29 agosto, 2012

O Homem Sem Sombra (Hollow Man, EUA, 2000).


"Você acha que está sozinho? Pense novamente". (Frase do poster oficial do filme).
"Quem vai saber?" (Reflete o Dr. Sebastian  Caine, personagem de Kevin Bacon, antes de cometer inegavelmente imoral)
O Homem Sem Sombra não é dos mais conceituados filmes do diretor holandês Paul Verhoeven (O Vingador do Futuro), mas pessoalmente gosto muito dele. É certo que, em comparação a outros títulos do cineasta, este filme acaba devendo um pouco no quesito conteúdo, entretanto o mesmo não deixa de ser um thiller eficiente e, ao mesmo tempo em que absorve os clichês do gênero, possui uma cara própria, o que por si só é salutar para uma produção dessas.

Vindo do não muito bem sucedido Tropas Estelares, de 1995, o holandês parece ter cedido inda mais a pressão da indústria de cinema norte-americana para a consecução de um filme mais acessível as plateias em geral, sendo assim toda a sua técnica e composição próprias e emprega num filme cuja missão principal é causar medo e incômodo, visto que, apesar das ótimas possibilidades de debates acerca das motivações de um sujeito que não pode ser visto, o foco dos roteiristas Gary Scott Thompson (Velozes e Furiosos) e Andrew W. Marlowe (Força Aérea Um) é mesmo suspense e a tensão. Como Verhoeven não é bobo, pontuou o máximo que pode de temas como caráter e poder absoluto durante o filme, em especial nos dois primeiros atos, mas como o direcionamento do enredo destacava o âmbito do horror pelo horror, tais aspectos acabaram não sendo tão visíveis, mas basta-se olhar com mais cuidado para perceber que estes estão presentes na trama.

Esta fita tem três bons atores como protagonistas, tendo como mocinha a beldade dos anos 1980 Elisabeth Shue (Despedida em Las Vegas), que interpreta uma das cientistas responsáveis pelo experimento que confere invisibilidade ao também cientista vivido por Kevin Bacon (Sobre Meninos e Lobos). O par romântico de Shue é feito por Josh Brolin (Onde os Fracos Não Tem Vez), que era relativamente desconhecido até então, interpretando o derradeiro cientista da trinca. Como esperado, o grande destaque dos três é Kevin Bacon, visto que seu personagem, apesar de já sugerir alguns elementos de malevolência antes do experimento - na minha opinião, uma muleta preguiçosa empregada pelos roteiristas -, convence pela exploração do temperamento intempestivo e pela forma com que conduz a loucura do personagem. É certo que não há sutilezas ou um grande trabalho de interpretação por parte de Bacon, mas o ator convence no papel, em grande parte pelo seu carisma, mesmo com seu personagem de índole mais do que dúbia.

A condução do filme é competente até o início do terceiro ato, visto que trata melhor do contexto científico e da condutas éticas que permeiam o filme. A partir do terceiro ato há uma acachapante mudança de tom, com o filme virando quase que uma mistura entre thriller de vingança a lá Super Cine com altas doses de slasher movies dos anos 1980, uma espécie de encontro entre os filmes Dormindo com o Inimigo e Sexta-Feira 13. Tal abordagem não chega a estragar toda a construção (embasada particularmente por tensão) até então - neste âmbito é mais do que notável a contribuição do maestro Jerry Goldsmith (Poltergeist II: O Outro Lado), que dá ainda mais urgência a esta tensão através de suas composições -, mas fragiliza o filme de maneira negativa, tendo seu único ponto positivo o fato de "libertar" Verhoeven para a elaboração de sua grande assinatura, a exposição da violência como elemento narrativo. O que dizer da cena do cachorrinho? Sutileza não é uma das qualidades do cineasta holandês.

Um aspecto que continua a surpreender encontra-se nos seus efeitos. Enquanto algumas produções mais recentes que O Homem Sem Sombra já apresentam uma ou outra fragilidade neste aspecto - filmes da trilogia Homem-Aranha e os primeiros episódios de Harry Potter, por exemplo -, o filme de Verhoeven continua fascinante no que tange a trinca efeitos visuais, efeitos especiais e maquiagem. Tanto a ilusão proporcionada pelo "homem invisível" de Kevin Bacon quanto a visceral transformação do ser visível em ser invisível ainda convence hoje, sendo uma pena que os responsáveis por essa verdadeira mágica não terem sido agraciados com Oscar da categoria, mesmo que tenham sido preteridos pelo também fascinante Gladiador, de Ridley Scott.

A grosso modo, numa comparação entre O Homem Sem Sombra e títulos como Conquista Sangrenta, Robocop e O Vingador do Futuro - só para destacar as obras hollywoodianas de maior impacto de Verhoeven -, aquele realmente fica devendo, principalmente no que se refere ao elemento conceitual e discursivo, que aqui aparece pouco e de maneira não aprofundada, responsabilidade esta que atribuo aos roteiristas da obra, já que no aspecto visual (e, por conseguinte, no que ele infere de significações) o filme é bastante coerente, graças obviamente à qualidade Paul Verhoeven como contador de histórias no audiovisual.

Em suma, O Homem Sem Sombra é um entretenimento válido e competente, possuidor de alguns falhas que podem atrapalhar em alguns momentos a diegese proposta pela obra, mas que à exceção dos exageros apresentados no terceiro ato não avacalha ou perde o rumo, entretendo da mesma forma que em seus minutos iniciais, mesmo que naquele seu conteúdo reflexivo tenha sofrido do mal do personagem título, ficar invisível. 

AVALIAÇÃO:
TRAILER:

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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