett (sua composição e entrega mostraram-se fantásticas) e com uma trama simples, porém bem construída, Blue Jasmine pode ser considerado como mais um dos grandes trabalhos de Woody Allen, talvez não alcançando o altar dos clássicos, mas bem posicionado entre os bons filmes do cineasta. Com uma média de um filme lançado por ano fica difícil manter o nível de qualidade inabalável, mas é sabido que o diretor produz mais trabalhos com alta qualidade do que sem, assertiva esta mais do que confirmada por Blue Jasmine. Allen lançou dez filmes nos últimos dez anos, destes pelo menos cinco (Jasmine inclusa) podem ser considerados como trabalhos de alto nível, fora as demais que mostram-se, com raras exceções, minimamente interessantes, uma marca surpreendente para produções autorais criadas e realizadas com intervalos tão curtos entre si e por um senhor que hoje conta com quase 80 anos de idade.

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01 março, 2014

Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, EUA, 2013).

"Ele ousou viver" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Clube de Compra Dallas não ousa na forma ou no conteúdo e discute um tema que já fora debatido com profundidade similar em filmes como Filadélfia e E a Vida Continua, mas funciona muito bem, seja pela entrega de seu elenco - especialmente as atuações indicadas ao Oscar de Matthew McConaughey (Amor Bandido) e de Jared Leto (Réquiem para um Sonho) - ou pelo contexto inusitado pelo qual caminha a trama do filme, cujo foco reside no contrabando de medicamentos e/ou substâncias medicamentosas com o intuito de inibi ao máximo o alastramento do vírus HIV em pacientes diagnosticados com AIDS, tudo isso no período de efervescência da doença, a "famigerada" década de 1980.

O roteiro composto pela dupla Craig Borten e Melisa Wallack (Espelho, Espelho Meu) é bem construído, desenvolvendo bem o arco narrativo do personagem de McConaughey, Ron Woodroof, o típico cowboy norte-americano e pincelando os demais personagens, cujo foco existe apenas quando passam a se relacionar com o primeiro. É certo que a trama em si não traz grandes novidades no sentido de conteúdo, destacando-se mais pela importância do tema resgatado e pelo desenvolvimentos de personagens, que somados a direção segura de Jean-Marc Vallée (A Jovem Rainha Vitória) e ao desempenho marcante do elenco principal provocam empatia e interesse imediatos pelo acompanhamento da história narrada.

Tecnicamente não há tanto o que se falar, pois a estrutura de edição do filme segue uma linha bastante convencional (para não dizer clássica), como também sua fotografia (a cargo de Yves Bélanger). Já a direção de atores merece destaque, já que não apenas explora de forma impecável o poder de interpretação de seu elenco, mas o faz de forma crescente, buscando assim ganhar o espectador aos poucos. Talvez a opção de capturar e montar o filme de forma mais tradicional tenha sido proposital para que os desempenhos do elenco ganhasse ainda mais evidência, o que é um grande acerto de Jean-Marc Vallée.

Dentre as seis indicações ao Oscar recebidas pelo filme acredito que as mais substanciais sejam as relacionadas a atuação, que incluem Matthew McConaughey como melhor ator e Jared Leto como melhor ator coadjuvante, já que ambos realizam um excelente trabalho aqui, não apenas pela óbvia transmutação física, mas também pela personalidade particular dada a cada um dos dois personagens, que são verossímeis e transbordam vida na tela. Ambos talvez sejam os mais fortes candidatos aos seus respectivos prêmios, que estreiam na premiação com este trabalho. Clube de Compra Dallas também recebeu indicações aos prêmios de melhor edição, melhor maquiagem, melhor roteiro e melhor filme, mas certamente não é dos mais fortes nestas categorias (à exceção de maquiagem, pois acredito que seja um dos favoritos).

Redondinho, mas pouco ousado - talvez as sequências de nudez e sexo (apenas heterossexual, por sinal), ao lado do consumo de drogas, sejam o que de mais extremo o filme mostra -, Clube de Compra Dallas pode não ser um filme altamente inventivo ou possuidor de um discurso inusitado, mas complementa bem um tema sempre interessante de ser debatido - saúde pública aliado a decisões políticas - e força, de certa forma, a manutenção do debate acerca da indústria farmacêutica e seus interesses que caminham, na maioria das vezes, longe do seio da ética e da moral. Quase que exclusivamente concentrado em seus personagens, o filme pode não alcançar o rol das grandes obras cinematográficas, mas apresenta-se correto e cumpre bem seu papel de resgatar um evento histórico pouco conhecido (o contrabando de medicação para o controle da AIDS) e difundi-lo as novas gerações.

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