26 abril, 2012

Anônimo (Anonymous, ING/ALE, 2011).


"Toda arte é política, Jonson, ou seria apenas decoração. E todo artista tem algo a dizer, ou fabricaria sapatos". (Edward de Vere, personagem de Rhys Efans, em conversa com o poeta Ben Jonson, personagem de Sebastian Armesto).

Anônimo é uma deslumbrante obra de ficção disfarçada de drama histórico. Dirigido pelo comumente conhecido como destruidor de filmes (literalmente) alemão Roland Emmerich (Independence Day, 2012), este misto de drama e thriller é com certeza seu melhor trabalho como cineasta, pena que foi tão pouco visto (infelizmente foi um fracasso financeiro, dando margem ao retorno do diretor aos filmes de catástrofes naturais e não-naturais, o que é uma pena). Dono de uma trama cheia de conspirações, onde o ponto fulcral é a velha teoria de que não teria sido William Shakespeare (Rafe Spall, de Um Bom Ano) o consagrado autor das obras certificadas ao mesmo, como Henrique V e Romeu e Julieta, por exemplo, mas na verdade este teria servido apenas de engodo para o verdadeiro autor, o nobre Edward de Vere (Rhys Efans, que despontou para o mundo como o amigo "estranho" de Hugh Grant no badalado romance Um Lugar Chamado Notthing Hill, co-estrelado por Julia Roberts), o 17º Conde de Oxford. No meio de tudo, muita politicagem, traições, dramaturgia e mortes, bem ao estilo das obras do autor "biografado". O saldo do filme é positivo primeiramente por assumir-se como ficção, apesar de todo o cuidado da produção em transmitir realidade ao período abordado e, segundamente, pelo fato de que a própria história de Shakespeare é controversa até hoje, tendo os registros da época e as comprovações de que todas as obras ligadas ao mesmo seriam mesmo de sua autoria não são totalmente conhecidas.

Tecnicamente deslumbrante, bem-amarrado e com um enredo bastante interessante, Emmerich e o roteirista John Orloff (O Preço da Coragem) conseguem construir aqui um filme com estilo das obras de Dan Brown (escritor do best-seller O Código Da Vinci), de fácil consumo, com grande grau de interesse, com potencial para polêmicas, apoiadas num estilo de narração crível, mas que são assumidamente ficcionais. Tanto é que, para reunir tamanho nomes importantes no elenco, em especial figuras carimbadas do teatro inglês (que muito provavelmente transpiram Shakespeare desde o início de suas carreiras), como a eterna dama Vanessa Redgrave (Blow-Up - Depois Daquele Beijo), Joely Richardson (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres) - ambas interpretam a rainha Elizabeth I, da Inglaterra e, a título de curiosidade, são mãe e filha na vida real -, David Thewlis (O Menino do Pijama Listrado) e sir Derek Jacobi (Hamlet), a produção teria que ter méritos positivos e ser competente ao apostar na desmistificação de uma figura importantíssima da arte  e da ocidental, assumindo-se como obra de entretenimento e apoiado na ficção, mas com qualidade e realidade na ambientação apresentada.

Sendo assim, considero Anônimo um ótimo filme, uma grande surpresa na filmografia do diretor alemão, mostrando que apesar de suas escolhas duvidosas como cineasta possui discernimento, sensibilidade e talento para conduzir um filme interessante e bem cuidado (não só no aspecto visual, como sua filmografia atestava), sem assim preferir, além de apresentar um baile de belos figurinos (indicado ao Oscar), cenografia caprichado, efeitos especiais sutis e bem colocados e performances impecáveis de todo o elenco, em especial do "protagonista" Rhys Ifans, Sebastian Armesto e Edward Hogg (Alfie, o Sedutor), construindo com competência talvez o grande "vilão" da história.

AVALIAÇÃO: 8 de 10.

Trailer:



Mais informações:

Anônimo
Bilheteria: Box Office Mojo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Concorda com o texto? Comente abaixo! Discorda? Não perca tempo, exponha sua opinião agora!