29 setembro, 2013

Depois da Terra (After Earth, EUA, 2013).

"O perigo é real. O medo não é uma escolha." (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme) 
Depois da Terra possui um acabamento estético interessante, um argumento aparentemente interessante e uma direção segura (a cargo do hoje sinônimo de péssimo cinema, M. Night Shyamalan). Todavia, apesar de não apresentar nada em específico que torne a experiência de assisti-lo desastrosa, esta produção elaborada, produzida e co-estrelada por Will Smith (Homens de Preto) sofre de um mal irreparável no que tange a produções de ficção-científica/ação: é aborrecida e aborrecedora. Sendo assim, apesar de despertar interesse nos minutos iniciais (mesmo com a confusão de informações apresentadas e o excesso de termos e nomes estranhos), logo a produção começa a apresentar suas fragilidades narrativas, que não são poucas.

É fácil identificar que a estrutura narrativa do filme não foi pensada necessariamente com a ambientação de uma ficção-científica futurista, muito pelo contrário, apesar de alguns elementos sc-fi funcionarem, o cerne da trama encontra-se na busca de ajuda de Kitai (Jaden Smith, de À Procura da Felicidade) para salvar a vida de seu pai, que encontra-se seriamente ferido após um acidente com a nave espacial (que poderia ser substituída facilmente por um carro, por exemplo). Há uma tentativa de focar a trama na jornada de amadurecimento de Kitai, mas esta nunca é alcançada a contento, tanto por falha no âmbito de roteiro, quanto pelas composições desinteressantes da dupla Smith.

Em geral, a trama de Depois da Terra é bastante previsível. Porém, apenas isto não transformaria em uma obra aborrecida. O grande nó da obra encontra-se na tentativa descarada de transformar o jovem Jaden Smith em um astro de cinema. É certo que o garoto possui parte do carisma do pai Will Smith, mas sua técnica como ator é bastante limitada, não passando de uma espécie de caricatura do pai famoso (é impossível não lembrar de Smith pai quando o garoto faz caras e bocas). Somando a falta de tato de Smith filho com a composição desinteressante e excessivamente seca de Smith pai (não dá pra engolir o militarismo robótico externalizado pela interpretação do astro), temos aqui um filme cujo argumento inicial despertava certo interessante, mas cuja execução não deu certo.

O plot foi sugestão de Will Smith, mas a tarefa de transformar a premissa de "amadurecimento de um filho" em sci-fi pós-apocalíptico coube, primeiramente, ao roteirista Gary Whitta, certamente contratado devido ao seu trabalho em O Livro de Eli, outra sci-fi pós-apocalíptica. Em seguida, coube ao próprio diretor do filme, M. Night Shyamalan, revisar o texto de Whitta. Analisando o resultado final, ficam dois questionamentos: 1. Whitta e Shyamalan foram incompetentes e não conseguiram transpor a ideia inicial de Smith para o filme. 2. A ideia de Smith era tão esdrúxula que nem mesmo Whitta e Shyamalan foram capazes de transmutá-la em uma boa obra cinematográfica. Sinceramente me inclino a acreditar na segunda opção.

Já que 90% do filme tem como foco a relação entre Kitai e Cypher Raige (Smith pai) e esta não é, apesar do vasto tempo em cena, bem construída, narrada e composta, a credibilidade e o interesse/curiosidade com o porvir da obra praticamente se extingue. Há muita coisa sem sentido em Depois da Terra - a "surpresa" dos militares ao "encontrarem" o planeta Terra, a necessidade de se embarcar uma criatura (S'krell) mortal, as intenções "moralistas" de Raige para com seu filho, dentre outras -, mas certamente o enfoque reduzido da trama (afinal de contas, esta é uma ficção-científica que não abraça nenhum questionamento existencial ou "profetiza" as causas e consequências de um futuro não agradável a humanidade, mas sim reduz-se a um filme cujo foco é o relacionamento conturbado - e mal desenvolvido entre um pai e seu filho) e as péssimas composições do par Smith superam as demais gafes do filme.

É certo que os efeitos visuais mostram-se competentes (a cargo da Sony Imageworks), a fotografia de Peter Suschitzky (eXistenZ) mostra-se acertada, a trilha sonora de James Newton Howard (A Dama na Água) encaixa-se bem as imagens desfiladas em tela e a direção de Shyamalan mostra-se correta, porém, se o roteiro não funciona e as atuações não convencem, fica difícil de embarcar na jornada de reencontro de um pai e de um filho em um planeta inóspito, todavia, desinteressante. Quando saíram as primeiras informações acerca de Depois da Terra, o conceito por trás da obra parecia interessante. Infelizmente, após conferi-la, toda a impressão formada acabou diluída e a certeza que fica é a de que esta talvez seja a pior ficção-científica "original" do ano, mesmo que, na verdade, esta se trate de uma falsa ficção-científica.

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23 setembro, 2013

Star Trek (EUA, 2009).

"O futuro começa" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
É compreensível que alguns entusiastas da franquia (e série de tevê) Star Trek tenham ficado chateados com esse reboot da obra criada nos anos 1960 por Gene Roddenberry, especialmente no que se refere à falta de "cerebralidade" da trama, à pouca atenção aos gadgets visionários e a opção pela montagem frenética em detrimento da parcimônia odisseica dos filmes clássicos. Contudo, também é compreensível que alguns fãs tenham adorado esta repaginada justamente pela nova dinâmica apresentada por J. J. Abrams (Missão: Impossível III) e pelos roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci (Transformers), que "recriaram" parte da iconografia trekker para os olhos (e ouvidos) da juventude do século XXI, deixando um pouco de lado à filosofia inerente a grande parte dos filmes anteriores e apostando mais na aventura, na matinê, no humor e no despojamento. Cada um destes núcleos têm suas razões para gostarem ou não deste novo Star Trek, mas é correto afirmar que, mitologia trekker à parte, o filme conduzido por Abrams é eficiente, divertido, visualmente bonito e bem amarrado, funcionando muito bem tanto como início de franquia quanto como obra fechada.

Pra início de conversa o elenco do filme é primoroso. Tanto os protagonistas Chris Pine (Incontrolável), Zachary Quinto (série American Horror Story) e Karl Urban (Dredd) quanto o elenco de apoio (que possui nomes como Zoe Saldana, Anton Yelchin, Simon Pegg e John Cho, por exemplo) estão muito bem caracterizados, entregando performances que "homenageiam" as características dos atores que interpretaram originalmente estes personagens, mas sem deixar de imprimirem características próprias. Certamente alguns acabam tendo mais destaque (e tempo em cena) do que outros, mas é bacana perceber o comprometimento de todo o conjunto. Soma-se a isso a perspicácia de Kurtzman e Orci ao recriar alguns elementos de ligação entre as personagens (como no caso do trio Kirk, Spock e Uhura, personagens de Pine, Quinto e Saldana, respectivamente) e temos assim uma exploração de personagens bastante interessante, que acaba por sobrepor as também ótimas sequências de ação.

O tom épico e "aventuresco" ecoa por todo o filme, mas isso não o exime de alguns excessos. A caracterização inicial do vindouro capitão Jim Kirk soa apelativa, sendo este caracterizado como impulsivo e "porra louca" ao extremo desde a sua infância (ao meu ver, a cena do carro despencando precipício abaixo é descartabilíssima). Em contrapartida, a exploração da infância/juventude de Spock é melhor desenvolvida, levando-nos a conhecer um pouco o funcionamento da sociedade vulcana. Todavia, à exceção da dupla, nenhum outro personagem tem sua juventude explorada, inclusive o vilão Nero (Eric Bana, de A Estrada), o que não chega a prejudicar a amarração da narrativa, mas deixa um sentimento de que falta alguma coisa.

Um aspecto bobo, mas que faz toda a diferença nesta "nova" abordagem de Star Trek encontra-se na estrutura do seu roteiro, que abraça com carinho a clássica jornada do herói, especialmente na construção da personagem de Chris Pine, James T. Kirk (mesmo que o Spock de Zachary Quinto também siga preceitos desta jornada). A amarração dos eventos do filme perpassa pelo "chamado da aventura", pela "recusa", "encontro com o mentor"... até chegar à "recompensa" e "o caminho para casa" (etapas destacadas por Joseph Campbell em sua obra O Herói de Mil Faces). Tal abordagem casa bem com a trama apresentada (ou teria a trama sido amarrada ao esquema catalogado por Campbell?) e, de certa forma, acabam por aproximar este novo Star Trek de outra franquia cinematográfica espacial de sucesso: Star Wars. Desde o seu lançamento muitos foram os que compararam este filme de 2009 com a franquia capitaneada por George Lucas (especialmente a trilogia primeira), o que acabou por despertar a fúria por parte dos fãs mais ortodoxos do universo concebido por Gene Roddenberry.

Abdicando (em parte) da mitologia dos filmes anteriores - é deixado claro pelo filme que os eventos que acompanhamos se passam em uma realidade alternativa -, este Star Trek em nova roupagem é bom o suficiente para que a "birra" com relação a falta de profundidade da trama deixe de ficar em primeiro plano, pois a obra funciona mesmo sob o envólucro de "escapismo espacial" e, mesmo que alguns excessos (incluindo a estética recheada de flare adotada por J. J. Abrams) apaguem um pouco do brilhantismo da obra, o resultado final é bastante satisfatório, deixando a expectativa para a sequência altíssima. Sem sombra de dúvidas Star Trek deu vida nova à franquia. Vejamos até quando este frescor durará.

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18 setembro, 2013

Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo (Flickan Som Lekte Med Elden, 2009, SUE).


A mudança no posto de diretor parece ter feito bem à trilogia sueca Millennium, já que, em linhas gerais, esta segunda parte, intitulada A Menina Que Brincava com Fogo, ganhou certo gás após a saída do diretor Niels Arden Oplev (Sem Perdão) e a assunção de Daniel Alfredson - irmão mais velho do também cineasta Tomas Alfredson (O Espião Que Sabia Demais) -, que conferiu mais dinâmica à saga de Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist, de Missão Impossível: Protocolo Fantasma) e Lisbeth Salander (Noomi Rapace, de Prometheus).

Talvez a trama que adapta o segundo romance de Stieg Larsson tenha ajudado à adaptação - não acredito muito, pois a versão norte-americana do primeiro romance, Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, foi belissimamente conduzido por David Fincher (Se7en, os Sete Crimes Capitais) e equipe -, mas o fato é que Alfredson trouxe a esta segunda parte uma linguagem mais cinematográfica, condensando o calhamaço de Larsson, cuja extensão chega as 600 páginas, em uma obra de pouco mais de duas horas. Certamente alguns elementos da trama original tiveram que ser condensados ou até mesmo limados da montagem final, mas a essência da obra original é mantida neste bom thriller político.

Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo possui uma estrutura narrativa mais "simples" que a do anterior, apesar do maior número de personagens coadjuvantes dispostos à trama. Com o intuito de dar mais destaque aqueles que já eram conhecidos por sua participação efetiva no filme anterior, Alfredson optou por apresentar grande parte dos novos personagens - a exemplo dos investigadores de polícia Bublanski (Johan Kylén), Faste (Magnus Krepper) e Modig (Tanja Lorentzon) - de forma reduzida, tendo estes importância ao desenvolvimento da história, porém, sem protagonizarem grandes momentos ou surgirem por muito tempo em tela. Como o centro de atenção do filme, a exemplo do longa anterior, se dá nos arcos individuais de Blomkvist e Salander - que, repetindo a dinâmica da obra outra, acabam por se cruzarem em determinado momento -, justamente aquilo que mais interessará ao espectador.

A dinâmica entre Michael Nyqvist e Noomi Rapace - apesar das poucas cenas juntos - continua funcionando, mas, assim como em Millennium - Os Homens Que Não Amava as Mulheres, Rapace chama mais a atenção, não apenas pelo fato de sua personagem possuir uma maior complexidade, mas principalmente pelo grande carisma da atriz sueca, que consegue conquistar o espectador mesmo sob uma densa maquiagem e sem esboçar o mínimo de calor humano. São seus olhos que conquistam o espectador, além dos pequenos trejeitos entregues à personagem. Já Nyqvist até que se esforça, mas sua composição é um tanto desinteressante, o que em parte casa bem com o arquétipo de seu personagem (pelo menos o proposto pela obra literária), porém, ainda assim fica aquém do trabalho realizado por Daniel Craig (007 - Operação Skyfall) na versão norte-americana.

Assumindo o cargo Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg (O Amante da Rainha) e mais conhecido por atuar na tevê sueca, Jonas Frykberg faz um bom trabalho de condensação ao texto de Stieg Larsson, distribuindo bem os principais eventos, subtramas e plot-twists da obra literária no roteiro final do filme. É certo que alguns elementos presentes no livro fazem falta, mas Frykberg assume o risco e fecha bem a maioria das arestas, seja limando personagens ou simplesmente não dando tanto espaço a outros. Possivelmente, quem ainda não leu a trilogia de Larssson, não sofrerá com qualquer ausência ou "mudança" da trama original.

Tecnicamente Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo mantém a tônica do longa anterior, apesar das mudanças quanto ao corpo de técnicos do filme. Estreiam aqui o diretor de fotografia Peter Mokrosinski (Evil - Raízes do Mal) - que preserva a estética anterior - e o editor Mattias Morheden, que dá uma cara menos televisiva à montagem final da obra, além de maneirar mais à mão tanto com relação ao corte final do filme (este é aproximadamente vinte minutos menor que o anterior), quanto ao clima de suspense explorado, que é melhor aproveitado nesta segunda parte. Como remanescentes tem-se a figurinista Cilla Rörby e o compositor Jacob Groth (Headhunter), que repetem o bom trabalho.

Não tão requintado quanto a versão norte-americana, mas longe de se configurar como uma adaptação amadora, Millennium II - A Menina Que Brincava com Fogo, apesar da mudança nos postos de diretor e roteirista, consegue manter a linha proposta pelo primeiro filme e ainda melhorar alguns pequenos deslizes do mesmo, especialmente na exploração de uma linguagem menos próxima a  da televisão. Certamente as tramas de ambos os filmes são exemplarmente impactantes, mas devido ao maior cuidado dado pelos novos integrantes nesta parte dois, o resultado final acaba soando mais agradável. Talvez esta não seja a adaptação definitiva do segundo volume da trilogia Millennium - espero ansiosamente pelo possível segundo filme assinado por David Fincher -, mas não faz feio, valendo a pena conferi-la.

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15 setembro, 2013

Contato (Contact, EUA, 1997).

- O que é mais provável: um Deus misericordioso criou tudo e nunca mais deu as caras ou Ele simplesmente não existe e nós O criamos para não nos sentirmos tão pequenos e sós?
- Não sei. Não me imagino vivendo em um mundo sem Deus. Eu não ia querer viver.
- Como não sabe que é ilusão? Eu preciso de provas.
- Provas? (...) Você amava o seu pai?
- Sim. Muito.
- Prove.
(Diálogo entre Ellie Halloway e  Palmer Joss, interpretados respectivamente por Jodie Foster e Matthew McConaughey).
Encantador e inteligente, Contato, versão cinematográfica do romance de Carl Segan e Ann Druyan adaptada por James V. Hart (Drácula de Bram Stoker) e Michael Goldenberg (Harry Potter e a Ordem da Fênix) e dirigida pelo oscarizado Robert Zemeckis (Forrest Gump - O Contador de Histórias, O Voo) é uma obra concisa, energética e com muito a falar, seja através de imagens irretocáveis, cujos significados externados são inúmeros, seja pelo seu texto acurado e preciso, recheado de conceitos inteligentíssimos acerca da insaciedade do ser-humano perante o descobrimento do hoje desconhecido, além de ecoar com propriedade assuntos de cunho interno, já que a subjetividade motivacional da personagem interpretada por Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes, Deus da Carnificina), a doutora Ellie Halloway, surge como o fio condutor das demais abstrações sugeridas pelo filme.

A interação entre fé e ciência é um dos maiores trunfos da trama proposta por Sagan em seu romance e no primeiro rascunho de roteiro para o que viria a se tornar Contato, o filme. Nunca almejando esvaziar as teorias e dogmas de qualquer uma destas manifestações humanas, Sagan e Druyan, aliados a V. Hart e Goldenberg, materializam na obra, de forma bastante acessível - mas nunca simplória -, algumas das principais angústias do humanidade: a busca pela razão da existência, a resposta para o sentido da vida, a descoberta de que nós não estamos sozinhos. Tais abstrações não teriam o mesmo impacto se não fosse o poder do texto de V. Hart e Goldenberg, mas também se a seleção de elenco não tivesse alocado alguns dos maiores nomes do cinema à época. Sendo assim, não é por acaso que temos como âncora da obra a vencedora do Oscar Jodie Foster, coração e impulso do filme, que magnetiza o espectador com sua personagem guerreira, decidida e visionário, mas também repleta de fragilidades e dúvidas, especialmente pelos traumas carregados após o falecimento de seu pai, interpretado por David Morse (Guerra Mundial Z), quando esta ainda era criança.

Há uma série de informações e eventos que fortalecem as características de Halloway (algumas foram pinceladas acima), mas estas devem ser saboreados como um todo, portanto, sugiro que preste bastante atenção à construção da personagem quando assistir ao filme. Certamente Halloway representa a dúvida inerente à humanidade quanto a existência de algo além-Terra, pois pensa e articula como cientista, mas carrega algumas bagagens impossíveis de serem confirmados cientificamente, abstrações e particularidades que poderiam ser facilmente categorizadas como fé ou crença. A própria esperança carregada pela cientista extrapola os limites da racionalidade, confirmando assim a complexidade existencial da personagem, que de certa forma é uma representação idealizada do próprio Carl Sagan.

Todavia, a título de esclarecimento, a possível fé carregada pela personagem de Foster não é (nem pode ser) traduzida em cultos, em fórmulas feitas, em instituições ou dogmas humano-religiosos, mas sim na pura abstração da fé (seja lá o que isto signifique, pois tal estado é puramente subjetivo, inerente apenas a personagem, tendo significados e significantes que envolvem apenas a ela mesma), na confirmação (pelo menos é isto o que o roteiro do filme sugere) da assertiva "eu quero acreditar", que é transposta por Zemeckis da forma mais pura e sensitiva já vista: através da expressão de um olhar. Certamente, um par de olhos não transmitiu tanto sentimento quanto os de Foster no clímax revelador do filme.

Saindo um pouco do espectro conceitual do filme, é justo enfatizar a qualidade estética do filme. Pouco reconhecido como um cineasta de mão cheia - apesar de possuir em seu currículo sucessos incontestes tais como a trilogia De Volta para o Futuro, o surpreendente Uma Cilada para Roger Rabbit, o vencedor do Oscar Forrest Gump - O Contador de Histórias e o corajoso Náufrago - (eclipsado, talvez, pelos amigos mais "marqueteiros", como Steven Spielberg e George Lucas), Robert Zemeckis constrói em Contato uma de suas melhores obras como diretor, pois acrescenta ao roteiro brilhante camadas de significados e muita poesia visual, através da composição de algumas sequências de tirar o fôlego, que perpassam toda a metragem do filme, indo desde detalhada sequência de abertura - cujos significados perpassam não apenas a imagem, mas também ao som - até o emblemático plano-sequência que foca a corrida da jovem Ellie (quando criança, interpretada com propriedade pela jovem Jena Malone) em busca da salvação de seu pai, que é elaborado de forma a acompanharmos a ação através do reflexo da personagem no espelho.

O "achado" da personagem, quando encontra (em parte) suas respostas, também surpreende, inclusive pelo ótimo uso dos efeitos digitais (a título de curiosidade, a então iniciante WETA, de Peter Jackson, criou alguns dos efeitos do filme) e até mesmo o posicionamento desta ao lado das gigantescas antenas do complexo alugado pelo SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) no estado do Novo México, que a tornam essencialmente mais uma das antenas que captam os sons dos corpos celestes e galáxias longínquas, tanto pelo desenho e posicionamento do seu chapéu lembrar as tais antenas, como (principalmente) pela grande sensibilidade da personagem, que passa horas a fio escutando com cuidado toda a captação - sonora ou não - através de um par de headphones. Certamente estas foram as sequências que mais chamaram a atenção, todavia o trabalho de Zemeckis durante toda a projeção é brilhante, seja através do uso de câmeras em gruas, que vão lentamente ao encontro das personagens, seja pela exploração equilibrada dos planos abertos cujo foco resida na natureza, no espaço, nas instalações do Novo México, na máquina criada com o intuito de fazer contato extraterreno ou na exploração dos efeitos visuais digitais, mostram-se narrativamente impecáveis, comprovando assim a qualidade técnica do diretor.

Além do brilho de Foster (e da jovem Malone), outros nomes ajudam a carregar o filme, no sentido de materializar o texto de forma crível, de certa forma transformando "sonho" em "realidade". Temos no filme gente do naipe de James Woods (Videodrome - A Síndrome do Vídeo), Angela Basset (Invasão a Casa Branca), Tom Skerritt (Alien, o 8º Passageiro) e John Hurt (A Chave Mestra, V de Vingança), que surgem bem em seus respectivos papéis, mas quem acaba por se destacar mesmo é o então novato Matthew McConaughey (Tempo de Matar, Killer Joe - Assassino de Aluguel), que interpreta aqui não apenas o interesse romântico da personagem de Jodie Foster, mas também seu oposto no que se refere a percepção existencial, visto que este é um ex-celibatário e consultor religioso. Por fim, destacaria a curta, porém precisa participação de David Morse, que constrói com delicadeza e competência a principal referência de vida da jovem Ellie Halloway.

Possuidor de uma trama deveras interessante, cujos questionamentos permanecem válidos até hoje, bem construído e dono de um elenco de primeira, além de contar com um diretor no auge de sua carreira e com os melhores técnicos disponíveis à época, Contato é um daquelas Ignorar avisoraras obras de entretenimento que não almejam fazer concessões para que seu público entenda cada detalhe do objeto em debate, mas também não torna o enredo fajuto, boçal ou entediante, tendo um raro senso de equilíbrio entre o espetáculo visual e a construção (talvez, no caso desta obra, o mais acertado seria desconstrução) de ideias. Certamente uma das grandes ficções-científicas da história do cinema, Contato não é nem de longe um dos filmes mais lembrados das carreiras de Robert Zemeckis e Jode Foster (só para destacar os dois maiores nomes envolvidos no filme), porém, reconhecimento midiático a parte, é um de seus trabalhos mais contundentes e sinceros. Em suma, um espetáculo de ideias, que não se fecham em si mesmo.

Obs.: Apesar de tocante, em alguns momentos a trilha sonora composta por Alan Silvestri me incomodou um pouco, pois seus temas ficaram muito parecidos com os desenvolvidos para a trilha de Forrest Gump - O Contador de Histórias, também de sua autoria, especialmente nas partes onde o piano sobressai.

Obs 2.: O desfecho/revelação ao final do filme, relacionado as 18 horas de gravação, não me  deixou com a impressão de "concessão" por parte dos envolvidos, sendo assim, não me decepcionou, pois acredito eu que não retirou a ambiguidade da mensagem, acerca da busca interior externalizada da personagem de Jodie Foster ter sido ou não verdadeira. No final das contas, crente ou não, é tudo uma questão de fé.

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12 setembro, 2013

A Profecia (The Omen, EUA, 1976).


"Quando os judeus retornarem à Terra Prometida, o cometa atravessar os céus e o império Romano ascender, então você e eu morreremos. Do mar eterno ele se ergue, criando exércitos nos litorais, instigando irmão contra irmão, até a humanidade não existir mais" (Profecia declamada pelo Padre Brennan, interpretado por Patrick Troughton).
Primeiro filme de expressão de Richard Donner (Superman, o Filme) e herdeiro direto do fenômeno O Exorcista, A Profecia, de 1976, pode ser considerado como um clássico do horror moderno, tanto por seu enredo inspirado, recheado de referências a sociedade humana através de metáforas apocalípticas, quanto pelo capricho da produção, cujo visual é inspirado (e inspirador), além de contar com algumas performances marcantes, especialmente dos veteranos Gregory Peck (O Sol é para Todos) e Patrick Troughton (Hamlet) e com uma trilha sonora simplesmente magistral composta pelo gênio Jerry Goldsmith (Alien, o 8º Passageiro), talvez a melhor do gênero (Goldsmith papo o Oscar por esta trilha). Menos visceral e mais sugestivo, o filme se agiganta devido a solidez de sua história e do clima de dúvida exposto através das performances do elenco e da direção segura e elegante de Donner.

Espécie de suspense dramático, o filme roteirizado por David Seltzer (Cinema Verite) não procura expor de forma objetiva os elementos que fazem alusão ao apocalipse e a chegada do anti-Cristo, mas sim desenvolver a trama de forma a deixar tanto o espectador quanto o casal de protagonistas vivido por Peck e Lee Remick (Anatomia de um Crime) receosos, dando a obra um caráter ambíguo, tornando-a assim diferenciada dos demais filmes cujo contexto remonta elementos satânicos e religiosos. Seltzer consegue equilibrar bem as referências a temas ocultos aos assuntos de cunho político (grande parte da trama se desenvolve no entorno da embaixada norte-americana em Londres) e até mesmo familiares (a adoção do garoto Damian e os percalços passados por seus pais adotivos, especialmente pela mãe).

Talvez mais afixado na memória popular devido a alguns elementos distintos que compõem a trama do filme, como a simbologia do número 666, a relação dos cães rottweilers com o menino anti-Cristo, as mortes marcantes de alguns coadjuvantes, dentre outros, do que pela premissa em si, mesmo assim A Profecia é um filme muito bem elaborado, cujo clima de suspense não se perde em momento algum e cujos personagens, "mocinhos" ou "vilões", despertam interesse imediato, tanto por serem muito bem construídos por Seltzer, Donner e elenco, quanto pelo carisma inerente a cada ator/atriz. Com isso, é certo que, absurdos a parte, a história proposta pelo filme convence e desperta curiosidade do início ao fim, mantendo-se interessante até hoje.

Esteticamente primoroso, dirigido com esmero e bastante inventividade pelo então iniciante Richard Donner e tenso do início ao fim, A Profecia, apesar de bem recebido pelo público e pela crítica, nunca alçou ao estrelato devido ao eclipse formado pelo também clássico O Exorcista, que se por um lado abriu caminho para obras como A Profecia, por outro estabeleceu uma espécie de competição indireta, onde, obviamente, aquele encontra-se praticamente imbatível. Comparações à parte, o filme de Richard Donner é distinto especialmente por não seguir a fórmula padrão dos filmes de horror, deixando o sangue e os sustos de lado e optando pela construção climática, pela ambiguidade conceitual. Certamente este não é um filme cujo foco é despertar o medo no espectador, mas sim deixá-lo incomodado, arisco, desconfiado de que há algo errado no ar, mas cuja razão não consegue explicar. Sendo assim, se por um lado a estética lembra um pouco o filme de William Friedkin, a ambientação já traz um pouco de O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski.

Apesar dos méritos da obra cinematográfica como um todo, é impossível não comentar que, muito provavelmente, caso Jerry Goldsmith não tivesse composto os temas tenebrosos e operísticos que pontuam o filme o impacto (especialmente no quesito tensão e condução das personagens) não seria o mesmo, pois certamente A Profecia é um raro caso em que a trilha sonora acaba por se sobrepor a outros elementos geralmente mais destacados numa obra cinematográfica, como atuação e direção. É impossível imaginar o filme sem o canto gregoriano de Ave Satani, como também sem a presença de algumas sequências belíssimas desenvolvidas por Donner e o diretor de fotografia Gilbert Taylor (os closes hipnóticos que enquadram os olhos de algumas personagens e a queda da personagem de Remick se destacam dentre outros grandes momentos) e montagem do filme - a cargo de Stuard Baird, de 007: Operação Skyfall -, que dá corpo ao filme.

Pouco lembrado quando discutido quais seriam os grandes filmes de horror e quase nunca citado quando a discussão remonta os grandes títulos do cinema, A Profecia é um filme ímpar, cuja ambientação setentista faz com que seu charme e força permaneçam vivos - não á toa o remake de 2006 acabou não funcionando -, além de seu conceito "inovador" permanecer como referência até hoje, visto que foram diversas as produções que tentaram imitá-lo, mas praticamente nenhum conseguiu a contento. Alinhamento dos astros ou profecia positiva à parte, o certo mesmo é que poucos filmes do gênero conseguiram alinhar tantos ótimos elementos (diretor e elenco de primeira, plot interessante, música impecável, montagem acertada, fotografia primorosa, direção de arte e figurino orgânicos etc.) sem se perder pelo caminho e A Profecia é, sem sombra de dúvidas, um destes. Um filme de horror que não necessariamente assusta, mas certamente te deixa impressionado, pois a mensagem (leia-se: entrelinhas) de que o mal está sempre a espreita funciona magnificamente.

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09 setembro, 2013

Scarface (EUA, 1983).

"Say hello to my little friend!" (Uma das frases mais icônicas do cinema).
Um dos maiores épicos de máfia da história do cinema, Scarface é a prova viva de que um remake só é válido quando inovador em relação à obra original e, esta versão lançada no início dos anos 1980, dirigida de forma soberba pelo mestre Brian De Palma (Vestida para Matar), escrita pelo futuro cineasta e vencedor do Oscar Oliver Stone (Platoon) e estrelada por um dos maiores atores de todos os tempos, Al Pacino (ainda em grande fase), pode ser alçada ao topo entre os melhores remakes já produzidos. Há todo um contexto que dá sustentação ao filme, sendo este um misto de fantasia (no sentido dos exageros contidos no roteiro) e homenagem aos filmes de gangsteres dos anos 1930 e 1940, só que esteticamente mais surtado e estilizado, como todo bom trabalho conduzido por De Palma.

Mesmo passados trinta anos desde sua estreia é incrível como o filme permanece vivo, contagiante, relevante e, até certo ponto, atual. Ou seja, mesmo que alguns elementos estéticos e a trilha sonora da obra denunciem sua temporalidade, o conceito geral e o sentimento externado pelo filme continua atemporal, causando impacto até hoje. A sacada de Oliver Stone de transpor elementos do filme original à realidade político-social da época, especialmente tendo por base a chegada de refugiados cubanos aos Estados Unidos (elemento este essencial a trama). Sendo assim, troca-se o núcleo ítalo-americano pela gênese cubano-americana, destacando assim a sedimentação do império das drogas (especialmente da cocaína) na cidade de Miami.

É lastimável o pouco reconhecimento obtido pelo filme à época de seu lançamento, sendo este considerado "excessivamente violento" e "deslocado da realidade", quando tais conceitos foram postos de forma proposital, com o intuito de chocar as plateias, objetivando assim alertar os espectadores para a degradação social em desenvolvimento à época. Devido a recepção dividida, Scarface acabou sendo ignorado por premiações como o Oscar, visto que não obteve sequer uma indicação. Para completar, Brian De Palma acabou recebendo uma indicação ao Framboesa de Ouro, premiação que contempla os piores do ano (ou seja, uma antítese do Oscar), como pior diretor (sacanagem é pouco). É certo que nem sempre prêmios e indicações fazem jus aos contemplados, mas a ausência de Scarface é injustificável.

Esteticamente brilhante - a junção entre o carnaval de cores presentes no figurino (Patricia Norris, de O Homem da Máfia) e a fotografia (John A. Alonzo, de A Árvore da Maldição) realçam a violência do filme de maneira ímpar -, dono de um enredo envolvente, recheado por personagens carismáticos, cujas falas chocam e fazem rir com muita naturalidade, certamente este é um dos melhores trabalhos de De Palma como diretor, que traduz com personalidade o roteiro "surtado" de Oliver Stone e encontra em Pacino um intérprete a altura do desafio que se tornou Scarface. O ator criou aqui mais um personagem emblemático, cujas falas, postura, sotaque e trejeitos viraram referência. Se Oscar o esnobou, pelo menos o Globo de Ouro reconheceu sua grande composição e o brindou com uma indicação para a categoria melhor ator.

O elenco de apoio também merece destaque, pois as performances caricaturais, mas ao mesmo tempo realistas de Steven Bauer (As Duas Faces de um Crime), Michelle Pfeiffer (Revelação), Mary Elizabeth Mastrantonio (Robin Hood: O Príncipe dos Ladrões), Robert Loggia (A Força do Destino) e F. Murray Abraham (O Nome da Rosa) ajudam à composição final do filme, sustentando a performance surtada (no bom sentido) de Pacino e dando vida a trama escrita por Stone e realizada por De Palma, que dá a obra uma carga diferenciada, cuja magia e encantamento é encontrada apenas nos filmes assinados pelo mestre dos planos-sequência.

Da música apoiada nos sintetizadores e teclados eletrônicos (afinal de contas, estávamos no auge dos anos 1980) composta por Giorgio Moroder (O Expresso da Meia-Noite) ao exagero gráfico (mas com propósito) impresso por Brian De Palma, além da composição de alguns cenas antológicas com sua velha pegada hitchcockiana (a sequência que envolve a primeira incursão criminosa de Tony Montana nos Estados Unidos - sim, aquele que envolve uma serra elétrica -, a tentativa de assassinato do mesmo e a conclusão do filme são emblemáticas) são elementos que tornam o filme mais do que fantástico, mas referencial a todo um gênero. Sem nunca deixar de assumir-se como uma ficção estilizada, Scarface de Brian De Palma extrapolou o espectro do cinema e transmutou-se na cultura norte-americana como um todo, sendo, ao lado de obras como O Poderoso Chefão e Os Bons Companheiros, reverenciado, imitado e recitado até hoje entre aqueles que tiveram o prazer de assisti-lo. Em suma, um Filme com F maiúsculo.

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07 setembro, 2013

Guerra Mundial Z (World War Z, EUA/GBR, 2013).


Espécie de casamento entre os filmes Eu Sou a Lenda e Contágio, tendo como referência o clima de tensão e a correria do primeiro, junto à cientificidade induzida pelo segundo, Guerra Mundial Z, primeiro blockbuster estrelado por Brad Pitt desde Tróia - Sr. e Sra. Smith é um blockbuster, mas de espectro menor -, pode ser definido como uma peça de entretenimento bem realizada, cujo diferencial reside no foco duplo entre o drama vivido pelo personagem de Pitt (pai de família que, para manter a família a salvo após a misteriosa pandemia zumbi, deve voltar a exercer a função de investigador associado a Organização das Nações Unidas - ONU) e a ação desenfreada, união esta que resultou bastante saudável a obra, empregando uma energia distinta a mesma, apesar de sua trama um tanto quanto previsível.

Dirigida pelo eclético Marc Forster (O Caçador de Pipas), esta adaptação da obra de Max Brooks chama a atenção logo de cara pela estrutura narrativa mais próxima ao jornalismo, dando uma carga de veracidade ao filme que acaba por ser um de seus maiores trunfos quanto ao chamamento da atenção do espectador. Equilibrado no sentido de explorar ação sem que para isso deixe de focar nos dilemas das personagens destacadas no roteiro, especialmente os do personagem de Brad Pitt, a construção (ou costura de eventos) realizada pela equipe de roteiristas funciona a contento, pois a estrutura episódica - a bem verdade, o filme parece uma colagem de vários curtas-metragem, cujo protagonista é o mesmo - contribui para o fortalecimento da mensagem que o filme quer passar, que destaca a pequenez da humanidade perante um universo de eventos da natureza - naturais ou provocados - aos quais o homem não pode impedir. Méritos aos roteiristas que se debruçaram nesta colagem multifacetada: Matthew Michael Carnaham (Intrigas de Estado), Drew Goddard (O Segredo da Cabana), Damon Lindelof (Prometheus) e J. Michael Straczynski (A Troca).

É bem verdade que o foco global - o título já adverte - e a tentativa de dar um embasamento científico (ou pelo menos uma motivação científica) dá um certo diferencial a este filme, como também um maior foco no afetamento psicológico e físico daqueles que tem de enfrentar indivíduos contaminados por uma praga misteriosa que os deixa, além de loucos e irracionais, muito mais fortes e velozes que o ser humano comum. Com isso, as ótimas performances de Pitt e Mireille Enos (Caça aos Gângsteres) - esta com participação bastante reduzida - acabam se destacando, especialmente Pitt, que entrega um personagem bastante "humano", cuja coragem e perseverança não o transforma em um super-homem ou em um sujeito invulnerável, muito pelo contrário, são perceptíveis os sentimentos de dúvida, desolação, receio e fragilidade externalizados pelo personagem. Sendo assim, méritos ao belo (em todos os sentidos) que é Brad Pitt.

Gosto de Marc Forster como diretor e, apesar de um ou outro trabalho dele não me agradar por diversos motivos, é inegável a qualidade do mesmo como construtor imagético. Seu ecletismo é, ao mesmo tempo, tanto seu maior atributo quanto seu calcanhar de Aquiles, pois nem sempre seu estilo de direção se encaixa com a história/gênero abraçado pelo mesmo. Felizmente, o diretor suíço encaixou-se bem neste longa de ficção-científica distópico recheado de ação, pois, apesar de não mostrar nada de substancialmente novo, cataloga e compacta diversos elementos que geralmente são pouco desenvolvidos em outros filmes do gênero, dando ênfase tanto a questões políticas e sociais, quanto a pontos relacionados à natureza humana de sobrevivência. É certo que alguns destes temas acabam não sendo tão aprofundados pelo longa, até por que o mesmo é assumidamente uma obra atrelada a ação, mas isto não quer dizer que deixe de trabalhar a dramaticidade atrelada a esta própria ação. Ou seja, apesar da correria e da urgência serem o grande chamariz do filme, ambas não passam de consequências a um evento dramático anterior, ideia esta que é razoavelmente bem estabelecida pelos roteiristas e primorosamente decupada por Forster.

Entretenimento eficiente, Guerra Mundial Z sofre um pouco com a variação de qualidade de seus efeitos visuais - geralmente, quando digitais, os zumbis não parecem verossímeis -, mas compensa pelo ritmo frenético recheado de tensão, que nunca soa raso ou cansativo. A produção do filme passou por sérios problemas, especialmente quando em pós-produção, tendo inclusive seu desfecho passado por algumas mudanças. Particularmente não me senti incomodado com a resolução da obra - e com isso não digo que a mesma é espetacular, mas sim que serve bem ao propósito desta como um todo -, até por que o caráter episódico sugerido faz sentido, casando bem com a grandiosidade desta pandemia e conflito. Menos cerebral e mais emotivo, Guerra Mundial Z é um bom início para uma possível nova franquia, cuja muleta reside na qualidade do elenco e na provocação acerca da pequenez de poder do ser humano perante a pequenez concreta de um mal que pode ser percebido, mas nunca visto em sua essência. Certamente este é um filme feito para quem abraça essa ideia, porém , gostando ou não de zumbis (que possuem 'ene' definições), as chances de que o espectador seja conquistado pelo poder de fogo (literalmente) da obra é alta.

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06 setembro, 2013

Platoon (EUA, 1986).


"A vida é como é, não como se deseja" (Sgt. Barnes, personagem de Tom Berenger).
Tido como um dos filmes mais contundentes acerca da Guerra do Vietnã, Platoon, de 1986, marca o encontro definitivo do cineasta Oliver Stone tanto com a crítica como com o público, alguns anos após sua consagração como roteirista (além de ser autor do roteiro de Conan, o Bárbaro, Stone ganhou um Oscar pelo script de Expresso da Meia Noite) e, de certa forma, encerra a busca pelo retrato definitivo de um conflito essencialmente contraditório à história norte-americana. Produção independente, rodada com poucos recursos financeiros, Platoon foi concebido tendo por base as próprias referências/memórias de Stone como veterano de guerra e, devido a isso, adota um estilo narrativo mais próximo ao de uma coleção de crônicas, tendo como fio condutor a exposição dos dilemas e vicissitudes do mesmo grupo de personagens.

Ao contrário de filmes como Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, que abraça a paranoia e a loucura como elemento narrativo condutor, Nascido para Matar, de Stanley Kubrick, cujo foco reside na alienação do conflito bélico desde o processo de "construção" do soldado até sua interação com a guerra em si e Pecados de Guerra, de Brian De Palma, que abraça como temática principal os excessos cometidos pelo exército norte-americano, cujo sentido e conteúdo da ação encontra-se atrelado as deficiências do mesmo, não tendo assim relação direta para com o inimigo, mas que são externalizados através da tortura, estupro e assassinato dos civis, já que estes, aos olhos do militar são, indiscutivelmente, aliados do inimigo, Platoon é construído através de um prisma menos abstrato, optando - seja de forma proposital, seja devido ao orçamento limitado - pela crueza estético-narrativa, soando assim mais "pé no chão" e menos poético. Contudo, um elemento é compartilhado entre este filme e os demais citados: a metáfora, que surge como apoio de suma importância à mensagem triste e sofrida pretendida por Stone.

Apesar de não ter tantos recursos e de ter sido filmado com uma agenda apertadíssima, é inegável o requinte da produção, que funciona a contento até hoje, tendo como destaque o trabalho de efeitos especiais e de maquiagem, a fotografia "naturalista" (a título de curiosidade, o filme foi rodado nas Filipinas), a direção segura e, sem sombra de dúvidas, a qualidade do elenco, formado por nomes até então inexpressivos, mas que deram início a uma grande carreira a partir de então. Há pontas de gente como Johnny Depp (O Cavaleiro Solitário), Forest Whitaker (O Último Desafio), Keith David (Crash - No Limite) e Kevin Dillon (série Entourage), mas o grande trunfo do filme está no trio principal de atores, formado por Tom Berenger (A Origem), Willem Dafoe (A Última Tentação de Cristo) e Charlie Sheen (Wall Street - Poder e Cobiça).

Condensando a principal metáfora do filme, que envolve tanto a percepção da dubiedade inerente ao ser-humano, quanto a abstração da sociedade norte-americana a época, Oliver Stone constrói através das personagens de Berenger, Dafoe e Sheen, cada um destes elementos. Enquanto o Sargento Barnes (Berenger) pode ser posto como o arquétipo do mal, o soldado que só encontra-se completo quando em conflito, aquele que segue a ordem como dever e não admite questionamentos (a não ser, obviamente, que aquela acabe por prejudicá-lo sobremaneira), o Sargento Elias (Dafoe) representa o bom, o indivíduo que, apesar da situação limite, consegue perceber os exageros, as falcatruas e as inumanidades cometidas ao seu redor, adquirindo a percepção de que há muito mais do que busca por liberdade ou salvação de um povo envolvidos neste conflito em específico. Com isso, chegamos ao personagem de Sheen, Chris Taylot, espécie de meio-termo entre os dois anteriores, cujo espectro passeia por ambas as índoles e, conforme nos é apresentada a evolução (ou involução) do personagem, é perceptível que este funciona como ponto de equilíbrio entre os extremos representados pelos Sargentos Barnes e Elias. A grosso modo, Taylor canaliza o ponto de vista de Stone acerca da Guerra do Vietnã (todo o filme é narrado sob o ponto de vista do personagem de Charlie Sheen). Apesar do trio encontrar-se muito bem em seus respectivos papeis, destacaria as performances de Berenger (frio, carrancudo, beligerante, atormentado) e Dafoe (amigável, corajoso, desbravador, idealista), pois estes sustentam estes "universos" distintos de forma mais natural e convincente que Sheen, que faz um bom trabalho, mas encontra-se um degrau abaixo enquanto ator.

A rima estabelecida por Stone entre o início do filme e seu desfecho é excelente e ressoa bastante tocante, pois fecha o círculo narrativo do personagem de Charlie Sheen, mas deixa as possíveis consequências no ar, especialmente pelo apoio maciço do tema Adagio for Strings, de Samuel Barber, cuja melancolia acaba por complementar com precisão ambos os momentos. Outro elemento que fortalece esta metáfora visual é a fotografia conduzida por Robert Richardson (Django Livre), cujo misto de organicidade e poesia encaixa-se tanto à narrativa "pé no chão" de Stone, quanto com a viagem sonora transmitida pela composição de Barber. Aproveitando a deixa, destaco também a belíssima (e provocativa) composição de Richardson na sequência que culmina na morte do personagem de Willem Dafoe, cujo um dos frames foi imortalizado no poster disposto no topo da postagem.

Vencedor de quatro prêmios Oscar - melhor filme, melhor diretor (Stone), melhor som (John Wilkinson, Richard Rogers, Charles Grenzbach, Simon Kaye) e melhor edição (Claire Simpson, de Possessão) -, Platoon permanece merecidamente no rol das melhores produções acerca da Guerra do Vietnã, tendo como diferencial sua abordagem distinta, característica esta compartilhada com os filmes listados acima. Ao apresentar a guerra sob o ponto de vista de um jovem e idealista recruta e construir sua jornada de dúvidas e perdas, amadurecimento e ganhos, o filme ao mesmo tempo se afasta e se aproxima de qualquer outro já lançado, pois evoca uma visão particular de um evento notório e conhecido por todos. Lançado quase vinte anos após o encerramento da guerra, Platoon traz consigo uma aura de "desapego" que o torna único, sendo literalmente um filme sobre o conflito assinado por alguém que viveu tal experiência. Não sei se este é o melhor retrato do conflito no Vietnã, mas certamente é um dos mais completos.

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05 setembro, 2013

Jade (EUA, 1995).

"Algumas fantasias vão longe demais." (Livre tradução da frase disposta no poster do filme)
Talvez a pretensão seja o pior engano de Jade, produção de Robert Evans (por muito tempo chefão da Paramount) dirigida pelo grande William Friedkin (O Exorcista). Ao tentar se mostrar mais inteligente, complexo e misterioso do que na verdade o é, este thriller com elementos eróticos acaba escorregando em alguns momentos, principalmente em sua conclusão duplamente forçada, que confere ao filme um caráter menos impactante - coerência narrativa a parte - e mais deslocado. Dito isto, apesar dos excessos, especialmente no âmbito de roteiro, esta obra assinada por Friedkin não é desastrosa como a crítica especializada difunde, já que mesmo composta por um enredo vez ou outra frágil, consegue funcionar como obra de mistério, é dirigido com precisão e, sem sombra de dúvidas, tem elementos suficientes para envolver o espectador.

É curioso notar que, apesar de Friedkin ser conhecido por sua pegada autoral - como quase todos os cineastas da geração anos 1960/1970 -, a abordagem estética do filme lembra muito a de um outro grande nome do cinema norte-americano, contemporâneo do diretor vencedor do Oscar por Operação França, o ítalo-americano Brian De Palma. Desde a sequência de abertura que apresenta um homicídio sob o ponto de vista subjetivo - sequência esta apoiada com firmeza pela trilha sonora assinada por James Horner - ao desfecho da obra, que entrecorta dois ambientes distintos que se conectam pela tensão inerente a ambos, nota-se que Friedkin optou por emular a estética de filmagem de De Palma, que por sua vez bebe bastante de Alfred Hitchcock. Talvez pela própria temática do filme ser mais próxima à filmografia de De Palma, que contempla títulos como Vestida para MatarDublê de Corpo e Femme Fatale, Friekdin tenha optado por tal abordagem. Todavia, mesmo com uma cara "DePalmiana", há ecos do estilo particular do diretor, como a perseguição de carros em Chinatown, cujas sensações de adrenalina e velocidade remetem imediatamente ao clássico Operação França. Por fim, seria injusto não aplaudir o trabalho de fotografia de Andrzej Barktowiak (Advogado do Diabo), que transpõe a estética solicitada por Friedkin de maneira primorosa.

Obviamente feito na esteira do sucesso de Instinto Selvagem, tendo inclusive como roteirista Joe Eszterhas, autor do script do sucesso estrelado por Michael Douglas e Sharon StoneJade até que dispõe de elementos eróticos, mas estes são abraçados de forma menos explícita, inclusive "sumindo" de foco por boa parte do filme, restando a dúvida do quão erótico este realmente seria. Friedkin não possui a pegada charmosa de De Palma nem o olhar seco de Paul Verhoeven, mas consegue conduzir bem as cenas de sexo e sedução, posicionando sua câmera de forma a compor imagens de ótimo gosto, esteticamente falando. A bem verdade, a trama de mistério do filme empolga mais que as passagens de cunho erótico, talvez pelo sex appeal de Linda Fiorentino (Homens de Preto) ser pouco explorado.

Um ponto que não compromete a obra, mas gera certo estranhamento encontra-se na escalação do elenco, pois, apesar de realizarem um bom trabalho, nomes como David Caruso (conhecido como o protagonista de C.S.I.: Miami), Chazz Palminteri (Os Suspeitos), Michael Biehn (O Exterminador do Futuro) e Richard Crenna (Rambo - Programado para Matar) num primeiro momento parecem escolhas deslocadas ao projeto, especialmente Caruso, que não possui o fenótipo do herói sedutor, do agente da justiça ambicioso e implacável. Talvez a imagem "máscula" de Michael Douglas tenha ficado tão afixada no imaginário popular que a versão "frágil" de Caruso desperte certa desconfiança. Contudo, tal impressão é desconstruída conforme o filme vai sendo desenvolvido, muito graças ao trabalho do próprio ator, que compra o papel e o defende seja quando investigador, seja quando piloto em perseguição.

Jade parece não ter agradado nem público nem crítica à época de seu lançamento, mas talvez esta apatia tenha se dado não pela má qualidade do filme, mas sim pelo excesso de filmes com temática parecida que desfilavam nos cinemas desde o final dos anos 1980. Como Jade foi produzido no final da "safra", os olhares negativos o acertaram em cheio. Enfim, estou apenas teorizando. O certo mesmo é que, apesar de não trazer grandes inovações, especialmente no campo conceitual, e possuir um desfecho um tanto chocho - Eszterhas e Friedkin procuram surpreender o público duplamente, mas não acertam em nenhuma das vezes -, o filme sagra-se como um thriller eficiente, dono de algumas sequências de tirar o fôlego - a abertura e a perseguição de carros são primorosas - e de uma história, se não inédita, no mínimo interessante. É esquisito ver um cineasta renomado e de estilo próprio como William Friedkin emulando Brian De Palma - seja no estilo, seja na temática -, mas mesmo assim o filme vale a visita.

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02 setembro, 2013

A Chave Mestra (The Skeleton Key, EUA, 2005).


Os anos 2000 não foram tão bons para o gênero suspense/horror, especialmente pelo advento dos remakes, especialmente dos títulos japoneses (como O Chamado e O Grito, por exemplo), que anestesiaram consideravelmente a produção de títulos originais ou adaptações inéditas para o cinema, como era regra até então. Contudo, em meio a tamanha tendência a reciclagem, surgiram naquela década alguns bons filmes, que mesmo em pequeno número reascenderam, de uma forma ou de outra, a chama da novidade neste gênero tão querido pelos cinéfilos, especialmente pelo público jovem, sempre ávido pelo sentir medo. Dito isto, afirmo com toda segurança que este A Chave Mestra, de 2005, é um dos melhores exemplares do gênero em anos, tanto pela peculiaridade de sua trama - a utilização da cultura afro-americana como trunfo do desconhecido ainda hoje é pouquíssimo usada no cinema comercial - quanto pelo apuro da produção, que conjuga com propriedade esmero estético e um bom texto.

Contando com a direção do até hoje pouco conhecido Iain Softley (Coração de Tinta) e tendo no elenco nomes como Kate Hudson (Quase Famosos), Peter Sarsgaard (Meninos Não Choram), Gena Rowlands (Diário de uma Paixão) e John Hurt (V de Vingança), o filme escrito pelo (à época) badalado Ehren Kruger (O Suspeito da Rua Arlington) desperta interesse por desenvolver com certa profundidade seu rol de personagens principais e por apresentar uma ambientação que faz sentido ao centro de discussão da história do filme, que gira em torno do simples verbo acreditar, vinculado a fé, a esperança. A partir daí, com um jogo bacana de ceticismo e mistério, apoiados tanto na cultura afro da região de Nova Orleans quanto no desgaste psicológico passado pela personagem de Hudson (uma enfermeira que perdeu o pai recentemente), a trama que mistura elementos místicos e mitos daquela região vão tomando forma, sob o viés do interlocutor externo que conhecido do olhar externo (Hudson), cujo olhar denota ceticismo e curiosidade à realidade local, inóspita, e incompreensiva, mas ao mesmo tempo convidativa, interessante. Este dualismo é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes atrativos da obra.

Dentre os citados acima, apontaria como destaques as performances dos veteranos Gena Rowlands e John Hurt, que entram de corpo e alma em suas respectivas personagens, tendo a primeira construído uma personagem enigmática, cuja vilania nunca é exagerada, despertando até mesmo certa empatia por esta. Já Hurt se sobressai mais uma vez ao entregar um indivíduo cuja composição é quase que totalmente baseada em gestos e expressões corpo-faciais - a exemplo de seu papel em O Homem Elefante, por exemplo -, comprovando assim não apenas a capacidade interpretativa do veterano ator britânico (refém da articulação vocal), mas também seu poder de carisma, pois é inevitável não sentir compaixão pelo seu combalido personagem. Já Kate Hudson entrega uma interpretação contida, mas eficiente à proposta do filme (certamente seu papel poderia ter sido entregue a uma atriz cuja perícia dramática fosse mais apurada, como Kate Winslet, por exemplo, mas a filha de Goldie Hawn não compromete), enquanto Peter Sarsgaard surge um tanto deslocado, exagerando um pouco na caricatura, sendo talvez o ponto mais frágil deste quarteto principal.

Afora o frescor do roteiro - cuja estrutura é simples e objetiva, porém nunca menos que interessante -, destacaria alguns aspectos visuais do filme, a começar pelo bom trabalho de fotografia a cargo de Daniel Mindel (John Carter - Entre Dois Mundos), que explora bastante o estética particular de Nova Orleans, além de adequar suas lentes ao trabalho também diferenciado de John Beard (A Última Tentação de Cristo) como desenhista de produção, promovendo assim um equilíbrio bacana entre na sensação de realidade e fantasia sugerida pelo filme. Obviamente que as locações são um capítulo a parte, mas o trabalho conjunto de composição de Mindel e Beard elevaram a qualidade das imagens captadas. Outro elemento que funciona muito bem é a montagem (a cargo de Joe Hutshing, de Selvagens), primordial para que o clima de tensão crescente do filme funcione. Por último, mas não menos importante, destaco a direção precisa de Iain Softley, cineasta cujo currículo é até certo ponto discreto, mas que aqui demonstra bastante competência e pulso, orquestrando o filme de maneira tal que o conjunto sobressaia, em detrimento de sua pessoa. Contudo, vez ou outra é perceptível a mão do diretor, como nas cenas onde a câmera transpassa o "buraco" da fechadora ou o destravamento desta, cenas estas esteticamente belíssimas.

A Chave Mestra não é um filme cujo mérito se apoia nos sustos - estes são bem reduzidos -, mas sim na exploração do "mistério" que envolve a trama, apostando assim no clima e na ambientação. Dono de um desfecho até certo ponto corajoso - pelo menos vai de encontro a previsibilidade dos filmes atuais -, o longa pode ser categorizado como uma peça de entretenimento equilibrada, cujo conteúdo desperta a atenção do espectador sem exagerar na complexidade ou enfatizar reviravoltas transloucadas e sem sentido a lógica sugerida. Um dos melhores títulos originais do gênero da última década - prova de um período fraco ou mérito da produção? -, A Chave Mestra, apesar de ter feito um sucesso razoável nas bilheterias ao redor do globo, não foi bem visto pela crítica, que em geral categorizou a obra como abaixo da média. Passados oito anos de sua estreia, creio que quem não gostou à época deveria dar uma segunda chance ao filme, pois às vezes primeiras impressões nos "enfeitiçam" de tal forma que não conseguimos enxergar o produto de forma ampla e, a julgar por esta nova visita ao filme, mantenho meu ponto de vista de que este é sim um dos títulos mais coerentes e interessantes da primeira década do novo milênio.

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