29 novembro, 2013

Se Beber Não Case! Parte III (The Hangover Part III, EUA, 2013).


Parte expressiva da crítica desceu o sarrafo nesta segunda sequência do hit Se Beber Não Case. Logo,  já fui conferi-lo com o nariz para lá de torcido. Todavia, apesar do filme não apresentar o frescor da obra lançada em 2009, consegue convencer ao abraçar uma trama que o afasta, pelo menos em estilo, daquele filme original (e de sua primeira sequência). É certo que Se Beber Não Case Parte III não acerta no tom cômico, visto que resulta pouco engraçado, além de não dosar bem a maior participação do personagem de Ken Jeong, o mister Chow. Por outro lado, a trama que emula filme de assalto desperta interesse, especialmente por demandar mais aventura que cenas de humor pastelão, o que ao mesmo tempo afasta o filme da proposta do primeiro, mas traz um ligeiro frescor, especialmente após a cópia hipertrofiada do original que foi o segundo filme.

É perceptível a apatia do trio protagonista do filme, formado pelos celebrados Bradley Cooper (O Lado Bom da Vida), Zack Galifianakis (Um Parto de Viagem) e Ed Helms (Família do Bagulho), especialmente os dois primeiros, que repetem os mesmos maneirismos (o galã não engraçado e o gordinho sem noção) sem tanto brilho, quiçá sem interesse (ou tesão mesmo). Tal "indisposição" é tão evidente que a empatia despertada pelo trio nos dois primeiros filmes não mantém a mesma força, o que acaba facilitando a atenção dada ao personagem de Jeong (mesmo com seus óbvios excessos) e a trama do filme em si, relegada a segundo plano nos anteriores.

Espécie de tentativa de renovação após a equação sucesso comercial mais fracasso de crítica (especializada e opinião pública) obtida pelo filme anterior, Se Beber Não Case Parte III acaba sofrendo bastante pela oscilação de interesses em sua trama, que ora assume-se como mais uma aventura surtada do trio (sim, ainda tem o personagem de Justin Bartha, Doug), ora aposta no fechamento da jornada do herói de Alan (Galifianakis), inclusive sendo inserido à trama um interesse amoroso para ele. É perceptível o esforço do roteirista Craig Mazin (Uma Ladra Sem Limites) e do diretor e co-roteirista Todd Phillips (Dias Incríveis) em agregar novos elementos a "mitologia" da franquia da ressaca, além de resgatar outros (como a participação da cidade de Las Vegas), mas tal esforço surgiu com certo delay, funcionando em alguns momentos, mas sem a potência necessária para fazer o filme vingar. É triste, mas este terceiro Se Beber Não Case é uma comédia surtada que pouco faz rir.

Sem contar com o fator surpresa do primeiro filme e sem possuir o sentimento de ansiedade como chamariz, a exemplo do segundo, no fim das contas Se Beber Não Case Parte III não é um filme ruim, mas assim como o segundo, não possui razão de existir, já que a premissa que fora apresentado no filme original era fechada em si mesmo. Como curiosidade necessariamente não forma um bom filme, acompanhar a jornada de Phil (Cooper), Stu (Helms) e Alan - mais Doug e Chow - não desperta tanto a atenção, até porque o que havia de melhor a ser visto nos foi transmitido no ainda bacanudo Se Beber Não Case, de 2009. Esta terceira parte - e, provavelmente, última - diverte no limite do possível e, portanto, vale a visita. Mas se for comparar ao original, melhor nem conferi-la.

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26 novembro, 2013

Sobrenatural: Capítulo 2 (Insidious: Chapter 2, EUA, 2013).

"Ele(a) irá te tirar aquilo que você mais ama" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Com o grande sucesso comercial obtido com o primeiro Sobrenatural era mais do que óbvio que o estúdio responsável encomendaria uma sequência, que traz de volta o elenco principal e a equipe criativa, composta pelo roteirista Leigh Whannell (Gritos Mortais) e pelo diretor James Wan (Jogos Mortais, Invocação do Mal). Apesar de não se postar como uma sequência necessária - a bem verdade, poucas são -, o plot desenvolvido por Whannell e Wan consegue ampliar os eventos ocorridos no filme anterior, como também estabelecer novos elementos à mitologia da agora assumida franquia - vem filme novo por aí -, isso sem precisar carregar a trama de novos personagens. É certo que a reciclagem de alguns não soa tão orgânica - especialmente quando um destes vem do além - quanto o retorno de Patrick Wilson (Watchmen - O Filme), Rose Byrne (Presságio) e Barbara Hershey (A Última Tentação de Cristo), mas não chega a soar forçado.

Assim como o filme anterior, Sobrenatural: Capítulo 2 segue o caminho da sugestão em detrimento do exibicionismo, o que é uma ótima escolha, pois dessa forma a construção do medo ou do susto torna-se mais palpável e menos efêmera. É certo que nem sempre tal fórmula é empregada com sucesso, sendo possível notar alguns momentos onde o susto surge óbvio ou a mão de Wan pesa um pouco na condução da câmera, mas no geral o clima do filme segue a linha do horror de bom gosto, que pensa e age no intuito de despertar tensão no espectador e desafogá-la com alguns sustos. Curiosamente há neste filme alguns ecos de outro trabalho recente de James Wan, Invocação do Mal, especialmente na caracterização da "aparição" principal. Coisa boba, mas vale a atenção.

Mesmo aparando algumas arestas do filme anterior ampliando-as ao envolver o passado de um dos personagens aos eventos daquele, nota-se que não Sobrenatural: Capítulo 2 não trouxe grandes mudanças conceituais ao que foi estabelecido no filme original, tratando-se assim de uma sequência bastante convencional, que se adequa relativamente bem ao apresentado anteriormente, mas que não promove uma grande evolução narrativa ao desfecho do primeiro filme. A expressão mais do mesmo não caberia aqui, mas é correto afirmar que esta sequência não inova e, infelizmente, sofre dos mesmos problemas do longa original, inclusive com uma queda de rendimento no ato final, que soa clichê e previsível.

Hoje em Hollywood temos pelo menos duas produtoras de médio porte que apostam em filmes de horror/suspense de baixo orçamento e cujo retorno financeiro é inegável, a Platinum Dunes, de Brad Fuller, Andrew Form e Michael Bay (sim, o explosivo Bay) e a Blumhouse Productions, encabeçada por Jason Blum e pelo cineasta Oren Peli, e apesar de ambas terem em seu currículo mais bombas que acertos, a empresa responsável pela franquia Atividade Paranormal (Blumhouse) acaba gerando maior interesse, especialmente por apostar mais na criatividade (mesmo que nem sempre esta gere bons filmes) do que em refilmagens (carro-chefe da Platinum Dunes). Sobrenatural e Sobrenatural: Capítulo 2, produtos da Blumhouse, apesar de possuirem alguns ruídos, certamente são as melhores obras já capitaneadas pela produtora.

Voltando ao filme, tecnicamente este se apresenta interessante, tanto no que se refere a direção - filmografia à parte, James Wan é um diretor competente, criativo e bastante reverente à sétima arte, procurando prestar pequenas homenagens a títulos clássicos do cinema em algumas composições de cena - quanto a fotografia, edição/mixagem de som e trilha sonora, elementos estes de grande importância a uma boa obra de suspense/horror. Enquanto a trilha apresentada por Joseph Bishara (11-11-11) segue a cartilha básica do ruído e do "susto sinfônico" - não engrandece, tampouco atrapalha -, a composição visual proposta por John R. Leonetti (Piranha 3D) abraça as sombras e os tons escuros, aspecto este mais do que esperado em um filme do gênero. Portanto, mesmo sem apresentar grandes trunfos criativos, ambos realizam seus respectivos trabalhos com competência. Já a equipe de som talvez seja a que obtenha maior destaque, especialmente devido aos sustos fáceis contidos no roteiro da dupla Whannell/Wan, que acertam justamente quando o som serve a narrativa do filme.

Pouco inventivo e infelizmente pecando em sua resolução - à exemplo do longa original -, Sobrenatural: Capítulo 2 não é um grande filme de suspense, mas guarda certo charme, especialmente por estabelecer alguns personagens interessantes e torná-los tão necessários quanto o mistério e o clima de terror da obra. Tanto Patrick Wilson - que escorrega apenas durante o ato final, devido sua atuação exagerada - quanto Rose Byrne convencem como (agora) pais de família atordoados pelos eventos traumáticos do filme anterior, enquanto Barbara Hershey surge apenas como elo de ligação entre as tramas, sem grande função narrativa além disso, mas no geral o elenco encontra-se bem e fortalece o interesse pelo filme, que mesmo batido possivelmente conseguirá agradar tanto ao público sedento por sustos fáceis, quanto aqueles que curtem resolver mistérios. Não é brilhante em nenhum dos dois, mas seu saldo é positivo.

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25 novembro, 2013

Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, EUA, 2013).


Muito foi dito a respeito da cara mais suja que seria apresentada na sequência do filme Thor (2011), O Mundo Sombrio, especialmente com a assunção de Alan Taylor à direção deste segundo longa-metragem solo do "deus" asgardiano, já que ele tornou-se conhecido como diretor de episódios memoráveis de séries como Família Soprano, Boardwalk Empire e, principalmente, Game of Thrones. O longa de 2011 acabou recebendo algumas críticas negativas, especialmente quanto a sua estética excessivamente "luminosa", aspecto este do qual também sou partidário. Contudo, apesar do visual deste Thor: O Mundo Sombrio apostar mais no "chão e menos no etéreo", a linguagem e a estrutura de roteiro segue o padrão do longa anterior, inclusive repetindo o excesso de alívio cômico - realmente o filme precisa da personagem de Kat Dennings? Acredito que não - e explorando o interesse amoroso (interpretada pela relaxada Natalie Portman) do protagonista-título,  sem uma justificativa plausível. É certo que a obra sugere uma série de promessas quanto a amadurecimento cinematográfica, mas o fato é que a grande maioria não sai do campo abstrato.

Não quero parecer crítico ou amargurado, até por que, no âmbito geral, Thor: O Mundo Sombrio é um filme divertido, ligeiramente superior ao seu predecessor, mas o fato de acabar repetindo (e, por que não, amplificando) alguns dos erros do longa original acaba tornando esta sequência irregular, com um saldo final um tanto quanto amargo. Além do humor mal encaixado, um dos problemas do filme encontra-se em seu roteiro, que não constrói um vilão interessante - apesar do ator que encarna o antagonista de Thor, Christopher Eccleston (eXistenZ), força a entrada da personagem de Natalie Portman à trama e, mais uma vez, usa Loki (Tom Hiddleston, de Cavalo de Guerra) como muleta - por sorte o personagem é interessante e o ator carismático  suficiente para manter o interesse em tal joguete -, dentre outros desencontros apresentados no desenvolver da trama, que se apresenta mais confusa do que o necessário, sugerindo um possível desencontro entre a história desenvolvida pela dupla Don Payne (Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado) e Robert Rodat (O Resgate do Soldado Ryan) e a transposição cinematográfica composta a seis mãos por Christopher Yost (Hulk vs. Thor/ Hulk vs. Wolverine), Christopher Markus e Stephen McFeely (Capitão América: O Primeiro Vingador, Sem Dor Sem Ganho).

Mesmo com as lacunas do roteiro, a direção de Alan Taylor parece encaixar melhor ao universo de ação e aventura de Thor do que a de Kenneth Branagh (Hamlet), responsável pelo longa anterior, que acabou apostando mais na interação familiar do que nos combates (aspecto este que considero interessante), mas mesmo esta acaba tendo alguns momentos pouco inspirados - não curti a homenagem excessiva a O Senhor dos Anéis na abertura do filme, pois acho que Taylor possui competência e criatividade suficiente para elaborar algo não tão chupado da trilogia concebida por Peter Jackson -, especialmente quando "autoriza" o uso excessivo de efeitos digitais (CGI), o que acabou deixando o filme, esteticamente, como um híbrido entre a trilogia do anel, Star Wars, Mestres do Universo (sim, aquele filme do He-Man estrelado por Dolph Lundgren) e qualquer vídeo game de fantasia atual. Se a identidade visual do primeiro Thor causou polêmica, esta também não traz grande inovação (escurece o que era luz, mas o preço acaba sendo copiar o visual de outras obras). Para completar, a trilha sonora de Brian Tyler (Homem de Ferro 3) parece demasiadamente alta, enquanto a fotografia de Kramer Morgenthau (Um Crime de Mestre) abraça o digital de forma excessiva (o que de certa forma faz sentido já que há no filme a utilização de muito CGI).

Porém, como dito mais acima, Thor: O Mundo Sombrio não é um filme ruim, já que cumpre relativamente bem seu papel como entretenimento de fim de ano. Além das boas sequências de ação e de algumas surpresas (a bem verdade nem tão surpreendentes assim) quanto ao caráter de Loki, destacaria a composição de Chris Hemsworth (O Segredo da Cabana), que parece mais a vontade e determinado ao atuar como Thor, apresentando nuances não mostradas no filme anterior ou n'Os Vingadores. A distribuição de tempo em cena dos personagens coadjuvantes também merece destaque, pois personagens como Frigga (Rene Russo, de Epidemia), Fandrall (Zachary Levi) e Heimdall (Idris Elba, de Círculo de Fogo), apesar de aparecerem pouco, possuem mais importância à trama, ganhando inclusive momentos de destaque.

Melhorando em alguns aspectos aspectos a condição estabelecida pelo filme anterior, contudo repetindo alguns dos erros daquele, Thor: O Mundo Sombrio apresenta uma tímida evolução como filme, mas muito pouco para alçá-lo ao patamar de grande obra do gênero. Talvez a decepção dos fãs (e não fãs) com o primeiro tenha sido tão grande que as pequenas mudanças visuais e a exploração de outros ambientes (mundos) por este filme tenha dado a falta perspectiva de ruptura entre ambas as obras, mas, a bem verdade, apesar dos estilos distintos de direção de Taylor e Branagh, a essência dos filmes continuam pareadas, o que os torna visualmente distintos, mas conceitualmente irmãos. Portanto, se o longa de Branagh mostrava-se irregular, o de Taylor segue o mesmo caminho, mesmo optando por resolver alguns detalhes de maneira um pouco mais interessante. Thor: O Mundo Sombrio não encontra-se próximo ao patamar de filme ruim, mas tinha potencial para ser ainda melhor. Quem sabe Thor 3 concretize isso.

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24 novembro, 2013

Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto (Before the Devil Knows You're Dead, EUA, 2007).

"Não era para ninguém sair ferido" (Livre tradução do texto disposto no poster do filme).
Último filme da carreira de Sidney Lumet (Um Dia de Cão, Rede de Intrigas), Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto possui pelo menos duas interpretações no que se refere ao gênero no qual se encaixa. Para o diretor a obra se trata de um melodrama, cujo cerne explora a miríade de emoções e atitudes externadas pela família Hanson a partir uma tragédia provocada por dois de seus membros. Já para um dos produtores o filme seria um thriller. Seja qual for o "verdadeiro" caminho, o importante é que esta derradeira obra assinada por Lumet é forte, envolvente, dona de excelentes atuações e cuja mensagem, recheada de pessimismo, mas aproximada da realidade (mesmo com óbvios excessos estilísticos), envolve de maneira a provocar no espectador ao mesmo reflexão e atitude, pois encaixa-se à perfeição como um espelho no qual vemos nossos próprios reflexos, mesmo que através de situações antes inimagináveis a qualquer um de nós.

Contando com alguns vencedores e/ou indicados ao Oscar, além de outros que possivelmente virão a concorrer a prestigiada estatueta dourada, o filme escrito pelo estreante Kelly Masterson (Expresso do Amanhã) é bastante fortalecido pela qualidade das atuações de gente como Philip Seymour Hoffman (Capote), Ethan Hawke (Uma Noite de Crime), Marisa Tomei (O Lutador) e Albert Finney (O Ultimato Bourne), egressos do teatro, que conseguem exprimir doses "cavalares" de sentimento através das falas criadas por Masterson. A cena de desabafo do personagem de Hoffman ao lado de Tomei - o primeiro começa a chorar enquanto dirige -, o desespero "infantil" de Hawke e as atitudes desnorteadas e descompassadas de Finney tornam-se ímpares devido ao talento e apreço dos intérpretes pelos seus personagens. Certamente o texto de Masterson encontrava-se satisfatório no papel, mas a materialzação deste por intérpretes tão talentosos elevou a qualidade da obra largamente. Completam o elenco Michael Shannon (O Abrigo), Amy Ryan (Medo da Verdade) e Rosemary Harris (Homem-Aranha), que também brilham em pequenas pontas.

A estética adotada por Sidney Lumet é bastante particular, evocando bastante do estilo clássico setentista - período no qual o cineasta atingiu seu auge de produção -, como também do cinema independente norte-americano contemporâneo, abraçando o digital (o filme não foi captado em película) enquanto utiliza enquadramentos e movimentos de câmera bem classudos, quando não inusitados. Lumet opta também pelo uso da câmara de mão, o contribui para a sensação de realidade proposta pelo filme, que encontra-se equilibrado entre o visual crível e as performances do elenco que passeiam do introspectivo ao over-acting, tudo de maneira proposital, regida pelo calejado diretor. Cabe destaque também a fotografia de Ron Fortunato (Sempre ao Seu Lado), que executa com perfeição as ideias concebidas por Lumet e a trilha sonora de Carter Burwell (Bravura Indômita), que ajuda à condução da trama quando pontua as notas certas nos momentos mais apropriados.

Nada mais justo de que esta tenha sido a última obra entregue por Lumet, tamanho seu poder de fogo tanto no sentido estético, quanto no que tange ao seu conteúdo, podendo ser metaforizado como um verdadeiro e pungente soco no estômago. Laureado de elogios à época de seu lançamento, infelizmente Antes Que o Diabo Saiba Que Você Está Morto foi preterido das principais premiações cinematográficas dos anos de 2007 e 2008 - apesar de ter galgado algumas indicações a premiações independentes, inclusive vencendo como filme do ano no AFI Award -, como o Oscar e o Globo de Ouro, o que é uma baita injustiça a um filme tão corajoso e potente como este (certamente merecia no mínimo as indicações a melhor direção, roteiro, ator (Hoffman e Hawke), atriz coadjuvante (Tomei) e ator coadjuvante (Finney), como também melhor filme). Prêmios e aplausos a parte, o certo é que esta continua sendo uma obra rica e fascinante, de contorno moral duvido, mas extremamente provocativa. No final das contas, um mais do que belo encerramento a carreira de um cineasta pouco reverenciado em vida, mas que certamente ganhará cada vez mais espaço com o passar do tempo.

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    18 novembro, 2013

    Sem Proteção (The Company You Keep, EUA, 2012).

    "Você não pode fugir do passado" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
    Não há algo palpável que possa caracterizar Sem Proteção como um filme ruim, à exceção, obviamente, da orientação político-filosófica de cada um, mas é fato que, mesmo contando com um enredo interessante, uma constelação de nomes em seu elenco, uma produção caprichada (ainda mais se levarmos em conta que temos aqui um filme independente e de baixo orçamento) e um diretor conceituado, parece faltar tempero a obra, que se arrasta um pouco, sendo a falta de ritmo seu pior inimigo, o que acaba por prejudicar tanto o discurso idealista do filme (ou libertino, a depender do ponto de vista) quanto o seu interesse enquanto cinema. A mensagem é posta, mas esta demora um pouco a engatar.

    Geralmente os thrillers políticos encabeçados por Robert Redford (Todos os Homens do Presidente), seja como ator e/ou diretor, possuem uma coerência narrativa pautada não apenas na ato da denúncia, mas também no esclarecimento de determinada questão social de certa relevância à época em que estes filmes foram lançados. Com isso, não afirmo que todos estes sagraram-se excepcionais, muito pelo contrário, alguns podem ser tidos como bem fracos, mas só o fato de abordarem temas complexos ou que gerem certo desconforto a outros cineastas/artistas, já comprovam a coragem e determinação de Redford não apenas como agente de grande influência no rol de realizadores de Hollywood, mas também como cidadão político. Sendo assim, apesar de não encontrar-se entre seus trabalhos mais notórios, Sem Proteção, produção independente estrelada e dirigida pelo eterno galã de Butch Cassidy, é um filme interessante e que expõe uma discussão importante, cumprindo assim sua função primeira: a de conscientizar o público acerca de um evento histórico, mas que vive ainda hoje.

    O elenco de Sem Proteção dispensa comentários. Além de Redford, o filme conta com a participação de gente do calibre de Shia LaBeauf (Os Infratores), Susan Sarandon (O Óleo de Lorenzo), Nick Nolte (Caça aos Gângsteres), Richard Jenkins (O Homem da Máfia), Brendan Gleeson (O Guarda), Julie Christie (Doutor Jivago), Chris Cooper (A Identidade Bourne), Terrence Howard (Crash - No Limite), Stanley Tucci (Capitão América: O Primeiro Vingador), Anna Kendrick (Amor Sem Escalas), Sam Eliott (A Bússola de Ouro) e Brit Marling (Another Earth), o que por si só já é um baita atrativo. Somando o grande elenco a direção segura de Redford e ao roteiro interessante de Lem Dobbs (Cidade das Sombras), baseado em um romance de Neil Gordon. Uma pena que o filme careça de ritmo, o que torna a experiência cinematográfica cansativa, apesar da contundência.

    Mal recebido por parte da crítica, Sem Proteção trata de um tema delicado à população norte-americana, cada vez mais assustada quando o assunto terrorismo entra em pauta. Particularmente não entendo o filme nem como peça de enaltecimento à luta armada, nem como crítica a mesma. Enxergo a obra como um alerta ao atual momento de insegurança em relação ao controle estatal sentido não apenas pela sociedade norte-americana (sendo esta o foco da obra), mas ao ocidente como um todo. A pauta terrorismo/protesto social continua com grande relevância e, bem ou mal, é a respeito desta que o filme procura tratar.

    Talvez se tivesse sido dirigido por um cineasta menos experiente a obra poderia ter saído um tanto pedante, intelectualizada, mas Robert Redford é um sujeito calejado, tanto na frente e por trás das câmeras, como no ativismo político. Sendo assim, concordando ou não com as ideias - para alguns ultrapassadas - manifestadas pelo diretor através de seu filme, é inegável seu poder de convencimento. Sem Proteção vacila em alguns momentos, se perdendo enquanto não sabe se deseja se colocar como uma obra introspectiva ou como uma jornada de descobrimento (pelos olhos do personagem de Shia LaBeauf) e não traz grandes novidades em sua estrutura ou quanto a ideologia defendida, mas gera curiosidade suficiente para que passeemos por suas duas horas e, mesmo não sendo um grande filme, ao final a satisfação é seguramente alcançada.


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    16 novembro, 2013

    Liga da Justiça - Ponto de Ignição (Justice League - The Flashpoint Paradox, EUA, 2013).


    Faz um bom tempo que não acompanho as revistas em série da DC Comics e, apesar de ter conhecimento acerca do recente reboot passado pelos personagens da editora, não sei detalhes acerca da saga Ponto de Ignição, que deu origem aos ditos Novos 52 e que é adaptada aqui como um longa metragem em animação. Contando com a direção do hoje queridinho do departamento de animação da DC, Jay Oliva (Batman, o Cavaleiro das Trevas Partes 1 e 2) e com um fantástico elenco de vozes - passeiam pelo filme nomes como Justin Chambers, Kevin McKidd, C. Thomas Howell, Michael B. Jordan e Ron Perlman, além dos "veteranos" Nathan Fillion, Kevin Conroy, Sam Daly e Cary Elwes -, Liga da Justiça - Ponto de Ignição é uma longa animado recheado de pancadaria e ação, com uma trama rocambolesca que mistura viagem no tempo e a relação causa e efeito das possíveis mudanças ocorridas (teoria defendida, entre outros, pelo conto O Som do Trovão, de Ray Bradbury), além de apostar na reunião de diversos vilões e na aplicação de um tipo de terrorismo no qual o resultado não é o importante, mas sim a jornada que o acompanha.

    Falando assim fica a impressão de que o roteiro adaptado por James Krieg, baseado na minissérie em quadrinhos desenvolvida por Geoff Johns e Andy Kubert, carrega uma forte dose de filosofia. Contudo, tal ênfase passa longe - sim, há um quê de discussão neste sentido, mas sua dose é muito baixa -, visto que o interesse da obra perpassa pela jornada de redescoberta de um herói - no caso do filme de Barry Allen/Flash (Chambers) - e pela construção de uma trama de ação e aventura que não te deixa respirar, tamanha as complicações apresentadas em tela. O possível teor existencial filosófico fica um pouco a dever, mas a correria do filme funciona muito bem.

    A abordagem de universos paralelos é uma constante no universo dos quadrinhos, todavia, quando falamos em adaptações para outras mídias tal segmento não é tão abordado, o que pode causar certo estranhamento aos não iniciados. Mas Jay Oliva e cia. conseguem situar razoavelmente bem o espectador à trama oferecida, especialmente por intercalar diálogos de cunho elucidativo com muitas (muitas mesmo) sequências de ação. Certamente este não é uma das animações mais inteligentes saídas do escritório da Warner, mas sagra-se como uma das mais divertidas.

    Mais um bom exemplar da excelente safra de adaptações diretas de sagas dos quadrinhos capitaneada pela Warner Bros. Animation, através do selo Warner Premiere, Liga da Justiça - Ponto de Ignição pode ter um trabalho estético pouco atrativo - a impressão é a de que o longa foi feito às pressas -, mas seu roteiro funciona muito bem, distribuindo com certo equilíbrio o espaço de atuação para cada um dos personagens (que não são poucos) apresentados, mas dando prioridade ao Flash, personagem este que merecia mais destaque em títulos anteriores e que acaba recebendo o prêmio de protagonizar esta história. Possivelmente mais indicado para os já iniciados na mitologia de personagens DC, temos aqui um longa divertido, compacto e bastante dinâmico, que traduz bem o atual momento da indústria de quadrinhos, com toda a sua grandiloquência e predileção por sagas épicas, funcionando assim tanto como uma boa peça de entretenimento casual como também como registro oficial de uma era ainda em mutação. Certamente este é um tipo de filme diferente dos últimos lançados pela Warner Premiere, mas é tão interessante quanto.

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    15 novembro, 2013

    42 - A História de uma Lenda (42, EUA, 2013).

    "Num jogo dividido pela cor, ele nos fez enxergar a grandeza" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
    Mesmo sem contar com grandes astros - exceptuando o hoje septuagenário Harrison Ford - e adotando a narrativa padrão dos dramas esportivos, o resgate histórico promovido por 42 - A História de uma Lenda o tiram do lugar comum, tornando a obra importante tanto como homenagem, quanto como cinema. Concebido por Brian Helgeland - vencedor do Oscar pelo roteiro de Los Angeles: Cidade Proibida e mais conhecido por seu trabalho como roteirista de filmes como Sobre Meninos e Lobos e Chamas da Vingança -, que acumula aqui as funções de roteirista e diretor, o filme passou por diversas mãos antes de cair no colo de Helgeland, que conseguiu transmitir a mensagem de superação e luta contra o preconceito que a história de Jackie Robinson (Chadwick Boseman, excelente), primeiro jogador negro da liga nacional de beisebol, primando pelo equilíbrio no que tange a provocação de emoções e sagrando-se minimamente maniqueísta, dando assim um fôlego distinto a uma premissa teoricamente convencional.

    Não parece interessante descrever a trama em si, até por que, mesmo sendo de domínio público - afinal de contas, trata-se de uma história real na qual o filme é baseado -, esta ainda gauda algumas surpresas, elemento fundamental aos dramas esportivos. Portanto, vamos aos aspectos técnicos e imagéticos do filme. Além do roteiro conciso, um dos grandes destaques do filme encontra-se em sua qualidade estética, especialmente no que se refere a fotografia, a cenografia e ao figurino - o desenho de produção do filme como um todo é deslumbrante -, a cargo respectivamente de Don Burgess (O Voo), Richard Hoover (Os Últimos Passos de um Homem) e Caroline Harris (O Despertar). A composição de Burgess consegue ao mesmo tempo passar uma ideia de edificação e bem-estar (muita paisagem, muita luz) como também de desafio, especialmente durante as partidas de beisebol, enquanto Hoover e Harris são felizes em transportar o telespectador à década de 1940, pós II Guerra, construindo assim a ilusão necessário para que compreendamos a realidade apresentada.

    Um outro destaque reside na trilha sonora de Mark Isham (Crash - No Limite), que apesar de lembrar alguns temas compostos por Alan Silvestri (Os Vingadores), encaixa-se à perfeição ao filme, pontuando gradativamente o crescimento (e aparecimento, por que não) de Jackie Robinson como jogador e, principalmente, como ser humano. Os temas compostos por Isham reforçam com parcimônia aquilo que é explorado tanto pela imagem quanto pelos diálogos, servindo assim como uma espécie de termômetro a miríade de sentimentos sugestionados pelo filme. Logo, o casamento audiovisual do filme pode ser posto como um de seus maiores acertos.

    Apesar de contar com poucos rostos conhecidos - além de Ford, talvez Lucas Black (Tudo Pela Vitória) e Christopher Meloni (O Homem de Aço) sejam notados -, o elenco do filme também pode ser considerado como brilhante. Tanto os coadjuvantes como o elenco principal encontram-se muito bem, mas certamente o grande destaque é o praticamente desconhecido Chadwick Boseman, que aplica carisma e intensidade em sua composição de Jackie Robinson. Nicole Beharie (Shame) também encontra-se bem como a esposa de Robinson, já Harrison Ford (Busca Frenética) fica no meio do caminho, pois apesar de se entregar a um  personagem cuja idade é avançada (aspecto este raro ao ator, que apesar de já não ser nenhum garoto mantém a postura de herói na maioria de seus papéis) exagera um pouco nos cacoetes e no sotaque, dando um ar superficial ao seu personagem. Isto não chega a atrapalhar o filme como um todo, mas descaracteriza um pouco dos demais elementos abraçados por ele.

    Uma das surpresas da temporada 2013 - o filme acabou sendo um dos hits de início de ano em território americano -, 42 - A História de uma Lenda pertence a categoria dos bons dramas esportivos que agradam até mesmo aqueles que, como eu, não entendem nada do esporte abordado, pois enfatiza as relações humanas e seus desdobramentos à consecução da história que nos é apresentada. Mostrando ter amadurecido bastante como diretor após os razoáveis O Troco, Coração de Cavaleiro e Devorador de Pecados, Brian Helgeland entrega aqui um filme edificante sem soar piegas, que se importa mais em contar uma boa história do que em estabelecer mitos ou engrandecer o sonho americano (sim, geralmente este encontra-se sempre incluso em obras do gênero), cujo objetivo é simplesmente apresentar uma boa história da melhor forma possível. Certamente não saberia dizer se outro cineasta entregaria um produto ainda melhor, mas é inegável que Helgeand realizou um ótimo trabalho.

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    13 novembro, 2013

    É o Fim (This is the End, EUA, 2013).


    Eis um filme que não foge do nível da bobagem, mas diverte mesmo quando não é engraçado. Difícil de entender? Pois vou tentar esclarecer. Projeto do ator Seth Rogen (Ligeiramente Grávidos) e do roteirista Evan Goldberg (Superbad - É Hoje) - ambos dividem as funções de roteirista e diretor do filme - cujo objetivo maior é reunir vários de seus amigos atores em uma comédia sem noção cuja ambientação é o fim do mundo, É o Fim pode ter um arremedo de roteiro e ser basicamente composto por uma série de esquetes (cujo fio condutor faz sentido, por sinal), mas o carisma dos nomes envolvidos é tão grande (a coisa se eleva pelo fato dos atores "interpretarem" a si mesmos) e os diálogos criados pela dupla Rogen/Goldberg tão surtados que é impossível não rir do desespero anormal desta rapaziada. Certamente não é uma grande comédia, mas diverte.

    Estrelado por gente do naipe de Jonah Hill (Anjos da Lei), James Franco (Oz: Mágico e Poderoso), Jay Baruchel (O Aprendiz de Feiticeiro), Danny McBride (Segurando as Pontas), Craig Robertson (Pagando Bem, Que Mal Tem?) e Rogen, além de contar com pontas divertidíssimas (em sua maioria) de Michael Cera (Juno), Emma Watson (franquia Harry Potter, Sete Dias com Marilyn), Paul Rudd (Eu Te Amo, Cara), Christopher Mintz-Plasse (Kick-Ass - Quebrando Tudo), Channing Tatum (Magic Mike) e dos Backstreet Boys, É o Fim na verdade é uma grande brincadeira capitaneado por Rogen e Goldberg, que abraça a temática apocalíptica como desculpa para tirar sarro das personas de cada um dos envolvidos no filme e das máscaras que permeiam a sociedade hollywoodiana. Não há nada de muito profundo na obra, mas é perceptível o tom de ironia e a crítica velada ao estilo de vida defendido com unhas e dentes pela indústria cultural norte-americana (portanto, não apenas a cinematográfica), além de correr solto piadas politicamente incorretas e muito besteirol - que soam orgânicas pelo fato destas serem "usadas" pelos próprios intérpretes.

    Contando com referências mais do que explícitas a cinematografia de cada um dos nomes que encabeçam a produção, além de algumas críticas ao caráter do artista em Hollywood, É o Fim pode não ser um filme de fácil digestão para os não inciados no humor anos 2000 da gangue de Rogen e cia. - ou seja, as comédias dirigidas ou produzidas por Judd Apatow e David Gordon Green -, especialmente pelo excesso (no bom sentido) de autorreferências, mas certamente agradará aqueles que cresceram (especialmente enquanto adolescentes) ao lado dessa "turminha do barulho", que aqui encontram-se mais surtados e a vontade do que nunca. No fim das contas É o Fim não passa de uma bobagem composta por vários nomes importantes da comédia teen norte-americana da última década, mas é certamente uma das bobagens mais divertidas do ano.

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    11 novembro, 2013

    Invocação do Mal (The Conjuring, EUA, 2013).


    Invocação do Mal pode não ser o mais surpreendente dos filmes, mas sua abordagem "pé no chão" e reverencial aos filmes de terror clássicos o faz elevar-se a uma condição maior, especialmente quando comparado a safra do gênero nas últimas duas décadas. Sem handycam (câmera de/na mão), sem o recurso intitulado found footage e sem apelar para a estética torture porn - dentre outros, estes foram os elementos que caracterizaram grande parte da safra de horror dos últimos vinte anos -, o filme dirigido por James Wan (Jogos Mortais) é básico, contido e, por isso mesmo, instigante do começo ao fim, ganhando o espectador menos pelos sustos fáceis e pela utilização excessiva de computação gráfica e mais pela utilização de ruídos, trilha incidental marcante e construção de personagens aliada ao crescente suspense. Não é um filme revisionista ou inovador, mas sim uma obra que soube retomar muito bem o básico abraçado outrora.

    Um dos grandes trunfos do filme está no senso de realidade estético-narrativo proposto por Wan, pelos roteiristas Carey e Chad Hayes (A Casa de Cera) e pelo diretor de fotografia John R. Leonetti (Mortal Kombat), que dá vazão ao elemento "inspirado em fatos reais" carregado pelo filme. Há bastante liberdade poética - tanto em relação ao registrado pelo clã Warren quanto pelo próprio nexo entre causa e efeito proposto pela obra - na construção do filme, mas estas não impedem que o senso de verossimilhança surja mais forte, elemento este - ao lado do clima de mistério e suspense da trama - que certamente fará com que o espectador permaneça atento do início ao fim da projeção.

    Apesar de não contar com nomes do primeiro escalão de Hollywood, o elenco de Invocação do Mal encaixa muito bem a ambientação do filme. Patrick Wilson (Menina Má.com) e Vera Farmiga (Os Infiltrados) destacam-se como o casal Warren, mas Ron Livingston (minissérie Band of Brothers) e Lili Taylor (Inimigos Públicos) não ficam devendo, especialmente esta última, que se entrega (literalmente) de corpo e alma a personagem, tamanha a demanda física pedida pela mesma. As crianças também surgem bem, sendo assim necessário destacar a excelente escalação de elenco por parte de Anne McCarthy (Réquiem para um Sonho) e Kellie Gesell (O Assassino do Alaska). Não dá para transparecer pânico e horror sem um bom elenco e neste sentido o filme encontra-se muito bem servido.

    Visualmente muito interessante, especialmente devido a fotografia muito bem posta por Leonetti, ao desenho de produção (Julie Berghoff, de Minhas Mães e Meu Pai) e figurino (Kristin  M. Burke, de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo) que emula com primor a o visual setentista, além da trilha sonora composta por Joseph Bishara (Os Escolhidos), um "expert" em filmes B de horror, que aqui opta pelo emprego de uma trilha de cunho minimalista, cujo crescendo se dá de acordo com o desenrolar da tensão e o desvendar do mistério. Enfim, apesar de nenhum destes obterem destaque no âmbito individual, coletivamente conseguem agregar bastante ao filme, imprimindo assim a visão defendida pelo diretor James Wan.

    Cinematograficamente bem conduzido e possuidor de elementos suficientes para atrair a atenção do público ávido por bons filmes de suspense/terror, Invocação do Mal pode cair na armadilha dos sustos fáceis durante seu terceiro ato, mas tem força suficiente para convencer seja devido ao poder de fogo de seu roteiro - cujo foco principal encontra-se não na exposição do passado da bruxa-demônio, mas sim no drama pessoal da família residente à casa assombrada e do casal de investigadores/estudiosos de eventos paranormais -, seja pelo cuidado estético da produção, que acerta ao adotar (na maioria das vezes) a sugestão do mal em detrimento da exposição/exploração imagética deste. Não é um filme revolucionário ou inesquecível e provavelmente não entrará no rol dos clássicos do gênero, mas não deixa de ser um filme interessante e instigante, sendo assim muito feliz em sua proposta.

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    09 novembro, 2013

    Em Transe (Trance, GBR, 2013).


    O cineasta britânico Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?) divide opiniões. Parte do público o considera genial, especialmente devido a sua assinatura em filmes como Cova Rasa, Trainspotting e Extermínio. Outra parte o considera supervalorizado e dono de uma filmografia inconsistente, especialmente por títulos como A Praia, 127 Horas e o vencedor do Oscar Quem Quer Ser um Milionário (sim, há bastante resistência do público cinéfilo pelo filme). Particularmente, não me encontro em nenhum dos extremos, pois considero Boyle um diretor competente, eclético e de brilhantismo pontual - como é a grande massa de cineastas ao redor do globo -, possuidor de filmes bons (maioria) e ruins (minoria). Talvez dono de um estilo um tanto exibicionista - seguindo a escola de gente como Guy Ritchie, Zack Snyder, Matthew Vaughn, Robert Rodriguez, Quentin Tarantino etc. -, Boyle vez ou outra acaba por exceder-se na linguagem aplicada, mas costuma entregar filmes minimamente interessantes. Eis o caso do seu mais recente trabalho, Em Transe, filme de gênero que encontra-se no limite entre o thriller básico, porém eficiente e o produto autoral, cujos desdobramentos não necessariamente respeitam a lógica convencional de uma obra de gênero.

    Com um bom um ritmo, que privilegia a tensão e o mistério, Em Transe certamente conquistará aqueles espectadores afeitos a tramas mirabolantes, que vão ganhando camadas de complexidade conforme são desenvolvidas. Lidando com temas como delírios, sonhos e distúrbios psicológicos - há ecos de A Origem, de Christopher Nolan, no filme, especialmente em seu último ato -, juntamente a velha mas sempre interessante discussão acerca do que seria real e do que seria ilusão, o enredo elaborado por Joe Ahearne  e desenvolvido por este e John Hodge (Por uma Vida Menos Ordinária), parceiro habitual de Danny Boyle, é na verdade uma refilmagem de um telefilme dirigido em 2001 por Ahearne, mas que possui certa dose de novidade e desperta curiosidade, tanto por Boyle estar envolvido, quanto devido a qualidade do elenco principal.

    Contando com gente do naipe do escocês James McAvoy (X-Men: Primeira Classe), do francês Vincent Cassel (Um Método Perigoso) e da norte-americana Rosario Dawson (Sin City - A Cidade do Pecado), todos muito bem integrados à premissa do filme e críveis em seus respectivos papéis (um leiloeiro, um ladrão "profissional" e uma hipnoterapeuta, respectivamente), Em Transe encontra-se no limite entre a fantasia escapista e o suspense "acreditável", muito devido a credibilidade transmitida pelo elenco (especialmente os três destacados acima), mas também devido a condução de tensão crescente abraçada por Boyle (que não deixa o espectador respirar e, consequentemente, racionalizar o filme) e ao próprio fascínio despertado pela trama mirabolante de Ahearne e Hodge. Certamente não há novidade no filme, mas a colagem de elementos já vistos anteriormente em outras obras (seja em filmes, séries, literatura, games ou histórias em quadrinhos) é acertada.

    Longe de ser a obra mais interessante de Danny Boyle - certamente o diretor não pretendia que esta alcançasse tal posto  -, Em Transe é uma peça de entretenimento bem executada, recheada de pequenos toques de genialidade - como dito, a condução "enganadora" é contagiante - e muito "disse-não-disse", elementos estes que ajudam a direcionar o espectador diretamente pelos caminhos programados pelo roteiro e pelas lentes de Boyle e seu diretor de fotografia Anthony Dod Mantle (Dredd), cuja dobradinha é outro dos grandes destaques da obra. É certo que, quando analisado de forma fria, Em Transe não passa de uma obra tecnicamente bem filmada, mas cuja essência não sai do lugar comum. Porém, até mesmo um simples pão com manteiga pode saciar tanto a fome quanto o desejo de comer, o mesmo podendo ser dito do filme, que consegue agradar e cumprir seu papel de entretenimento rápido, mas consistente, caso quem o veja esteja preparado para consumi-lo sem esperar grandes digressões ou análises profundas da temática abraçada. Há sim espaço para a exploração da psiché humana pelo filme, mas o que mais parece importa r para Boyle e cia. é a construção de uma opereta divertida, empolgante e minimamente inteligente.

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    04 novembro, 2013

    O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, EUA, 2012).


    Não sei se daria o Oscar de melhor filme a O Lado Bom da Vida, mas é inquestionável que este é um excelente feel good movie, repleto de boas atuações, dono de um roteiro inspirador e bem amarrado, além de contar com a direção (e roteiro) de um dos queridinhos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, o competente David O. Russell (Três Reis). Filme de "virada" - daqueles em que os personagens saem de um ponto ruim, aprendem (e compreendem a vida) e acabam em um ponto bom -, esta dramédia romântica acerta no tom e na mensagem apresentada, pois tem o poder de conquistar tanto o menos exigente dos espectadores, quanto aqueles que procuram algo mais. Longe de ser profunda, o filme de O. Russell trabalha temas complexos de forma simples, quase que caricatural, mas estes possuem tanta identificação para com o público que acabam funcionando sublimemente.

    O foco do filme encontra-se na relação - e possível atração - entre dois underdogs, duas pessoas bastante problemáticas e desencontradas, que enxergam nos dilemas um do outro uma forma de superarem seus problemas. Tanto Bradley Cooper (Se Beber, Não Case) quanto Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes) encontram-se excelentes em seus respectivos papéis, mas é Cooper quem mais surpreende - talvez pelo fato do ator nunca ter apostado em personagens mais complexos -, apesar de Lawrence ter recebido o Oscar por este trabalho (prêmio este que achei um tanto forçado, pois acredito que a atriz ainda vai entregar o papel - ou os papéis - de sua carreira, mas isto é outra discussão). Outro que aparece bem é Robert De Niro (Os Bons Companheiros), mostrando que, quando quer, ainda tem a capacidade de criar personagens interessantes. Não valia uma indicação ao Oscar - creio que o ator a recebeu mais pelo simbolismo do que realmente pela potência do seu trabalho -, mas é um bom papel/composição/personagem.

    David O. Russell, tendo como base o best-seller escrito por Matthew Quick - até hoje líder de vendas no Brasil -, constrói uma interessante história sobre segundas chances e auto-descobrimento/conhecimento , além de passear pelo universo - bastante idealizado, obviamente -  dos deslocados da sociedade, visto que não apenas os protagonistas do filme (ambos com transtorno de personalidade, sendo um deles inclusive recém saído de uma instituição de saúde mental) estão contidos nesta classificação, como também parte de suas famílias parecem ter um "parafuso" a menos (De Niro incluso). Ou seja, O. Russell entrega um olhar bastante sincero, mas contundente, acerca das paranoias e particularidades de cada um de nós, seres humanos, como indivíduos únicos e muitíssimo complicados. De certa forma o filme lembra outro título lembrado pelo Oscar há alguns anos: Jerry Maguire - A Grande Virada, dirigido por Cameron Crowe e estrelado por Tom Cruise, Renée Zellwegger e Cuba Gooding Jr.

    Contagiante do início ao fim, O Lado Bom da Vida não se destaca apenas pela mensagem inspiradora que carrega, mas principalmente por sua construção apoiada ao máximo em verossimilhança, apesar de sua trama um tanto "conto de fadas". Certamente, nas mãos de um cineasta menos competente, o filme não passaria de um romance "água com açúcar" encabeçado por um bom elenco - aos moldes dos filmes de Garry Marshall -, mas devido ao refinamento de David O. Russell temos aqui uma obra simples, didática e emotiva mas que carrega junto pontos de debate e reflexão, interpretações fascinantes e uma construção narrativa no mínimo empolgante. Repito que não daria o Oscar a ele - como também não daria a Lincoln, Os Miseráveis, A Hora Mais Escura e Indomável Sonhadora -, mas é impossível não confirmar que este é um ótimo filme.

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    01 novembro, 2013

    Uma Noite de Crime (The Purge, EUA, 2013).

    "Uma noite por ano, todo crime é permitido. Sobreviva a noite de 31 de maio" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
    A premissa de Uma Noite de Crime (no original, The Purge, algo como o expurgo) é mais interessante do que seu resultado final como filme, o que é uma grande tristeza pois ele tinha bastante potencial. Escrito e dirigido por James DeMonaco (Cidade do Crime), o filme é ambientado em um futuro próximo e tem como premissa a exploração de uma nova forma de conter o ímpeto à violência humana: uma vez ao ano, durante doze horas, a prática de qualquer tipo de crime é liberada àqueles que queiram "desanuviar" corpo e mente. Tal medida é tida como muito bem-sucedida pelos especialistas e pela opinião pública, mas é óbvio que a coisa foge ao controle, sendo justamente isto que o filme tenta trabalhar. Infelizmente, não passa da tentativa.

    O início do filme é promissor, pois estabelece com propriedade um pouco da sociedade futurista perfeita ao apresentar um bairro de classe alta norte-americano juntamente ao protagonista da obra, o vendedor do mais popular dispositivo de segurança existente, interpretado por Ethan Hawke (A Entidade). O desenvolvimento do núcleo familiar do personagem - sua esposa (Lena Headey, de Dredd) e dois filhos - é correto, como também as peculiaridades de cada um destes, sendo inclusive lançada a ideia de hipocrisia no íntimo desta família. Contudo, com o avançar do filme a sutileza é deixada de lado, dando a vês a violência explícita e o vazio de ideias. É claro que para uma produção que apresenta o estravar da violência somado a permissividade por um prazo determinado de tempo deve focar nos atos de violência, mas esta deve estar relacionada a um ponto de discussão, a uma mensagem de cunho reflexivo. Infelizmente DeMonaco acaba por esquecer disso, o que transforma uma boa premissa em um festival de sangue, muita correria e pouquíssima propriedade.

    Esteticamente a produção também não é das mais atrativas, pois abraça o cansado "estilo" câmera na mão, tendência esta que encontra-se bastante saturada, especialmente quando utilizada em filmes de horror/suspense. É claro que DeMonaco consegue criar algumas boas sequências e mantém o clima de tensão contínuo do início ao fim do filme, mas não estabelece um diferencial relevante no âmbito visual e, como dito acima, também não sustenta com propriedade o conceito apresentado pelo filme, dando um caráter raso a uma obra que pedia bem mais profundidade. Para ser sincero do meio para o final o filme nota-se uma desconexão entre a mensagem defendida pela obra, o que inclusive leva a um questionamento ético: o filme defende ou é contrário a barbárie apresentada em tela? DeMonaco não deixa claro, o que, ao meu ver, é um baita perigo.

    Um filme cujo potencial foi desperdiçado, Uma Noite de Crime está mais próximo das sequências de Jogos Mortais e suas cópias do que de uma ficção-científica de horror recheada de ideias e questionamentos, escolha esta que diminui a obra, já que sua premissa pedia um desenvolvimento mais profundo e menos escatológico. Sucesso mundo afora, certamente o filme de James DeMonaco ganhará uma sequência - a fórmula pouquíssimo custo, muita arrecadação continua em alta -, mas tendo em vista a decepção sentida ao acompanhar o filme original, certamente não terei o mínimo interesse em acompanhá-la. Se necessitar conferir uma bobagem regada a violência pela violência é melhor rever este, concorda?

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    Segredos de Sangue (Stoker, EUA/GBR, 2013).

    "A inocência acaba" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
    Primeiro filme em língua inglesa do cineasta sul-coreano Park Chan-wook (Oldboy), Segredos de Sangue é mais um filme que associa o amadurecimento e a transformação da adolescência para a idade adulta sob a metáfora do horror, no sentido do descobrimento da aptidão natural e da "liberdade" do ato de viver. Mais próximo a uma fábula do que ao realismo, o filme roteirizado pelo ator Wentworth Miller (série Prison Break) chama a atenção logo de cara por seu clima melancólico e ritmo pausado, mas não chega a envolver tanto devido ao pouco aprofundamento de seus personagens. É claro que tal opção narrativa se deu de maneira proposital, mas esta só acaba funcionando devido a ótima coleção de imagens desfiladas por Chan-wook e seu diretor de fotografia, Chung Chung-hoon (Sede de Sangue).

    Apesar de não se tratar de um filme de vampiro, há um pouco de Entrevista com o Vampiro, de Neil Jordan - baseado em obra de Anne Rice - e de Deixa Ela Entrar, de Tomas Alfredson - adaptação de um romance de John Ajvide Lindqvist - em Segredos de Sangue, especialmente na ambientação, que é aprofundada paulatinamente enquanto a trama é desenvolvida, abraçando mais pela sugestão do que a verborragia. Dono de imagens belíssimas, é inegável que o apuro estético é um dos pontos de destaque do filme, mas a história também guarda seu charme, mesmo sem trazer grandes surpresas. Com um estilo mais próximo ao dos thrillers europeus e asiáticos do que dos títulos norte-americanos, o filme estrelado por Mia Wasikowska (Jane Eyre), Matthew Goode (Watchmen - O Filme) e Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade) pode demorar a engrenar, mas carrega bons momentos e, de certa forma, ganha o espectador a partir do segundo ato.

    A eterna promessa Mia Wasikowska ainda não me convenceu como atriz, mas é certo que ela se encaixa muito bem no papel da jovem deslocada Índia Stoker, trazendo apatia e melancolia suficiente a sua personagem - em alguns momentos o texto de Miller parece exagerar um pouco no "autismo" da desta -, cujo poder de despertar sentimentos tão antagônicos, tais quais empatia e repulsa, sugerem a qualidade da atuação/personagem (ou talvez a falta de direcionamento do texto de Miller, mas prefiro ficar com a primeira opção).

    A oscarizada Nicole Kidman continua boa atriz, mas dessa vez não encaixa-se bem no papel da viúva perua, pois falta organicidade em sua composição, o que não chega a atrapalhar o filme (até por que sua personagem não tem tanta importância ao desenvolvimento da trama), mas é de longe a parte mais fraca do mesmo (some-se a isso o preenchimento labial da atriz que continua a causar estranhamento e, consequentemente, contribui para tirar o expectador - pelo menos eu - da ambientação construída pelo filme).

    Por fim, a grande surpresa no elenco é Matthew Goode, que constrói seu personagem como um misto de cavalheiro sedutor e forasteiro misterioso, dando um charme extra ao mesmo, apostando numa interpretação minimalista que vai evoluindo paulatinamente, até a grande "descoberta" a partir do segundo ato do filme. Wasikowska pode ter se encaixado feito luva a sua personagem, mas o grande destaque no âmbito de atuação é Goode.

    Ao lado da composição poético-visual do filme, outro elemento que merece destaque é a trilha sonora assinada por Clint Mansell (Cisne Negro), que ajuda a construir a tensão e a sedimentar o clima de mistério da obra, casando à perfeição as imagens captadas por Chung-hoo e Chan-wook. Eterno parceiro do cineasta Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho), Mansell parece ter encontrado um segundo diretor para uma possível parceria, pois é inegável a organicidade de sua trilha ao filme construído por Park Chan-wook.

    Mais exercício estético que filme de mistério, Segredos de Sangue funciona principalmente por nunca abraçar o realismo, investindo no tom fabular em busca da reflexão acerca do dilema disposto entre seguir a própria natureza ou bloquear a ela e seus instintos. Apesar do ritmo lento, é certo que o texto de Miller funciona, muito graças a condução de Chan-wook e ao "encaixe" do elenco (à exceção de Kidman) ao filme, e que este, mesmo sem carregar inovações conceituais, funciona em sua proposta, provocando reflexões ao mesmo tempo em que entretém, mesmo que de maneira lenta e paulatina. Segredos de Sangue não é um grande filme, mas tem seu charme e merece a conferida.

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