25 junho, 2012

Prometheus (EUA, 2012).


Nós viemos deles. Eles virão para nós. (Chamada do cartaz promocional do filme).
Muitas vezes a alta expectativa acaba por sabotar o bom aproveitamento de uma obra e de certa forma foi isto que aconteceu comigo ao conferir este retorno do diretor Ridley Scott (Alien, o 8º Passageiro, Os Vigaristas) ao mundo do horror e da ficção científica. Em parte, esta expectativa é responsabilidade minha, entretanto também é dos envolvidos na produção de Prometheus - como a própria chamada do poster de divulgação atesta -, visto que "atiçaram" diversos elementos que infelizmente são apenas sugestionados ao longo do filme, sendo muito pouco para uma obra que fora vendida como "entretenimento cabeça".

É importante afirmar que Prometheus não é um filme ruim, até posso longe de ser categorizado como tal, entretanto a sugerida viagem acerca da criação do ser-humano - e da vida no planeta Terra - e as respostas para as perguntas mais buscadas por este (De onde viemos? Para onde vamos? Qual é a nossa missão? Por que fomos criados? Etc.) não são respondidas, muito menos debatidas a contento. São na verdade jogadas para uma possível sequência após "descobrimos" que na verdade os seres criadores estavam tentando nos destruir e que, ao invés da expedição científica ter pousado no planeta de origem da vida, pousou numa espécie de depósito de armas biológicas alienígenas. Confuso? Nem tanto, mas talvez seja necessário conferir ao filme para compreender melhor minha explanação.

Sendo assim, já que o filme se afasta bastante da proposta de discussão filosófico-científica esperada, o que sobra são momentos de muita tensão, choque de egos, sustos e desbravamento do desconhecido, algumas desses beirando a perfeição, outros no limite entre o aceitável e o clichêzão de mau gosto. No entanto, ao perceber que a proposta cerebral não é assim o ponto forte do filme - com isso não quero dizer que este é um filme estúpido ou vazio, nada mais longe da verdade, contudo o contexto apresentado pelo mesmo é muito mais de entretenimento do que de formação intelectual -, a experiência para com o mesmo volta a soar positiva, até por que como um filme de suspense este funciona primorosamente, resultando sim num bom retorno de Scott ao gênero que o destacou como cineasta há mais de 30 anos.

Tecnicamente arrebatador, Prometheus convence visualmente, possui um desenho de produção (tanto no que concerne ao maquinário e a tecnologia do fictício ano de 2093, quanto o visual das diversas criaturas alienígenas, humanoides ou não, presentes no filme) fantástico e crível, mixagem e som perfeitos, uma trilha sonora pontual e impactante, que realmente leva ao espectador a tensão e a angústia sofrida pelos personagens - quem assina a trilha é Marc Streitenfeld (A Perseguição), compositor alemão relativamente novo no universo cinematográfico, mas que vem colaborando recorrentemente com Ridley Scott desde o filme Um Bom Ano, de 2005 - e um elenco de nomes não tão conhecidos, mas bem escalado, destacando a protagonista interpretada pela sueca Noomi Rapace (Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras), que é a personagem guia de todo o enredo de Prometheus, e a magistral performance de Michael Fassbender (Um Método Perigoso, Jane Eyre), que compõe aqui um personagem enigmático, charmoso e de personalidade dúbia que chama a atenção do espectador do início ao fim, até mesmo quando não abre a boca. Complementando o elenco temos as presenças de Charlize Theron (Jovens Adultos) - com certeza o nome mais conhecido de todo o elenco -, Idris Elba (Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança), Logan Marshall-Green (Demônio) e um dispensável Guy Pearce (A Proposta), visto que o mesmo aparece apenas como um homem idoso, para isso usando uma pesada maquiagem, o que ao meu ver não justifica sua presença, ficando a dúvida quanto ao por que não contrataram um ator com idade próxima ao do personagem, já que este não aparece, em momento algum do filme, com a aparência jovem. Porém, fora isso, sua atuação não compromete, apesar da pesada maquiagem não ajudá-lo.

Quanto ao 3D, apesar do incômodo habitual pela utilização dos óculos (outra discussão), encontra-se excelente, realmente dando profundidade ao longa e tratando de imergir o espectador nos mistérios desbravados pelos passageiros da nava Prometheus, fazendo com que nós passeemos com eles por aquele universo curioso.

Voltando ao âmbito conceitual do filme, fica óbvia a referência do título - acerca do mito do titã Prometeu - com o desenrolar dos acontecimentos, valendo a máxima de que o ser-humano não deveria mexer naquilo que não lhe cabe. E, apesar do debate metafísico existencial do filme ficar um pouco a dever, esse paralelo com o mito grego é bem colocado e dá um gás de profundidade ao filme, que cismava em não querer aparecer (pelo fato da discussão acerca da origem da vida ter sido posta de lado). Porém, admito que Scott e os roteiristas Jon Spaihts (A Hora da Escuridão) e Damon Lindelof (série Lost) me decepcionaram bastante, principalmente por admitir no encerramento do longa que as respostas buscadas (e que aparentemente seriam pelo menos parcialmente respondidas aqui) pelos cientistas seriam o mote de uma possível sequência, o que para mim soou enganador. Me incomodou bastante, me fazendo até mesmo recordar de ecos da série Lost, com suas muitas perguntas, alguma enrolação e poucas respostas realmente úteis).

Problemas de abordagem a parte, apesar das mais do que óbvias concessões cometidas pelo filme com a finalidade de agradar a gregos e troianos (não esqueçamos que, apesar de tudo, este ainda é um filme de verão - nos Estados Unidos - para a "meninada"), Prometheus é um filme competente, muito bem-acabado, criativo e com uma boa abordagem, que tinha tudo para ser um novo A Origem (dono de um conceito interessante, vendido como um filme para as massas, mas que não faz grande concessões no âmbito das ideias, provando seu público  ao não entregar respostas fáceis, mas ao mesmo tempo sem esconder do que trata. Ou seja, todas as respostas estão presentes da obra, mesmo que muitas abram margem para interpretação), mas que acaba sendo auto-sabotado pela constante indecisão  - não sai de cima do muro em alguns momentos - do seu enredo. Porém, independentemente dos possíveis erros destacados, Prometheus mereceria destaque mesmo que tivesse apenas a excelente sequência de parto envolvendo a personagem de Rapace, que culmina num dos momentos mais tensos e assustadores dos últimos anos - fazendo-nos até mesmo não ligar para o fato de uma pessoa recém saída de uma cirurgia abdominal sair correndo para cima e para baixo sem manifestar dor ou incômodo. Mas enfim, viva a magia do cinema, não é mesmo?

AVALIAÇÃO (Assim que assisti ao filme):
AVALIAÇÃO (Algum tempo depois, após a digestão dos eventos mostrados no filme):
Quer saber qual foi minha avaliação após a revisita ao filme, em 10 de abril de 2014? Acesse minha conta no Filmow.

TRAILER

Mais informações:
Bilheteria: Box Office Mojo

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