25 fevereiro, 2012

A Separação (Jodái-e Náder az Simin, IRÃ, 2011).



Mesmo tendo seu contexto e ambientação baseado na atual conjuntura socio-política do Irã, além do fator religioso, A Separação traz uma universalidade nata que faz com que o filme gere empatia em qualquer público, destacando então o ocidental, no qual me incluo. Feito um soco no estômago, o filme dirigido por Asghar Farhadi (À Procura de Elly) derruba o espectador e o faz caminhar por um mundo naturalmente comum a todos, onde questões morais e religiosas permeiam as relações familiares, norteando-as e modificando suas vidas, gerando um painel de questões que envolvem dúvida, incerteza, insegurança, fragilidade etc. Extremamente complexo e dono de um enredo brilhante - apesar de comum em sua essência -, A Separação encaixa-se no tipo de cinema de ideias, de questionamentos, de estudo de época, de análise humana, enfim, é um filme que tem como peso definidor as inquietações de seus personagens, que chama a atenção pelos acontecimentos desfilados pelo enredo e não pelas soluções técnicas do diretor e demais profissionais do cinema.

Ganhador de de diversos prêmios ao redor do mundo, dentre eles o Urso de Ouro no Festival de Berlim e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, além de uma indicação para esta última categoria na próxima edição do Oscar - e que, para mim, deveria concorrer à categoria principal, devido a sua qualidade ser tão ou até mesmo superior a de muitos dos títulos indicados nessa -, A Separação lembra um pouco a pegada dos filmes do mexicano Alejandro González Iñarítu (Amores Brutos, 21 Gramas, Babel), talvez pela exploração da fragilidade humana através de tipos comuns, sujeitos como eu e você, só que passando por situações limite. O filme toma como ponto de partida a tentativa de divórcio de um casal - a esposa deseja sair do país, talvez pela situação delicada, no que tange a liberdade de expressão, pela qual passa o Irã; enquanto o seu marido deseja permanecer no país, visto que deve cuidar de seu pai idoso e dependente, que sofre do mal de Alzheimer - e a decisão sobre quem deverá obter a guarda da filha menor, desenvolvendo-se de maneira orgânica e brilhantemente real através de eventos angustiantes e tensos, que transmutam o filme de simples análise de conflitos familiares numa análise sociológica da incapacidade humana para enxergar a profundidade dos seus próprios atos, a atribuição de responsabilidade a outrem (religião, política, sociedade) e sua pequenez perante todo esse processo. Um filme tenso, pesado e fascinante, que tem tudo para sagrar-se vencedor no Oscar, mas que merecia concorrer também a categoria principal, a de melhor filme do ano.

AVALIAÇÃO: 10 de 10.

Trailer:

Mais informações:

A Separação
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