31 dezembro, 2013

Melhores Filmes de "2013".

Eis abaixo uma pequena seleção de dez (10) filmes que considero como os melhores lançados no Brasil em 2013, portanto, não necessariamente de 2013. Como sempre é um trabalho complexo reduzir um ano inteiro de lançamentos numa diminuta lista, porém ainda assim é um processo divertido que possui o caráter de ilustrar parte do que aconteceu no referido ano, sendo óbvio que a mesma não é definitiva, muito menos irretocável. Muitos foram os títulos que não pude conferir e que possivelmente poderiam entrar neste pacote, mas creio que os que estão dispostos abaixo honram o espectro cinematográfico do ano que está encerrando hoje.  

Espero que gostem das minhas escolhas, mas caso não peço que utilizem o espaço destinado aos comentários (logo abaixo da postagem, ao lado de "Postado por Téo Carnaúba") e disponibilizam suas listas de melhores do ano. Com isso poderemos ter um termômetro mais democrático acerca do que de melhor tivemos em 2013 na opinião do público consumidor.

Vou deixar de bla, bla, bla... Boa leitura e nos vemos em 2014, com muito mais filmes!

Obs.: A lista segue a ordem alfabética, não necessariamente a ordem de importância ou qualidade dos filmes!

http://www.cinemografia.com/2013/01/django-livre-django-unchained-eua-2012.html


Os Suspeitos (Prisoners, EUA, 2013).


http://www.cinemografia.com/2013/12/os-suspeitos-prisoners-eua-2013.html




Samurai X (Rurôni Kenshin: Meiji Kenkaku Roman Tan, JAP, 2012).


http://www.cinemografia.com/2013/12/samurai-x-ruroni-kenshin-meiji-kenkaku.html



O Voo (Flight, EUA, 2012).

http://www.cinemografia.com/2013/02/o-voo-flight-eua-2012.html


Quer saber quais filmes lançados em 2013 (no Brasil) foram comentados no CineMografia? Acesse o link abaixo:

Filmes 2013

Mais Informações:

 

Não perca tempo! Coloque nos comentários sua lista dos melhores filmes de 2013!

 

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Obs.: Infelizmente - por inúmeros motivos - acabei não vendo alguns filmes presentes em diversas listas de melhores do ano e lançados este ano no Brasil, como:
  • Azul é a Cor Mais Quente;
  • Blue Jasmine;
  • Capitão Phillips;
  • Gravidade
  • Jogos Vorazes - Em Chamas;
  • No etc.

29 dezembro, 2013

A Caça (Jagten, DIN, 2012).


À exceção de alguns filmes de Ingmar Bergman, o cinema praticado na Escandinávia não faz parte do meu rol de conhecimento, especialmente os títulos da Dinamarca, país origem deste que é, certamente, um dos grandes filmes do ano, considerado por muitos a maior obra do diretor Thomas Vinterberg (nome este que também devo uma visita). Apesar deste A Caça ser minha estreia tanto no cinema dinamarquês quanto na filmografia de Vinterberg, tal início não poderia ter se dado com uma obra melhor. Fascinante tanto no âmbito estético quanto no conteúdo de seu objeto de estudo - nada menos que o olhar de parte da sociedade para um nebuloso abuso de uma menor de idade -, esta obra ímpar consegue chocar sem perder a sensibilidade e escancarar vícios de comportamento tão presentes nos nossos círculos sociais, sem necessariamente apontar dedos para o certo ou o errado. Não há solução em vista no filme comandado por Vinterberg, apenas o registro de um problema tão íntimo ao ser humano, mas quase nunca admitido.

Liderado pelo excepcional Mads Mikkelsen (007 - Cassino Royale, série Hannibal), que desenvolve um personagem altamente complexo, de maneira requintada e orgânica, fazendo com que sentimentos como pena e simpatia sejam manifestados por nós, espectadores, de maneira automática, sem censo ou vergonha. Mikkelsen nos faz enxergar desespero e agonia e a nós cabe apenas compadecer a esta situação inexplicável moralmente, mas muito mais comum do que nossa alienada opinião pública permite. Não seria um erro afirmar que, sem Mikkelsen, talvez o poder de atração do filme e, consequentemente, da discussão plantada, não causaria o mesmo efeito. Sendo assim, é justo dizer que esta é uma obra de peso comandada não apenas por Vinterberg, mas também por Mikkelsen.

É certo que A Caça, assim como o país em que foi filmado, é um filme frio, de emoção controlada, mas isso não quer dizer que não seja uma obra emotiva. Drama daqueles de deixar o coração aflito, de questionar a respeito da coerência do conceito moderno de justiça e, ainda mais, da apropriação do termo para fins outros, que não dar a voz tanto ao acusador quanto ao acusado. A questão do sentenciamento moral é um dos principais elementos que perpassa a crítica do filme e nele, obviamente, ecoam temas como hipocrisia, tendenciosidade, preconceito e até mesmo caráter deturpado, o que é mais do que comum em qualquer sociedade posta nowadays, aquela que prefere à forma ao conteúdo.

A condução de Vinterberg é primorosa, dando espaço para que conheçamos tanto o personagem de Mikkelsen, o simpático Lucas, como também parte dos membros da comunidade que o cercam, especialmente o casal de amigos Theo (Thomas Bo Larsen) e Anne Louise Hassen e sua filhinha, Clara (Annika Wedderkopp, incrível) - elemento primordial a discussão proposta pelo roteiro de Vinterberg e Tobias Lindholm (Submarino) - e, assim, as discussões narrativas propostas pela obra. Nem o desfecho do longa consegue se afastar da contundência apresentada durante toda a projeção, oferecendo assim uma meia absolvição ao réu, que é absolvido no campo legal, mas cujas cicatrizes não procuradas pelo mesmo continuarão a mostra ad eternum, já que os olhos acusadores da moral encontrar-se-ão sempre abertos para não só julgá-lo, como também puni-lo.

É óbvio que Vinterberg não trabalha sozinho e, dentre os grandes trabalhos desenvolvidos no e para o filme, destacaria a composição fotográfuca hipnótica de Charlotte Bruus Christensen (Submarino), que relaciona muito bem as imagens da natureza àquelas que enfocam a comunidade, especialmente a escola onde Lucas trabalha e a evolução da tragédia vivida pelo personagem através de closes que escancaram sua dor e aflição. O som (a cargo de Kristian Eidnes Andersen e equipe) e a trilha sonora (Nicolaj Egelund) também merecem nota, pois ajudam a sedimentar o sentimento de angústia e deslocamento pretendidos pelo roteiro.

A Caça é um filme acachapante, que não faz concessões e, quando presta julgamento, o faz de maneira tão clara que não causa desconforto ao espectador - no sentido de manipulá-lo descaradamente a conclusão pretendida -, mas sim desperta o sentimento de reflexão, onde cada um terá a oportunidade de contextualizar o caso apresentado de acordo com seus valores ético-morais, com sua filosofia de vida, com sua maturidade e conceito de justiça. O filme de Thomas Vinterberg é cinema de primeira grandeza e desde já meu favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro (mesmo não tendo visto grande parte de seus possíveis concorrentes). Fico aqui na torcida para que acabe por galgar indicações outras, como ator para Mads Mikkelsen (vencedor do prêmio em Cannes) e, por que não, direção para Vinterberg. Se ano passado tivemos o francês Amor como o azarão estrangeiro em meio aos grandes do cinemão norte-americano, por que não sonhar com o encaixe desse filmaço oriundo da Dinamarca?

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28 dezembro, 2013

Amor Profundo (The Deep Blue Sea, GBR, 2011).

"Rachel Weisz entrega uma performance singular" (Tim Robey, do The Daily Telegraph).
"Uma adaptação inteligente e cheia de estilo de uma história de amor atemporal" (Rosamund Witcher, da Red Magazine).
"Um belo colapso de filme... Terence Davies no seu melhor" (Alex Dilmes, da Esquire).
 Pouco visto e pouco comentado, Amor Profundo, adaptação da peça do dramaturgo inglês Terence Rattigan, escrita e dirigida por seu xará Terence Davies (A Essência da Paixão) e estrelada por Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel), Tom Hiddleston (Thor: O Mundo Sombrio) e Simon Russell Beale (Sete Dias com Marilyn), é um filme arrebatador. Sem nunca negar sua origem dos palcos, o filme se mostra como um interessante estudo acerca da inconstância do amor, das infinitas possibilidades de sentir e manifestar este sentimento e da culpa e do remorso recorrente de se viver ou de se abster do mesmo.

As interpretações do trio destacado acima são, de longe, o maior atrativo do longa, especialmente a química entre Weisz e Hiddleston, sendo os rompantes de melancolia e desespero da primeira e os de alegria e fúria do segundo magnetizantes. Russell Beale, apesar de destacar-se menos - até por que o próprio papel surge com menor importância -, apresenta uma interessante interseção de introversão e desespero, mas de maneira contida. A junção de personas tão distintas, disputando um a atenção do outro, rende algumas sequências memoráveis, todas conectadas à discussão pretendida pela obra. Contudo, apesar de essencial, o elenco não é o único elemento de destaque, visto que, mesmo possuindo um campo imagético reduzido - o que o faz lembrar ainda mais uma peça de teatro -, a cenografia e figurinos do filme são bem cuidados, sendo felizes na missão de transportar o espectador ao período pós guerra na Inglaterra, mais especificamente ao ano de 1950.

Há tanto complexidade quanto poesia no filme de Davies, partindo do início quase que inteiramente mudo, conduzido pelas belas imagens captadas por Florian Hoffmeister (minissérie Grandes Esperanças), aos momentos de exploração melodramática, quando acompanhamos a explosão dos conflitos entre os amantes interpretados por Weisz e Hiddleston, elevados pela angústia e incômodo despertados pelos temas de violino compostos pelo saudoso maestro norte-americano Samuel Barber. A comunhão entre texto, interpretações carregadas, música pulsante e enquadramentos fechados, reforçam o clima de agonia e subjetividade do filme, transformando a dor em beleza, a perda em ganho, as trevas em luz.

Talvez o ritmo do filme, aliado ao confinamento dos cenários/locações, acabem por torná-lo um tanto lento, além do estilo teatral possivelmente não agradar parte da plateia espectadora, mas é inegável o tratamento caprichado dado por Davies e equipe na construção desta poesia visual acerca do poder de construção e destruição chamado amor. Há similitude entre os objetos deste filme e os do mais recente do cineasta norte-americano Terrence Malick (uma reunião de Terences, não?), Amor Pleno, mas julgo eu que, em termos de profundidade e comoção, Amor Profundo, assim como o título nacional já adianta, é muito mais completo que o esteticamente interessante trabalho de Malick. Um filme de reminiscência, de refletir o antes, o hoje e o porvir.

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27 dezembro, 2013

The Bling Ring - A Gangue de Hollywood (The Bling Ring, EUA/GBR/FRA/ALE/JAP, 2013).

"Vivendo o sonho. Um assalto de cada vez" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Ainda referenciada como filha do cineasta Francis Ford Coppola, este o responsável por pelo menos cinco (para alguns quatro) clássicos da história do cinema - a trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now e A Conversação -, até hoje a esforçada Sofia Coppola (Em Lugar Qualquer) não conseguiu mostrar, com propriedade, a que veio. Parte do público e da crítica a enxergam como subestimada, já outros a consideram superestimada. Particularmente me encaixo na segunda corrente e com isso, adianto, não quero dizer que Sofia não é uma boa diretora e uma roteirista interessante, longe disso, mas sou partidário da tese de que esta ainda tem muito a provar, especialmente analisando com cuidado cada um de seus filmes lançados até então.

A premissa de Bling Ring - A Gangue de Hollywood - o Brasil e seus subtítulos "explicativos" - é interessante, ainda mais por ter como ponto de partida um evento real, registrado em um artigo jornalístico publicado pela revista Vanity Fair. Todavia, o roteiro estruturado por Sofia Coppola não consegue empregar camadas a trama que envolve jovens de classe média alta que decidem, pelos mais fúteis motivos - nunca sequer sugeridos pelo filme -, decidem assaltar algumas mansões de celebridades hollywoodianas, que residem na mítica Califórnia, como Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Megan Fox e Paris Hilton. Não fica claro se a cineasta "apoia" a ação do grupo (no sentido de corroborar com as "motivações" da gurizada) ou se opõe-se a mesma, pois a forma com que o roteiro é posto e a narrativa é desenvolvida não deixam isso claro, muito pelo contrário, acaba por despertar certa apatia pela história em si.

Coppola conseguiu reunir um elenco bacana, formado em sua maioria por rostos novos - os mais conhecidos são, certamente, Emma Watson (franquia Harry Potter, Sete Dias com Marilyn) e Lesie Mann, a senhora Judd Apatow - e os encaixa de forma minimamente interessante à trama, mas não vai além, não explora a possível complexidade do relacionamento entre a tal "gangue", nem sequer o círculo familiar de cada um de seus membros. Muito pelo contrário pois, à exceção da personagem de Mann, não há quase nenhum espaço para os demais familiares no filme. A bem verdade, apesar de não ser monótono, a a obra parece não seguir uma linha de evolução, mostrando uma série de assaltos até a óbvia "captura" da garotada pelo departamento de polícia. Daí, somos apresentados a momentos de desconstrução da verdade, onde cada um dos membros da intitulada Gangue de Hollywood entrega uns aos outros. Este último ato, responsável pela resolução do filme, também poderia ter mostrado bem mais densidade.

Por outro lado, se a decupagem e estruturação do roteiro merece ressalvas, é válido aplaudir as escolhas de Coppola como diretora, especialmente no que se refere à composição de planos, escolhas de lentes e montagem, dando uma cara "documental" ao filme, direcionando ao espectador um olhar voyeurístico, que casa bem muitíssimo bem com a proposta primeira do filme. Logo, é possível notar que Sofia Coppola sabe filmar, mas sua habilidade como roteirista ainda deve ser aprimorada, o que não deixa de ser irônico, já que esta abocanhou o Oscar de melhor roteiro original por Encontros e Desencontros.

Esteticamente interessante, mas dono de um conteúdo duvidoso, The Bling Ring - A Gangue de Hollywood ainda não é a obra que alçará Sofia Coppola ao rol dos grandes nomes do cinema - seja este mainstream ou indie -, independentemente da turma que endeusa a filha de Francis Ford berrar o contrário. Este filme me fez lembrar de outros dois que, apesar de possuírem certa importância - e, consequentemente, um séquito de fãs -, ao meu ver, não necessitariam existir: Elefante, de Gus Van Sant e 127 Horas, de Danny Boyle. Para mim, estes, juntamente a Bling Ring, apesar de retratarem eventos (altamente) dramáticos inspirados na realidade, não conseguiram atingir o equilíbrio entre cinema e realidade pretendido.

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26 dezembro, 2013

Eu Tu Eles (BRA, 2000).


Apesar de muito visitado pelo cinema, ambientar filmes no nordeste brasileiro é tarefa no mínimo ingrata, devido as particularidades inerentes à região e a grande parte dos realizadores não terem grande familiaridade com elas. É claro que sempre há alguém na produção que conhece bem os pormenores dos sertões brasileiros, mas a essência local é algo difícil de alcançar, daí a razão de muitas produções que "mostram" o povo do sertão nordestino não parecer crível, orgânico aos olhos do espectador, especialmente daqueles naturais ou residentes nesta região. Passado o preâmbulo, afirmo com convicção: o carioca Andrucha Waddington (Os Penetras, Lope) conseguiu não só captar a essência do sertanejo nordestino, como construir um filme distinto, que se equilibra entre o retrato "fiel" da cultura da região e a pujança da mítica nordestina. Há muito de fábula em Eu Tu Eles, mas há também muito de "verdade", não à toa o argumento de Elena Soárez (A Busca) foi inspirado em um evento "real".

A história que envolve a confusa (e interessante) relação entre Darlene (Regina Casé, da minissérie Som e Fúria), mulher forte e decidida, mas como tantas mundo afora, recheada de traumas e desencontros, e os personagens de Lima Duarte (Colegas), Stênio Garcia (Redentor) e Luiz Carlos Vasconcelos (Carandiru), que, para não estragar nenhuma surpresa, podem ser tidos como os homens da vida de Darlene. Contudo, apesar da trama ser um aspecto marcante do filme, reside na qualidade do elenco o maior mérito do mesmo, já que o quarteto formado por Casé, Duarte, Garcia e Vasconcelos humanizam as personas apresentadas, recheando-as de humanidade e conteúdo, ultrapassando os limites do texto através de gestos e olhares. Realmente há uma simbiose muito feliz entre elenco e roteiro.

É certo que Waddington não é unanimidade como diretor, inclusive alguns o consideram superestimado, porém, apesar de seus últimos dois filmes não terem tanto vigor, é inquestionável que o cineasta carioca sabe como posicionar uma câmera e contar uma história de forma cinematográfica, ainda mais contando com grandes nomes em sua equipe, como o diretor de fotografia Breno Silveira (que acabou por se tornar diretor de filmes como Gonzaga - De Pai pra Filho e À Beira do Caminho), o montador Vicente Kubrusly (2 Filhos de Francisco), a figurinista Cláudia Kopke (Cazuza: O Tempo Não Para, Tropa de Elite) e o diretor de arte Tony Vanzolini (que também a se tornar diretor, estreando na função com o filme Eu e Meu Guarda-chuva). Destes, aplaudiria com mais força o trabalho de Silveira, pois talvez, ao lado das atuações do quarteto principal de atores, o grande destaque encontra-se nas belas composições do fotógrafo, que mostra possuir uma ótima sensibilidade tanto na utilização de luz, quanto na escolha das lentes e dos enquadramentos de câmera. Estar cercado por gente desse naipe faz toda a diferença e Waddington aproveita muito bem o que tem em mãos.

Misto de comédia com drama, Eu Tu Eles continua sendo, treze anos após seu lançamento, uma obra bastante particular, que recria com propriedade uma atmosfera mítica do sertão nordestino, além de apresentar uma série de personagens icônicos à cinematografia nacional. Some-se isso a ótima seleção de músicas de Gilberto Gil e a presença do hit Esperando na Janela, de Targino Gondim, Manuca Almeida e Raimundo do Acordeom, imortalizada na voz de Gil. Divertido e recheado de falas marcantes, mas também de momentos de pura emoção, além de ter um subtexto social acurado, Eu Tu Eles pode não sedimentar o nome de Andrucha Waddington como um dos grandes nomes do cinema brasileiro, mas certamente o retira do patamar de promessa e põe no plantel da realidade. Se este conseguirá ser inserido no rol dos grandes realizadores, somente o tempo (e suas produções daí em diante) dirá.

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23 dezembro, 2013

A Maldição de Chucky (Curse of Chucky, EUA, 2013).


Quando criança, pensava como criança e, por extensão, compreendia e interpretava filmes como criança. Quando criança, gostava bastante da trilogia Brinquedo Assassino, assistindo e reassistindo aos filmes sempre que tinham oportunidade. Hoje estes filmes já não encontram-se tão forte no meu repertório cinematográfico, mas é fato que a magia que os mesmos transmitiam aquela criança continua viva de alguma forma. O grande barato dos filmes de 1988, 1990 e 1991 era que estes, apesar da improbabilidade de sua premissa, carregavam o horror como sua bandeira primeira (mesmo que a ironia fosse uma constante). No final dos anos 1990 foi lançada uma nova sequência, A Noiva de Chucky, que dividiu opiniões e, de certa forma, foi responsável por escancarar uma nova forma de se enxergar a série de filmes, agora como uma peça de humor politicamente incorreto - à época gostei do filme, mas já sentia algo diferente no ar -, o que só veio a ser confirmado com a sequência seguinte, O Filho de Chucky, uma comédia horrível (no mau sentido, lógico). Com o fracasso de crítica e público obtido por este último filme, o potencial da franquia de Don Mancini (roteirista dos primeiros quatro filmes e diretor do último, além de pai das personagens) caiu por terra, até que, sabe-se lá como, o mesmo Mancini conseguiu convencer a Universal Pictures a bancar um novo filme com Chucky, desta vez retomando o foco no terror. Resultado: mesmo que inferior ao filme original (que, sejamos sinceros, já não era um grande filme), nota-se que A Maldição de Chucky traz parte do clima do início da franquia e, no geral, é uma baita homenagem aos slasher movies oitentistas.

Contando com um péssimo elenco, enredo simplório, sustos fáceis (alguns eficientes) e diálogos paupérrimos (tudo isso proposital, acredito eu), A Maldição de Chucky nada mais é do que um revival turbinado dos melhores títulos do terror adolescente dos anos 1980, embalado com o "melhor" que a tecnologia atual de efeitos especiais (práticos e digitais) podem oferecer. O fato do filme se passar quase que totalmente em um único ambiente (um casarão um tanto afastado da civilização), além de confirmar o baixo orçamento da obra, acaba lembrando a franquia Jogos Mortais, que ficou conhecida por se restringir a pouquíssimos ambientes. Tal opção (se é que não foi imposição) acaba deixando o filme com uma cara de piloto de seriado, mas, em contraponto, a direção segura (diria até mesmo elegante) de Mancini equilibra esta cara televisiva do filme, especialmente pelo bom posicionamento de câmera e pela utilização de traveling e grua em algumas sequências.

Dentre os membros do elenco temos pelo menos um nome que desperta curiosidade (e que talvez seja o que traz a melhor "atuação"), Fiona Dourif (O Mestre), nada menos que a filha de Brad Dourif (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres), o Chucky em pessoa. A moça até que manda bem em sua composição da paralítica Nica, não devendo nada a Jamie Lee Curtis (blasfêmia?) e demais gritadoras mor do horror, mostrando que não é apenas um rostinho bonito. Dourif pai também volta com tudo, dando credibilidade as falas infames do boneco Chucky com sua entonação de voz (redundância?) impecável. É impagável ouvir sua gargalhada conectada ao terror mais uma vez. Os demais que surgem em cena servem bem como cadáveres, nada mais que isso.

Além da boa direção de Don Mancini, destacaria a trilha sonora composta por Joseph LoDuca (A Morte do Demônio, série Spartacus), que consegue estabelecer um clima bacana ao filme, tanto nos momentos de suspense quanto naqueles onde o choque gráfico ganha a vez. O departamento de maquiagem do filme também surpreende, além dos efeitos (especialmente os práticos) do filme mostrarem-se eficientes. O roteiro de Mancini, apesar de previsível, mostra-se adequado especialmente por tentar, mesmo que nem sempre de forma crível, conectar este filme aos demais da franquia, almejando assim consertar a mitologia Chuckyniana. Se o mesmo é feliz, cabe a cada um de nós decidir, mas é óbvio que o diretor tentou remendar as diversas pontas soltas da franquia após tantos filmes.

Mesmo lançado diretamente no formato video-on-demand e dvd/bluray, A Maldição de Chucky fez bastante sucesso, inclusive motivando uma sequência a ser lançada nos próximos anos. É correto afirmar que este não é um grande título de terror, mas só o fato de ter-se tentado retomar alguns elementos que perpassavam a franquia em seu período de formação o transformam num produto no mínimo interessante. A Maldição de Chucky não esconde a cara de "filme para tevê" - se fosse o piloto de uma série, certamente teria me despertado a acompanhá-la regularmente -, mas funciona bem, mesmo a trancos e barrancos. Não espere grandes surpresas ou uma trama mirabolante - na verdade, o filme é uma baita bobagem, mas deve agradar aqueles que, como eu, são crias do cinema de horror da década de 1980 -, mas sim um filme direto e surreal, assim como foi o original de 1988.

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22 dezembro, 2013

Colegas (BRA, 2012).

Vencedor de diversas premiações importantes no âmbito nacional, como o Festival de Gramado e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, ambos em 2012, Colegas é um projeto bastante pessoal do roteirista e diretor (além de fazer uma ponta como um dos agentes que parte em busca dos "colegas" na capital argentina, Buenos Aires) Marcelo Galvão (Bellini e o Demônio), como fica claro na mensagem que encerra a exibição do filme (seu tio, assim como os protagonistas do filme, é portador de síndrome de down). Construído de forma a conduzir o espectador através do ponto de vista dos portadores desta síndrome, o road-movie é divertido e bem filmado, além de contar com um elenco bem carismático, mas que não o impede de, vez ou outra, tropeçar pelo caminho, visto que nem todo malabarismo encaixa à perfeição numa obra cinematográfica, independentemente do ponto de vista pretendido.

Uma das boas sacadas do roteiro de Galvão encontra-se nas inúmeras referências a obras (clássicas ou não) da cinematografia mundial, seja através da recriação de algumas cenas ou até mesmo pela simples citação de algum diálogo famoso. Tal elemento é perceptível desde a exibição dos créditos iniciais, cujas fontes das letras imitam as de diversos títulos emblemáticos, como O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, por exemplo. Já no próprio filme destacam-se as homenagens aos filmes Cães de Aluguel, de Quentin Tarantino, Scarface, de Brian De Palma e Thelma & Louise, de Ridley Scott, talvez a que mais represente a essência do filme de Galvão. 

Apesar do encaixe desta espécie de colagem-tributo ser interessante, esta nem sempre encaixa-se a trama de maneira orgânica, o que pode atrapalhar o andamento da história ou até mesmo fazer com que as referências despertem mais atenção do que a "missão" proposta pelo filme. Por fim, é válido destacar que os três amigos que decidem fugir da instituição que os acolheu para realizar pelo menos três dos seus sonhos (conhecer o mar, casar e voar, respectivamente) são fanáticos por cima, inclusive um deles já confirma isto pelo nome de batismo: Stallone.

Tecnicamente o filme é muito bem acabado, contando com um ótimo trabalho de fotografia de Rodrigo Tavares (Rinha: O Filme), que dá toda uma cara de sonho na captação das imagens, além de destacar muito bem as paisagens pelas quais o trio principal passa durante a projeção do filme e uma trilha sonora marcante, que recicla temas de filmes, mas sempre com o intuito de prestar homenagem à sétima arte e não com o intuito de plágio. Ótimo trabalho de Ed Cortês. O elenco do filme, apesar de não apresentar-se excepcional, cumpre bem seu papel de compor o pano de fundo da trajetória dos garotos interpretados por Ariel Goldenberg (Stallone), Rita Pokk (Aninha) e Breno Viola (Márcio), destacando-se a exagerada composição de Lima Duarte (também responsável pela narração do filme) e Deto Montenegro, que também aposta na caricatura para compor um dos detetives encarregados de "resgatar" os três fujões.

É inegável que Colegas é um filme bem intencionado e divertido, com toda a cara de Sessão da Tarde, mas também é perceptível que possui algumas falhas, especialmente no âmbito de roteiro e na direção de elenco, especialmente dos garotos portadores de síndrome de down (obviamente tal tarefa é complicadíssima, mas algumas cenas acabaram ficando com uma cara exageradamente improvisadas, levando a trama do filme a um caminho aparentemente não previsto ou as deixando mais "irreais" do que seria "aceitável"). Nada disso tiro o brilho e potencial do filme, mas o afastam de todo o clima de celebração pelo qual o mesmo foi acometido, inclusive com o aval de premiações que, através de um olhar menos emotivo e mais rigoroso, certamente a obra não abocanharia.

Em resumo, Colegas é sim uma obra divertida e cativante, mas dotada de falhas um tanto quanto escancaradas - a maioria no âmbito de roteiro -, o que o torna menos incrível do que poderia ser. Acredito também que o hype criado em torno do filme (comoção em festivais, o fato de ser uma produção estrelada e dedicada as pessoas portadoras da síndrome de down etc.) tornou-se superior a sua própria qualidade como cinema, o que, no meu ponto de vista, é um baita erro, pois, acima de tudo, cinema deve ser cinema, não apenas bandeira, denúncia ou homenagem, como alguns defendem. Todavia, mesmo bobinha e "viajada" em demasia, a obra assinada por Marcelo Galvão tem tudo para tornar-se o próximo campeão de audiência das tardes cinematográficas da garotada na rede plim plim.

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20 dezembro, 2013

Os Suspeitos (Prisoners, EUA, 2013).

"Uma verdade escondida. Uma busca desesperadora" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Tenso, contemplativo, rigoroso tecnicamente e possuidor de conteúdo suficiente para horas de discussão, Os Suspeitos (por que não Prisioneiros, tradução literal do título original, Prisoners?) marca a estreia do diretor canadense Denis Villeneuve (Incêndios) em uma produção "hollywoodiana" e esta não poderia ter um resultado mais acertado. Contando com um roteiro interessante - escrito por Aaron Guzikowski, do despretensioso Contrabando -, que mesmo seguindo as linhas básicas do thriller moderno consegue surpreender, e com um elenco formidável, o filme foi bastante comparado as obras policiais de David Fincher (Se7en - Os Sete Crimes Capitais, Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres), o que não é de todo falso, mas é certo que ele possui identidade própria, sendo seu maior diferencial o destaque dado ao desenvolvimento dramático da trama em detrimento do mistério, que tem vez, mas encontra-se em segundo plano.

Contando com nomes como os de Jake Gyllenhaal (Marcados para Morrer), Hugh Jackman (Wolverine: Imortal), Terrence Howard (Crash - No Limite), Viola Davis (Histórias Cruzadas), Maria Bello (Obrigado por Fumar), Melissa Leo (Oblivion) e Paul Dano (Ruby Sparks - A Namorada Perfeita) encabeçando o elenco, além da participação do "novato", mas eficiente David Dastmalchian (Batman, o Cavaleiro das Trevas), Os Suspeitos tem no suporte deste elenco seu grande diferencial, pois é ele que torna uma trama cuja essência já foi tantas vezes visitada pelo cinema em um suspense magnetizante e, de certa forma, surpreendente. Tendo o clima como elemento principal para que o filme funcione, a comunhão entre elenco, direção e texto acaba sedimentando a eficácia deste elemento.

Apesar de cada membro do elenco encontrar-se muito bem em seus respectivos papéis - uns melhores, outros menos -, sem sombra de dúvidas o destaque cai nos protagonistas vividos por Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal. O primeiro transborda emoção ao compor um pai de família um tanto quanto conservador, de pavio curto (convencendo bem mais do que em sua interpretação de Wolverine) e determinado a "fazer justiça com as próprias mãos" após enxergar certa inércia no trabalho de investigação da polícia. Já Gyllenhaal aposta nos tiques e na cadência da voz para compor o detetive Loki, responsável pela investigação do paradeiro das filhas dos personagens de Jackman (e Bello) e Howard (e Davis). Ambos extrapolam os limites do texto e parecem incorporar seus respectivos personagens, entregando interpretações acima da média (não seria injusto indicá-los ao Oscar nas categorias de ator e ator coadjuvante).

A estética da obra também chama a atenção, seja pela utilização de tons frios - a chuva certamente é uma das personagens principais -, seja pela composição elaborada pelo exímio fotógrafo Roger Deakins (007 - Operação Skyfall), que tem tudo para abocanhar (e quem sabe vencer) mais uma indicação ao Oscar na categoria. É através de suas lentes que acompanhamos o desenrolar dos eventos que conduzem a trama, portanto, a delicadeza com que Deakins capturou as imagens ajudam na construção subjetiva destes eventos pelo espectador, que vai montando o quebra-cabeças "moral" quanto as várias camadas de caráter externadas pelo ser humano (sim, através de detalhes como enquadramento de câmera, iluminação e foco). A trilha sonora, apesar de discreta, também auxilia à construção de sentimentos antagônicas em relação as ações de diversos personagens, além de equilibrar os momentos de tensão exigidos pelo longa. Sendo assim, também merece destaque o trabalho de Jóhann Jóhannsson (Por Amor).

É certo que, num primeiro olhar, pode-se tomar Os Suspeitos como um filme longo e lento, todavia, nunca de forma despropositada. Daria para causar efeito similar através de uma montagem mais dinâmica cuja metragem resultasse em uma obra dez ou quinte minutos menor? Talvez, mas o importante é que, mesmo com uma cadência compassada, o filme de Denis Vileneuve não cansa, mantém o espectador atento e o deixa magnetizada independentemente de qual personagem esteja em foco. São muitos os personagens que recebem (e merecem) destaque e, como sempre, uns acabam tendo mais tempo de tela que outros, mas de forma geral o filme é bastante equilibrado neste sentido, abordando cada uma das duas famílias e o trabalho de investigação da polícia com um bom nivelamento.

Mais interessante que a resolução do crime em si - que é de tirar o fôlego, que fique bem claro - é a discussão acerca da capacidade de qualquer ser humano para a quebra de conduta, para o atropelamento das convenções ético-morais, para o abraçamento de sua natureza selvagem e o escancaramento de sua dubiedade de caráter. É óbvio que, mais do que nunca, com as mazelas sofridas ontem, hoje e sempre pela humanidade, é praticamente impossível confiar plenamente no outro - ora bolas, vivemos na sociedade dos muros e da cerca elétrica -, mas, acima de tudo, como confiar em si mesmo? O discurso do bem maior (vai saber como medi-lo) e dos fins justificarem os meios é belo no âmbito teórico, mas no caso concreto traz ramificações várias, cabendo análises (e pontos de vista) profundas a cada uma delas. Acima de tudo, é esta discussão (jus)filosófica que o filme trabalha, instigando o debate não quanto a "culpa" (ou o por quê) de quem abraça o mal, mas sim até onde você iria para alcançar o "bem"? Faria o "mal" para obtê-lo?

Certamente um dos thrillers mais interessantes dos últimos anos, o filme dirigido por Denis Villeneuve é maduro o bastante para por o dedo na ferida e deixá-lo lá por mais do que alguns segundos, exigindo assim a compreensão macro do espectador, que torna-se cúmplice de todo o cenário de "heróis" e "vilões" apresentado. Não há perfeição apresentada pelo filme, da vítima ao criminoso, todos são dotados de vícios, falhas e culpa, mas também acreditam estar trilhando o "melhor" caminho, acreditam possuir a solução. É no balanceamento dos dilemas humanos que reside a força principal de Os Suspeitos, drama humano disfarçado de suspense, onde o prejulgamento nos atinge desde o minuto um e onde a culpa reside durante toda sua projeção. Particularmente me identifico com o personagem interpretado por Gyllenhaal, mas o arquétipo carregado por Jackman talvez seja o mais comum a grande fatia da humanidade. Se isso pode ser tido como bom ou ruim, cabe a cada indivíduo pensante decidir, mas, como Villeneuve e Guzikowski sugerem, tal decisão está longe de ser fácil. 

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18 dezembro, 2013

Universidade Monstros (Monsters University, EUA, 2013).


Não é de hoje que a Pixar Animation vem perdendo espaço no rol das produtoras de animação, especialmente no sentido criativo, cada vez menos interessante, em grande parte pela falta de conceitos originais - sim, ano passado tivemos Valente, mas este apresentou mais cara Disney que Pixar - e pela adoção em escala industrial de sequências de alguns de seus sucessos - numa estratégia parecida com a da produtora rival, DreamWorks -, como o insuportável Carros 2 e este simpático, porém dispensável Universidade Monstros. Adianto que o filme não é ruim, pois cumpre bem sua função principal de entreter, no entanto, falta encanto à história apresentada, que de tão quadrada não sai do lugar comum, o que, com a vasta mitologia sugerida por este e pelo filme original, é um baita desperdício de potencial.

Contando com a volta do elenco principal de vozes do ótimo Monstros S.A., de 2001 e abraçando a ideia do prelúdio, tão em voga em terras hollywoodianas, Universidade Monstros conta apenas com um dos roteiristas do longa original na parte criativa, Daniel Gerson, que concebe o enredo cujo foco reside nos anos de faculdade dos futuros amigos Mike Wazowski (voz de Billy Crystal, de A Máfia no Divã) e James "Sulley" Sullivan (voz de John Goodman, de O Voo), juntamente a Robert L. Baird e Dan Scanlon, que também acumula a função de diretor. Ou seja, esta segunda aventura no universo dos monstros não conta com parte expressiva da equipe criativa original, especialmente o roteirista Andrew Stanton (John Carter - Entre Dois Mundos) e o diretor Pete Docter (Up - Altas Aventuras), o que não atrapalha o filme do ponto de vista do espetáculo, mas contribui para a falta de referências mais profundas e até mesmo reflexões de cunho filosófico, tão comuns nos primeiros títulos da Pixar.

Apesar de contar com muitos "estreantes" em funções chave - Gerson, L. Baird e Scanlon estreiam aqui em longas-metragens -, é notório que a produção é caprichada, especialmente no âmbito técnico, característica esta que a Disney/Pixar mantém em constante evolução, tamanho o cuidado com todos os detalhes inerentes a uma boa animação, como iluminação, movimentação e pixels e mais pixels à disposição. Logo, se há um problema em Universidade Monstros, este não reside em seu aparato técnico, muito menos no âmbito estético - a exemplo das sequências de Toy Story, é perceptível em Universidade Monstros a evolução narrativa e tecnológica neste sentido -, mas sim no capricho de sua história, no interesse que ela desperta. É certo que não há nada que possa ser considerado como ruim na trama concebida por Gerson, L. Baird e Scanlon, mas esta também não sai do lugar comum, não carrega surpresas, não impacta. A bem verdade, a emoção e o humor do filme quase nunca saem do morno, quando a necessidade primeira seria a do quente.

É bacana rever personagens tão carismáticos como Mike e Sully, especialmente quando compostos com tamanho (e química) por Billy Crystal e John Goodman - no meu ponto de vista, esta conexão só rivaliza com a do trio principal da franquia Shrek, formada por Mike Myers, Eddie Murphy e Cameron Diaz -, e os acréscimos de Helen Mirren (Hitchcock), como a tenebrosa diretora da cadeira de sustos da Universidade (algo como a coordenadora do curso) e de Alfred Molina (Homem-Aranha 2), como o professor de Mike e Sully, vem a somar bastante ao plantel de personagens icônicos a agora franquia. Uma pena que a trama não possua a mesma força que alguns dos novos personagens, o que certamente atrapalhará futuramente na lembrança do filme.

Universidade Monstros é divertido? Sim, com certeza. Traz de volta parte da energia e do interesse do filme de 2001? Sim, traz. Seu visual continua a encher os olhos? Absolutamente. A dinâmica entre as personagens funciona? Sim. Há surpresas na trama? Infelizmente, não. O filme traz algum momento com cacife para se tornar icônico? Acredito que não. Ele é tão bom quanto o filme original? Não. Mas é um filme obrigatório? Longe disso. Dá vontade de rever? A curto prazo, não. Cumpre sua função? Pode-se dizer que sim. Em resumo, é um bom filme? Sim, é, mas poderia ser bem mais... inclusive, poderia não ser.

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17 dezembro, 2013

Amor Pleno (To the Wonder, EUA, 2012).


Terrence Malick (Cinzas do Passado, A Árvore da Vida) é um sujeito que divide opiniões de forma única: ou se ama o seu trabalho, ou se odeia. Particularmente admiro bastante o estilo Malickiano de filmar, especialmente pela qualidade abstrata da maioria de seus filmes e pelo abstrair pulsante que os mesmos pedem. Todavia, após explodir cabeças e, como sempre, dividir opiniões com seu último filme, A Árvore da Vida - que, por sinal, competiu em Cannes e recebeu uma indicação ao Oscar de melhor filme -, o cineasta aposta em fórmula semelhante em sua nova obra, deixando que as (belíssimas) imagens falem por si só, tendo o texto um papel bastante reduzido, sendo praticamente um personagem coadjuvante e sem tanta importância ao projeto como um todo.

O grande porém é que, com ou sem texto, A Árvore da Vida possuía um discurso posto entre a belíssima coleção de imagens que configuravam o filme, já em Amor Pleno (outro péssimo título nacional, já que o original é To the Wonder, algo como Até a Maravilha, Alcançando o Maravilhoso, por aí) as belas imagens não parecem servir a algum propósito reflexivo, pois há tanta coisa "jogada", tanta conexão sem nexo que a experiência audiovisual acaba comprometida, resultando assim num filme esteticamente primoroso, mas de conteúdo bastante questionável.

É legal perceber a disposição do elenco ao participar de um filme comandado por Malick, mas, à exceção de uma ou outra sequência de cunho mais emotivo, não há como se identificar com nenhuma das personagens, mesmo que estas tenham o rosto de astros como Ben Affleck (Argo), Rachel McAdams (Voo Noturno), Javier Bardem (007 - Operação: Skyfall) e Olga Kurylenko (007 - Quantum of Solace). Destes, sem sombra de dúvidas, quem mais se destaca é Bardem, devido ao interesse despertado pela angústia passadas por seu personagem, um padre cuja fé encontra-se abalada. Pena que, no contexto geral, seu arco não tenha uma relação tangível com o restante do filme, sendo este um arco interessante, mas sem importância concreta à obra. Curioso, não?

É comentado que Terrence Malick costuma construir seus filmes na ilha de edição e não ao apresentar o "roteiro" aos produtores e atores. Certamente isto funcionou em outras obra suas, mas em Amor Pleno a coisa não engrena, não comove, não desperta interesse. Até certo ponto este é um filme insípido, opaco, cujo visual comove, mas que não soa completo. Emmanuel Lubezki (Filhos da Esperança) compõe aqui imagens inspiradíssimas, que ajudam sim a montar parte do quebra-cabeças conduzido por Malick, cuja atenção a divindade e abstração místico-religiosa explode em tela, mas nem mesmo a onipresença do olhar do sol perante as personagens e o contato direto com o divino através do toque das mãos a folhagem do campo concretizam a perfeição buscada pelo diretor na construção dessa poesia visual.

Os filmes de Terrence Malick sempre trazem algo distinto, que os separa de outras obras e, como não poderia deixar de ser, este Amor Pleno também pode ser categorizado assim. Contudo, desta vez o caráter ímpar não serve como boa referência, pois há ruídos em demasia não apenas para a compreensão da vontade passada pelo cineasta, mas também para a identificação do espectador para com o mesmo. Certamente é possível admirar algo que não se compreende, mas para isso é necessário sentir um mínimo de empatia pelo incompreensível, sentir-se seguro, abraçado. Infelizmente, isto não ocorre aqui. Malick tem boa intenção, seu filme é visualmente arrebatador, seu elenco parece mergulhar em seus respectivos personagens (à exceção do praticamente mudo Affleck, mas, acredito eu, não por culpa dele), mas o sentimento pessimista evocado pela obra e sua relação com o divino não casa bem, pois soa falso, maniqueísta, forçado. Nem sempre um gênio transpira algo genial. Desta vez não deu, Malick.


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16 dezembro, 2013

Samurai X (Rurôni Kenshin: Meiji Kenkaku Roman Tan, JAP, 2012).


Lançado diretamente em dvd/blu-ray no Brasil, Samurai X, longa-metragem que adapta a famosa série em quadrinhos japonesa (mangá, para os íntimos) Rurôni Kenshin (ou Rurouni Kenshin), de Nobuhiro Watsuki, pode ser considerada, sem sombra de dúvidas, como uma das mais interessante adaptações cinematográficas do gênero e talvez a melhor do ano de 2013 (ano em que esta foi lançada por aqui). Produção japonesa do mais alto gabarito, o filme dirigido por Keishi Ohtmo (Hagetaka: The Movie) é tecnicamente primoroso e narrativamente preciso, além de apresentar-se bastante equilibrado ao costurar os elementos de ação, humor, informações históricas, aventura, drama e romance que existem na obra original e que foram aqui preservados. Sem sombra de dúvidas, uma grata surpresa.

Adaptando apenas uma pequena parte da saga do samurai andarilho Kenshin Himura (Takeru Satô, muito bem), o filme escrito por Ohtmo e Kiyomi Fujii (Hikidashi No Naka No Rabu Retâ) desperta a atenção do espectador - leitor ou não do mangá original - ao apresentar um prólogo focado no final do conflito que deu vazão à era Meijo no Japão feudal do século XIX. Nos é mostrado o personagem de Himura, espadachim impecável e temido, então conhecido pela alcunha Battösai, para logo em seguida avançarmos alguns anos, quando o personagem nos é reapresentado como um andarilho em busca de redenção, porém, agora incapaz de matar. A trama se desenvolve a partir do dilema moral de Himura/Battösai e é complementada pela insurgência de um novo conflito, que envolve um inescrupuloso comerciante, Kanryuu Takeda (Teruyuki Kagawa, Contos de Terramar) e sua ligação com o comércio ilegal de ópio e o ressurgimento de um ex-soldado à época do conflito de Toba-Fushimi, que agora se autointitula como Battösai. A partir daí são apresentados diversos outros personagens que complementam o arco narrativo principal, que ajudam a delinear os diversos gêneros/estilos (aventura, comédia etc.) que o filme adota para si.

Keishi Ohtmo foi muito feliz na maioria de suas escolhas, tanto naquelas relacionadas a estética do filme - que adota uma postura realista, mas sem esquecer de que está tratando de um personagem estilizado - quanto na condução da produção como um todo. Reuniu um elenco bacana para materializar o rol de personagens para lá de queridos pelo público (especialmente) japonês, além de ter dado uma condensada no texto, deixando, a grosso modo, apenas o essencial para o pleno entendimento da história contada. Quanto ao elenco, destacaria as composições de Satô, que se mostra carismático e surpreende nas cenas cuja exigência física é maior, Koji Kikkawa, o grande oponente de Kenshin Himura no filme e o "chefão" do crime interpretado por Kagawa, que aposta tudo na caricatura sem deixar de convencer. Na parte técnica, além da direção, destaco a trilha sonora composta por Naoki Sato, que mistura elementos sinfônicos aos sons eletrônicos de forma interessante, a fotografia de Takuro Ishizaka, que decupa alguns imagens belíssimas e equilibra bem as paisagens "naturais", os cenários e os efeitos visuais, como também a equipe de arte do filme, formada pelo desenho de produção do filme, figurino e maquiagem. É perceptível que cada centavo foi muito bem gasto para a confecção do longa.

Como dito antes, Samurai X é uma grata surpresa, primeiro por se tratar de uma produção de ação e aventura que não deve nada a qualquer pretenso blockbuster norte-americano e, em segundo lugar, por ter uma coerência narrativa e um cuidado de produção tão grande que o deixam como uma das melhores adaptações cinematográficas de histórias em quadrinhos (mangás) de todos os tempos. Há muito do original aqui, como também há todo um referencial novo, mas é impossível dissociar a qualidade de um do outro. Por outro lado, apesar do esmero, alguns pequenos desvios atrapalham um pouco a coerência do filme, como o excesso de personagens (especialmente de "capangas" do barão das drogas) e o alongamento de algumas cenas de ação, que poderiam ser melhor resolvidas caso fossem melhor editadas. No mais, Samurai X é uma peça de entretenimento formidável, equilibrada e cujo potencial de franquia está mais do que plantado. Esqueça Homem de Ferro 3, O Homem de Aço, Wolverine: Imortal, Thor: O Mundo Sombrio, Kick-Ass 2, Red 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos etc., pois, dos filmes baseados em histórias em quadrinhos lançados em 2013, seguramento Samurai X é o melhor em todos os sentidos. E tenho dito.

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