31 dezembro, 2012

Melhores Filmes de "2012"

Eis abaixo uma pequena seleção de dez (10) filmes que considero como os melhores lançados no Brasil em 2012, portanto não necessariamente de 2012. Como sempre é um trabalho complexo reduzir um ano inteiro de lançamentos numa diminuta lista, porém ainda assim é um processo divertido que possui o caráter de ilustrar parte do que aconteceu no referido ano, sendo óbvio que a mesma não é definitiva, muito menos irretocável. Muitos foram os títulos que não pude conferir e que possivelmente poderiam entrar neste pacote, mas creio que os que estão dispostos abaixo honram o espectro cinematográfico do ano que está encerrando hoje.  

Espero que gostem das minhas escolhas, mas caso não peço que utilizem o espaço destinado aos comentários (logo abaixo da postagem, ao lado de "Postado por Téo Carnaúba") e disponibilizam suas listas de melhores do ano. Com isso poderemos ter um termômetro mais democrático acerca do que de melhor tivemos em 2012 na opinião do público consumidor.

Vou deixar de bla, bla, bla... Boa leitura e nos vemos em 2013, com muito mais filmes!

Obs.: A lista segue a ordem alfabética, não necessariamente a ordem de importância ou qualidade dos filmes!


O Abrigo (Take Shelter, EUA, 2012).



Direção: Jeff Nichols.
Roteiro: Jeff Nichols.
Elenco: Michael ShannonJessica ChastainShea WhighanKathy Baker e Katy Mixon.
Música: David Wingo.

Comentário sobre o filme.


Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, EUA, 2012).



Direção: Christopher Nolan.
Roteiro: Jonathan NolanChristopher Nolan e David S. Goyer, baseados nas histórias em quadrinhos da DC Comics.
Música: Hans Zimmer.

Comentário sobre o filme.

Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, EUA, 2012).



Direção: William Friedkin.
Roteiro: Tracy Letts, baseado numa peça de sua autoria.
Música: Tyler Bates.


Um Método Perigoso (A Dangerous Method, ALE/CAN, 2011).


Direção: David Cronenberg.
Roteiro: Christopher Hampton, baseado numa peça de sua autoria e no livro de não-ficção A Most Dangerous Method, de John Kerr.
Elenco: Michael FassbenderKeira KnightleyViggo MortensenSarah Gandon e Vicent Cassel.
Música: Howard Shore.


Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (The Girl With the Dragon Tattoo, EUA/SUE/ING/ALE, 2011). 



Direção: David Fincher.
Roteiro: Steven Zaillian, baseado no romance de Stieg Larsson.
Elenco: Daniel CraigRooney MaraChristopher Plummer e Stellan Skarsgard.
Música: Trent Reznor Atticus Ross.

Comentário sobre o filme.

Moonrise Kingdom (EUA, 2012).



Direção: Wes Anderson.
Roteiro: Wes Anderson e Roman Coppola.
Elenco: Jared GilmanKara HaywardBruce WillisEdward NortonBill MurrayFrances McDormandTilda SwintonJason Schwartzman e Bob Balaban.
Música: Alexandre Desplat.


007 - Operação Skyfall (Skyfall, ING/EUA, 2012).




Direção: Sam Mendes.
Roteiro: Neal PurvisRobert Wade e John Logan, baseado na série de romances de Ian Fleming.
Elenco: Daniel CraigJavier BardemJudi DenchRalph FiennesNaomie Harris e Albert Finney.
Música: Thomas Newman.

Comentário sobre o filme.


A Pele Que Habito (La Piel Que Habito, ESP, 2011).




Direção: Pedro Almodóvar.
Roteiro: Pedro Almodóvar, baseado no romance de Thierry Jonquet.
Elenco: Antonio BanderasElena AnayaMarisa ParedesJan Cornet e Roberto Álamo.
Música: Alberto Iglesias.

Comentário sobre o filme.

A Separação (Jodaí-e Náder az Simin, IRA, 2011).


Direção: Asghar Farhadi.
Roteiro: Asghar Farhadi.
Elenco: Leila HatamiPeyman MoaadiShahab Hosseini, Sareh Bayat e Sarina Farhadi.
Música: Sattar Oraki.

Comentário sobre o filme.


Os Vingadores (The Avengers, EUA, 2012).


Direção: Joss Whedon.
Roteiro: Zak Penn e Joss Whedon, baseados nas histórias em quadrinhos da Marvel Comics.
Elenco: Robert Downey Jr.Chris EvansChris HemsworthMark Ruffalo, Jeremy Renner, Scarlett Johansson, Tom Hiddleston, Clark Gregg, Stellan Skarsgard e Samuel L. Jackson.
Música: Alan Silvestri.

Comentário sobre o filme.

Quer saber quais filmes lançados em 2012 foram comentados no CineMografia? Acesse o link abaixo:

Filmes 2012

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Não perca tempo! Coloque nos comentários sua lista de melhores filmes de 2012!

Sobre o Sol da Toscana (Under the Tuscan Sun, EUA, 2003).


"A vida te oferece milhares de chances... tudo que você tem que fazer é escolher uma" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Talvez o maior mal de Sob o Sol da Toscana seja sua previsibilidade. Adaptação direta do livro homônimo e biográfico da escritora Frances Mayes (no filme, interpretada por Diane Lane), que aposta numa vida nova na região da Toscana, na Itália, após traumático rompimento matrimonial com o marido. Suas desventuras em terras italianas são narradas tanto no livro quanto no filme e, como não poderia deixar de ser, incensam a tela com altas doses de progesterona. Romântico e romantizado, divertido, porém super-idealizado, este especial de auto-ajuda é um bom partido para o público feminino, que com certeza se deslumbrará com as paisagens da bela Toscana e dos belos italianos que não cansam de desfilar em tela e paquerar Frances, que encontra-se em pleno processo de recomposição afetiva. E nada como um belo par de braços quentes para trazê-la de volta ao sol da vida, não é mesmo?

Apesar de ser um filme focado no público feminino e extrapolar vez ou outra na fórmula tragédia + viagem + superação + novo amor relâmpago = felicidade para toda a vida, Sob o Sol da Toscana é um filme meloso que não chega a ofender (neste caso, o público masculino), especialmente por aparentemente não se levar a sério em momento algum, sendo assumidamente um filme leve com o intuito de transmitir cargas positivas ao espectador. Em poucas linhas, um female feel good film. É certo que alguns elementos basilares em filmes de mudança de ambiente, como o destaque da fotografia do ambiente apresentado, não são tão bem explorados pelo filme, que parece esquecer que a região da Toscana é, junto a personagem Frances, uma das protagonistas da história. Talvez a diretora e roteirista Audrey Wells (A Lente do Desejo) tenha que observar com mais atenção aos filmes de Woody Allen, especialmente os mais recentes, como Para Roma com Amor, obviamente rodado na Itália.

De longe o grande destaque do filme encontra-se na atuação de Diane Lane (Vidas Sem Rumo), que oferece um nível de profundidade à composição de sua personagem não encontrado em nenhum outro no filme, o que torna a experiência de acompanhar as aventuras de sua personagem mais interessante. Indicada ao Globo de Ouro por esta atuação, atriz foi preterida por Diane Keaton, no filme Alguém tem que Ceder. Em comparação as demais indicadas ao prêmio (também concorriam Scarlett Johanson, por Encontros e Desencontros, Jamie Lee Curtis, por Sexta-Feira Muito Louca e Helen Mirren, por Garotas do Calendário) talvez Lane possa ser considerada a menos interessante, mas isso de modo algum inibe seu trabalho de destaque num filme então mediano.

Deixando a dever no aspecto fotográfico e na abordagem superficial do roteiro, mas surpreendendo pelo empenho e competência de Diane Lane no que se refere a composição de sua personagem, Sob o Sol da Toscana está longe de ser um grande filme - mesmo que as meninas menos exigentes teimem em defini-lo como "lindo!" -, inclusive destacado no gênero romance, mas entretém sem ofender a inteligência de quem o assiste, mesmo que seja um filme obviamente direcionado ao público feminino. Não vai salvar seu dia (a não ser que sua sensibilidade esteja além da compreensão humana), mas pode gerar bons momentos.

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29 dezembro, 2012

A Bússola de Ouro (The Golden Compass, EUA/ING, 2007).


"Existem mundos além do nosso - A bússola mostrará o caminho" (Livre tradução do texto disposto no poster promocional do filme).
Retumbante fracasso de bilheteria em território norte-americano, a superprodução A Bússola de Ouro foi mais um dos filmes surgidos na esteira do sucesso das franquias O Senhor dos Anéis e Harry Potter a fracassar no que se refere a atrair grandes plateias, mesmo que no âmbito geral esta adaptação literária da obra do inglês Phillip Pullman não possa ser classificada como uma obra ruim, é certo que possui seus problemas. Contando com o inexperiente - em superproduções regadas a efeitos visuais - roteirista e diretor Chris Weitz (Uma Vida Melhor) no comando, A Bússola de Ouro sagra-se como um filme de grande potencial, porém irregular, especialmente por se apoiar demasiadamente no aspecto visual e deixar a clareza do roteiro um tanto de lado.

A concepção visual do filme é impecável, tendo seu ponto mais frágil justamente naquele que foi o mais reverenciado à época de seu lançamento, os efeitos visuais (que inclusive sagrou-se vencedor do Oscar). Não é que as animações digitais soem falsas hoje (me refiro especialmente aos dimons), mas é notório o envelhecimento de certos efeitos, além de conferir certa artificialidade em algumas cenas de plano aberto, onde fica óbvio a utilização de green screen, fator este que hoje pode contribuir para "tirar" o espectador do imaginário proposto pelo filme. Contudo, é de se aplaudir a direção de arte, figurinos e todo o desenho de produção do filme, que consegue dar uma cara distinta ao mundo apresentado, que nem é o nosso, nem é um outro por completo, mas sim uma realidade híbrida. A equipe comandada pelo experiente Dennis Gassner (vencedor do Oscar por Bugsy) está de parabéns.

O grande porém de A Bússola de Ouro encontra-se em seu roteiro. Apesar de bem intencionado, Chris Weitz não consegue deixar clara algumas informações importantes para o bom entendimento da trama, o que torna frouxos alguns elementos dispostos em cena, como a importância do "reino" dos ursos polares, a motivação da bruxa Serafina Pekkala (Eva Green, de 007 - Cassino Royale), além da importância (e possivelmente polêmica) da instituição denominada Magistério ser pouco desenvolvida pelo filme, tendo talvez apenas uma cena de grande importância, quando acompanhamos um quase debate entre os  personagens de Derek Jacobi (Anônimo) e Christopher Lee (A Invenção de Hugo Cabret). É uma pena, já que há inferências críticas a instituições religiosas na obra literária original que aqui são pinceladas de maneira menos que discreta, sendo até difíceis de identificar.

Entretanto, a metáfora da transformação dos seres dimons (algo como animais que guardam a alma de sue dono humano) durante a infância e adolescência das personagens e da única forma destes quando seus "donos" encontram-se adultos é magistral justamente por ter relação com a ruptura de uma fase da vida a outra. Mesmo que, assim como os demais elementos do roteiro, tal característica não esteja plenamente desenvolvida, dá para notar tal sentido, especialmente durant um diálogo entre a protagonista da história, Lyra (Dakota Blue Richards) e seu tio, lorde Asriel (Daniel Craig).

Ouso dizer que, dentre a saraivada de produções que surgiram na esteira do sucesso de O Senhor dos Anéis, A Bússola de Ouro ainda é a que soa mais interessante (que me perdoem os fãs de As Crônicas de Nárnia, Eragon etc.), pois mesmo que falte complementos no âmbito de informações acerca do funcionamento do universo apresentado pelo filme, consegue soar divertido e interessante, principalmente pelo senso visual inspirado, como já destacado. Dá para sacar que o elenco se divertiu a beça trabalhando no filme, especialmente os chamarizes do filme Daniel Craig (007 - Operação Skyfall) e Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade), além da estreante Dakota Blue Richards, que tem a responsabilidade de segurar o filme e se sai bem, na medida do possível. 

Refletindo melhor, é uma pena que o filme tenha fracassado nas bilheterias e não tenha dado prosseguimento a trilogia, pois possivelmente teríamos algumas respostas nos dois episódios posteriores. Infelizmente não teremos tais sequências, portanto a fragilidade da história do filme continua, mesmo que a "culpa" não recaia apenas em Chris Weitz (que por sinal se sai muitíssimo bem na função de diretor de uma produção desta monta), pois é notório que o filme passou por alguns problemas durante sua pós-produção, especialmente no que se refere ao seu conteúdo crítico. Independentemente das falhas, acredito que o filme tem tudo para continuar agradando a crianças e jovens (seu público alvo), mesmo que estas fiquem órfãs das continuações ou que não compreendam (assim como os adultos) alguns elementos que permeiam a trama, justamente por que estes não são destrinchados pelo roteiro.

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Jackie Brown (EUA, 1997).


Uma coisa é certa, esse até então único filme de Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios) a não contar com um roteiro de sua autoria é um dos trabalhos do cineasta que mais demora para engrenar, porém quando o faz ganha o espectador imediatamente, especialmente pela série de personagens peculiares que desfilam em tela, começando pelo traficante de armas de longa cabeleira escovada interpretada por Samuel L. Jackson (Os Vingadores), de longe o maior destaque do filme, mesmo que esteja apenas reciclando o manual jacksoniano de interpretação. Preterido por muitos dos entusiastas da filmografia de Tarantino, Jackie Brown realmente não é o mais empolgante de seus trabalhos, mas tem uma trama bacana que não tem a mínima pressa para se desenvolver e conta com um clímax de grande tensão, com toda a pegada do (talvez) mais querido cineasta surgido na década de 1990.

Adaptação do romance Rum Punch, do cultuado romancista Elmore Leonard, Jackie Brown, como todo filme de Tarantino, conta com um casting para lá de especial, formado por gente da monta de Robert De Niro (Touro Indomável), Bridget Fonda (O Poderoso Chefão Parte 3), Michael Keaton (Má Companhia), além da intérprete da personagem título e musa da blaxploitation Pam Grier (Foxy Brown) e  do indicado ao Oscar como ator coadjuvante por este filme, Robert Forster (Minhas Adoráveis Ex-Namoradas) e com uma trilha sonora inspirada, formada por uma seleção nostálgica de canções, característica marcante de Quentin Tarantino como diretor. De certa forma causa estranhamento acompanhar De Niro e Keaton em papeis menores tanto em importância à trama quanto em quantidade de falas, especialmente o primeiro, porém o veterano ator não deixa o carisma de lado e compensa a falta de texto com uma composição recheada de gestualidade e caras e bocas. Pode não ser um trabalho marcante do ator, mas acaba sendo uma composição de luxo ao filme.

Apesar de à época do lançamento do filme a crítica ter abraçado as interpretações de Pam Grier e principalmente de Robert Forster como destaques, reputo a de Samuel L. Jackson como a melhor coisa do filme, a começar pela sua inusitada caracterização visual e culminando nos seus mais do que conhecidos maneirismos de composição, mas que funcionam a perfeição no ambiente proposto pelo filme. Além do mais, seu carisma é imbatível e volta a funcionar como uma luva nesta sua segunda colaboração com Tarantino.

Mesmo que seja uma adaptação de um romance alheio e quase não conte com uma estrutura tarantinesca de montagem, Jackie Brown traz tanto no visual quanto na técnica fílmica as principais características do cineasta, desde os enquadramentos e a opção de esticar a trama através de grandes monólogos e diálogos, passando pela utilização da trilha sonora e da montagem para ressaltar a dramaticidade de alguns acontecimentos que ocorrem ao mesmo tempo, sobre diversos pontos de vista (especialmente no clímax final do filme), dentre outras sacadas visuais características do diretor. Sendo assim, apesar de não ser uma obra "pura" de Tarantino, há uma recomposição onde a mesma se encaixa ao estilo narrativo do cineasta.

É certo que Jackie Brown demora um pouco para engrenar, especialmente por não abordar prontamente  a miríade de personagens que terão destaque à trama central de golpe e suas funções a mesma, tornando assim sua primeira hora um tanto quanto arrastada, mas que ganha um fôlego a mais sempre que temos Samuel L. Jackson em cena. Finalmente completando a lista de filmes dirigidos por Quentin Tarantino já lançados no Brasil, arrisco dizer que dentre todos este é o que poderia ser classificado não como pior, mas sim como mais desinteressante entre seus trabalhos. Contudo, mesmo nesta condição, ainda é um filme interessante e que guarda o grande diferencial na sua última hora, quando finalmente atentamos a que o filme se propõe, além de enxergarmos com mais clareza a mão surtada de Tarantino na composição do filme. 

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27 dezembro, 2012

Na Estrada (On the Road, BRA/FRA/ING/EUA, 2012).


Não sou conhecedor do movimento cultural intiluado beatnik da década de 1940, muito menos li a obra homônima escrita por Jack Kerouac, porém a julgar pelo apresentado nesta adaptação cinematográfica de uma de suas obras mais reverenciadas, Na Estrada, o conteúdo filosófico deste movimento é um tanto quanto frágil. É óbvio que a análise deve ser feita tendo como parâmetros a época abordada pelo filme, que abraça o período pós II Guerra Mundial. Contudo, mesmo que o sentimento questionador e de certa forma apoiado em uma libertinagem "verde" seja crível, algumas das passagens apresentadas pelo filme do brasileiro Walter Salles (Abril Despedaçado) carecem de um maior aprofundamento, já que surgem na maioria das vezes jogadas durante a projeção do filme sem causa ou motivação, simplesmente acontecem. Somando o fato do narrador/protagonista da história ser um jovem culto, tais pirações até certo ponto vazias apresentam-se em tela ainda mais fragilizadas.

É certo que o roteiro de José Rivera (Diários de Motocicleta), apesar de elemento mais frágil do todo, apresenta alguns elementos interessantes, especialmente quando foca o relacionamento entre Dean Moriarty (Garret Hedlund, de Tron: O Legado) e Sal Paradise (Sam Riley, de Control), que somado as ótimas performances dos atores, dão maior dimensão ao relacionamento de ambos. Mesmo que alguns signos desta amizade surjam de forma excessivamente sugestiva, a dinâmica entre os personagens de Hedlund e Riley salva o pescoço de Rivera. Talvez o filme tenha sido escrito de forma a agradar os amantes da literatura de Jack Kerouac ou Rivera tenha pretendido direcionar o filme para um espectro mais subjetivo, o certo é que a narrativa não funciona tão bem, especialmente pelas motivações - especialmente a do personagem de Riley, que é o narrador da trama - não serem postas de maneira profunda. O elenco principal é completado por Kristen Stewart (Branca de Neve e o Caçador), que se esforça bastante para se afastar do estigma de Bella da franquia Crepúsculo e acaba bem sucedida, pois encontra-se bem a vontade no papel e confirma que quando num bom projeto, tem tino para atuação. Arrisco dizer que Na Estrada não é um filme difícil de ser visto - apesar de tocar em temas complexos -, mas é um filme fácil de despertar desinteresse no espectador.

Um aspecto que agrega bastante ao filme é a escalação de grandes nomes do cinema atual em pequenas mas importantes pontas. Kirsten Dunst (Melancolia), Viggo Mortensen (Um Método Perigoso), Amy Adams (O Vencedor), Alice Braga (Ritual), Steve Buscemi (série Boardwalk Empire) e Terrence Howard (Homem de Ferro) são bem alocados por Walter Salles, que consegue extrair boas composições de todos, mesmo que alguns dos personagens não tenham grande importância à narrativa principal (pelo menos no âmbito do filme). Dentre estes destacaria as performances de Kirsten Dunst (talvez por ter maior tempo em cena em comparação aos demais) e Steve Buscemi, pelo inusitado personagem.

Na Estrada é bastante caprichado tecnicamente, tendo como grande chamariz a deslumbrante fotografia que registra com beleza e equilíbrio as belas paisagens norte-americanas, que são tão protagonistas quanto a dupla Riley/Hedlund. O fotógrafo Éric Gautier (Na Natureza Selvagem) merece aplausos pela competência e sensibilidade. O som do filme também chama atenção - tanto nos sons diegéticos e efeitos sonoros, quanto na trilha sonora assinada por Gustavo Santaolalla -, especialmente quando utilizado para representar as viagens alucinógenas dos protagonistas. Porém, apesar do brilhantismo destes, o grande destaque vai mesmo para o diretor Walter Salles, que trabalha muito bem a estética do filme, alternando grandes tomadas panorâmicas com handycam, conferindo tanto uma aura etérea a algumas passagens do filme, quanto um quê de aventura, realçado pela proximidade da lente e pela tremedeira da câmera.

Talvez por eu não ter um background acurado acerca das pretensões filosóficas da obra Jack Kerouac esta adaptação cinematográfica não tenha me fisgado, apesar de que a recepção da maior parte da crítica especializada também não foi das melhores. Meu problema com o filme não é o fato do mesmo apregoar conceitos de libertação despropositada ou desprendimento material como forma de reencontro do homem com seu eu (será mesmo essa a mensagem transmitida?), até por que tenho como um de filmes prediletos o também "porra-louca" Na Natureza Selvagem, de Sean Penn, mas sim a forma com o qual o filme foi construído, sem grande aprofundamento no que tange a motivação do personagem de Sam Riley à adotar esse estilo libertário de vida. Pode ser que os inúmeros fãs da obra original tenham enxergado alguns ecos de genialidade em Na Estrada, mas para mim afora a estética apurada, a direção segura e os grandes nomes envolvidos no elenco, pouco sobra de marcante ao filme. 

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26 dezembro, 2012

Para Roma com Amor (To Rome with Love, EUA/ITA, 2012).



É certo que este Para Roma com Amor não é um filme dos mais inspirados da longeva carreira de Woody Allen, mas ainda assim é uma peça de entretenimento mais do que válida. Mais parecido com uma coleção de curtas ao estilo de obras como Paris, Te Amo, esta mais recente produção de Allen não carrega aquele caráter filosófico-existencial tão característico do seu cinema, muito menos investe de forma pesada no humor, mas sim prefere construir algumas histórias aleatórias que têm o amor e suas peculiaridades como fio condutor, sem grandes preocupações no âmbito de questionamento ou debate, optando pela leveza e pela simplicidade em todas as células dramáticas que compõem o filme. Apesar de preliminarmente inspirada na obra Decamerão, de Giovanni Boccaccio,  Para Roma com Amor mostra-se como um filme de cerne descompromissado, menos ácido que a peça na qual se inspirou.

Sem atuar em um filme de sua autoria desde Scoop - O Grande Furo, de 2006, Allen compõe aqui mais um tipo paranoico e serve como alívio cômico - ao lado do personagem do italiano Roberto Benigni (A Vida é Bela) - a este filme onde o humor surge em segundo plano. Como esperado, algumas tramas e personagens despertam mais curiosidade do que outros, tendo os arcos que contam com a participação de Alec Baldwin (Rock of Ages), Jesse Eisenberg (A Rede Social), Ellen Page (A Origem) e Greta Gerwig (The House of the Devil) e de Allen, Judy Davis (Desconstruindo Harry), Alisson Pill (Milk) e Fabio Armiliato se sobressaído, mesmo que no plano geral não apresentem nada de extraordinário. Talvez a relação entre as personagens de Baldwin e Eisenberg lembrem sejam as que mais lembrem as pirações conceituais do cineasta, mas ainda assim passam longe de filmes outros do mesmo, como o anterior Meia Noite em Paris.

Desde que decidiu embarcar numa turnê de filmes captados no continente europeu - desde 2005 foram rodados filmes na Inglaterra, Espanha, França e Itália -, Allen vem adequando seus roteiros para que casem e honrem as características urbanísticas e naturais dos países em que filma e é óbvio que esta sua passagem pela capital da Itália rende imagens belíssimas, fotografadas pelo competente Darius Khondji (Se7en - Os Sete Crimes Capitais), tanto é que as mesmas se destacam mais do que o próprio enredo do longa, que como dito acima é um dos mais desinteressantes do cineasta em anos, mas mesmo assim guarda seus momentos.

Com um roteiro que entrecorta bem as várias tramas que preenchem o filme e dono de um ritmo interessante, Para Roma com Amor é um filme gostoso de se ver, que não traz grandes discussões nem possui grandes pretensões, mas resulta como uma diversão leve e inofensiva (apesar de guardar ecos de ironia e sarcasmo tão arraigados aos trabalhos do diretor). Com certeza não estará posto entre os grandes filmes de Woody Allen, mas encontra-se longe de seus trabalhos menos inspirados, mesmo que inspiração seja o que mais falta a coleção de histórias apresentada. Contradizente? Assim como a filmografia deste cultuado cineasta nova-iorquino.

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25 dezembro, 2012

Forrest Gump - O Contador de Histórias (Forrest Gump, EUA, 1994).


"A vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar" (Uma das filosofias de vida de Forrest Gump, personagem de Tom Hanks).
Um dos filmes mais queridos da história do cinema, Forrest Gump - O Contador de Histórias é mais do que uma fábula sobre as pequenas coisas da vida (amor, amizade, conquistas, existência, lugar no mundo etc.), é uma bela história sobre encontrar seu lugar no mundo, sem fazer disso uma obsessão, mas sim uma jornada de aprendizado. O tom fabulístico empregado por Robert Zemeckis (trilogia De Volta para o Futuro) faz com que o enredo fantástico do filme torne-se mais crível para as plateias, contudo o conteúdo existencial mostra-se presente, mesmo que adaptado para compor a visão de Forrest a alguns dos principais eventos históricos dos Estados Unidos nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Realizado com apuro para conquistar as plateias de todas as idades - não à toa o filme se sagrou como um estrondoso sucesso de bilheteria -, Forrest Gump é um dos filmes que reverenciava quando criança que continua a exercer magia similar à época da primeira conferida, devido a uma conjunção de elementos que fazem deste o feel good movie da década de 1990.

Baseado num romance escrito por Winstom GroomForrest Gump - O Contador de Histórias é um filme bastante simples, visto que tem como premissa a distinta vida do próprio Forrest, narrada pelo mesmo, tendo como diferencial narrativo o fato da personagem cruzar com diversas personalidades históricas do período abraçado pelo filme, como Elvis Presley, John Lennon e Richard Nixon, por exemplo. Tudo isso de forma bastante divertida, vez ou outro abraçando o sentimental, mas sem soar choroso ou superficial. Equilíbrio é a palavra-chave para o grande vencedor do Oscar referente ao ano de 1994 - o filme acabou derrubando pesos-pesados como Pulp Fiction - Tempos de Violência, de Quentin Tarantino, Quatro Casamentos e um Funeral, de Mike Newell, Quiz Show - A Verdade dos Bastidores, de Robert Redford e Um Sonho de Liberdade, de Frank Darabont -, pois seu clima de nostalgia, poder de empatia e direção segura tornaram-no uma obra lembrada até hoje, quase vinte anos após seu lançamento original. É certo que há controvérsias quanto a sua escolha como melhor filme do ano (hoje, se estivesse em meu poder a escolha, daria o prêmio ao filme de Tarantino, porém não desmereço a escolha feita pela Academia de Artes Cinematográficas), mas o fato é que o filme conquistou a estatueta e continua relevante até hoje.

Geralmente alguns quesitos se destacam mais do que outros quando se analisa um filme, contudo acredito que isto não ocorre em Forrest Gump - O Contador de Histórias. Dono de um raro equilíbrio de competências, a unidade do produto como um todo é o grande chamariz, pois desde a concepção da cena de abertura, que estabelece a belíssima metáfora sobre o fascínio do aleatório ao nos apresentar primeiramente a uma pena que flutua livre pelas correntes de ar, passando pela inspirada trilha-sonora composta por Alan Silvestri (Os Vingadores- o tema melancólico do filme é lindo -, pela fotografia primorosa de Don Burgess (Contra o Tempo), pela inspirada escalação do elenco (Tom Hanks, Robin Wright, Sally Field e Gary Sinise, principalmente), pela qualidade das linhas escritas por Eric Roth (O Curioso Caso de Benjamin Button) e, como não podia deixar de ser, pela direção acurada de Robert Zemeckis, um diretor ao meu ver exemplar, mas pouco lembrado pelo público e pela crítica. Destaco também o emprego dos efeitos visuais do filme - à época foi um estouro a manipulação de imagens que colocou o personagem Forrest junto de algumas personalidades das épocas retratadas pelo filme -, que apesar de envelhecido em alguns momentos, continua funcionando. Enfim, é certo que alguns podem atribuir o sucesso do filme há uma ou outra característica, contudo o categorizo como um filme de história, independentemente de quem contribui mais ou menos para a consecução dela.

O carisma de Tom Hanks (Filadélfia) é fator crucial para que a personagem Forrest Gump funcione como guia dentro desta trama recheada de momentos tidos como fantásticos e é inegável que o ator se sai muitíssimo bem, conduzindo o espectador na trama e costurando os momentos de humor e dramaticidade com bastante naturalidade (não à tôa Hanks abocanou o Oscar de ator por esta composição). As presenças de Wright, Field e Sinise ajudam especialmente a sustentação dramática do filme, visto que representam o contraponto à visão "inocente" do mundo do personagem de Hanks. O fato dos tipos que passam pela vida de Forrest Gump serem bastante peculiares ajuda a alimentar ainda mais a organicidade do universo concebido por Roth e Zemeckis, o que resulta em mais fortaleza ao produto final que é Forrest Gump - O Contador de Histórias.

Não sei se o apresentado na versão cinematográfica de Forrest Gump é fiel a obra original, mas é certo que é o filme é bastante rico, especialmente por ser repleto de mensagens (codificadas e não-codificadas) e funcionar tanto como uma obra de entretenimento, quanto de cunho filosófico, sendo este um dos grandes trunfos do diretor Robert Zemeckis, a construção de um filme rico, porém essencialmente simples. Um filme que marcou gerações, Forrest Gump - O Contador de Histórias pode não ser surpreendente quanto Pulp Fiction, politizado quanto Quiz Show ou existencialista quanto Um Sonho de Liberdade, mas continua a conquistar plateias até hoje, seja pela facilidade de se apaixonar pelo mesmo, seja pela simplicidade dos valores defendidos. Talvez Forrest Gump - O Contador de Histórias seja o último filme de alma intrinsecamente inocente (no bom sentido) da história do cinema moderno. Estou enganado?

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22 dezembro, 2012

Operação Presente (Arthur Christmas, ING/EUA, 2011).



Nada mais clichê do que ver um filme de natal na época do natal, não é? Porém, como ainda não tinha conferido este lançamento natalino lançado em 2001, aproveitei a crista do momento e dei o play em Operação Presente, animação produzida pelo estúdio inglês Aardman, mais conhecido por seus trabalhos em stop-motion, como A Fuga das Galinhas, mas que aqui aposta na animação em computação gráfica, o que se mostra como uma decisão bastante acertada, especialmente pela quantidade de recursos que esta tecnologia oferece a uma produção tão "histérica" quanto a deste filme, ainda mais quando tão bem utilizada quanto foi pela diretora Sarah Smith - em sua estreia no posto - e demais membros da equipe responsável pela feitura do filme.

Contando com as vozes (e o carisma) de nomes como James McAvoy (X-Men: Primeira Classe), Jim Broadbent (A Dama de Ferro), Hugh Laurie (série House), Bill Nighy (Piratas do Caribe: O Baú da Morte) Imelda Staunton (O Despertar) e equilibrando bem os conceitos referentes a mística do natal e do Papai Noel com um clima de aventura e ação, Operação Presente é mais do que bem sucedido como entretenimento para crianças e adultos, pois resgata com perfeição o clima de magia infantil inerente ao natal (pelo menos em teoria), sem soar maçante ou desgastado. Apesar do protagonista do filme, Arthur (voz de McAvoy) ser um tanto quanto tolo e estabanado demais, possui carisma e convence como herói da aventura.

Tecnicamente Operação Presente é deslumbrante, homenageando tanto os conceitos clássicos inerentes a mitologia de Papai Noel (Broadbent) - trenó, renas, elfos (ou seriam duendes?) - quanto também inovando, tendo ótimos sacadas no roteiro que contextualizam o mais crível possível esta mitologia nos dias de hoje, utilizando para isso diversas inovações tecnológicas como ferramentas de apoio ao bom velhinho. Muitas luzes e situações frenéticas permeiam a animação, que foi originalmente lançada em 3D, o que deve ter agregado bastante a produção. Apesar de não ter sido um sucesso arrebatador de bilheteria, Operação Presente é um filme bonito e divertido, que honra os preceitos natalinos como há tempos não víamos no cinema ianque (pelo menos sem que acabe soando bobo ou deslocado).

Com uma trama que envolve a reticência do Papai Noel pela entrega do bastão do "cargo" para seu herdeiro e a busca inocente por um de seus filhos, o citado Arthur, pela consecução do natal perfeito, que não se firmaria caso uma criança no mundo deixasse de receber seu presente, Operação Presente se comporta como uma espiral ascendente, saindo da leveza e da aventura a um desfecho bastante complexo - para um filme infantil - e emocional, onde a família Noel se reconhece e encontra seu devido lugar e o espírito/magia do natal é mantido, pelo menos por mais uma geração. 

Em tempos tão cínicos quanto estes nossos, nos quais os valores morais e simples sentimentos como solidariedade e esperança são cada vez mais preteridos, é bacana deparar com uma produção tão singela e vivaz quanto Operação Presente, que soa inteligente através da simplicidade e educa sem que com isso se torne aborrecida. Vivemos na era das animações e ano após ano somos bombardeados como uma enxurrada delas à disposição nos cinemas, porém ao contrário daquelas obras que divertem a beça, mas através do riso fácil e do vazio conceitual, Operação Presente tem rosto, coração e alma, que faz conquistar criança, adulto, idoso ou moribundo, pois independentemente do ceticismo ou apatia inerente a cada um de nós, todos já fomos (ou ainda somos) tocados pela inocente magia do espírito natalino e este filme o honra em todos os aspectos. Nesta véspera de natal, antes de partir para a clássica ceia com a família, sente no sofá (sozinho ou com seus filhos) e dê de presente a si mesmo 90 minutos de boa magia, pois certamente mal não te fará. 

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21 dezembro, 2012

Looper - Assassinos do Futuro (Looper, EUA, 2012).

"Caçado por seu futuro. Assombrado pelo seu passado" (Livre tradução das frases dispostas no cartaz do filme).
Num ano repleto de sequências e remakes (cada vez mais regra, não exceção), Looper - Assassinos do Futuro chega como um bom respiro para a constante repetição de temas destilados nas telas de cinema. Segunda parceria entre o diretor e roteirista Rian Johnson e o ator Joseph Gordon-Levitt após o exemplar A Ponta de um Crime, o filme mostra-se como uma inventiva ficção-científica de ação, dono de uma trama recheada de subtextos com certa complexidade, mas que nunca soa "intelectualóide", pois é conduzida de maneira bastante objetiva - mesmo com a inserção de alguns flashbacks e pontos de vista distintos -, tem um bom ritmo e, talvez o mais importante, apresenta um clima crescente de novidade, sendo impossível não se surpreender com condução da trama e sua "resolução".

Ao contrário do que o trailer do filme apresentava, a trama de Looper - Assassinos do Futuro perpassa muito mais do que "apenas" a questão das pessoas (em teoria, criminosas) enviadas do futuro para serem assassinados por um looper, pois entrelaça questões existenciais ao caldo, além de uma miríade de reviravoltas que nem a mais antenada das pessoas poderiam prever. Dinâmico e inteligente, o filme de Rian Johnson é uma grande surpresa, não pela sua qualidade, mas sim pelo tamanho apelo provocado por sua obra, sem deixar o pezinho no cult. Custando a bagatela de 30 milhões de dólares, Looper - Assassinos do Futuro é mais um filme que prova que há como se fazer um filme bacana, inteligente e visualmente arrebatador sem gastar o Produto Interno Bruto de um pequeno país. Temáticas a parte, Looper é o Distrito 9 de 2012.

A maquiagem que tenta aproximar o rosto de Gordon-Levitt ao de Bruce Willis (Moonrise Kingdom) é bem legal e mesmo que vez ou outra cause certo estranhamento (de certa forma "plastifica" e congela as expressões faciais do primeiro), serve como ferramenta narrativa à proposta do longa, que mostra os atores como um só personagem, apenas em épocas distintas de existência. Exceptuando a maquiagem, tanto Willis quanto Gordon-Levitt estão bem encaixados e dispostos em seus respectivos papeis, especialmente o primeiro, que apesar de sempre flertar com o gênero ação, mostra uma energia acima da média neste filme.

Contando com quase toda a equipe técnica de seu primeiro trabalho como cineasta, Rian Johnson acerta na composição do visual do filme - que não "viaja" demais na previsão de como seria uma cidade norte-americana no futuro, concentrando-se mais em como ela é hoje e pincelando na mesma pequenos detalhes que aludem a um possível futuro - e na utilização equilibrada dos efeitos visuais práticos e digitais, dando um senso de realidade raro em filmes do gênero, pois geralmente estes são deslumbrantes, mas não escondem a cara de "filmamos em tela verde". Dentre os parceiros de Johnson que merecem certo destaque estão o compositor Nathan Johnson, que investe bastante na tensão através dos acordes de sua trilha e o fotógrafo Steve Yedlin, que constrói planos abertos belíssimos no filme.

Mesmo que a diversão seja (talvez) o quesito de maior importância do filme, é impossível não justificar a eficiência desta pela criatividade imprimida por Johnson tanto na concepção do roteiro do filme - que é original por condensar influências mil em um produto só, sem que este deixe de ter sentido lógico e unidade - quanto em sua execução, além do carisma do elenco (que conta também com as boas participações de Emily Blunt, Paul Dano, Piper Perabo, Jeff Daniels e do inacreditável garotinho Pierce Gagnon, que simplesmente rouba o filme, tamanho magnetismo passado por sua interpretação). Looper - Assassinos do Futuro não é uma adaptação literária, de histórias em quadrinhos, videogames ou afins, mas sim uma obra concebida e executada especialmente para o cinema e isso, ao meu ver, traz um peso imensamente positivo ao filme. Instigante e imprevisível, sem sombra de dúvidas este encontra-se como um dos melhores filmes do ano.

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19 dezembro, 2012

Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, EUA, 2012).


É muito bom voltar a ver o cineasta norte-americano William Friedkin, responsável pelos clássicos Operação França e O Exorcista, retomando a boa forma ao aplicar seu olhar forte e diferenciado em um trabalho cinematográfico. Retomando a parceria com o dramaturgo e roteirista Tracy Letts - ambos trabalharam juntos no último (e interessante) trabalho de Friedkin, Possuídos, de 2006 -, Friedkin apresenta em Killer Joe - Matador de Aluguel uma obra visceral e violenta, recheada de humor negro e que não tem medo de se assumir como uma paródia crítica a primitividade do ser-humano, especialmente aos habitantes da terra da prosperidade (America, fuck yeah!), tão afeitos a liberdade quanto à violência. 

Ambientado no estado do Texas (mais do que conhecido por ser casca grossa e pouco afeito a modernidade dos direitos humanos), os elementos subjetivos que compõem a trama do filme cabem em qualquer cidade, estado ou nação, visto que estes abraçam nada mais do que a perspectiva de que nossa sociedade encontra-se imersa em um caleidoscópio de insegurança, permissividade, violência urbana e hipocrisia (estaria Friedkin falando da minha cidade natal?). Chocante e curioso, Killer Joe - Matador de Aluguel é daqueles filmes altamente catárticos, que te impressionam pelos socos disferidos tanto fisicamente quanto psicologicamente, especialmente ao levantar a polêmica e genérica, porém verdadeira sentença de que ninguém (pelo menos neste filme) presta. 

A direção de Friedkin apresenta-se vigorosa e altamente técnica, especialmente na forma com que o mesmo movimenta a câmera e escolhe os planos a serem captados, mostrando de uma vez por todas que, mesmo que alguns de seus trabalhos anteriores tenham pecado pela inexpressividade ou superficialidade do roteiro - A Árvore da Maldição não me deixa mentir -, a capacidade técnica do diretor é de deixar atônito aqueles mais sensíveis a construção cinematográfica. Aqui aliado ao veterano cinematógrafo Caleb Deschanel (Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros), o diretor brilha ainda mais, construindo uma narrativa quase perfeita ao filme, deixando a técnica alinhada ao conteúdo do mesmo.

O enredo/roteiro bastante próprio escrito por Tracy Letts pode acabar não agradando a grande maioria dos espectadores, especialmente aos mais sensíveis - e quanto a isto não me refiro apenas a violência -, mas até mesmo estes devem reconhecer o fantástico trabalho realizado pelo elenco do filme, aspecto este mais do que óbvio pois William Friedkin sempre foi creditado como um excelente diretor de elenco, daqueles que sugam - literalmente - até a última gota de suor (ou equivalente) de seus comandados. Praticamente todos os principais nomes que compõem o elenco de Killer Joe - Matador de Aluguel estão no mínimo excelentes em seus respectivos papéis, mas é impossível não destacar os trabalhos de criação de personagens de Matthew McConaughey (EdTV), Gina Gershon (Ligadas pelo Desejo) e Emile Hirsch (Selvagens).

Sempre fui um entusiasta do trabalho de Matthew McConaughey como ator, principalmente após conferir o drama Tempo de Matar, dirigido por Joel Schumacher, além de sempre ser fisgado pelo carisma do mesmo em suas produções "bobas" dos anos 2000, no entanto sempre esperava que o ator retomasse aos papéis mais "trabalhados" e felizmente isto ocorreu após o lançamento do filme O Poder e a Lei, lançado ano passado. Desde então McConaughey vem colhendo elogios em cima de elogios por suas participações em Magic Mike, de Steven Soderbergh, Bernie, de Richard Linklater e, obviamente, por seu trabalho assustadoramente distinto em Killer Joe - Matador de Aluguel, onde o ator compõe um matador (como frisa o título nacional) frio, metódico e hipnotizante, com direito a olhos recheados de maldade, como bem adianta uma das personagens do filme. Indicado como melhor ator em diversas premiações, inclusive pela Associação dos Críticos de San Diego e pelo Independent Spirit Awards, McConaughey teria tudo para galgar um lugar nas premiações mainstream do Oscar e do Globo de Ouro, mas o teor do seu personagem (e do filme) aparentemente são fortes demais para tais instituições.

Gina Gershon também foi bastante aplaudida pela composição de sua personagem, inclusive recebendo recentemente o prêmio de melhor atriz coadjuvante pelos críticos de Toronto (vencendo "queridinhas" como Amy Adams e Anne Hathaway), prêmio este mais do que merecido pois sua personagem realmente é muito bem posta à trama, tendo um crescimento importante no clímax do filme, muito graças a competência da atriz. Emile Hirsch também está muito bem como o garoto perdido (literalmente) que contrata Joe (McConaughey) para um serviço mais do que questionável, que desencadeia uma série de eventos à rotina da família do personagem, formada pela personagem de Gershon, Thomas Haden Church (Sideways - Entre Umas e Outras) e Juno Temple (Os Três Mosqueteiros), que por sinal também encontram-se muito bem em seus referidos papeis. Enfim, tanto a escalação, quanto a direção do elenco do filme encontra-se perfeita.

Killer Joe - Matador de Aluguel não é um filme de fácil "digestão", sendo assim deve ser visto com  muita atenção, pois é certo que o mesmo não faz nenhuma concessão quanto ao que deve ou não ser mostrado, sendo um filme indicado para pessoas maduras, centradas e seguras de si (este última "pré-requisito" é bastante complexa), que tenham uma maior capacidade de receber informações chocantes (para os meninos, colhões mesmo). Dono de uma narrativa precisa e brilhantemente orquestrada por William Friedkin - o que dizer do tempo chuvoso e dos relâmpagos que surgem como mal presságio do que virá em seguida, do fato do cachorro só latir para o "condenado" personagem de Emile Hirsch e o destaque dado para três cruzes em determinado momento, que acaba por implicar certo número de mortes a porvir? - e com um clima/conceito que lembra bastante o do mais recente trabalho de Michael Winterbottom, O Assassino em Mim, além de carregar uma carga de humor negro que lembra filmes como Onde os Fracos Não Tem Vez, dos irmãos Ethan e Joel Coen e Cães de Aluguel, de Quentin TarantinoKiller Joe - Matador de Aluguel é, acima de tudo, a prova viva de que Friedkin continua relevante como cineasta, mesmo que os tempos sejam outros e que o cinismo ainda impere com força devastadora nos certames da indústria cinematográfica, pois é inegável que a "visão" transgressora e pessimista do cineasta continua a toda velocidade, apesar do público cada vez mais reduzido. Um filme forte e maduro, que não tem medo de apontar o dedo à cara do problema e rir dele ao mesmo tempo. Era cínica esta nossa...

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Filmes de WILLIAM FRIEDKIN comentados:

17 dezembro, 2012

007 Contra o Satânico Dr. No (Dr. No, ING, 1962).


É sempre bom rever um filme que você não considerava tão bom e, a partir desta "segunda chance", perceber o quão errado se estava. Foi exatamente isso que aconteceu ao conferir pela segunda vez o primeiro longa-metragem estrelado pelo agente 007, James Bond e pelo seu mais querido intérprete, Sean Connery (O Nome da Rosa), 007 Contra o Satânico Dr. No, título este que reúne grande parte das características que tornaram o universo deste agente tão conhecidas ao imaginário do público. Dirigido por Terence Young (Um Clarão nas Trevas), o filme pode não ter grande cenas de ação, mas possui uma trama que desperta interesse, mesmo que seja um tanto boba e inquestionavelmente datada.

Gosto bastante da nova roupagem para os cínicos dias atuais dada por Daniel Craig (007 - Operação Skyfall), porém é inegável que o verdadeiro dono do agente é Sean Connery, tamanha a presença apresentada por este quando trajando seu "uniforme", do sorriso carregado de cinismo ao furor apresentado durante as sequências de ação. Mesmo só tendo conferido - até então - este filme com o ator como James Bond, foi mais do que suficiente para confirmar que a sua composição de James Bond é até então inigualável, o que não desmerece os demais intérpretes, mas que com certeza os deixam em segundo plano.

Ambientado em sua maior parte na Jamaica - à época uma escolha no mínimo inusitada para um filme de espionagem -,  007 Contra o Satânico Dr. No é competente ao apresentar o personagem principal ao mesmo tempo em que constrói o mistério da trama, que envolve a morte de um colega agente, energia atômica e corrida espacial, tudo entrecortado por muitas tentativas de assassinato, belíssimas bond-girls - com destaque para a mais conhecida de todas, a Honey de Ursula Andress - e um desfecho literalmente explosivo.

Mesmo que o ritmo do filme seja um tanto arrastado e os recursos técnicos serem limitados, é certo que 007 Contra o Satânico Dr. No, marco zero da franquia, representa muito bem o possivelmente que há de melhor nos filmes do agente 007, que com o tempo foram ganhando em ambição, orçamento e parafernália, mas a essência continuava a mesma da apresentada neste filme, comprovando assim que apenas a pirotecnia não resulta num bom filme de ação, já que mesmo não tendo incríveis cenas de ação, consegue manter o interesse do espectador aos acontecimentos em tela e, com um ou outro balanceamento, entretém tanto quanto à época de seu lançamento, cinquenta anos atrás. 007 Contra o Satânico Dr. No pode não ser o melhor filme da franquia, mas apresenta o melhor protagonista dela.

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Filmes da franquia 007 comentados:
Moscou Contra 007 (1963)
007 A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969)
007 - Cassino Royale (2006)
007 - Quantum of Solace (2008)
007 - Operação Skyfall (2012)
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