30 setembro, 2012

O Juiz (Judge Dredd, EUA, 1995).


"No futuro, um homem é a Lei". (Chamada do cartaz promocional do filme).
Há claros pontos positivos e pontos negativos em O Juiz, primeira adaptação das histórias em quadrinhos de Juiz Dredd para o cinema. O aspecto visual (cenografia e efeitos especiais), por incrível que pareça - a produção data de 1995 - continua eficiente, mesmo que seja um tanto quanto "limpo" demais para a proposta de futuro apresentada no texto que introduz o filme. No entanto, o figurino é digno de risadas, pois mesmo que o mesmo tente manter-se fiel ao visual dos quadrinhos, não dá para simplesmente transpor totalmente uma mídia à outra. Resultado? Power Rangers 2.0. Ou seja, mesmo que alguns elementos visuais chamem atenção, a obra acaba sendo auto-sabotada pelo excesso de elementos "bregas", que acabam por tornar o filme com mais cara de cosplay do que de realidade alternativa futura.

Afora o visual, o que realmente desfavorece O Juiz é seu roteiro, mas não somente a história em si, que mesmo boba, rende um ou outro momento interessante, mas sim a forma de abordagem do mesmo. Os roteiristas Michael DeLuca (À Beira da Loucura), William Wisher Jr. (O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final) e Steven E. de Souza (O Sobrevivente) acabaram escrevendo um filme um tanto quanto satírico, de atuações exageradas e violento e infantil ao mesmo tempo, resultando num produto incongruente e, mesmo que divirta em alguns momentos, frágil. Também não ajuda o fraco desempenho do diretor Danny Cannon (Gol), que aparentemente age como um simples reprodutor das "normas do cinema de ação genérico" e não emprega nenhuma marca própria ou conduz uma cena mais ousada. Vendo filmes como este, onde uma premissa de futuro distópico e violento é apresentada através de um festival de tiradas cômicas e um Sylvester Stallone (Os Mercenários) usando lentes de contato sem nenhuma explicação lógica - e não cabe o argumento de que isto foi feito para criar uma relação com Rico, personagem do francês Armand Assante -, sinto ainda mais saudades da época em que este tipo de projeto era entregue a mãos de caras como Paul Verhoeven e David Cronenberg, por exemplo.

Na maior parte do tempo uma comédia de humor involuntário (isso mesmo), O Juiz pode ser visto como um entretenimento razoável se você não se importa com o cenário político-social que em "teoria" envolve aquele universo, mas nada justifica o desperdício de um ator do porte de Max Von Sydow (Hannah e suas Irmãs) num papel tão inexpressivo narrativamente e a utilização de Rob Schneider (Gigolô por Acidente) como "parceiro" involuntário de Stallone (que, por sinal, interpreta Juiz Dredd). 

Comparado a recente versão cinematográfica do personagem, O Juiz perde em todos os sentidos, especialmente no quesito fidelidade, não só a proposta da obra original, mas também a proposta lançada pelo próprio filme nos créditos iniciais. Sylvester Stallone acaba interpretando um Dredd cheio de frases de efeito e bicos, com um interesse amoroso (Diane Lane, de Infidelidade) que nunca convence. Ou seja, apesar de não ser uma obra horrorosa, a maior qualidade de O Juiz recai no inusitado caráter B que a obra alcançou ou na malfadada aura cômica que entrecorta todo o filme. E quanto ao fato de Dredd passar cerca de 80% do filme sem o capacete, paciência.

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29 setembro, 2012

A Identidade Bourne (The Bourne Identity, EUA, 2002).


"Ele foi a perfeita arma até virar alvo". (Chamada do poster promocional).
E pensar que já se foram dez anos deste o lançamento deste A Identidade Bourne. Filme "despretensioso" que se tornou um dos maiores sucessos do gênero dos anos 2000 e talvez a maior referência para os filmes que viriam depois, esta produção que sedimentou de vez o nome de Matt Damon (Compramos um Zoológico) como astro de primeira categoria continua um thriller de espionagem eficiente, dono de algumas das melhores cenas de ação em anos e com uma história envolvente e dotada de inteligência, que enfoca nos primeiros passos de redescoberta do agente desmemoriado Jason Bourne (Damon).

Dirigido por Doug Liman (Sr. e Sra. Smith), até então conhecido por seu trabalho no filme cult Swingers, A Identidade Bourne continua um entretenimento estupendo, daqueles que desde a década de 1970 não se via, visto que é caldado no "realismo", não nivela por baixa e aposta no raciocínio rápido do espectador e apresenta elementos vários do que posteriormente viriam a formar a mitologia Treadstone da franquia Bourne. O que dizer das coreografias das sequências de ação? Talvez não sejam tão marcantes quanto as das sequências, mas é inquestionável que sedimentaram um estilo que viria a ser continuamente imitado e/ou reproduzido por diversos outros longas, inclusive "inspirando" a renovação da franquia do agente britânico 007, já que o filme Cassino Royale, lançado em 2006, guarda óbvia influência - no que se refere a concepção das cenas de ação - da franquia Bourne.

Outro elemento brilhantemente empregado por A Identidade Bourne é o som. É certo que os aspectos primeiramente notados num filme de ação são de ordem visual - caracterização, efeitos, fotografia etc. -, entretanto a mixagem e edição de som são de grandíssima importância para a total imersão do espectador na cena apresentada, e neste sentido é praticamente impossível não notar a miríade de sons detalhados que aparecem durante a apresentação de cada uma destas cenas, principalmente na clássica cena de perseguição ao mini-cooper pelas ruas de Paris. Falando nesta cena, é certo que a mesma continua deslumbrante, mas senti uma certa "lentidão" na mesma, especialmente na colisão de veículos, que em nada atrapalham a eficiência da mesma, mas que pode ser destacada com um dos elementos que talvez - eu disse talvez - tenham envelhecido (cabe a você, como espectador, avaliar isto como um aspecto negativo ou não ) com o passar do tempo.

É claro que um filme não se sustentaria como referência após uma década se não possuísse atrativos além das deslumbrantes cenas de ação e A Identidade Bourne os possui. Desde o roteiro bem-amarrado e intrigante escrito por Tony Gilroy (Conduta de Risco) e William Blake Herron - inspirado na obra original do romancista Robert Ludlum -, da direção precisa do se não genial, com certeza competente Doug Liman e da qualidade do elenco, que transformam os arquétipos de seus personagens em personas tridimensionais e interessantes. E, quando destaco o elenco do filme não me refiro apenas a Matt Damon e Franka Potente (Corra, Lola, Corra), os protagonistas da trama (que fazem um ótimo trabalho, especialmente o primeiro que surpreende positivamente como herói de ação), mas sim as ótimas participações de gente do alto gabarito como Chris Cooper (Beleza Americana), Brian Cox (X-Men 2), Clive Owen (Closer - Perto Demais) e Julia Stiles (10 Coisas Que Odeio em Você), com destaque aos dois primeiros, que saltam faíscas dos olhos sempre que estão frente à frente.

Entretenimento inteligente, mas que nunca soa pretensamente intelectualizado - apesar de exigir bastante atenção do espectador -, A Identidade Bourne é talvez o filme mais conhecido de Matt Damon, com certeza o melhor trabalho de Doug Liman como diretor (até então), mas acima de tudo uma prova viva de que há como alinhar diversão e coerência num produto, sem fazer grandes concessões ou apelar para tramas excessivamente mastigadas e fazer sucesso comercial, que o diga os mais de 200 milhões de dólares arrecadados pelo filme (contra um orçamento de aproximadamente 60 milhões). Por fim, A Identidade Bourne passou de uma boa surpresa para primeiro passo para a realização de uma das maiores trilogias da história do cinema (e não só do gênero ação).

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Texto sobre A Supremacia Bourne (2004)
Texto sobre O Ultimato Bourne (2007)
Texto sobre O Legado Bourne (2012)
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28 setembro, 2012

Eu e Meu Guarda Chuva (BRA, 2010).


Integrante do projeto Cine Cesi Cultural no Interior, o filme infantil Eu e Meu Guarda Chuva, que marca a estreia na direção de Toni Vanzolini, é um filme bacana, criativo e inspirado, que vez ou outra deslumbra uma "nova" pegada para o gênero - no que se refere à Brasil -, mas que acaba sofrendo pelo fraco elenco infantil e, consequentemente, pela frágil direção de atores de Vanzolini. Vindo do departamento de arte de filmes como Eu, Tu, Eles e O Homem do Ano, o diretor estabelece um visual interessante e adequado ao filme, apostando muito nos tons azulados - que lembram um pouco a paleta de cores da franquia Harry Potter -, contribuindo para a efetividade do clima de suspense e aventura que a trama pede. No entanto, apesar destes cuidados e de contar com um elenco de apoio respeitável - com destaque para a caracterização do veterano Daniel Dantas (Sonhos Roubados), como o vilanesco Barão Von Staffen (que possui um visual parecido com o de Conde Olaf, do filme Desventuras em Série) -, o trio de protagonistas  formado por Lucas Cotrim, Rafaela Victor e Victor Froiman (este principalmente) comprometem um pouco, visto que são raros os momentos de segurança e convencimento que esses passam.

Apesar deste detalhe, Eu e Meu Guarda Chuva tem tudo para agradar a criançada, especialmente àqueles que como eu - na minha infância - adora filmes com toques de mistério e aventura, onde a batalha contra os próprios medos apresentam-se como tema principal. Com um estilo que se encaixa em qualquer sessão da tarde, este filme adaptado da obra homônima escrita a seis mãos por Branco Mello (conhecido como vocalista dos Titãs), Hugo Possolo e Rico Lins é um bom produto para a criançada, com poder de imersão e bastantes elementos lúdicos, possui uma trilha sonora que lembra um pouco os temas de Danny Elfman feitos para os filmes de Tim Burton e um visual interessante, mesmo que este se sobressaia bem mais em relação as atuações. Enfim, o filme é bacana, mas particularmente senti mais emoção por estar cercado por algumas crianças que realmente mostravam-se fascinadas com a grande e mágica tela de cinema - muitas destas provavelmente tendo esta como primeira experiência - do que pelo filme em si, mesmo que esse não seja um trabalho ruim.

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27 setembro, 2012

Má Companhia (The Merry Gentleman, EUA, 2009).


Má Companhia marca a estreia do ator Michael Keaton (Os Fantasmas Se Divertem) como diretor de cinema, e o mesmo mostra bastante desenvoltura e conhecimento por trás das câmeras, conduzindo este filme participante do festival de cinema de Sundance de 2008 com propriedade. Pena que o roteiro de Ron Lazzaretti não desperte tanto envolvimento, sendo bem construído, mas sem gerar muito interesse durante o caminhar da trama. 

Estrelado pelo próprio Keaton, juntamente pela então recém "descoberta" Kelly Macdonald (Onde os Fracos Não Tem Vez), o filme acompanha as trajetórias de um assassino com dilemas internos (nunca explicados) - personagem de Keaton - que o levam a pensar continuamente em suicídio e de uma uma mulher (Macdonald) que fugiu de casa devido aos atos de violência do marido. Devido ao "acaso", os dois se encontram e passam a gerar sentimentos de significância um para o outro, construindo assim uma relação narrativo-cinematográfica interessante, especialmente pelo contraste formado pelo calado, porém sempre solícito e amável personagem de Keaton e pela doce e muitas vezes inocente personagem de Macdonald. Contudo, apesar de carregar uma boa bagagem de discussão e exposição acerca das improbabilidades que envolvem os inter-relacionamentos humanos, a obra parece nunca engrenar, sair da mesmice ou apresentar uma grande virada, resultando linear demais, o que acaba por não provocar um grande envolvimento para com o que é apresentado.

Tanto Michael Keaton quanto Kelly Macdonald estão bem em seus respectivos papeis, além de apresentarem uma boa química, transmitindo uma boa credibilidade para seus personagens. A fotografia do filme não chama tanta atenção - o que de forma alguma é demérito -, mas Chris Seager (Vozes do Além) e Keaton apresentam uma ou outra tomada mais elaborada, especialmente ao apresentar o personagem deste último muitas vezes próximo a um espelho, numa tentativa de sempre apontar a índole dúbia deste e a a suposta busca de redenção através do já citado suicídio. É óbvio que Má Companhia é uma produção de orçamento baixíssimo, mas que utiliza todos os recursos (financeiros e cinematográficos) possíveis para criar a ilusão de ser maior do que é, sendo bem sucedido neste sentido, especialmente pela opção de apresentar um ou outro plano aberto da cidade de Chicago, nos Estados Unidos.

Apesar de não ser um filme dinâmico e não oferecer uma trama que tenha aquele tipo de qualidade para despertar o interesse imediato do espectador, Má Companhia representa uma estreia promissora de Keaton como diretor, confirma o talento da escocesa Macdonald como atriz e é um bom filme, de objetivo despretensioso e com uma boa qualidade humana, mesmo que vez ou outra o tema principal do filme (a cargo de Jon Sadoff, de Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo) cansar um pouco devido ao número de vezes em que aparece durante o mesmo.

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24 setembro, 2012

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas (Pirates of the Caribbean: On Stranger Tides, EUA, 2011).


Sei que parece um contrassenso, visto que Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas foi dono de uma das maiores arrecadações de bilheteria no ano passado, mas confirma um certo cansaço à  bilionária franquia, que tem neste quarto capitulo não um filme com começo, meio e fim, mas uma sucessiva coleção de cenas de ação que vão ordenando a trama, sem que necessariamente tais cenas tenham um sentido lógico ou "motivacional" a jornada sugerida pelo filme. Johnny Depp (A Hora do Pesadelo) continua dominando quando em cena, conquistando sobretudo pelo carisma empregado ao seu personagem, o mais querido dos piratas do cinema, Capitão Jack Sparrow, só que o ator, mesmo entregando justamente aquilo que os fãs esperavam, não apresenta uma evolução ao personagem, apresenta mais do mesmo, sem nenhuma inovação válida. Portanto, mesmo vez ou outra fazendo rir, Sparrow parece estar perdendo a graça, pois piadas e situações cômicas mais eficientes já foram apresentadas nos demais filmes da franquia, especialmente no capítulo original.

Sem Gore Verbinski (Rango) na direção e as presenças de Orlando Bloom (O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel) e Keira Knightley (Desejo e Reparação), o comando da produção acabou nas mãos de Rob Marshall (Chicago), mais conhecido pela direção de musicais, mas que aqui realiza um trabalho correto, mesmo que conduza um roteiro um tanto quanto apático e que não empregue nenhuma técnica distinta àquelas já vistas nos demais filmes da série Piratas do Caribe, tornando difícil para o leigo reconhecer a troca de diretores entre os filmes anteriores e este. Praticamente focado exclusivamente em Jack Sparrow, o roteiro que lida com a busca pela fonte da juventude, escrito por Ted Elliott e Terry Rossio,  não é dos melhores, visto que aplica a discutível tática das coincidências e atropela cenas de ação simplesmente pela ação durante quase todo o filme, tornando-o, ao meu ver, um tanto quanto enfadonho e inchado demais. São quase duas horas e meia de explosões, duelos de espadas, criaturas mitológicas e piadas desconcertantes de Jack Sparrow, ou seja, uma coleção com mais do mesmo, só que agora bem menos interessante.

Com a saída de Bloom e Knightley, temos aqui algumas presenças novas, como as de Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona), que se sai bem como uma bucaneira e ex-amante de Jack Sparrow, Ian McShane (Scoop, o Grande Furo) no papel de Barba Negra, que não faz feio, mas seu personagem é mal desenvolvido e Sam Clafflin (Branca de Neve e o Caçador), talvez um dos personagens mais desnecessários do longa, visto que serve primeiramente como condutor moral dentro do antro de imoralidade pirata (descartável) e, com o andar da carruagem, como "alívio amoroso" (termo esquisito, eu sei) ao filme, já que protagoniza uma subtrama de romance com uma sereia (em teoria maligna), num arco dramático mais do que descartável. Logo, vê-se que a troca de coadjuvantes não foi assim tão eficiente, muito graças ao péssimo desenvolvimento dessas personagens pelos roteiristas e pela má utilização dos mesmos por Rob Marshall. É certo que, dentre grandes desperdícios, o maior destaque não está nem mesmo no Jack Sparrow de Johnny Depp, mas sim na presença engraçadíssima e debochada de Geoffrey Rush (Shakespeare Apaixonado), mais uma vez vivendo o Capitão Barbosa.

Piratas do Caribe: Navegando em Águas Perigosas não é um filme ruim, mas não traz novidades, não possui grande criatividade e se alonga demais em tão pouca história, além de chegar a cansar pelo excesso de sequências mirabolantes de ação (muitas destas sem-sentido algum), sendo visto assim como um filme grandioso, dono de figurinos, direção de arte e efeitos especiais e visuais muito bem acabados, mas que cansa e causa menos furor e adrenalina do que obviamente era pretendido, não soando tão histérico e irritante como o segundo filme da franquia, O Baú da Morte (para mim o pior), mas também não tão fresco, interessante e divertido quanto o original, A Maldição do Pérola Negra. É quase certeza que, após arrecadar mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo (curiosamente, apenas cerca de 20% desse montante veio dos Estados Unidos, o que para uma produção do gênero é absurdamente surreal, já que geralmente o país natal do consumo é responsável por pelo menos 50% da arrecadação total de seus títulos) teremos uma nova continuação (ainda mais com o "estardalhaço" do 3D), contudo meu interesse para com a franquia já ultrapassou as águas perigosas e agora encontra-se dentro do baú da morte, lá no fim do mundo (sacou?).

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Texto sobre Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003)
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23 setembro, 2012

Dredd (ING/AFS, 2012).

"O julgamento está chegando". (Chamada do cartaz oficial do filme).
 
Antes de mais nada, é válido começar afirmando que Dredd é uma grata surpresa. Apesar de ser mais uma adaptação de um personagem de histórias em quadrinhos, o filme não guarda nenhuma relação com as produções baseadas em personagens da Marvel e da DC saídas nos últimos anos. A HQ na qual o filme tem como base nem de longe pode ser classificada como de "super-herói", visto que o grande mote dela é a exposição de um futuro tenebroso para a humanidade, num momento onde a violência é dominante e para "acelerar" o processo de "justiça" foi instituída a figura do juiz de rua, que possui carta branca para prender, julgar e sentenciar. A história de Dreed - um dos dos juízes - já fora adaptada anteriormente ao cinema, para muitos um filme horroroso (nunca assisti) e um dos piores da carreira do astro Sylvester Stallone (Os Mercenários).
 
No entanto, aparentemente este Dreed é bastante fiel à fonte original, trazendo o "vigilante" de capacete agindo em Mega-City One, uma das únicas cidades existentes nos Estados Unidos após uma hecatombe nuclear que dissipou grande parte da população (e a cidades também). A população vive enfurnada numa cidade cercada de paredões e a violência urbana chegou a níveis inconcebíveis, lembrando até mesmo uma extensão da Detroit de RoboCop. É neste ambiente inóspito e sujo que a trama de Dredd se passa e se não há grandes reviravoltas ou um enredo revolucinário, é justamente na simplicidade e na exposição da violência como crítica mordas aos nossos dias de cinismo e hipocrisia que o filme ganha sua força.
 
Estrelado por Karl Urban (O Senhor dos Anéis: As Duas Torres), Olivia Thrilby (Juno) e Lena Headey (série Game of Thrones), o filme escrito por Alex Garland (Extermínio) é um ótimo filme de ação, com um visual marcante, ambientação crível e toneladas e toneladas de sangue e corpos. Garland equilibra bem a crítica social com doses cavalares de entretenimento, construindo assim um roteiro que se não originalíssimo, surge bem compactado e honra com folga a proposta abraçada. Quanto ao elenco principal, Urban aparece surge bem como protagonista, demonstrando força e carisma (mesmo com 2/3 de seu rosto coberto) e convençe como um policial/juiz um tanto quanto sádico, só que em alguns momentos sua cara de mau chega a cansar um pouco (precisava mesmo ficar esticando a boca toda hora?), Thrilby dá um toque de suavidade e inocência a esta filme um tanto quanto pesado e masculino a sua personagem, que a bem verdade serve apenas como olhos do espectador neste ambiente até então desconhecido, mas é Heady quem realmente surpreende, visto que constroi uma vilã interessante (não no sentido de profundidade, pois a mesma não possui) e ameaçadora, especialmente por contrapor a aparência rústica com uma tonalidade de voz suave e até mesmo um tanto apagada. Uma grande composição da atriz para a antagonista do juiz.
 
O diretor Pete Travis (Ponto de Vista) traz em Dredd algumas sacadas muito criativas, como a utilização de um "poético" e super-estilizado slow-motion  que surge como representação dos efeitos alucinógenos de uma poderosa e novíssima droga, uma rara utilzação interessante de sangue virtual (não há como ficar tão quanto o "verdadeiro", mas o desse filme é muito mais eficiente do que o de Os Mercenários 2, por exemplo), além do bom trabalho de composição visual  e de condução das cenas de ação, que dominam praticamente todo o filme. É certo que o filme tem poucos memomentos que expõem a geografia de Mega-City One, já que a maior parte de suas cenas são ambientadas dentro de um prédio/bairro (outra ideia bacana de Travis, Garland e cia.), mas o andamento da obra chama tanta a atenção que a curiosidade acerca de que é a cidade acaba sendo deixado de lado. Destaco também a trilha sonora sintetizada doe escocês Paul Leonard-Morgan (Sem Limites), que lembra um pouco as músicas de Tron, o Legado, só que numa versão bem "suja".
 
Apesar da violência ser o mote principal em Dredd, ela integra o filme de maneira orgânica, sem apelar de forma desnecessária ou sem motivação aparente. Ela provoca sentimentos de choque e repulsa, o que por si já torna o filme atraente, visto que nesses dias está cada vez mais comum vermos filmes que despejam litros de sangue em tela, mas que o fazem com o intuito de provocar risos, de gerar comoção, o que acaba por banalizar não só a violência enquanto ficção, mas podendo até mesmo interferir na percepção acerca dela na vida real.
 
Não conferi Dredd em 3D, mas confesso que não senti falta. Um bom filme de ação, dono de uma abordagem e de um visual interessante, bem-realizado e que resgata um pouco do conceito dos filmes de ação e ficção-cietífica da década de 1980, como Blade Runner, o Caçador de Androides e o já citado RoboCop, visto que apesar de ter como meta número um entreter através de elementos de ação, possui identidade e, mesmo que através de sutilezas do desenho de produção e de pontuais elementos dispistos no roteiro, apresenta uma discussão mais elaborada e passa uma mensagem crítica sobre a sujeira, ambição e fúria cega do ser humano que já foi explicitada diversas vezes por outras obras, mas que não deixa de ser interessante receber este tipo de lembrete novamente.
 
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21 setembro, 2012

O Palhaço (BRA, 2011).

"O gato bebe leite, o rato come queijo. E eu... eu sou palhaço". (Puro-Sangue, personagem de Paulo José).
O Palhaço presta homenagem a uma arte cada vez mais distante do cotidiano do brasileiro, oferece um retrato de esperança e apresenta a luta cotiano do ser humano, conta a crônica do homem comum e, acima de tudo, nos apresenta a história de um palhaço que fazia seu público rir, mas sentia a óbvia necessidade de que alguém tirasse um riso dele. Uma obra que soa bucólica, tão próxima àqueles que como eu já de depararam com causos do interior e especialmente com circos mambembes interior a fora, mas que também traz em meio aos rompantes de alegria muita melancolia e tristeza. Recentemente indicado como representante brasileiro para a seletiva dos filmes estrangeiros a concorrer o Oscar na categoria, O Palhaço é uma grata surpresa, não por uma possível desconfiança acerca do talento e competência do aqui diretor e ator Selton Mello (Lavoura Arcaica) e sua equipe, mas sim por apresentar mais do que seria esperado de uma produção onde o foco reside no circo e principalmente na figura do palhaço, tridimensionalizando de forma única e delicada a história de um homem que descobre a si mesmo.

Em meio a tantos destaques não há como não apontar a deslumbrante fotografia a cargo de Adrian Teijido (minissérie Capitu), que capta beleza única através de tomadas que contrapõem o "maquinário" do circo em  êxodo constante as paisagens as das cidadezinhas por onde esse passa, de forma a destacar não só os detalhes mínimos de cada um dos membros da trupe circense, mas também as cores, tons e, por que não, sons em forma de imagem de cada um destes lugares. Falando em som, também marca a trilha sonora de Plínio Profeta, que pontua o filme de cabo a rabo apenas com sons e instrumentos relacionados as marchinhas e temas circenses. Sendo assim, é fácil perceber que tanto visualmente como sonoramente O Palhaço é brilhante.

Selton Mello, em sua segunda investida como diretor, realiza um trabalho primoroso neste filme, aplicando o tempo necessário para que a narrativa seja desenvolvida e apresentando com carinho e ponderação cada um dos diversos personagens que perpassam a obra, mas é no posto de ator que Mello brilha mais, especialmente por empregar ao seu personagem, o palhaço Pangaré/Benjamin uma forte dose de fragilidade, cansaço e um peso incomensurável em suas costas, percebidos na forma com que entona as palavras, na postura, no olhar e nas expressões faciais, que vão de encontro ao mesmo quando no palco, pois profissional que é mostra vivacidade e disposição, cumprindo plenamente o seu papel, o de fazer rir. Com certeza uma das melhores composições/interpretações da carreira de Selton Mello.

O restante do elenco não fica para trás e tem como principal fio condutor e a experiência, carisma e competência habitual do mestre Paulo José (Saneamento Básico: O Filme), que interpreta o pai de Benjamin, dono do circo e também palhaço Puro-Sangue/Valdemar. José não tem tanto tempo de tela quanto Mello, mas sempre que aparece chama a atenção por sua entrega e brilhantismo, demonstrando bastante energia mesmo no auto dos seus 75 anos e responsável por pelo menos uma cena de partir o coração. O elenco de apoio é formado basicamente por atores não muito conhecidos, como Renato Macedo, Giselle Motta, Larisa Manoela, Erom Cordeiro, Thogun, Teuda Bara, Cadu Fávero, Tony Tonelada e Álamo Facó, todos companheiros de circo, além das pontas de Tonico Pereira (Redentor), Jackson Antunes (A Festa da Menina Morta), Jorge Loredo (Chega de Saudade) e Moacyr Franco, sendo que este acabou agraciado com o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Cinema de Paulínia, em 2011.

Filme intimista, com forte teor humano e que acaba por resgatar elementos de um Brasil pouco abraçado no momento, O Palhaço é um filme bonito, de ideias claras e promotor de emoções, mais denso e tristonho do que o previsto, mas consequentemente mais forte e instigante. Selton Mello estrou como diretor com o filme Feliz Natal, um drama familiar pesado e um tanto quanto indigesto, o que não o torna um filme ruim, mas ao meu ver é com O Palhaço que o originalmente ator tem seu melhor resultado como cineasta. Como dito acima, a obra foi a escolhida para tentar obter uma das vagas para a indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar do ano que vem. Não sei ao certo se foi uma boa escolha ou não no que se refere a possibilidade vitória na premiação, já que mesmo sendo um filme estupendo, traz fortes características intrínsecas a nossa realidade, aspecto este que pode não ser bem aceito pelos avaliadores norte-americanos. Mas, indicação à parte, o certo é que o filme é uma obra magistral e é plenamente merecedora de ser o representante brasileiro na corrida a um possível Oscar.

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V de Vingança (V for Vendetta, EUA, 2006).


"Você usa tanto uma máscara que acaba esquecendo quem você é".
"Por trás desta máscara há mais do que carne e sangue; por trás desta máscara há uma ideia, e as ideias são à prova de balas". (V, interpretado por Hugo Weaving).
Mais do que um filme de óbvios contornos políticos e filosóficos, V de Vingança é um filme sobre identidade. Contudo, não me refiro a identidade de caráter personalíssimo, individual, mas sim a identidade ligada à liberdade, a possibilidade de escolha, a honra a própria moral, em suma, ao caráter intrínseco ao indivíduo, sem amarras partidárias, sem apartes raciais, sem viseiras quanto ao ser e quanto ao exercer. Adaptação de uma graphic novel lançada na década de 1980, escrita pelo inglês Alan Moore (mesmo autor da obra-prima Wacthmen e que renega qualquer uma de suas obras adaptadas) e ilustrada pelo também inglês David Llloyd, o filme V de Vingança é um raro acerto no espectro dos blockbusters hollywoodianos, visto que é um filme de conceitos (questionáveis ou não) "fortes" e "pesados", de âmbito altamente reflexivos, mas que não deixa de funcionar como uma peça de entretenimento e se vês ou outra acaba pecando pela tentativa um tanto quanto forçada de tornar-se um produto mais estilizado e próximo as convenções "atuais" no que se refere aos filmes de verão do seu escopo pede, não deixa de encontrar-se como uma das grandes surpresas do gênero e uma obra que mantém-se interessante e atual até hoje (a exemplo da graphic novel que o originou), mesmo que não seja perfeita.

Projeto dos sonhos dos irmãos Wachowski - para quem não sabe os criadores de Matrix -, o filme tem estes apenas como roteiristas e produtores, visto que a direção acabou ficando nas mãos do até então marinheiro de primeira viagem James McTeigue (O Corvo). Obviamente que muito da pegada e estilo que os Wachowski desenvolveram em sua carreira estão impressos em V de Vingança, o que à época do lançamento do filme gerou muita polêmica acerca de se esses teriam dirigido ou não a produção. Intrigas a parte, é certo que McTeigue (que antes do filme fora assistente de direção da trilogia Matrix, por exemplo) carrega uma influência narrativa dos Wachowski muito forte, seja na composição das cenas ou na opção pelos cortes rápidos, mas principalmente na "homenagem" ao antes revolucionário efeito bullet-time empregado no clímax deste filme, o que ao meu ver destaca um trisco de imaturidade e falta de identidade do diretor, sendo uma sequência dramaticamente e narrativamente vazia à proposta vendida pelo filme até então. Há quem diga que tal cena fora uma imposição dos produtores. Sendo ou não, para mim é inegável que fez mal à obra.

O filme traz como personagens principais Evey (Natalie PortmanCisne Negro), órfã que nutre certo descontentamento com política atual da Inglaterra apresentada no filme (a trama se passa num futuro distópico, tendo uma sociedade dominada por um governo totalitarista) e V (Hugo Weaving, Capitão América: O Primeiro Vingador), um até então desconhecido terrorista que utiliza uma máscara que estampa o rosto de Guy Fawkes, historicamente conhecido como o sujeito que tentou explodir o parlamento inglês no século XVII, na noite de 5 de novembro, data esta altamente representativa para o personagem título. Como uma obra com caráter de debate político-social e dona de contornos de distopia futurista, obviamente muito mais é exposto e discorrido no e pelo filme, entretanto o elo entre estas duas personas pode ser considerado como o coração da obra.

Mesmo com a trama sendo o grande chamariz do filme, não há como não destacar o trabalho dos atores envolvidos, até por que muito da credibilidade vendida pelo filme depende da competência desses. Contando com alguns bons nomes do cinema britânico, como o veterano John Hurt (Hellboy), Tim Piggot-Smith (Alice no País das Maravilhas), Stephen Fry (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), Roger Allam (Speed Racer) e Stephen Rea (Traídos pelo Desejo), mais uma vez com sua expressão de cansaço. Natalie Portman também se destaca, principalmente pela entrega a personagem, mas para mim o grande nome do filme é Hugo Weaving, que transmite uma miríade de sentimentos empregando apenas a modulação de voz e uns poucos gestos, construindo um personagem não menos do que interessante e de cerne trágico.

No quesito técnico, V de Vingança, apesar de não ser um mar de criatividade, é bem acabado e funciona muito bem. Cenograficamente o filme funciona, principalmente devido ao bom trabalho de Owen Paterson (Matrix), que consegue estabelecer um ambiente distante, mas não tanto, dos nossos dias. A fotografia de Adrian Biddle (Aliens, o Resgate), apesar de não surpreender, cumpre bem seu papel de destacar a realidade do filme e estabelecer as semelhanças e diferenças entre as duas caras do filme, personalizadas pelos personagens de Portman e Weaving. Falando nisso, é bacana o número de inferências visuais estabelecidas por James McTiegue e sua equipe, no que se refere a contraposição dessas personagens citadas. Seja logo no início do filme, quando acompanhamos ambos em ambientes distintos mas praticamente completando as ações um do outro, plantando a ideia de que esses desenvolveriam uma relação quase que simbiótica um com outro e atingindo seu ápice quando são confrontadas a imagem de V num ambiente onde o fogo predomina com a imagem de Evey sob uma chuva torrencial, sedimentando a ideia de que ambos, V e Evey, nada mais são do que iguais, dois lados de uma mesma moeda.

Inquestionavelmente político, V de Vingança aborda o espectro da intolerância, do medo e do cerceamento da liberdade de maneira tão visceral que acaba por ecoar até mesmo em nossa sociedade ocidental atual, onde mesmo sob a égide do regime democrático, vez ou outra acaba tomando rumos ou ações que vão de encontro ao próprio cerne de "governo do povo", para a mais do que batida assertiva "governa o povo". Ideologicamente, concordando ou não com as ideias propagadas, o filme é bastante coerente, o que pode acabar por incomodar alguns ou até mesmo criar pensamentos distorcidos em outros, até por que apesar dos elementos óbvios de terrorismo impregnados à trama, não é esta a bandeira disposta pela obra.

Conteúdo e discussão à parte, acredito eu que o que acaba por fragilizar um pouco a obra como um todo é a opção estética de algumas cenas de ação - àquelas que emulam o efeito Matrix -, que tendem a desviar o foco de atenção do filme para algo no mínimo dispensável e a opção dos Wachowski por criar uma espécie de virada no personagem V, quando este no clímax do filme praticamente abandona sua missão maior de liberdade e parte apenas para o desfecho de sua vingança pessoal, que não deixa de ser importante para o personagem, contudo era apenas mais uma engrenagem dentro do grande estratagema desenvolvido pelo mascarado por mais de dez anos. Para mim, ao dar "de presente" a responsabilidade a Evey, to o conceito vendido ao espectador de que "por trás da máscara não existe carne ou sangue, mas sim uma ideia" é diluído consideravelmente, visto que as duas "missões" não seriam necessariamente excludentes.

V de Vingança é um filme no mínimo chocante, que consegue entreter ao mesmo tempo em que desperta reflexões várias, seja no âmbito político-social, seja acerca das idiossincrasias do homem. Apesar de ter sido vendido como um filme de ação, mesmo com um forte cunho político, o grande barato da obra encontra-se na qualidade dos seus diálogos (por sinal, nada fáceis) e no estabelecimento de um cenário tanto encantador (no sentido estético, não conceitual) quanto reconhecível, especialmente pelos óbvios paralelos a eventos vindos da nossa história, como os regimes totalitaristas (fascismo e nazismo) e o período da administração de Margareth Thatcher como I Ministra do Reino Unido, nos anos 1980 (referência esta uma das principais da graphic novel de Alan Moore). V de Vingança tem seus problemas, mas em comparação ao efeito catártico e imersivo provocado esses acabam sendo tão ínfimos que não conseguem abalar o poder do filme como um todo. Seja por provocar reflexões no âmbito político, seja pelas chamadas acerca da necessária reconstrução moral de cada indivíduo ou mesmo pela ação inserta na obra, eis um filme que mantém-se forte, interessante, atual e surpreendentemente (em comparação as obras atuais cada vez mais rasas) bom.

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18 setembro, 2012

Celebridades (Celebrity, EUA, 1998).


Não concordo com a chamada do cartaz de Celebridades, que diz que o filme é sobre pessoas que fariam qualquer coisa para serem famosos ou para manter-se famosos. Creio que não foi esta a pretensão de Woody Allen (Hannah e suas Irmãs) ao escrever esta comédia, mas sim contar alguns dramas de relacionamentos com um pano de fundo envolvendo o universo das celebridades, especialmente as oriundas da televisão e do cinema.  Em suma, apesar de não perder o pique em momento algum e nos chamar a atenção para mais um alter-ego do cineasta interpretado por um grande ator (desta vez a missão coube ao inglês Kenneth Branagh, de Sete Dias com Marilyn), no geral a obra não desperta tanto interesse, risos ou mesmo reflexões aprofundadas, características estas quase sempre intrínsecas às obras do cineasta.

Entretanto, esta falta de empatia e quiçá novidade do enredo não torna Celebridades um filme ruim, muito menos desinteressante. Pelo contrário, alguns diálogos, ideias e personagens que o permeiam são bastante interessantes, em especial o jornalista interpretado por Branagh e sua então esposa, vivida por Judy Davis (Simplesmente Alice), que apresentam-se como antíteses um do outro, especialmente no que se refere aos costumes e ao comportamento. As pontas de Leonardo DiCaprio (O Aviador) e de Melanie Griffith (Dublê de Corpo) também são destaques, especialmente a interpretação/personagem transloucado do primeiro.

A correção técnica de Allen continua exposta neste trabalho, acentuada pelo grande trabalho de fotografia do sueco Sven Nykvist (Persona), parceiro recorrente do mestre Ingmar Bergman, que escolhe o branco e preto como opção estética. Este trabalho marcou seu último registro como cinematógrafo. A trilha musical do filme também é muito bem colocada, musicando bem as tramas que movem a obra. 

Como todo grande autor, algumas de suas obras não marcam tanto quanto outras e, infelizmente (ou não) Celebridades encontra-se no patamar dos bons trabalhos, porém apenas corretos, não imperdíveis. No entanto, apesar de não despertar uma grande atenção através deste filme que presta certa homenagem ao status celebridade almejado por grande parte da civilização moderna ocidental, não possui a força ou o frescor de seus filmes mais reverenciados (além de sedimentar sua má fase em arrecadação), porém ainda prevalece com sobras se comparado a diversas outras comédias contemporâneas, até por que, sejam excelentes ou não, os filmes de Woody Allen sempre trazem consigo camadas de conteúdo e possibilidades de discussões e debates riquíssimas, ao mesmo tempo em que faz rir. Mérito de gênio, não?

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17 setembro, 2012

Um Vida Melhor (A Better Life, EUA, 2011).

"Todo pai quer mais para seu filho". (Chamada do cartaz oficial do filme).
De certa maneira, Uma Vida Melhor é filme que surpreende pela simplicidade e objetividade do tema abordado. Narrando a história de um mexicano, Carlos Galindo, que reside e trabalha ilegalmente nos Estados Unidos e seu filho adolescente e o problema contínuo daquele para manter-se empregado. A maior parte do filme dirigido por um surpreendente Chris Weitz (Lua Nova) enfoca a busca de Galindo de uma solução para um problema praticamente incontornável para o seu mantimento em território estrangeiro. Com um roteiro construído de maneira sólida e delicada por Eric Eason (12 Horas até o Amanhecer), baseado numa história de Roger L. Simon e com um trabalho de atuação brilhante da dupla Demián Bichir (Selvagens) e José Julián, Uma Vida Melhor é uma obra que angustia e faz refletir, mas principalmente emociona, entretanto sem nunca apelar para o sentimentalismo barato ou lágrimas forçadas, narrando sua história com naturalidade e muito pé no chão.

É bem verdade que no âmbito narrativo Uma Vida Melhor não traz grandes inovações, apostando numa clássica proposta de jornada de personagem buscando "redenção" (temos aqui um forte, porém bastante conturbado relacionamento entre pai e filho, sobretudo no que se refere a comunicação entre estes), porém mais do que suficiente pelas possíveis pretensões apresentadas pela história do filme. Tecnicamente o mesmo também prefere a simplicidade, tendo uma ou outra cena com uma fotografia ou produção mais arrojada, mas no geral percebe-se que este é um filme de atuação. Falando em atuação, o mexicano Demián Bichir acabou por abocanhar uma merecida indicação ao Oscar de melhor ator no corrente ano, que acabou por premiar o francês Jean Dujardin por seu trabalho no filme O Artista. Apenas a composição recheada de sutilezas de Bichir, somada ao monólogo final de seu personagem já justificam tal indicação.

Um filme pouco visto e comentado, Uma Vida Melhor é mais uma daquelas obras pequenas, sem grandes pretensões artístico-filosóficas, mas que acabam por conquistar por seu caráter indiscutivelmente humano, que tenta acima de tudo empregar um olhar de registro, sem apelar em demasia para a vitimização ou heroificação de seus personagens, tratando por apresentar camadas suficientes a cada um deles que nos façam perceber que, acima de suas possíveis qualidades ou defeitos, residem aí nada mais do que seres humanos, parafraseando o título da primeira obra escrita pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, demasiadamente humanos.

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16 setembro, 2012

Carne Trêmula (Carne Tremula, ESP, 1997).


Prefiro um Almodóvar mais sério, compenetrado, inventivo dramaticamente e em Carne Trêmula me é dado isso. Nada contra ao cinema bufão e colorido - visualmente e conceitualmente - do cineasta, mas quando o mesmo investe em tramas mais profundas, em alguns casos com um certo toque hitchcokiano, o interesse que a obra desperta em mim pessoa aumenta exponencialmente. Adaptado do romance homônimo de Ruth Rendell, este filme já é iniciado com uma sequência de abertura absurdamente tensa, onde acompanhamos a personagem de Penélope Cruz - em uma pequena ponta - prestes a dar a luz a um garoto que virá a ter importância ímpar à trama como um todo. Com o início baseado no período ditatorial da Espanha e que vai sendo desenvolvido até chegarmos a década de 1990, Carne Trêmula, assim como grande parte da obra do diretor espanhol, tem como base os relacionamentos amorosos, entretanto neste filme em particular a proposta de análise do comportamento humano interligado ao sentimento de amor e rejeição é o fio condutor de toda a trama, que conecta cinco indivíduos num universo de anseios e tragédias, além de muitos desenganos.

Contando com as participações de um bem jovem Javier Bardem (Biutiful), de Francesca Neri (Hannibal), Liberto Rabal, Angela Molina (Baarìa - A Porta do Vento) e José Sancho (Fale com Ela) nos papeis mais importantes da trama, Carne Trêmula é uma experiência de angústia e expectativa, onde acompanhamos a recriação contínua de caráteres numa espécie de confronto moral contínuo, onde o acovardamento e egoísmo de cada uma das personas interpretadas por estes atores é esmiuçada e escancarada por Pedro Almodóvar (Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos). Curiosamente sem contar com nenhuma referência ou alusão ao espectro homossexual - quase que uma característica fixa no cinema do cineasta espanhol -, este talvez seja o filme "menos" Almodovariano de sua filmografia, mas ao mesmo tempo encaixa-se perfeitamente a cinematografia do diretor, visto que encontra-se aqui sua inquietude, seu timing narrativo, enfim, sua visão questionadora e expositiva enquanto cineasta autoral (apesar deste filme ter como base uma história que não sua, é impossível não reconhecer a marca do espanhol no andamento e composição do filme, onde o mesmo praticamente toma posse da obra de Rendell como se esta na verdade fosse apenas sua).

Não há muito o que falar da técnica do filme. Almodóvar filma como ninguém, optando por ângulos e planos finíssimos, em especial a cena do parto disposta no início do filme, em plano aberto e o destaque sutil aos objetos e lugares que terão importância futura à trama. Como já se encontrava mais do que consagrado como realizador, o diretor teve a sua disposição alguns dos melhores profissionais de cinema do mundo, dentre eles o diretor de fotografia brasileiro Affonso Beato (Tudo Sobre Minha Mãe) e o compositor Alberto Iglesias (O Espião Que Sabia Demais), que realmente fazem uma baita diferença no resultado final do filme.

Apesar de possuir uma temática e execução mais próxima do drama que da comédia, Carne Trêmula não é no todo podado de humor, sendo que até mesmo durante sua tensa sequência de abertura temos algumas falas que beiram ao cômico, mas que casam perfeitamente por soarem coloquiais, apesar do tom de graça no meio de um evento tão tenso. Mesmo ainda não tendo conferido grande parte dos filmes de Pedro Almodóvar, tenho como preferido o filme Fale com Ela, drama vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro. Contudo, após conferir Carne Trêmula, posso afirmar seguramente que agora possuo dois filmes igualmente preferidos do cineasta, que por coincidência possuem ambos essência dramática. Indicado ao Oscar de filme estrangeiro e contando com um elenco fenomenal, este pode não ter sido reverenciado e creditado como um dos mais interessantes do espanhol pela crítica especializada, mas alcança para mim o posto mais alto de qualidade do comumente exigente em suas obras Almodóvar.

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15 setembro, 2012

Gabriela (BRA, 1983).


Prestes a completar trinta anos, Gabriela, versão cinematográfica de Bruno Barreto (Última Parada 174) baseada na obra homônima de Jorge Amado mantém seu charme.  Estrelado pela então musa Sonia Braga (O Beijo da Mulher Aranha) e por Marcello Mastroianni (A Doce Vida), considerado o melhor ator italiano de todos os tempos, o filme possui uma direção de arte e desenho de produção de primeira, a cargo respectivamente de Hélio Eichbauer (O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro) e José Joaquín Salles (Brava Gente Brasileira), que realmente transportam o espectador para a Ilhéus dos anos 1920. Entretanto, talvez o grande nome da equipe técnica seja o de Carlo Di Palma (Hannah e suas Irmãs), que decupa as mais belas imagens através de suas lentes e realmente torna mais do que crível que o litoral baiano é belíssimo. 

Barreto, que vinha do sucesso abismal de Dona Flor e seus Dois Maridos (também uma adaptação de Jorge Amado) e do forte Amor Bandido, consegue conduzir aqui uma história interessante e divertida, com um ou outro toque de questionamento sócio-político. É claro que em alguns pontos o filme acabou envelhecendo mal, em especial no que tange as atuações, muitas vezes excessivamente performáticas ou caricaturais, mas que mesmo exageradas encaixam-se na proposta vislumbrada pelo diretor.

A química entre Sonia Braga e Marcello Mastroianni acontece, mesmo que às vezes ocorra uma certa exploração exagerada da nudez das personagens interpretadas pelos dois (característica mais do que justa à época, visto que ainda perdurava o fenômeno cultural das chanchadas). Braga encontrava-se no auge de sua forma física e mesmo sem um grande momento de brilho interpretativo, constrói sua personagem basicamente no sorriso e no carisma. Já Mastroianni, mesmo incubido de interpretar um personagem um tanto quanto raso, transcende e aposta também no carisma e em um ou outro trejeito e maneirismo próprio. O certo é que tanto Mastroianni quanto Braga parecem estar se divertindo à beça com o filme. Na verdade, no sentido de estar a vontade, acredito que tolo o elenco encontra-se bem encaixado e disposto neste sentido.

Talvez curto demais, com um apelo político mais sugerido do que aplicado e (como não devia deixar de ser) quase que totalmente focado no romance entre Nacib (Mastroianni) e Gabriela (Braga), o filme permanece como uma obra interessante, bem-dirigida, visualmente deslumbrante e com uma trilha musical quase que perfeita - composta pelo maestro Antonio Carlos Jobim -, que aparece quase que como um terceiro personagem atuante entre o casal Nacib e Gabriela. É certo que tanto Bruno Barreto, quanto Sonia Braga e Marcello Mastroianni tem em seus currículos obras melhores que esta versão de Gabriela, contudo neste filmes todos encontram-se bem inseridos e cumprem àquilo tudo que lhes é pedido. Possuindo o cor e o brilho dos anos 1980, com um frescor e certa ingenuidade dos anos 1920, Gabriela é um bom filme nacional, com personalidade própria e tecnicamente deslumbrante. 

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14 setembro, 2012

Hellboy (EUA, 2004).

"O que determina o caráter de um homem? Um amigo meu se perguntou. São suas origens? O modo como ele nasce? Não acredito. São as suas escolhas. Não o modo como ele começa as coisas, mas sim como decide concluí-las". (John Myers, personagem de Rupert Evans, se referindo a Hellboy).
Para mim, mesmo não tendo um conhecimento profundo sobre a mídia original do personagem, Hellboy é uma das melhores adaptações de personagens de histórias em quadrinhos para o cinema, simplesmente por que é eficaz no quesito mais problemático para as diversas tentativas do gênero: o convencimento total do espectador perante os "absurdos" apresentados em tela. Comandado pelo criativo diretor mexicano Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno), que aqui também assume a co-autoria do script e protagonizado por Ron Perlman (O Nome da Rosa), que interpreta o personagem título e entrega aqui o papel antológico de sua carreira, em resumo este filme parece um Homens de Preto "sério" e surtado, com uma estética visual particular e inventiva, além de um roteiro muito bem dosado entre momentos de ação, suspense e humor.

O filme aborda a chegada de Hellboy à terra, no auge da II Guerra Mundial, através de uma bizarra experiência nazista planejada pelo alquimista russo Rasputin (Karel Roden, de 15 Minutos), que visa à destruição da Terra como nós a conhecemos. Na verdade, o "garoto do inferno" surge como um mero "efeito colateral" da experiência extra-planar do russo, entretanto contribuirá para uma total mudança de paradigma no serviço secreto dos Estados Unidos, visto que aquele é encontrado e posteriormente "adotado" pelo professor Trevor Bruttenholm (John Hurt, de O Espião Que Sabia Demais), que acabaria por ajudar a montar o Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal. Mas, como o mal nunca se esvai por completo, Hellboy voltará a ser ameaçado por eventos de seu passado.

Apesar de em alguns momentos a transição entre os efeitos visuais e os efeitos de maquiagem acabar soando frágil, provavelmente pelo fato do orçamento do filme ter sido reduzido, mas também pelo óbvio envelhecimento das técnicas de efeitos visuais aplicadas à época, visto que o filme data de 2004. Entretanto, mesmo com algumas "falhas" no quesito visual, a estética do filme como um todo é muito bem aplicada e serve como forte elemento narrativo à história do longa. Estão de parabéns o designer Stephen Scott (Doom), o aqui consultor de maquiagem Rick Baker (Videodrome), além do diretor de fotografia Guillermo Navarro (Jackie Brown), que sempre aplica o mesmo nível de esmero seja em filmes blockbusters ou não.

Infelizmente, apesar das boas críticas a seu favor, Hellboy não teve um grande sucesso no âmbito comercial, rendendo pouco além do seu custo de produção. No entanto, isto não se reflete na qualidade do filme, que é um entretenimento fascinante, que cumpre com sobras a missão de apresentar um personagem praticamente desconhecido perante o grande público de maneira consistente e eficiente, dando tridimensionalidade e coerência ao universo distinto do personagem. Bebendo de fontes como H. P. Lovecraft no que tange ao visual das criaturas, do próprio universo dos quadrinhos, além de possuir algumas referências bíblicas (a título de curiosidade, o diretor foi criado num lar fervorosamente católico), Hellboy é, para mim, um dos melhores filme do gênero lançados no ano de 2004, que sofre vez ou outra narrativamente pela necessidade de conceitualizar demais o espectador no universo apresentado, mas que funciona (especialmente na versão do diretor, que contempla alguns minutos a mais), é bem-dosado (dinâmico) e prova-se interessante aos olhos tanto daqueles que já conhecem o personagem quanto dos que nunca souberam de sua existência. Para mim, foi a partir deste filme que Guillermo Del Toro deixou de ser uma promessa para tornar-se uma realidade como cineasta autoral, tanto que seus filmes pós-Hellboy são considerados como os melhores da até então curta carreira do mexicano. 

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12 setembro, 2012

Rocky II - A Revanche (Rocky II, EUA, 1979).

"A história continua..." (Chamada do cartaz oficial de Rocky II).
Rocky II possui praticamente a mesma estrutura de Rocky, Um Lutador, porém mesmo assim consegue trazer novidades e um clima épico de excelência tal qual o filme original. Acumulando agora a função de direção (além de protagonizar e ser o autor do roteiro do filme), Sylvester Stallone realiza aqui talvez seu melhor trabalho como diretor, entregando uma obra que referencia a todo o momento o capítulo anterior, mas que traz uma evolução orgânica a trajetória do azarão da Filadélfia Rocky Balboa, entregando uma sequência tão boa quanto o filme original. A grosso modo, acredito que Stallone realizou com seu Rocky II o mesmo que Fracis Ford Coppola fez com a segunda parte de O Poderoso Chefão, um filme tão bom quanto o original.

Todas as peças principais do longa original retornaram para esta sequência, Talia Shire (O Poderoso Chefão) dá ainda mais vida e delicadeza a sua Adrian, Burgess Meredith (Fúria de Titãs) traz ainda mais energia para seu personagem, o treinador de Balboa, Mickey e Burt Young (Era uma Vez na América) soa menos babaca do que no filme anterior. Carl Weathers (Predador) soa ainda mais ameaçador na composição de seu Apollo Creed, mas o grande destaque recai na excepcional composição de Stallone para seu Rocky Balboa. Empregando sutileza, amabilidade e força a um personagem aparentemente tão simples (ou seria simplório?), o ator dá ainda mais vida ao hoje mitológico personagem, retrato do homem comum que alcança seus sonhos e glória literalmente através das próprias mãos.  É inconcebível que ele tenha sido indicado ao Oscar de melhor ator pelo filme original e não também por esta sequência.

Completando, a trilha de Bill Conti (Delírios Mortais), apesar de obviamente aproveitar muito das composições do filme original, especialmente do tema central do filme, complementa com primor especialmente as sequências dramáticas do longa, que a exemplo do primeiro filme é o que toma a maior parte do longa. 

Seguindo o exemplo do filme anterior, Rocky II foi um estrondoso sucesso de bilheteria, visto que arrecadou aproximadamente 200 milhões de dólares (mais informações abaixo, nos links sobre Bilheterias), contra um modesto orçamento de cerca de 7 milhões de dólares, isso em plena temporada dos blockbusters nos Estados Unidos, visto que o filme foi lançado no mês de junho. É válido frisar que a alcunha blockbuster já estava mais do que sedimentada em 1979, visto que filmes como Tubarão (1975) e Star Wars: Uma Nova Esperança (1977), por exemplo, já tinham "batizado" tal paradigma.

Alguns podem tomar a trajetória de Rocky Balboa como um melodrama e quem o faz não está assim tão distante da verdade, pois há elementos óbvios de melodrama à trama dos filmes. No entanto, a condução de Sylvester Stallone é tão bem amarrada e trabalhada de maneira simples, porém eficaz, que não há como não entrar na onda e vivenciar os problemas e angústias de Rocky e Adrian, principalmente neste segundo filme, onde acompanhamos a trajetória dos personagens instantaneamente após a grande luta de Rocky, um Lutador

É claro que, assim como o filme original, Rocky II é construído através de muitos momentos de obviedade, onde dá para se prever o que virá a acontecer, no entanto o roteiro (e, posteriormente, sua execução) é tão bem estruturado que muito provavelmente isto será automaticamente ignorado pelo espectador, que comprará a saga de Balboa, acreditará piamente em suas dúvidas e conquistas, em suas limitações, mas principalmente em sua determinação e esperança. Para mim, Rocky II mostrou-se um filme tão interessante, lógico e bem-acabado quanto Rocky, um Lutador, tendo Sylvester Stallone, Talia Shire, Carl Weathers e Burgess Meredith atingido praticamente a perfeição em seus respectivos papeis, e o primeiro conseguindo também a façanha de estabelecer Balboa como mais um dos grandes personagens ficcionais imortalizados pela sétima arte. Já desconfiava que Stallone soubesse atuar, mas com acompanhando sua performance neste filme em particular tenho a certeza de que este é um bom ator (independentemente de algumas escolhas duvidosas durante sua longínqua carreira).

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Mais Informações:

Texto sobre Rocky, um Lutador (1976)
Texto sobre Rocky III - O Desafio Supremo (1982)
Texto sobre Rocky IV (1985)
Texto sobre Rocky V (1990)
Texto sobre Rocky Balboa (2006)
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Filmes de SYLVESTER STALLONE como diretor comentados: