30 janeiro, 2013

Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close, EUA, 2011).



Tão Forte e Tão Perto dividiu a opinião dos críticos e não despertou tanta atenção do público, mesmo conseguindo uma indicação ao Oscar de melhor filme em 2012. A bem verdade, apesar de não ser um filme a altura do que deveria ser o Oscar - obviamente, no meu ponto de vista -, ainda não consegui compreender a antipatia geral com relação ao filme, que sim soa choroso e construído com o intuito de emocionar, mas que em momento algum extrapola na produção de lágrimas e em despertar do sentimento de revolta no telespectador (ao contrário de um de seus concorrentes no Oscar, o drama blockbuster Histórias Cruzadas, este sim, ao meu ver, bem mais nocivo). Certamente não é um grande filme, mas passa longe de ser uma decepção.

Contando com a direção do competente (e com cadeira catina na Academia de Artes Cinematográficas) Stephen Daldry (O Leitor) e baseado no romance homônimo, o filme conta a história de perdas e de amadurecimento do garoto Thomas Schell (Thomas Horn), que perde o pai (Tom Hanks, de A Viagem) durante o atentado terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001 e busca pelo entendimento desta perda partindo para uma espécie de jornada de redescoberta pela cidade de Nova Iorque, tentando encontrar algo a ser aberto pela  por uma chave deixada por seu pai e que agora encontra-se em sua posse. 

Lançado dez anos após o atentado, obviamente reverenciamento e tributo são prestados pelo filme e mesmo que em alguns momentos o roteiro de Eric Roth (Forrest Gump - O Contador de Histórias) e as notas desfiladas por Alexandre Desplat (Moonrise Kingdom) forcem o choro, as metáforas e o tom fabular do filme são bem construídos, trazendo uma carga de energia positiva no limite do apelativo. Muito se falou da falta de profundidade do filme, especialmente por ter como pano de fundo um evento de importante magnitude (ainda mais para os habitantes da cidade de Nova Iorque, cenário da obra) e, apesar de concordar que este realmente poderia ter se saído melhor caso seu argumento aprofundasse na repercussão da tragédia nas vidas destacadas em tela, de modo algum o filme mostra-se menor sem este aprofundamento, mas simples e direcionado ao drama particular de um garotinho apegado e altamente dependente da figura paterna.

É claro que, mesmo não me incluindo no grupo daqueles que não apreciaram o filme, alguns elementos não me agradaram tanto assim, a começar pela escalação do jovem Thomas Horn como protagonista. É certo que seu papel não é de nenhuma maneira fácil, pois trata-se de um personagem com qualidades e defeitos distintos que estão ligados ao andamento do enredo, portanto seria necessário um grande domínio de cena e carisma em seu intérprete para que a empatia com o personagem permanecesse sempre mais alta do que a discordância para com seu comportamento e atitudes. Infelizmente, Horn não consegue despertar tal empatia, pelo menos nos momentos de maior dramaticidade do filme, enfraquecendo assim nossa relação com o personagem e, por conseguinte, prejudicando o poder de convencimento do filme. A bem verdade a coisa só não piora por que temos a presença de um elenco de apoio competente e em ótima forma, que supre a carga de emoção irregular do personagem de Horn. Impossível não destacar as performances de Tom Hanks, Sandra Bullock (Crash - No Limite) e Max Von Sydow (Hannah e suas Irmãs), este último, por sinal, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante por esta performance.

Bem fotografado (Chris Menges) e dono de uma premissa se não totalmente original, certamente inspirada (e inspiradora, por que não), Tão Forte e Tão Perto é um bom filme, carregado de metáforas eficientes que ressignificam os sentimentos despertados pelo ataque as torres gêmeas há mais de uma década e orquestrado não apenas para emocionar os mais incautos ou despreparados emocionalmente, mas sim prestar tributo a um evento que, querendo ou não, mudou paradigmas não só no povo norte-americano, mas em toda a humanidade. É difícil apontar com propriedade o que não funciona tão bem no filme. Talvez sua duração seja demasiadamente grande (a impressão que se passa é que o filme teima em não querer ser encerrado) ou sua montagem careça de menos obviedade. Talvez. Porém, certamente posso afirmar que, assim como outros tantos filmes apontados como grandes obras de 2011 (muitas destas contempladas com indicações ao Oscar), Tão Forte e Tão Perto não encontra-se naquele rol simbólico de obras fantásticas e imperdíveis que poderiam sagrar-se como melhores em premiações mundo afora, mas é um filme correto, que cumpre bem seu papel, seja como entretenimento, homenagem ou simplesmente cinema. A bem verdade não deve nada a outros candidatos a prêmios em 2011 como Histórias Cruzadas, Cavalo de Guerra, O Homem que Mudou o Jogo etc.

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29 janeiro, 2013

Os Descendentes (The Descendants, EUA, 2011).


Algumas vezes alguns filmes premiados e bem recomendados são deixados para trás de forma não proposital, simplesmente nos dedicamos a conferir outros títulos e acabamos por esquecer de um ou outro. Dentre os "esquecidos" por mim encontrava-se Os Descendentes, drama familiar dirigido e co-roteirizado por Alexander Payne (Sideways - Entre umas e Outras) e indicado a melhor filme no Oscar referente ao ano de 2011. Hoje, após finalmente conferi-lo, não sei se o filme tem um peso tão grande a ponto de sagrar-se como o melhor filme do ano, mas é inegável que o mesmo é um filme excelente, quase que totalmente focado na interpretação de seu elenco, podendo ser classificado como um filme de atores.

George Clooney (Um Homem Misterioso) encabeça o poderoso elenco e interpreta um homem que se vê forçado a administrar o lar (suas duas filhas) após um sério acidente sofrido por sua esposa, que encontra-se em estado de coma. Marido e pai ausente, o personagem de Clooney terá que se desdobrar para compreender a realidade de suas duas filhas, enquanto descobre alguns detalhes referentes à sua vida que o desnortearão por completo. Vencedor do Globo de Ouro (além de ter recebido uma indicação ao Oscar) pela performance, é inegável que Clooney compõe aqui um personagem complexo, frágil e, por conseguinte, distinto da maioria de seus personagens anteriores, conferindo grande humanidade ao mesmo, o que por si só já justifica sua aclamação perante crítica e público.

Mas não é apenas George Clooney que se destaca em Os Descendentes. A até então pouco conhecida Shailene Woodley (talvez seu maior destaque tenha sido como uma personagem da série juvenil O.C. - Um Estranho no Paraíso), que interpreta a filha mais velha do personagem de Clooney, mostra-se intensa e emotiva em sua composição e acaba por roubar a cena do filme em alguns momentos. Quem também aparece bem é Judy Greer (A Vila), que tem pelo menos uma grande cena no clímax do filme, que envolve um misto de emoção e comicidade. Apesar do pouco tempo em cena, nomes como Beau Bridges (Max Payne), Matthew Lillard (Pânico) e Robert Forster (Jackie Brown) - outro que rouba a cena - complementam o casting do filme.

É certo que não há grandes arroubos narrativos por parte de Alexander Payne, contudo seu filme mostra-se equilibrado do início ao fim, envolvendo o espectador aos poucos e construindo uma relação de cumplicidade e entendimento para com os eventos mostrados. Os Descendentes não apresenta rupturas ao estilo do cineasta, tanto que investe naquele meio termo entre drama e comédia já particulares ao mesmo. É claro que o encaixe entre cenas mais pesadas com as de notável alívio cômico são orquestradas com esmero por Payne, que constrói aqui um filme gostoso de se assistir, mas que ao mesmo tempo não é narrativamente avassalador ou recheado de surpresas, muito pelo contrário, neste sentido é um filme bem quadradinho, todavia bastante eficiente.

Elenco afiado, direção segura, roteiro bem amarrado - baseado no livro homônimo de Kaui Hart Hemmings -, fotografia deslumbrante - a cargo de Phedon Papamichael, (Os Indomáveis), que aposta nas establishing shots para destacar a beleza do Hawaii e acaba sendo muito bem sucedido na escolha - e conteúdo de fácil entendimento e assimilação marcam o conjunto harmonioso que forma Os Descendentes, uma obra gostosa de se assistir, que traz um olhar de reflexão, mas numa embalagem leve e contempladora, nos fazendo passear por momentos de angústia e pesar, sem esquecer de frisar que, apesar da tristeza sentida hoje, o sol não deixará de nascer e certamente brilhará ainda mais forte amanhã. 

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25 janeiro, 2013

Jack Reacher - O Último Tiro (Jack Reacher, EUA, 2012).


"A lei tem limites. Ele não" (Livre tradução do texto disposto no poster oficial do filme).
O mais recente trabalho do astro Tom Cruise (Rock of Ages), Jack Reacher - O Último Tiro, resgata o estilo oitentista dos filmes de ação, especialmente por ser conduzido pelo binômio vingança/justiça e contar com um protagonista solitário, implacável e com cara de poucos amigos. O Jack Reacher do título é uma mistura entre mercenário e justiceiro que atua nas sombras, pegando apenas casos que mexam com seu código de honra, mas sempre sanando-os com socos e tiros. Cruise se sai bem ao interpretar a personagem originalmente saída dos livros de Lee Child, mesmo que sua descrição física não bata com a do personagem original.

Com roteiro e direção do vencedor do Oscar Christopher McQuarrie (que já trabalhara com Cruise ao assinar o roteiro de Operação Valquíria e um forte candidato a assumir o posto de diretor do quinto Missão: Impossível), Jack Reacher - O Último Tiro não possui uma trama muito elaborada ou recheada de ação, mas sua aura anos 1980 somada a perícia de McQuarrie na condução da primeira hora de projeção, que trata da investigação acerca da motivação dos múltiplos homicídios cometido por um jovem atirador do exército e a boa presença em tela de Cruise tornam o filme interessante, mesmo que em um ou outro momento seja perceptível a mão do Cruise produtor interferindo no "excesso de brutalidade" de seu personagem, especialmente quando em contato com a personagem de Rosamund Pike (Orgulho e Preconceito). Este detalhe não chega a atrapalhar o desenvolvimento do filme, mas gera certo desconforto aos mais atentos.

Com aquela cara de noveleta de detive, Jack Reacher - O Último Tiro pode ser considerado como um convencional filme Tom Cruise, visto que apesar de apresentar um personagem mais frio e compenetrado do que outros da carreira do ator, o filme nunca sai do lugar comum, inclusive apostando num clímax agitado, contudo assumidamente exagerado, que ratifica a aura oitentista sem dó nem piedade. Confesso que a construção do filme é bem feita e McQuarrie se sai bem na dupla função de roteirista-diretor, porém o filme nunca sai do lugar comum, inclusive podendo ser considerado como um filme menor nas carreiras de Cruise e McQuarrie, mas ainda assim, no caso do primeiro, muito melhor do que o cansado Encontro Explosivo, por exemplo.

Lançado com o objetivo de iniciar uma nova franquia, o filme teve um desempenho apenas mediano nas bilheterias mundiais. Sendo assim, possivelmente esta será a única adaptação da personagem criada por Lee Child estrelada por Tom Cruise. Porém, em se tratando de Hollywood, a terra dos sonhos e do  nunca diga nunca, tudo é possível. Contudo, admito que pessoalmente não me sinto triste pela possível não sequência do filme, até por que o que é apresentado por aqui é bem fechadinho, não necessitando de uma sequência que complemente algum elemento relevado pelo filme.

Jack Reacher - O Último Tiro é um filme divertido e bem filmado, que traz o veterano diretor alemão Werner Herzog (O Sobrevivente) como um dos antagonistas - por sinal, subaproveitado, pois apenas seu visual a lá vilão do 007 se sobressai em seu personagem - e investe num clima e pegada semelhante a linha de filmes como Busca Implacável, com Liam Neeson e O Atirador, com Mark Wahlberg, abraçando os temas de  justiça com as próprias mãos e do herói solitário com propriedade. Pena que não passe muito disso, sagrando-se assim em um bom entretenimento, mas sem ousadia, com personagens pouco desenvolvidos e com alma em falta. Não me entenda mal, Jack Reacher - O Último Tiro é um bom filme, mas passível de rápido esquecimento.

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24 janeiro, 2013

O Último Desafio (The Last Stand, EUA, 2013).


"Não na sua cidade. Não durante a sua patrulha" (Livre tradução da frase disposta no poster promocional do filme).
Que Os Mercenários que nada, a volta de Arnold Schwarzenegger ao cinema se dá mesmo com este O Último Desafio. Filme de ação recheado de elementos cômicos, esta primeira incursão do cineasta sul-coreana Kim Ji-woon - diretor de Os Invencíveis, inusitada (e ótima) versão de Três Homens em Conflito, de Sergio Leone - em terras hollywoodianas resulta numa obra bastante agitada e divertida, contando com uma performance esforçada do hoje sessentão Schwarzenegger e muitos tiros e explosões. É certo que a trama do filme é absurda, porém é desenvolvida de forma tão bem cuidada que acaba por conquistar o espectador, especialmente pela direção técnica e inventiva de Ji-woon.

Contando com um elenco multi-étnico e internacional, formado por nomes conhecidos como o espanhol Eduardo Noriega (Abra los Ojos), o brasileiro Rodrigo Santoro (Heleno), o sueco Peter Stormare (Plano de Fuga), o porto-riquenho Luis Guzmán (O Conde de Monte Cristo), além dos norte-americanos Forest Whitaker (Traídos pelo Desejo), Johnny Knoxville (Jackass) e Jaimie Alexander (Thor),  O Último Desafio carrega no bom humor, nas cenas de ação e na condução energética de Ji-woon seus maiores destaques, visto que, como frisado acima, sua trama é bem bobinha.

Contudo, apesar de previsível, há de se destacar o esmero da produção, que apesar de contar com um orçamento limitado para os título do gênero, operou milagres em sua consecução. Há um bom punhado de cenas marcantes no filme, inclusive a do sequestro do prisioneiro chefe do tráfico organizado interpretado por Noriega - sequência esta que envolve a execução de um plano que lembra bastante as pirações dos filmes de Christopher Nolan - e a da perseguição a um carro turbinado pelas rodovias de Las Vegas e do Arizona. Kim Ji-woon tem talento e técnica e capta como poucos a urgência e a adrenalina necessárias a um filme do gênero, mas sem perder a mão na composição e no enquadramento das cenas, dirigindo sequências que estão anos luz de diferença da maioria das produções genéricas regurgitadas por Hollywood anualmente. Um bom exemplo é a perseguição pelas rodovias, que não deve nada a qualquer um dos episódios da franquia Velozes e Furiosos.   

Mas e quanto ao action hero Arnold Schwarzenegger? Bem, na medida do possível o ex-governador da Califórnia continua mandando bem, ainda mais quando utiliza das limitações que a idade carrega como muleta para a adoção de soluções menos físicas e mais "destrutivas". O austríaco nunca utilizou armas de fogo como acabou por fazer neste filme. Da apresentação de seu personagem, um xerife veterano mas com larga experiência militar, as frases de efeito recitadas pelo mesmo, percebe-se que o ator imergiu de vez no humor para caracterizar seu personagem, o que não é nem de longe ruim, já que acaba encaixando perfeitamente na proposta do filme, que nunca se leva a sério. Contudo, mesmo que o condicionamento físico já não seja o mesmo, é de se aplaudir a garra com que o astro se entrega no grande clímax do filme, onde enfrenta mano a mano o alucinado personagem de Eduardo Noriega.

É certo que o filme é do Arnold, mas há espaço na trama para o desenvolvimento razoável de outras personagens, especialmente o do astro tupiniquim Rodrigo Santoro, como acaba surpreendente pela inusitada perícia como herói de ação e pelo cada vez melhor inglês. O oscarizado Forest Whitaker traz consigo sua aura de grande ator, mas não faz mais do que o beabá por aqui, inclusive transparecendo um certo  incômodo ao contracenar com Schwarzenegger no desfecho do longa. Ossos do ofício, caro Whitaker. No mais destacaria a presença de Luis Guzmán, que se não tem um grande personagem pelo menos serve como "inusitado" alívio cômico ao filme, por sinal roubando a cena do sujeito oficialmente dono do "cargo", Johnny Knoxville (que, ao contrário do que vinha sendo anunciado, não chega a prejudicar o filme).

Schwarzenegger nunca foi um grande ator, mas inegavelmente tem um excelente gosto para projetos - basta conferir sua equilibrada filmografia - e, ao "arriscar" na estilização e no exagero de O Último Desafio acrescenta mais um bom título a sua ótima carreira. É bem verdade que, numa análise fria e detalhista, o filme deveria ser classificado como mediano, pois cumpre sua missão primeira de entreter, mas não ousa além. Entretanto, o coreano Kim Ji-woon conduz o filme de forma tão inspirada e "calculada" que o mesmo sobe alguns degraus, passando da categoria de filme de ação "okay" para um surpreende filme de ação. É óbvio que não mudará a vida de ninguém, muito menos acrescenta novos paradigmas a linguagem do gênero, contudo é mais do que bem sucedido em sua proposta, além de, no meu ponto de vista, ser digno de aplausos por sua direção. E que sirva de lição aos Michael Bays, Rob Cohens e Justin Lins da vida.

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23 janeiro, 2013

A Viagem (Cloud Atlas, ALE, 2012).

"Tudo está conectado" (Frase disposta no poster promocional do filme).
É inegável a ambição e o esmero com que Lana Wachowski, Tom Tykwer e Andy Wachowski conduziram este A Viagem, adaptação cinematográfica do romance Cloud Atlas de David Mitchell, de 2004. Contudo, apesar do visual deslumbrante e do elenco estelar o filme parece nunca engatar, talvez pela grandiosidade na qual alça voo e que exige tantos dos realizadores quanto dos espectadores um comprometimento que parece não se encontrar. Há problemas na narrativa do filme, que infelizmente acabam por resultar em indesejados ruídos à sua premissa, ocasionando assim numa auto-sabotagem ao mesmo.

Acredito que A Viagem teria ganhado bastante se, ao contrário do que fez, optasse por reduzir o número de tramas paralelas e desse mais destaque as escolhidas, pois a decisão de utilizar as mesmas seis linhas temporais contidas na obra literária acabou por deixar algumas destas excessivamente confusas e outras um tanto rasas e/ou desconexas com a ideia por trás da obra. Sou partidário de que uma boa adaptação deve essencialmente respeitar a mensagem por trás da obra original, não necessariamente tentar reproduzir em sua completude o que fora disposto naquela, pois mídias distintas merecem tratamento e abordagem distintas. Ao meu ver este foi o calcanhar de Aquiles do filme, que não conseguiu criar uma coerência narrativa suficiente entre todas as diversas realidades temporais ou despertar empatia suficiente para a imersão do espectador de forma equânime em cada uma das realidades citadas.

Mas há ótimos elementos no filme, a começar pela trilha sonora (co-escrita pelo diretir Tom Tykwer, Johnny Klimek e Reinhold Heil, que além de interligar as diversas linhas temporais, atua como personagem de destaque ao ser representada pela sinfonia escrita em conjunto por uma das personagens de Jim Broadbent (A Dama de Ferro) e de Ben Whishaw (007 - Operação Skyfall). Os efeitos visuais do filme também mostram-se interessantes e mesmo que não apresentem nenhuma interação revolucionária - muito pelo contrário, é possível até mesmo notar um certo "cansaço" visual por parte dos Wachowski na sua visão de futuro distópico -, não deslocam a atenção do espectador à trama.

O elenco de estrelas é bem alocado na miríade de histórias dispostas no filme e mesmo que um ou outro efeito de maquiagem deixe a desejar no sentido de não caricaturar algumas das personagens, estes mostram-se críveis e interessantes em sua maioria. Contudo, destacaria as performances de Tom Hanks (Forrest Gump - O Contador de Histórias) como as mais uniformes, mesmo que o restante do elenco tenham seus momentos quando dispostos em alguns de seus personagens.

A Viagem foi cercado por muita expectativa e desde sua estreia tem amargado reações distintas, pois há quem ame e há quem odeie o filme. Particularmente não desgosto do filme, pois enxergo aspectos positivos no mesmo e acho que o maior empecilho para o sucesso dele não reside na complexidade do seu texto, mas sim na complicação narrativa advinda de suas múltiplas e "complexas" linhas temporais. Como dito na abertura do texto, tais cenários podem mostrar-se perfeitamente inteligíveis, mas na estrutura montada para esta versão cinematográfica soam com excessos, como barrigas que poderiam ser melhor adaptadas, encaixadas, condensadas ou até mesmo limadas por completo. Confesso que A Viagem é um filme que necessita de uma segunda visita e, como todo filme indigesto em sua primeira conferida, possivelmente tornar-se-a mais objetivo e claro aos olhos, todavia, no momento a confusão reside mais vívida do que o deslumbramento pelo caleidoscópio de conexões entre vidas do passado, presente e futuro e seus retornos cíclicos até o cumprimento de suas missões grafadas em cada um destes indivíduos, como possivelmente defendem Mitchell, Tykwer e os irmãos Wachowski.

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Django Livre (Django Unchained, EUA, 2012).


Bem que Quentin Tarantino poderia ter um ritmo de produção mais atuante, como a de Woody Allen e Clint Eastwood, por exemplo, que entregam novos filmes a cada um ou dois anos, pois é incrível a falta que faz ao mundo do cinema suas obras particulares e bastante inspiradas, que  ao mesmo tempo desconstroem e constroem a mágica da sétima arte. Finalmente realizando seu primeiro faroeste - mesmo que Kill Bill Vol. 2 tenham elementos vários do gênero, não era um filme assumidamente do mesmo -, Tarantino segue em Django Livre a mesma estratégia de contar uma história sem se preocupar com as amarras da veracidade histórica, empregando sua característica verborragia, exageros estéticos, bom humor e plot twists surpreendentes ao narrar a trajetória do escravo negro (Jamie Foxx, de Miami Vice) em busca da esposa (Kerry Washington, de Ray), que encontra-se em domínio do oligarca Calvin Candy (Leonardo DiCaprio, de A Origem).

Dentre todos os títulos da filmografia de Tarantino arriscaria destacar Django Livre como o mais divertido e "leve". Divertido não no sentido do humor ser objeto de maior destaque na obra, longe disso - até por que todos os filmes do cineasta são construídos numa redoma de humor -, mas sim dela carregar uma aura épica e possivelmente heroica - a tão em voga jornada do herói - que acaba tornando-a no mínimo curiosa e, por conseguinte, super divertida. O caráter de leveza se dá em complemento a esta carga heroica do filme, pois se é mais do que óbvia a acidez e o conteúdo crítico por trás da tragédia da escravidão nos séculos XVII e XVII no lado de cá do hemisfério, a abordagem do filme não deixa de ser mais fantasiosa e branda do que títulos outros do diretor. A bem verdade, talvez pelo filme se encontrar taxado como um faroeste, a opção estética de destacar o meio em detrimento dos indivíduos (no caso, aqueles influenciariam diretamente estes) seja acertada, especialmente por ser esta ser uma das características da gênese deste gênero cinematográfico.

Como não poderia deixar de ser, o casting do filme é fantástico. Jamie Foxx, o intérprete de Django, confere fragilidade e altivez a seu personagem durante sua jornada de aprendizado ao lado do doutor King Schultz (Christoph Waltz, de Deus da Carnificina), um exímio caçador de recompensas que tem como diferencial a eloquência e grande poder de fogo em argumentação. Protagonistas da história, estes personagens são peças importantíssimas para que o filme funcione a contento e isto é conseguido sem grandes esforços. A química entre Foxx e Waltz salta aos olhos e, se Foxx mostra-se um excelente "herói", é impossível não notar que o mesmo ficou um tanto desinteressante frente ao excelente personagem de Waltz. É óbvio que isto não implica na perda de foco do filme, mas serve de termômetro para entender por que Waltz obteve tantas indicações a prêmios, enquanto Foxx ficou a ver navios.

Se os mocinhos estão bem representados, o segundo elemento para manter um filme de aventura interessante - os antagonistas - tem que estar ser bem apresentado. Leonardo DiCaprio não deixa por menos e constrói um personagem interessante, um jovem e rico proprietário de terras no (ainda) desumano estado do Mississípi. É certo que seu personagem se mostra um tanto quanto empalidecido durante boa parte do filme, especialmente se nos lembrarmos de sua capacidade como intérprete em filme anteriores, porém antes do cantar do galo uma grande surpresa acontece e podemos perceber toda a desenvoltura e poder de construção de personalidade de DiCaprio, numa cena marcada por um instrumento deveras inusitado: um martelo. Falar mais estragaria qualquer sensação de deslumbre pelo filme, mas é certo que a metamorfização do personagem é brilhante, justificando assim a presença de um ator deste nível ter sido escalado para o papel.

Entretanto, se DiCaprio guardou um carta na mão e a sacou no início do segundo tempo, o veterano Samuel L. Jackson (Jackie Brown) surge quebrando paradigmas. Apesar de seguir interpretando tipos valentes e de boca suja, dessa vez Jackson está camuflado por uma excelente maquiagem e por alguns anos a mais - seu personagem é um sujeito idoso -, o que acaba por ajudar a sua ótima condução de um vilanesco lacaio de Calvin Candie, talvez a grande surpresa do filme. Se é possível afirmar que Christoph Waltz "roubou" o destaque do personagem de Jamie Foxx, o mesmo se aplica a Jackson, que acaba por deslocar toda a atenção que tínhamos reservada ao sinhô Candy. 

A música é sempre uma característica marcante nos filmes de Quentin Tarantino e neste não poderia ser diferente. Preenchendo o filme com temas e canções de outros filmes - o diretor nunca insere trilha sonora composta especificamente para o filme -, com destaque para os temas de Ennio Morricone para o filme Os Abutres têm Fome e a canção 100 Black Coffins, escrita especialmente para o filme por Rick Ross e Jamie Foxx, além do tema do filme Django, de 1966. É realmente surpreendente a sensibilidade e capacidade de Tarantino em catalogar músicas tão distintas e desconexas temporalmente e criar uma linha narrativa crível quando insertas nas imagens do filme.

O contexto político-social do filme é um personagem à parte, tendo a estilização de Tarantino contribuído imensamente para destacar o quão àquele período foi negro - literalmente - para as pessoas de cor. É comum, em filmes de época, o retrato "politicamente correto" dos então escravos, com sua condição se limitando apenas à dependência perante seu senhor e a falta de liberdade. Contudo, como bem destaca (e exagera) Tarantino, as humilhações e os maus tratos passavam e muito do "aceitável" à condição humana, chegando ao cúmulo da bestialização do negro, que era visto como inferior aos animais, sendo mais do que comum jogá-los aos cães, sem o mínimo de remorso. Obviamente que isso não era regra, muito menos o filme expõe apenas o contexto de forma extremista, mas o discurso é válido e a reflexão importante, pois o grande diferencial da escravidão apresentada no filme é que, apesar de horrível, era exercida às luzes, às portas da sociedade. Já hoje, muitas dezenas de anos após o extermínio oficial de tais práticas, outras formas de escravização permanecem bastante vivas - confundindo-se com trabalho, tráfico etc. -, todavia não mais à luz como à época de Django.

Apesar de ter achado Django Livre um espetáculo de filme e uma homenagem mais do que bem feita ao tão apedrejado faroeste spaghetti, senti falta da aplicação de planos abertos e grandes panorâmicas no filme, como os grandes títulos do gênero possuem (apesar da fotografia de Robert Richardson ser primorosa). Também achei que faltou um maior destaque à transformação do escravo Django ao pistoleiro Django - há quem defenda os seis meses de trabalho do personagem junto ao doutor Schultz durante o inverno, porém Django já se mostrava como um exímio pistoleiro antes disso -, o que possivelmente traria um pouco mais de empatia ao personagem. Então, apesar de ter pequenos defeitos e incongruências - ora bolas, trata-se de um filme, não de uma expressão matemática -, Django Livre cumpre em todas as formas o objetivo de uma obra cinematográfica: entreter com qualidade e despertar reflexões, de uma forma ou de outra.

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20 janeiro, 2013

As Aventuras de Pi (Life of Pi, EUA/ING/TAI, 2012).


"No final a vida se torna um ato de desapego, mas o que mais magoa é não reservar um momento para se despedir" (Trecho de uma fala de Pi).
Sumido das premiações e aplausos desde o badalado (merecidamente) O Segredo de Brokeback Mountain - seus últimos dois filmes, Desejo e Perigo (2007) e Aconteceu em Woodstock (2009), não foram unanimidade -, Ang Lee decidiu apostar como seu novo projeto numa história no mínimo inusitada, onde o visual predominaria ao textual, mas com força tamanha que o tornasse mais profundo que qualquer palavra. Sem contar com grandes nomes no elenco - minto, pois Gerard Depardieu (Cyrano de Bergerac) faz uma ponta - e marcando a estreia do diretor na captação em 3D, As Aventuras de Pi (para mim o correto seria Aventura) é, como a frase disposta no poster afirma, uma jornada de vida, entrelaçada por um estudo acerca dos limites físicos e psíquicos passados por um ser humano, que enfrenta a fúria do desconhecido ao mesmo tempo em que enxerga e sente uma realidade que sempre esteve ali, mas que nunca fora notada, reconhecida, vivida. Certamente havia uma certa descrença quanto a se ao potencial artístico e comercial desta nova obra assinada por Lee. Como qualquer obra artística, a recepção subjetiva varia, mas quanto ao âmbito comercial, é inegável o sucesso do filme.

O primeiro elemento que salta aos olhos é, indubitavelmente, o visual do filme. Lee e do diretor de fotografia Claudio Miranda (Oblivion, Tron, o Legado) constroem imageticamente, desde as primeiras tomadas no Canadá, perpassando pela Índia e, sem seguida, nas sequências em alto-mar, um misto de sonho e realidade, denotando assim um ambiente verossímil, mas levado ao limite entre o factível e o fantástico. O trabalho da dupla, aliado ao excepcional desempenho da empresa de efeitos visuais Rhythm and Hues, dá vazão a uma estética belíssima, que abraça a responsabilidade de ser o fio condutor da mensagem da obra, que não se reduz a sobrevivência (Pi é vítima de um naufrágio), pois abrange reflexões caras a própria existência da vida. Compararia a pretensão filosófico-existencial deste filme com a de A Árvore da Vida, de Terrence Mallick, mas sem tanta abstração cosmológica, por assim dizer.

Até certo ponto, a narrativa do filme pode ser tida como bastante simples, possuindo este uma montagem linear e um número pequeno de personagens de relevância à trama. É notório que o foco do roteiro de David Magee (Em Busca da Terra do Nunca) - baseado no romance de Yann Martel - está no "relacionamento" entre Pi e Richard Parker (o tigre de bengala que se torna companheiro do garoto) e entre estes e a natureza ao seu redor. Com um cunho reflexivo particular, As Aventuras de Pi não esconde a pretensão de provocar discussões acerca de elementos metafísicos, exógenos ao ser humano, mas ao mesmo tempo intrínsecos ao mesmo. Descrevendo assim a impressão que se dá é a de que o filme é apoiado em grande complexidade temática, quando é o inverso que ocorre pois, apesar da temática distinta, o entendimento quanto a(s) mensagem(ns) carregadas pelo filme é de compreensão imediata, já que as provocações, induções e contradições apresentadas através da figura de Pi e de seu relacionamento - forçado ou não - com os eventos pré e pós naufrágio (desde antes do trágico acidente são apresentados detalhes complexos acerca da formação da personalidade do menino Pi).

A bem verdade, o grau de abstração necessário ao entendimento do filme é minimo, pois este pede apenas que o receptor emerja na ideia lançada (reside aí uma das forças do visual arrebatador e, possivelmente, da técnica narrativa 3D) e que a referencie com sua própria concepção de existência, sua experiência de vida. Simples, mas nunca simplório, o grande barato de As Aventuras de Pi é que, apesar de sua jornada culminar em um ponto determinado, os passos que levam ao seu desfecho são de ambivalência ímpar, alimentando então significados e significantes distintos a cada espectador, que certamente referenciará cada um dos eventos apresentados pelo filme como provações (ou provocações) de cunho religioso, como debate existencial-filosófico ou até mesmo como uma derivação da jornada do herói. Abstrair a mensagem final do filme é sim importante, mas o objetivo primeiro de Lee, Magee e Martel parece ser o poder simbólico de descobrimento através da jornada.

Em conversa com o amigo Leonardo Carnelos, do blog parceiro Art Perceptions, foi estabelecido como ponto enigmático do filme a ilha que encontra Pi e Richard Parker e lhes oferece cura (água, comida, descanso), mas que cobra por isso. Assim como outras manifestações da natureza que podem (e devem) despertar interpretações várias acerca de sua função/objetivo/razão de surgimento, esta ilha parece representar o ápice da tortura e, ao mesmo tempo, da leveza de espírito refletida por Pi, visto que este ambiente dualmente acolhedor e inóspito casou perfeitamente com as angústias e devaneios sentidos e demonstrados pelo personagem, que encontrava-se em um momento de pura contradição, onde não sabia se encarava sua realidade como uma provação de cunho divino (partindo então para o caminho da salvação) ou se tudo não passava de uma série de acontecimentos trágicos, porém sem sentido lógico, metafísico ou não. A ilha é rito de passagem, marco de reencontro do personagem consigo mesmo, onde este, após uma série de eventos, encontra equilíbrio. É necessário abstração e é isto que, aos meus olhos, o agora adulto Pi consegue.

Prato cheio para debates entre as mais diversas correntes de pensamento - a vida, em essência, supera a discussão acerca da crença no divino ou no apego ao materialismo -, As Aventuras de Pi é um filme possuidor de uma mensagem clara e bonita, carecendo talvez de menos simbolismo e mais questionamentos. Seu aparato estético é brilhante, lembrando um casamento entre duas obras distintas e ao mesmo tempo muito próximas do cineasta James Cameron, O Segredo do Abismo e Avatar, mas carregando uma cara própria, sem brechas para acusações de plágio ou algo do gênero (ao contrário da obra original de Martel, que passou por problemas por conta da semelhança entre sua trama e a de uma obra do brasileiro Moacyr Scliar). Há, como bem alertou o amigo Carnelos, ecos de Peixe Grande e Suas Maravilhosas Histórias, de Tim Burton, no filme, devido ao tom fabular e de desconfiança quanto a realidade da história narrada em ambas as obras. Mas, acima de tudo, há muita poesia e reflexão no filme, podendo estas tanto serem compreendidas como lições de auto-ajuda ou catequização espiritual, quanto como uma mistura de apontamentos e manifestações humanas, em busca de uma resposta além do homem, mas que sempre tem por início e fim um espelho diante de si mesmo.

Obs.: Só eu achei que o ator Rafe Spall (Anônimo) está a cara do jovem Richard Dreyfuss, à época de Tubarão ou Contatos Imediatos do Terceiro Grau?

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Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 2 (Batman: The Dark Knight Returns Part 2, EUA, 2013).


Se a primeira parte da adaptação da minissérie em quadrinhos originalmente concebida por Frank Miller e Klaus Janson possuía uma abordagem mais "intimista", apresentando a personagem Batman envelhecida e sua relação com a caótica Gotham de então, além de uma grande ênfase ao lado político,em Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 2 o que prevalece é a ação. Condensando os melhores momentos de conflito físico da história - muitos sensivelmente aumentados ou até mesmo alterados em relação aos da obra matriz -, é certo que a dinâmica desta conclusão é bem mais frenética e, por conseguinte, poderá despertar mais interesse do espectador. Some-se a isso as presenças de figuras como Coringa e Superman e a impressão que se tem é a de que o melhor da história foi deixado para o seu final. Obviamente que isso é no mínimo injusto com a boa primeira parte e certamente associá-las seria a melhor solução, mas como houve esta cisão nos produtos, cada um deve - teoricamente - ser avaliado separadamente.

Visualmente Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 2 mantém-se equânime à primeira parte - até por que foram realizadas juntas -, acrescentando apenas mais movimentação à animação, visto que a ação se sobressai na mesma. Ao ótimo elenco de vozes é acrescido Michael Emerson (série Lost) e Mark Valley (O Resgate), que dão vida ao Coringa e ao Superman, respectivamente. Apesar de não comprometer, admito que não senti muita força na composição de Emerson, talvez devido as ótimas performances de outros intérpretes do Coringa - inclusive em live-action -, o que acaba direcionando o espectador a criar uma imagem praticamente inquebrável de como deve se portar - neste caso, em termos de voz - a personagem. Já Valley é mais feliz, pois entrega aquilo que já é esperado: peso na voz, sem deixar de transparecer delicadeza.

Tão violento, sádico e direitista quanto o filme anterior, Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 2 conclui com excelência a tão sonhada versão em movimento da obra clássica das histórias em quadrinhos. Estão catalogados aqui os vícios e excessos da década de 1980, o que torna esta adaptação bastante fiel a ideia central da obra de Frank Miller. Apesar de hoje enxergar alguns problemas ideológicos na obra em questão, é inegável sua importância tanto à história do personagem Batman quanto à indústria das histórias em quadrinhos, que a partir daí começaram a ganhar um tratamento um pouco mais sério tanto da mídia quanto dos próprios leitores. Esta animação mantém as principais características da derradeira revolução do homem-morcego - que envolve o desmantelo da estrutura política norte-americana -, além de ser bastante feliz ao empregar o tom de ironia e sarcasmo contido na obra original. Certamente este filme não substitui ou se iguala a minissérie em quadrinhos, mas arrisco dizer que chega bastante perto e que entretém tanto quanto.  

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Texto sobre Batman: O Cavaleiro das Trevas Parte 1 (2012)

19 janeiro, 2013

Marcados para Morrer (End of Watch, EUA, 2012).


Apesar de não fazer muito sentido narrativo, esteticamente a opção por mostrar o filme como parte de registros feitos pela própria polícia - na verdade, por dois oficiais da corporação - confere um nível absurdo de tensão a Marcados para Morrer, muito graças as boas sacadas do roteirista e diretor David Ayer (Os Reis da Rua), praticamente um especialista em filmes policiais que lidam com questões de conflitos sócio raciais - não à toa é de sua autoria o roteiro do filme Dia de Treinamento, famoso por ter dado o Oscar de melhor ator a Denzel Washington.

Apesar da similaridade do objeto de estudo - a força policial -, o foco aqui é outro. Sai a corrupção da instituição, entra o acompanhamento do dia a dia de dois jovens patrulheiros e sua conturbada rotina, que perpassa desde o atendimento a ocorrências à residências até conflitos armados contra gangues. O cerne do filme se dá pela "emulação" da realidade da prestação de serviços pela polícia norte-americana, que por sinal é muito bem representada pela dupla formada por um caucasiano (Jake Gyllenhaal, de Zodíaco) e um latino (Michael Peña, de Crash - No Limite), que não são apenas parceiros, mas sim amigos. 

Como dito mais acima, a execução do filme é muito boa, cumprindo a missão de apresentar as personagens principais e a linguagem proposta pelo filme de forma direta e eficiente. A linha narrativa é bem distribuída e, apesar de não aprofundar muito o entorno da corporação policial, muito do esforço e zelo ao serviço é inferido através dos diálogos e da forma de se portarem as personagens de Gyllenhaal e Peña. É certo que Marcados para Morrer não é um filme que mudará o gênero e que sua estética documental/found-footage  não é aplicada cem por cento, contudo esta confere um nível a mais de tensão à trama, o que por si só já vale a visita ao filme.

É interessante que este filme tenha sido concebido por um cineasta que anteriormente abordou a falta de escrúpulos existente na corporação policial, confirmando aqui que aquela visão não era uma questão de posicionamento ideológica, mas sim um ponto de vista, uma história que precisava ser contada. O mesmo pode ser dito de Marcados para Morrer, um filme mais pessoal que Dia de Treinamento e Os Reis da Rua, mas também menos crítico ou panfletário, porém com uma mensagem pouco difundida hoje em dia, a de que a instituição policial ainda é um "mal" necessário e a de que há "boas" - nunca perfeitas - pessoas nos corredores da mesma. Infelizmente, alguns destes têm que morrer para serem notados.

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O Príncipe do Deserto (Black Gold, TUN/FRA/ITA/CAT, 2011).


Mal lançado, mal distribuído e pessimamente criticado, O Príncipe do Deserto marca o retorno do francês Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa) à direção após quatro anos de inatividade. Quase que totalmente bancado pelo investidor tunisiano Tarak Ben Ammar (Quinta Communications), este filme co-produzido por Tunísia, França, Itália e Qatar e com custos estimados 55 milhões de dólares é um épico romântico que resgata muito do cinema clássico do gênero, referenciando principalmente o magistral Lawrence da Arábia, de David Lean, especialmente nos grandes planos abertos que destacam à beleza e à aflição dos grandes desertos árabes e na mais do que presente trilha sonora, que aqui é assinada pelo premiado James Horner (Titanic). Não que o filme seja impecável, mas sua produção caprichada - mesmo fora do eixo hollywoodiano - e o contexto central da história, que aborda de forma simples e objetiva as diferenças políticas do Emir de Hobeika (Antonio Banderas) e do Sultão de Salmaah (Mark Strong). A trama em si pode ser um tanto simplista, mas as ideias entrelaçadas nela, mesmo que não sejam grandes novidades, são bem dispostas e podem gerar bons debates.

Em síntese O Príncipe do Deserto trata do embate ideológico-religioso entre as personagens de Banderas e Strong, especialmente após o rompimento de um pacto sobre a exploração de uma região nomeada de faixa amarela, que é rica em petróleo. O desenvolvimento dos pensamentos distintos das personagens resulta num bom resumo acerca das visões diversas que os líderes políticos do Oriente Médio possuem tanto da religião islâmica quanto da extração e venda de petróleo. As composições dos atores estão bem postas, com ligeiro destaque para a de Strong, que abraça sua personagem de forma menos cartunesca que Banderas. Há uma trama paralela que trata do filho do Sultão, entregue ao Emir como forma de pacto, que no filme é interpretado pelo francês de origem algeriana Tahar Rahim (O Profeta) e seu envolvimento com a filha deste (Freida Pinto, de Imortais), além de sua ascensão como figura central do filme, com o poder de reunir as tribos em uma única causa e demais clichês que perpassam os grandes épicos.

É certo que o filme não é dos mais dinâmicos, porém o reforço contínuo das duas visões dispostas pelos personagens, que trata de "progresso" versus "conservadorismo" e que custo a escolha de um só destes caminhos traria ao povo árabe acaba por distrair a mente do espectador, despertando interesse no porvir da história. Vez ou outra há um certo ranço na trama e pode-se tomar seu final como um tanto incômodo - talvez pelo foto de se apoiar em demasias nas convenções românticas hollywoodianas, mesmo que o filme não tenha sido made in Hollywood -, porém o filme reserva grandes momentos e possui mais características positivas que negativas, sendo assim bastante injustas as generalizadas más avaliações galgadas pelo filme (Rotten Tomatoes que o diga). 

Tecnicamente primoroso - com óbvios destaque para sua fotografia (Jean-Marie Dreujou, de Era uma Vez Dois Irmãos) -, dono de uma direção segura, que homenageia com serenidade os grandes épicos da era de ouro do cinema norte-americano - especialmente os filmes de David Lean -, O Príncipe do Deserto pode não ser o melhor trabalho da carreira de Jean-Jacques Annaud e carregar alguns vícios de narrativa em seu roteiro (especialmente no "quadradismo" de seu desfecho), contudo é ambicioso, bem filmado e instigante, além de esteticamente aprazível e grandioso como todo épico deveria ser. Por fim, esta primeira superprodução bancada por investidores árabe feita para exportação não deixa nada a dever aos grandes filmes do gênero produzidos pelos grandes estúdios de cinema.  

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15 janeiro, 2013

Memórias Póstumas (BRA, 2001).


"Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?" (Reflexão dada pelo fantasma de Brás Cubas, personagem de Reginaldo Faria).

O cinema nacional parece não acertar com frequência o tom "ideal" de suas adaptações de obras literárias. Felizmente este Memórias Póstumas sagra-se como um bom acerto, que mimetiza a obra original de Machado de Assis de maneira respeitosa e inteligente, mesmo que em função de uma maior objetividade narrativa abdique um pouco da ironia e da acidez do texto original. Contando com roteiro e direção de André Klotzel (A Marvada Carne), Memórias Póstumas mostra-se como uma comédia de época bastante requintada, dona de um andamento bastante dinâmico, de um bom elenco - onde o maior destaque encontra-se na figura do veterano e extremamente carismático Reginaldo Faria (Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia), que interpreta o fantasma de Cubas), que acaba por disfarçar alguns pequenos problemas da produção, especialmente no âmbito técnico.

Não possuo informações quanto ao orçamento disposto à produção do filme por Klotzel, mas a julgar pelas imagens e pela pouca ousadia fotográfico do filme, acredito eu que esse não tenha sido generoso, o que acarreta em certas limitações estéticas que acabam prejudicando a obra, especialmente pela mesma ser "obrigada" a utilizar muitos ambientes e planos fechados, que não exploram tão bem a espacialidade das locações. É certo que praticamente não vislumbramos com grande impacto a cidade do Rio de Janeiro do século XIX (período abordado pelo filme).

Klotzel também não traz grande ousadia em seu estilo de direção, compondo um filme com poucos momentos de brilhantismo no âmbito visual. A propósito, em alguns momentos seu modo de filmar acaba lembrando bastante a linguagem televisiva, não sendo assim estranho imaginar a obra como uma produção feita para tevê.

Mesmo que falte um pouco mais de densidade ao texto adaptado e uma maior exploração dos ambientes apresentados, sobra qualidades a Memórias Póstumas, pois este é um dos grandes filmes a tratar de uma obra de Machado de Assis, quiçá a melhor até então. Contando também com ótimo elenco de apoio, onde vale a pena destacar as performances de Sonia Braga (Gabriela), Marcos Caruso (Irma Vap - O Retorno) e Petrônio Gontijo (Cristina Quer Casar), que interpreta o jovem Brás Cubas, e com um ótimo desenvolvimento de trama - muito, como dito, graças ao carisma do narrador fantasma de Reginaldo Faria -, o filme sagra-se não só como um bom tributo a uma das maiores obras literárias em língua portuguesa, como um filme bastante único, irreverente e bem executado.

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14 janeiro, 2013

Mauá - O Imperador e o Rei (BRA, 1999).


O bacana dos bons filmes históricos é que, independentemente da realidade ser mostrada ou não, eles nos convencem de sua veracidade e nos desperta a vontade de conhecer mais acerca da personalidade ou evento abordado, buscando por informações em livros, ou seja, pesquisando, conhecendo. Contando com a direção de Sérgio Rezende (O Homem da Capa Preta), Mauá - O Imperador e o Rei é interessante do ponto de vista de resgate histórico, por discorrer acerca de uma personalidade importantíssima da história nacional, mas acima de tudo como metáfora aos nossos dias, pois os avanços técnico-científico chegaram, mas os paradigmas econômicos permanecem de forma basilar os mesmos.

Apesar de uma ou outra ressalva, gosto bastante do estilo de filmar de Sérgio Rezende, especialmente por este procurar sempre mostrar mais do que simplesmente personagens e eventos em tela, mas também criar significantes visuais, seja através de uma angulação diferenciada, seja pela presença de algum objeto que terá papel fundamental na cena em si ou em algum momento futuro. Porém, apesar da elegância de sua direção, o diretor é afeito a algumas composições de cena que lembram os recursos de tevê, o que acabam por tirar um pouco do brilho cinematográfico da obra. De resto, a condução de Rezende é de extremo bom gosto, no meio termo entre o olhar autoral e a tecnicidade convencional.

Apesar de não comprometerem, creio que os grandes nomes do elenco não são Paulo Betti (Lamarca) e de Malu Mader (Sexo, Amor e Traição), que interpretam Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá e sua esposa May, respectivamente, mas sim Antonio Pitanga (Barravento), Hugo Carvana (10x Favela - Agora por Nós Mesmos), Othon Bastos (Bicho de Sete Cabeças) e o escocês Michael Byrne (Indiana Jones e a Última Cruzada), que mesmo em papeis menores entregam atuações bastante fortes e mostram-se essenciais à narrativa do filme, pois apesar do pouco tempo de cena são norteadores das ações do Barão de Mauá.

Exceptuando a direção, talvez os maiores destaques do filme se encontrem em sua cenografia e direção de arte, a cargo de Bia Junqueira, Henrique Murthe, Tom Pye, José Joaquim Salles, Ana Anet e Emily Pirmez e no figurino (Kika Lopes, de O Palhaço), pois é graças a essas equipes de  profissionais que a imersão ao século XIX torna-se viável. Um trabalho de recriação de época e ambientação histórica que beira à perfeição. Já a trilha sonora assinada por Cristóvão Barros (Zuzu Angel) apresenta-se irregular, talvez com a síndrome de John Williams (em seus momentos de menor inspiração), visto que mostra-se exagerada em alguns momentos ou as vezes é "cortada" abruptamente entre uma cena e outra, faltando organicidade a esta junto as imagens. Nada que chegue a atrapalhar a narrativa do filme, mas certamente há algo estranho na estruturação da mesma.

Um filme no mínimo interessante, que presta tributo a uma figura importantíssima no cenário político e econômico do Brasil em formação, possivelmente um dos cânones do empreendedorismo mundial, infelizmente Mauá - O Imperador e o Rei não é um filme tão lembrado no cenário de produções de cunho biográfico nacional, mas merece a visita (ou revisita) pois mostra-se tanto como um ótimo produto cinematográfico - a bem verdade é uma superprodução para os padrões nacionais à época - quanto como veículo de resgate histórico, apresentando a história de glórias e percalços de uma importantíssima (e não tão destacada) figura histórica nacional. Bastante atual, os ideais, pensamentos e realizações apresentados no filme, mesmo que assumidamente "picado" pelo mosquito liberal (à época em seu auge), apresentam um painel curioso de como o ciclo político e os habitantes do poder impedem o progresso e a inovação por motivos escusos e mesquinhos, característica esta que, alterações à parte, mantêm-se viva e presente até hoje.

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12 janeiro, 2013

Crash - No Limite (Crash, EUA, 2005).


"Nos movendo na velocidade da luz, somos obrigados a colidir uns com os outros" (Livre tradução da frase disposta no poster oficial do filme).
Passados quase dez anos deste a feitura e lançamento do filme Crash - No Limite, é incrível e ao mesmo tempo triste o quanto este ainda reflete a imagem deturpada de ser um ser humano nesta era egocêntrica e individualista na qual passeamos. Tratando muito mais do que espelhar o racismo nascido, desenvolvido e transparecido por nós todos, o filme escrito e dirigido por Paul Haggis - até então conhecido pelo roteiro do filme Menina de Ouro - surge como um soco de realidade quando mostra sem meias palavras ou metáforas vazias o quão a hipocrisia faz parte do escopo humano, cabendo a nós termos consciência ou não   de sua existência em nossas vidas. Recheado de arquétipos mistos, sendo praticamente impossível apontar um vilão e um herói por completude, Haggis e o co-roteirista Bobby Moresco (Esquina da Máfia) evitam a todo custo cair no pedantismo ou investir em maniqueísmo, pois optam por construir personagens que espelham ao máximo os sentimentos, dogmas e paradigmas carregados por eles mesmos e, por que não, por todos nós. 

De efeito catártico, até hoje Crash - No Limite não é uma unanimidade, sendo considerado excessivo por alguns ou até mesmo excessivamente manipulador. Besteira, pois mesmo não sendo uma obra perfeita como cinema e caindo no mesmo erro de excesso de coincidências inerente a filmes com vários personagens que em algum momento são interligados uns aos outros por algum tipo de evento, a forte mensagem do filme sagra-se como de extrema importância tanto para reflexão do que temos feito, quanto daquilo que viremos a fazer. Não importa o tipo apresentado (um promotor de justiça branco, um chaveiro e ex-presidiário latino, um detetive de polícia negro, um oficial de polícia branco...), todos nos provocam momentos de catarse, pois indubitavelmente pensamos, agimos ou nos comportamos de maneira parecida com eles. É obvio que muitos momentos do filme são sensivelmente "aumentados" com a finalidade de causar maior impacto narrativo, porém o sentido continua válido e representa muito bem cada um de nós como indivíduos falhos e possivelmente perdidos numa sociedade estruturada com o slogan da insaciedade infinita.

Tecnicamente não vejo muito o que destacar no filme. Com pouco orçamento, percebe-se que muito foi feito nas coxas, utilizando iluminação natural e pouca elaboração em termos de planos e enquadramentos. Há uma óbvia linguagem documental no filme, o que acrescenta bastante em termos de verosimilhança ao mesmo. Entretanto, apesar de não chamar muito a atenção, algumas escolhas de Haggis são interessantes, como a de mediar o nível social da personagem abordada através do posicionamento de câmera - é notável que vemos o chaveiro, personagem de Michael Peña (Marcados para Morrer), num ângulo abaixo da personagem de Sandra Bullock (Um Sonho Possível), por exemplo, em razão de sua "inexpressividade" no momento. Tal técnica é utilizada em outros momentos, realçando a visão das personagens perante as outras, estabelecendo assim uma óbvia distinção sócio-racial. A música do filme também é bem posto, sendo bastante utilizada nos momentos de maior importância do filme, ampliando no limite o tom de emoção a ser despertado no espectador. Apesar de não ser diferenciada, a trilha de Mark Isham (A Morte Pede Carona) apresenta-se como fundamental neste sentido.

Para um filme com roteiro tão forte funcionar é necessário que seu elenco esteja nivelado ao mesmo e certamente algo que não se pode criticar é o desempenho e a qualidade dos nomes distribuídos à trama de Crash - No Limite. Sem contar com um protagonista - a bem verdade, talvez a personagem mais presente durante toda a jornada abraçada pelo filme seja a cidade de Los Angeles, a grande testemunha de todas as tragédias e gritos de esperança soltados pelas personagens -, fica difícil apontar destaques, pois o elenco como um todo mostra-se equilibrado em qualidade e performance. Entretanto, arriscaria pontuar aqui os nomes mais óbvios, como Terrence Howard (Homem de Ferro), Thandie Newton (Missão: Impossível 2), Don Cheadle (O Guarda), Brendan Fraser (O Americano Tranquilo), Ryan Phillippe (Repórteres de Guerra), Matt Dillon (Vidas Sem Rumo) - único membro do elenco indicado ao Oscar por sua atuação no filme -, além dos anteriormente citados Michael Peña e Sandra Bulllock. Não que o restante do elenco mostre-se abaixo destes citados, mas é certo que estes - talvez pela carga dramática de suas personagens - se destacam um pouco mais.

Vencedor do Oscar de melhor filme em 2006, derrotando favoritos como O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee e Munique, de Steven Spielberg, Crash - No Limite é tido até hoje como um grande azarão, pois muitos consideravam o filme de Ang Lee não apenas superior, mas também um tanto mais importante paradigmaticamente falando do que Crash. Conservadorismo à parte da academia (o que é uma verdade, pois não havia tanto o que se fazer neste ano, já que todos os cinco filmes indicados possuíam  conteúdo bastante acido), confesso que ao rever o filme após tantos anos já não sei  se o consideraria meu preferido à premiação (os dois filmes citados me são bastante caros), pois apesar de reconhecer a importância (e ousadia) temática do filme, não o acho uma grande obra tecnicamente falando, ainda mais em comparação aos demais candidatos (talvez Crash seja, entre todos, o mais pobre neste sentido). Mas, polêmicas à parte, tenho ele como um grande filme, guardião de uma mensagem importantíssima, além de apresentar uma rara coragem narrativa, pois apesar de sugerir contornos de mudanças de caráter e postura em alguns personagens e despertar certo otimismo - após uma miríade de eventos no mínimo perturbadores e depressivos -, mantém o senso de "realidade" ao ser encerrado com mais uma colisão (dessa vez física), que dá prosseguimento ao ciclo sem fim de conflitos e desentendimentos tão presentes em nossas vidas. Infelizmente.

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