30 dezembro, 2014

Melhores Filmes de "2014".

Eis abaixo uma pequena seleção de dez (10) filmes que considero como os melhores lançados no Brasil em 2014, portanto, não necessariamente de 2014. Como sempre é um trabalho complexo reduzir um ano inteiro de lançamentos numa diminuta lista, porém ainda assim é um processo divertido que possui o caráter de ilustrar parte do que aconteceu no referido ano, sendo óbvio que a mesma não é definitiva, muito menos irretocável. Muitos foram os títulos que não pude conferir e que possivelmente poderiam entrar neste pacote, mas creio que os que estão dispostos abaixo honram o espectro cinematográfico do ano que está encerrando hoje.  

Espero que gostem das minhas escolhas, mas caso não peço que utilizem o espaço destinado aos comentários (logo abaixo da postagem, ao lado de "Postado por Téo Carnaúba") e disponibilizam suas listas de melhores do ano, pois assim poderemos ter um termômetro mais democrático acerca do que tivemos de melhor tivemos em 2014 na opinião do público.

Vou deixar de bla, bla, bla... Boa leitura e nos vemos em 2015, com muito mais filmes!

Obs.: A lista segue a ordem alfabética, não necessariamente a ordem de importância ou qualidade dos filmes!

Obs 2.: Após os dez (10) mais, indiquei mais cinco (5) filmes bacanas que vi em 2014.

... 

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)


Alabama Monroe (The Broken Circle Breakdown)

Boyhood - Da Infância à Juventude (Boyhood)



Caçada, A (The Rover).



http://www.cinemografia.com/2014/04/capitao-america-2-o-soldado-invernal.html

 
http://www.cinemografia.com/2014/07/ela-her-eua-2013.html

 http://www.cinemografia.com/2014/07/planeta-dos-macacos-o-confronto-dawn-of.html 

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MENÇÃO HONROSA:

Era uma Vez em Nova York (The Immigrant).


Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy).

http://www.cinemografia.com/2014/08/guardioes-da-galaxia-guardians-of.html


O Homem Mais Procurado (A Most Wanted Man).



No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow).

http://www.cinemografia.com/2014/07/no-limite-do-amanha-edge-of-tomorrow.html

X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of Future Past).

 http://www.cinemografia.com/2014/06/x-men-dias-de-um-futuro-esquecido-x-men.html

15 dezembro, 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos (The Hobbit: The Battle of the Five Armies, NZE/EUA, 2014).


A trilogia O Hobbit não sagrou-se satisfatória. Por conseguinte, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, apesar dos méritos e do esforço "geográfico", conseguiu a proeza de "afundar" ainda mais o já combalido barco cuja finalidade era nos reapresentar a outrora mágica Terra Média. Mais curto dentre os filmes da trilogia - o oposto de O Senhor dos Anéis, por sinal -, este capítulo derradeiro da inchada aventura de Bilbo Bolseiro (Martin Freeman, da série Sherlock) consegue atropelar ainda mais o "meio de campo" da obra, contando com uma abertura anticlimática, equivocada e pouco impactante, além de um desfecho cujo tom de emoção é praticamente  nulo, apesar de esforçado. Entre o começo e o fim do longa há uma série de sequências de ação espetaculosas, mas estas encontram-se longe de encher os olhos. Há também uma série de diálogos e situações risíveis, com direito a personagens se desentendendo sem motivo algum e fazendo as pazes em seguida, instantaneamente. Onde está a densidade dramática? Se o drama é quase nulo, não se pode dizer o mesmo do humor pastelão, que encontra suporte no capacho do prefeito da Cidade do Lago (o genérico do Língua de Cobra d'O Senhor dos Anéis). Personagem este que consegue permanecer por todo o filme (sem exagero) e cuja maior realização (no mau sentido) é estragar um personagem que já não vinha sendo tão interessante: Bard (Imortais), o matador de dragão menos celebrado da história (pelo menos é o que fica claro com a visão reducionista de Peter Jackson, Fran Walsh, Phillipa Boyens e, em menor grau, Guillermo del Toro (este não acompanhou o dia a dia - e as possíveis modificações do roteiro - de filmagens).

É triste constatar que, apesar de mais conciso, o desfecho d'O Hobbit conseguiu ser ainda pior que a primeira parte - esticada ao extremo, como a manteiga no pão de Bilbo - e a do meio - recheada de subtramas inúteis e responsável por apresentar um vilão (Smaug!) ameaçadoramente estúpido (!). Mais conciso, porém igualmente irregular, o capítulo final da super-esticada trilogia O Hobbit pode ter efeitos especiais de alto nível, figurinos caprichados, maquiagens idem e locações (e fotografia) esplendorosas -  apesar de Jackson e Andrew Lesnie (diretor de fotografia) pisarem no acelerador ao selecionador muitas imagens virtuais (retoques em CGI), em detrimento da natureza real da Nova Zelândia -, mas fica devendo muito no que toca ao roteiro - diálogos, construção (existe?) de personagens e trama - e a direção de atores (é perceptível o quão jogado está Martin Freeman e seu Bilbo em meio ao carnaval de personagens e situações que tentam costurar a ambição pincelada nos filmes anteriores, mas que não conseguem ser resolvidas neste a contento; já Richard Armitage mostra-se um desastre, todavia fica difícil de saber se por falta de talento do ator ou pela péssima construção de personagem a cargo dos roteiristas). Nem mesmo a trilha sonora de Howard Shore (Se7en - Os Sete Crimes Capitais) tem poder de fogo para elevar o padrão do filme.

Certamente O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos arrecadará bastante nas bilheterias e ajudará esta nova empreitada "tolkeniana" a ultrapassar a trilogia do anel em faturamento (apesar dos filmes terem custado pelo menos três vezes mais que O Senhor dos Anéis), mas cinematograficamente sua relevância restará distante, sendo possível afirmar que, se a trilogia O Senhor dos Anéis está para os episódios IV, V e VI de Star Wars, estes O Hobbit enquadrar-se-ão no padrão raso da mais recente trilogia Star Wars, composta pelos episódios I, II e III. Todavia, se a memória não me falha, A Vingança dos Sith é um filme mais equilibrado que o desfecho de O Hobbit, apesar de também problemático. No mais, é triste constatar no que se tornou um projeto tão esperado como a adaptação d'O Hobbit para o cinema; projeto em que a mão de produtor(es) pesou mais do que o costumeiro, em que a ambição venceu de lavada a "arte" por goleada a um (a lá Brasil e Alemanha)... a chamada contida no poster do filme afirma "o capítulo definitivo". Há de se pensar, há de se pensar...

No mais, ainda me encontro à espera da versão "resumida" d'O Hobbit, com um só filme de no máximo duas horas e vinte de duração, que descarte boa parte das subtramas que pouco acrescentaram a trilogia e que apresente um ritmo menos agonizante. Se o que querem mesmo é ganhar um pouco (muito?) mais de grana, com esta versão "definitiva" já seriam contabilizadas três versões, a de cinema (três filmes), a estendida (três filmes) e a "concisa"/"compactada"/"objetiva", montada como um só filme. Assista uma história, compre sete (!) filmes...


 ½
  
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06 outubro, 2014

Como Não Perder Essa Mulher (Don Jon, EUA, 2013).

"Todos amam um final feliz" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).

Estreia de Joseph Gordon-Levitt (Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge) no comando de um longa-metragem, Como Não Perder Essa Mulher (tradução reducionista e estupidificante do título original, o simples e eficiente Don Jon) é uma comédia romântica "mezzo indie/mezzo mainstream" das mais interessantes e divertidas, especialmente para o público masculino, já que trata de um tema bastante próximo ao da meninada "comandada" pelo hormônio testosterona. Lidando de forma "fácil" com o estigma do homem "viciado" em pornografia ao mesmo tempo em que dispõe tal mácula na figura do típico "pegador" (interpretado pelo próprio Gordon-Levitt), o filme é um oásis no meio de tanto besteirol do gênero, pois resulta em um produto gostoso de assistir sem se furtar de criticar (ou enaltecer) comportamentos e condutas. Contando em seu elenco com as boas participações de Scarlett Johanson (Os Vingadores) e Julianne Moore (Carrie, a Estranha) - além de apresentar (pelo menos para mim) o impagável Tony Danza (Crash - No Limite) - e uma trilha sonora "esperta" (Nathan Johnson, de Looper), o Don Jon Gordon-Levitt pode não ser uma "obra de Woody Allen", mas tem tudo para agradar tanto o público que adora uma "obra pipoca", quanto aqueles que amam títulos cult de nicho (seja lá o que isso for). A bem verdade são dois os públicos que podem torcer o nariz para o filme (e isto nem é certeza): aqueles que defendem a expressão "desligar o cérebro" ao assistir filmes e as mulheres.

Obs.: Se existem homens (incluo a mim) que não se ofendem ao conferir filmes como Magic Mike, acredito que as mulheres assistirão Don Jon "de boa".



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04 outubro, 2014

Sin City 2: A Dama Fatal (Frank Miller's Sin City: A Dame to Kill For, EUA, 2014).

"Não há justiça sem pecado" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Não havia achado Sin City - A Cidade do Pecado um grande filme, apesar de ser inegavelmente um exercício estético interessante. Logo, não estava com grande expectativa para conferir esta sequência tardia - nove anos separam o lançamento dos filmes - e isto, de certa forma, contribuiu para que a minha experiência cinematográfica para com a obra dirigida pelo "faz tudo" Robert Rodriguez (Machete Kills) e por Frank Miller - também autor das histórias em quadrinhos nas quais o longa é baseado - fosse a mais "isenta" possível. Sendo assim, apesar de não ser um filme horrível - a crítica estrangeira desceu o sarrafo, enquanto o público não foi conferi-lo -, Sin City 2: A Dama Fatal também não deslancha, mantendo não apenas a forma do filme original, como também a estrutura e apresentando dilemas parecidos. A bem verdade a única novidade do filme se dá no rol de personagens, apresentando caras novas e caras velhas interpretadas por caras novas. Dos novatos, destaco a sempre disposta Eva Green (007: Cassino Royale) e Joseph Gordon-Levitt (A Origem), enquanto da velha guarda aponto Mickey Rourke (Imortais) como o mais dinâmico (apesar de não tão relevante às tramas do filme como o Dwight de Josh Brolin, por exemplo). É fato que os efeitos visuais melhoraram bastante em comparação ao filme de 2005, mas a falta de substância e a violência pela violência já não percebem do frescor daquele, o que, somado ao ritmo lento e o desnivelação entre as três histórias apresentadas, tornam este mais recente fracasso da carreira do já não tão promissor Robert Rodriguez no máximo divertido, mas também dispensável. A recepção fria para com Sin City 2: A Dama Fatal foi exagerada, mas a obra passa longe de ser espetacular, sendo mais uma sequência que tenta repetir os passos bem sucedidos (para alguns) do original emulando praticamente tudo do mesmo. Dessa vez o tiro saiu pela culatra e, possivelmente, enterrou qualquer pretensão de franquia para a criação de Frank Miller.


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Coração Valente (Braveheart, EUA, 1995).

"Todo homem morre, mas nem todo homem realmente vive" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Coração Valente é um caso raro de filme. Devido a conexão emotiva que possuo com a obra - minha infância foi agraciada com a descoberta da obra -, fica difícil separar a relação afetiva para com ela do olhar crítico quanto as suas qualidades técnico-artísticas, mas tentarei chegar em um meio termo. Estrelado e dirigido por Mel Gibson (Máquina Mortífera), Coração Valente é uma livre adaptação da história de um ícone escocês, William Wallace - interpretado pelo próprio Gibson -, mártir da luta do país contra a dominação inglesa (ecos que existem até então). Escrito pelo então pouco conhecido Randall Wallace, a trama do filme é estruturada  basicamente sob o auspício da dita jornada do herói e, verdade seja dita, não guarda grandes viradas de trama, todavia, seu convencionalismo (no bom sentido) é tão bem encaixado que seu poder de influência mantém-se vivo até hoje. Wallace despontou com o filme, mas nunca mais conseguiu alcançar sucesso semelhante, seja como roteirista (Pearl Harbor), seja como diretor (O Homem da Máscara de Ferro, Fomos Heróis). Todavia, sejamos justos; o tom "lacrimoso" dos textos concebidos por Wallace só encontraram relativo "equilíbrio" através da perspectiva "distorcida" (sanguinolenta, retributiva) de Gibson. É possível apontar alguns problemas técnicos no vencedor do Oscar de 1995, especialmente nos quesitos montagem (Steven Ronsenblum, de Plano de Fuga) e efeitos especiais (apesar de empolgantes, alguns elementos das batalhas já se apresentam relativamente frágeis, até por que lá se vão quase vinte anos deste a confecção do filme), todavia a condução da trama - maniqueísta, mas agradável - e das personagens que passeiam por esta, aliadas ao carisma/competência dos seus intérpretes (Brendan Gleeson, Brian Cox, Sophie Marceau, David O'Hara, Catherine McCormack), além do embate "sangue no olho" entre Gibson e o excelente Patrick McGoohan (Fuga de Alcatraz), que vive o odiável Rei Edward I. Por fim, completam a obra a espetacular trilha sonora composta e conduzida por James Horner (Titanic) - sim, o cara costuma se repetir, mas aqui apresenta um trabalho melódico e de harmonia primoroso - e a fotografia de John Toll (Homem de Ferro 3), que registra imagens deslumbrantes sob suas lentes, sejam das belíssimas locações escocesas, seja das batalhas orquestradas por Mel Gibson. Como adiantado, Coração Valente é um dos poucos filmes dos quais admito ter dificuldades para separar o coração da razão ao comentá-lo, pois reconheço que, observando-o com um olhar mais maduro, seja do ponto de vista técnico, seja como espetáculo, é notório que o filme envelheceu um pouco, especialmente no quesito profundidade (quando visto há dez anos este parecia ser mais profundo do que é na realidade), no entanto, sua capacidade de influenciar outras obras, cinematográficas ou não, continua forte até hoje, o que, por si só, pode ser considerado como um atestado de sua qualidade e relevância para o cinema como misto de arte e entretenimento. Sendo assim, deixo o "tico e teco" de lado e delego meu coração como validador deste épico dos épicos, que não poderia deixar de escaloná-lo com a cotação máxima de estrelas. Coração Valente é um filme perfeito para vibrar, chorar e, principalmente, acreditar, seja você cínico, bobo, político ou sacana, pois, no fim das contas, o que pesará é o tanto de humano ("do bem ou do mal", pouco importa) que você carrega. Liberdade!

 
 
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28 setembro, 2014

O Doador de Memórias (The Giver, EUA, 2014).

"Não aceite algo como verdadeiro só porque vem de alguém que você respeita" (Doador, personagem de Jeff Bridges).
Boas ideias - apenas - necessariamente não dão um bom filme. Bons livros idem. O Doador de Memórias, projeto abraçado por Jeff Bridges (Tron, o Legado) e dirigido pelo competente Phillip Noyce (Perigo Real e Imediato) tem seus atrativos, especialmente como instrumento reflexivo, mas a falta de uma maior profundidade no desenvolvimento da trama torna seu discurso interessante, mas sem muita substância, quase esquecível. É fato que a fotografia do filme (a cargo de Ross Emery, de Wolverine: Imortal) é interessantíssima, pois é um elemento essencial à narrativa da obra, através da alternância da paleta de cores que caminha entre o branco e preto e o colorido, perpassando pelas tonalidades intermediárias, que significa (e resignifica) o cabedal de sentimentos adquiridos (sim, o termo é esse) pelo personagem principal, Jonas, bem composto pelo jovem Brenton Thwaites (O Espelho). Nos últimos anos estrearam uma série de filmes que apresentam a humanidade num futuro distópico, muitos desses baseados em obras literárias juvenis, contudo, apesar de mínimo, existem diferenças destas para O Doador de Memórias, sendo a mais óbvia o fato da matéria prima do filme, o livro escrito por Lois Lowry, ter sido lançado no já longínquo ano de 1993 (a grande maioria dos outros filmes são adaptações de obras recentes) e o ponto de discussão ter como cerne a descaracterização do ser humano através da ausência de sentimentos de cunho abstrato (redundância? Veja o filme!), ao invés de dilemas exclusivos da adolescência ou amor (im)possível, por exemplo. Há romance nesta adaptação de Michael Mitnick e Robert B. Weide (Woody Allen: A Documentary), como também um par de sequências de ação, mas é na jornada de (re)descobrimento da humanidade, através dos olhos, mente e coração de Jonas, que reside o coração da obra. Tendo isso em mente e vislumbrando todo o potencial que a obra tinha, especialmente do ponto de vista filosófico-existencial, seu desenrolar e desenlace acabam por deixar um gosto levemente amargo à boca, visto que alguns pontos essenciais não são aprofundados, enquanto a urgência em "terminar" a história parece prioritária (o filme soma pouco mais de 90 minutos de projeção). Em suma, apesar do envolvimento de Noyce, Bridges e Meryl Streep (Álbum de Família), dentre outros, o resultado final de O Doador de Memórias é irregular, tendo toda a sua potencialidade se esvaído por um roteiro mal arquitetado. O desfecho da obra deixa claro a intenção de ser realizada uma sequência, mas os eventos apresentados neste filme, independentemente da qualidade final, não deixam elementos (ou perguntas "válidas") suficientes que justificassem uma continuação. Mais um tiro no pé de um filme bastante promissor.

 ½

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Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistiola (A Million Ways to Die in the West, EUA, 2014).


É incrível como Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (mais uma tradução ridícula - no mau sentido - feita pela distribuidora do filme no Brasil), mesmo sendo um filme tão bobo, possua uma fotografia tão deslumbrante (cujo cerne é homenagear os grandes clássicos do faroeste) e uma trilha sonora tão agradável - a cargo de Michael Barrett (Beijos e Tiros) e Joel McNeely (Velocidade Terminal), respectivamente -, a ponto do espectador se perguntar se está acompanhando uma "simples" comédia ambientada no velho oeste. Mesmo não sendo absurdamente engraçado - algumas de suas piadas, inclusive, são de mau gosto -, esta segunda incursão de Seth MacFarlane (Ted) como diretor de cinema deu vazão a uma obra divertida, composta por algumas gags interessantes e possuidora de um elenco primoroso (à exceção de MacFarlane, que não segura a onda como protagonista). Charlize Theron (Jovens Adultos), Amanda Seyfried (Os Miseráveis), Giovanni Ribisi (Contrabando), Neil Patrick Harris (Tropas Estelares), Sarah Silverman (Os Muppets) e Liam Neeson (Sem Escalas) dão vida aos diálogos "espertos" escritos por Alec Sulkin, Wellesley Wild e MacFarlane, tornando o filme mais interessante que o esperado. É bem verdade que Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola não é, nem de longe, uma obra brilhante, mas o non sense de algumas sequências, a química entre MacFarlane e Theron, a canastrice de Neeson e o visual exuberante acabam por transformar a desconfiança inicial quanto a sua qualidade em uma agradável experiência cinematográfica, que guarda seus bons momentos (mesmo sem arrancar grandes gargalhadas), ao mesmo tempo em que homenageia (de forma trôpega, mas consciente) o gênero faroeste. Há certa confusão na abordagem proposta por MacFarlane - o foco principal se encontra no humor, no drama ou no romance? -, mas no âmbito geral o filme acaba se saindo bem, apesar de apresentar-se como uma obra mais convencional do que pretendia (e aparentava) ser.

½

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27 setembro, 2014

Hércules (Hercules, EUA, 2014).


Um dos últimos títulos a ser lançado no período dos blockbusters - o Brasil recebeu o filme com certo atraso -, Hércules é mais uma obra que pode ser categorizada como uma revisão de uma revisão (!). Baseada em uma história em quadrinhos que por sua vez é inspirada no clássico mito grego, o filme apresenta uma espécie de casamento entre Rei Arthur, de Antoine Fuqua e Troia, de Wolfgang Petersen, já que sua abordagem abraça a "desmistificação" do mito, tentando torná-lo o mais realístico possível. Todavia, apesar da boa vontade, fica óbvio na tradução estabelecida por Brett Ratner (diretor), Ryan J. Condal e Evan Spilotopoulos (dupla de roteiristas) que o tal "realismo" será posto apenas quando conveniente, visto a quantidade de sequências de ação (em especial a do desfecho da obra) que beiram ao absurdo. Falando em ação, esta, apesar de bem orquestrada, carece de impacto, resultado deveras simplória. Talvez o grande destaque do filme resida na performance de Dwayne Johnson (Sem Dor, Sem Ganho), que acaba por comprovar de vez que é sim o mais talentoso dos action heroes pós geração anos 1980 (leia-se geração Mercenários), pois além de carisma, o ator apresenta boa densidade dramática, além de um ótimo timing cômico (pouco explorado aqui, mas ainda assim empregado pelo ator). Hércules conta ainda com as participações de Rufus Sewell (Cidade das Sombras) - caricato, mas carismático! -, Ian McShane (Jack - O Caçador de Gigantes) - divertido -, Joseph Fiennes (Shakespeare Apaixonado) - horrível - e John Hurt (A Chave Mestra) - exagerado - e com uma trilha sonora correta (a cargo de Fernando Velásquez, do terror Mama), mas as contradições de sua abordagem e as cenas de ação pouco inspiradas (além do 3D desnecessário) deixam o filme abaixo da média das demais obras do gênero. Logo, caso você queira ver uma grande adaptação do mito grego, sugiro que passe primeiro pela animação lançada pela Disney em 1997 e só depois confira esta abordagem (quase) pé no chão.

 ½

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26 setembro, 2014

Livrai-nos do Mal (Deliver Us from Evil, EUA, 2014).


Scott Derrickson despontou com o filme O Exorcismo de Emily Rose e desde então vem trilhando uma carreira interessante - a exceção foi o fiasco (será mesmo?) O Dia em Que a Terra Parou, remake do cult de 1951 -, mesmo que ainda não tenha reprisado o frescor apresentado em seu filme primeiro. Livrai-nos do Mal, misto de filme policial com exorcismo - a ambientação lembra o filme Possuídos, de 1998 -, como adiantado, não se mostra tão bem acabado quanto a surpresa de 2005, mas possui mais atrativos que deméritos e não deixa de ser curioso que também carregue alguns pontos comunais aquele, como a inspiração em fatos reais, a fotografia mezzo documental (câmera na mão) e a "pegada" enigmática, deixando sempre a dúvida quanto à realidade dos eventos apresentados (há um casamento entre uma abordagem psicológica e religiosa). Estrelado por Eric Bana (O Grande Herói) - correto -, Édgar Ramírez (A Hora Mais Escura) e Olivia Munn (Magic Mike), o filme consegue construir bem tanto o arco de possessão dos soldados norte-americanos vindos do Iraque quanto o do policial Ralph Sarchie (Bana) e seus conflitos internos, mesmo que este seja excessivamente amparado em clichês (policial traumatizado, workaholic e cego para seus problemas familiares), porém é inegável que a trama perde força no seu terceiro ato, muito devido à pressa em depurar o mal - seja dos possuídos/influenciados pela entidade demoníaca, seja de Sarchie, tomado por um "mal interior". Apesar de só se unirem lá pela metade do filme, a relação entre Sarchie e Pe. Mendoza (Ramírez) é de longe a coisa mais interessante da obra, mesmo que o suspense contínuo e a fotografia escura também concorram ao pódio. Longe de ser um grande filme, Livrai-nos do Mal não procura mudar estruturas ou inovar narrativamente, mas procura reverenciar os "clássicos" ao tentar explorar mais os efeitos psicológicos entre os personagens que os efeitos especiais e estes, quando necessários, são dispostos de forma discreta - em sua maioria -, o que contribui para que o foco do espectador permaneça no entorno da trama e na discussão proposta (o "mal" é um "agente" externo ou está entranhado no ser humano?) e não no (possível) carnaval de efeitos e sustos. Não que o filme seja denso (e tenso) como O Exorcista, A Profecia ou O Bebê de Rosemary, por exemplo, mas talvez quem goste (e procure por) de filmes repletos de sustos, efeitos de última geração e violência (gratuita) não curtirá tanto esta experiência. Há falhas neste quinto filme dirigido por Derrickson, mas estas são sinceras, logo, perdoáveis.

★★½

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21 setembro, 2014

Conan, o Bárbaro (Conan the Barbarian, EUA, 1982).

"Ladrão. Guerreiro. Gladiador. Rei" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Até hoje Conan, o Bárbaro (de 1982) divide opiniões - os sites agregadores de críticas Metacritic e Rotten Tomatoes possuem visões distintas (traduzidas em números) da produção -, mas particularmente tenho uma opinião bem definida. Primeiro grande trabalho da carreira do astro austríaco (cacofonia bacana, não?) Arnold Schwarzenegger (Rota de Fuga) e filme mais conhecido de John Milius como diretor, Conan, o Bárbaro foi responsável por (re)inaugurar a era dos épicos de fantasia - assim como Star Wars o foi para os épicos espaciais -, como também por apresentar de forma massiva o icônico personagem concebido pelo escritor pulp Robert E. Howard. Utilizando quase toda a cartilha das grandes produções oitentistas - que escancarou a "ousadia" da produção dos anos 1970 -, especialmente nudez e violência, o filme coescrito por Milius ("ao lado" de Oliver Stone) é, além de um épico de ação fascinante (sua ambientação é incrível, graças a toda a equipe artística do filme, especialmente do designer de produção Ron Cobb e do figurinista John Bloomfield), apresenta um subtexto psicológico bastante profundo - especialmente para produções neste formato -, quando apresenta os dilemas do personagem título com relação a sua vendetta, cuja conclusão, ao contrário do esperado pelo herói, cobra um alto preço. Contando com pouquíssimos diálogos - enquanto alguns dizem que por conta das limitações de Schwaezenegger, o diretor esclarece que esta foi uma opção narrativa -, muita exposição visual - que sim, cumprem com sobras a função de "contar a história" - e composições marcantes de James Earl Jones (O Rei Leão), como o vilão Thulsa Doom e Sandahl Bergman, como Valeria, uma interpretação correta de Schwarzenegger e uma das trilhas sonoras mais emblemáticas da história do cinema - palmas para Basil Poledouris (RoboCop - O Policial do Futuro), Conan, o Bárbaro consagra-se como um produto de sua época, continuando a funcionar, apesar da precariedade de alguns (não todos!) dos seus efeitos especiais. Por fim, assino em baixo quando Earl Jones afirma, em entrevista disponível na edição em blu-ray do filme, que este funcionaria à perfeição mesmo que não tivesse diálogos, tamanho as significações atribuídos pelo seu riquíssimo visual.
 
★★★½

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19 setembro, 2014

Se eu Ficar (If I Stay, EUA, 2014).

"Viva pelo amor" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Se eu Ficar é o típico filme simpático, mas cuja essência falta alguma coisa. Mais uma adaptação de um best-seller "romântico-juvenil" - a obra original é de Gayle Forman -, o filme conduzido pelo estreante (em longas de ficção) R. J. Cutler trabalha relativamente bem o relacionamento entre a musicista interpretada por Chloe Grace Moretz (Carrie, a Estranha) e o guitarrista vivido por Jamie Blackley (O Quinto Poder) e a relação da primeira com os pais (Mireille Enos e Joshua Leonard), mas escorrega quanto emprega o fator "espiritual" - cujo espectro, como bem lembrou a colega Soyara Lopes, sugeria algo próximo a Um Olhar do Paraíso, de Peter Jackson, porém acabou soando sem definição, deixando a encruzilhada da personagem de Moretz brio, sem significação (ver semiótica) -. A montagem que entrecorta momentos do "limbo" com eventos pretéritos da personagem de Moretz não funcionam a contento, pois enfraquecem a trama através da superexposição de sequências dramáticas, que acabam por "anestesiar" o espectador. Como dito no início, Se eu Ficar, apesar de alguns problemas estruturais (e de não aprofundar a temática abraçada) mostra-se um filme bastante simpático, muito devido ao carisma do quarteto principal de atores - Moretz, Blackley, Enos e Leonard - e, claro, a construção de seus personagens (mérito de Cutler e da roteirista Shauna Cross). A resolução (apressada) do filme pode deixar um gostinho amargo na boca do espectador, mas a jornada proporcionada pelo mesmo é agradável (apesar da montagem), logo, válida.

 ★★★

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17 setembro, 2014

Advogado do Diabo (The Devil's Advocate, EUA, 1997).

"O mal tem suas maneiras de vencer" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Talvez um "jovem clássico", Advogado do Diabo, de Taylor Hackford (Ray), é ao mesmo tempo um envolvente thriller de tribunal e um suspense de cunho sobrenatural, todavia, recheado de metáforas acerca da índole humano e de sua predileção (natural?) ao casamento com o fácil, com o destacável, com o poder, com a tentação, logo, com o mal. Contando com um Al Pacino (Scarface) no limite entre o "genial" e a caricatura e um Keanu Reeves (Matrix) esforçado - o astro até que tenta representar sentimentos -, o longa baseado na obra best-seller escrita por Andrew Neiderman - cuja adaptação caiu nas mãos da dupla de roteiristas Jonathan Lemkin (Planeta Vermelho) e Tony Gilroy (A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne, O Ultimato Bourne, O Legado Bourne) - mostra-se envolvente desde o início, apresentando o poder de convencimento (nem tanto) e determinação do jovem advogado Kevin Lomax (Reeves) e sua ascensão vertiginosa após conhecer o poderoso e influente John Milton (Pacino). Mesmo não sendo um cineasta irrepreensível, Hackford conduz muito bem o filme, acertando no tom e na direção de atores, pecando apenas no corte final, visto que a obra acaba se alongando um pouco. Além dos citados, destaco também o tema da sequência final composto por James Newton Howard (A Vila) - este lembra bastante os arranjos de Jerry Goldsmith para o filme A Profecia - e a fotografia de Andrjej Bartkowiak (Jade) - cujas lentes dão um quê onírico à sobriedade pretendida por Hackford -, além das presenças pontuais de Charlize Theron (Prometheus), Connie Nielsen (Missão: Marte), Craig T. Nelson (Poltergeist) e Jeffrey Jones (A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça). Advogado do Diabo é um suspense psicológico divertidíssimo, que não pretende aprofundar discussões ou apresentar grandes mensagens, mas de uma forma ou de outra, além do fator entretenimento, suscita a possibilidade de boas discussões acerca da (ou das) natureza humana.

★★★

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16 setembro, 2014

Malévola (Maleficent, EUA, 2014).

"Não acredite no conto de fada" (Livre tradução da frase disposta no poster do filme).
Mais uma incursão da Disney século XXI no "gênero" revisão de contos de fada - após os sucessos de bilheteria de Alice e Oz: Mágico e Poderoso -, Malévola comprova que o filão ainda tem muito a render (o filme arrecadou mais de 700 milhões de dólares nas bilheterias mundiais) e que não estou ficando mais jovem (!). Como não resta dúvida quanto a coerência da primeira assertiva, debruçarei um pouco a respeito da segunda. Malévola foi construído especificamente para o público infantil - ao contrário de outras revisões recentes de contos de fada, como os juvenis Branca de Neve e o Caçador e João e Maria: Caçadores de Bruxas -, não para marmanjos como eu. Logo, pelo caminho que o roteiro do filme (a cargo da "especialista" Linda Woolverton) abraça fica claro que este parece não se importar em dar coerência lógica (ou afim) aos eventos que apresentados em sequência, optando pela "simplicidade" para "conquistar" de imediato a criançada. Pouco importa se as motivações de personagens como Stefan (Sharlto Copley, de Elysium) não são aprofundadas de forma alguma ou até mesmo se alguns dos dilemas vividos pela personagem título - que literalmente ganha vida graças a ótima composição de Angelina Jolie (Salt) - apresentam-se tão condensados que acabam por não soar "críveis". O foco do filme está no encantamento da criançada, que certamente ficará atônita com o festival de efeitos especiais - não são espetaculares, mas cumprem relativamente bem seu papel -, com o carisma da personagem principal e com a simplicidade da trama e da jornada de seus personagens. Certamente muita coisa poderia ter sido melhor trabalhada, todavia, como antecipado, o olhar "adulto" pouco afeta o objetivo principal do filme: conquistar especificamente a criançada, entregando um produto de fácil assimilação e cujo objetivo principal encontra-se no encantamento. Neste sentido, não dá para categorizar o filme como ruim. Malévola é um filme bacaninha, ideal para se assistir lado a lado à criançada. Nada demais para tipos como eu, mas (possivelmente) encantadores para a gurizada.

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Como alguém pode ter sentido falta de observações mais "técnicas", destacaria no filme a trilha sonora assinada por James Newton Howard (A Vila), a fotografia "digital" de Dean Semler (Dança com Lobos) e o figurino (Anna B. Sheppard, de A Menina Que Roubava Livros). O diretor (estreante na função) Robert Stromberg pouco acrescenta, enquanto a equipe de arte, apesar de "bolarem" um visual bacana, exageram um pouco no uso de computação gráfica (não à toa os desenhistas de produção são, ao lado de Stromberg, egressos do universo dos efeitos especiais).

★★★

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12 setembro, 2014

Getúlio (BRA, 2014).


Mais conhecido por seu trabalho como documentarista em produções premiadas como Janela da Alma, Pro Dia Nascer Feliz e Lixo Extraordinário (indicado ao Oscar), João Jardim volta ao universo da ficção - ele havia debutado em 2011 com o filme Amor? - com a cinebiografia de uma das maiores personalidades da história brasileira (e considerado por muitos como o "melhor" Presidente da República que o país já produziu), Getúlio Vargas. Como não poderia deixar de ser, a estética documental acaba sendo bastante utilizada por Jardim, todavia em excesso. Forçando demais a perspectiva através da câmera na mão e a insistência na composição de planos assimétricos e o excesso de closes - praticamente não há tomada aberta no filme - contribuem sobremaneira para que a obra se torne visualmente cansativa, apesar de sua metragem ser relativamente curta. Todavia, se o o estilo de Jardim não agrada, o mesmo não pode ser dito do clima passado pelo filme - praticamente um thriller de época - e da equipe de arte, que mesmo não podendo expor seu trabalho com garbo (como dito, a fotografia do filme - a cargo do mestre Walter Carvalho - privilegia as tomadas fechadas), merece destaque. O elenco como um todo foi bem escolhido - destaco Drica Moraes (O Bem Amado), que entrega uma performance interessante como a filha e braço direito do "ex-ditador" -, mas o roteiro peca por pouco se aprofundar no âmbito político, privilegiando a tensão quanto à possível culpa ou não do personagem título. Aqui o septuagenário é mais "vovô bonzinho" que lobo da política, abordagem esta que nem mesmo a boa composição de Tony Ramos (Tempos de Paz) consegue mascarar. No mais, Getúlio é um filme interessante, todavia aquém da importância histórica - para o bem ou para o mal - desta figura política brasileira.


★★★

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